All The Time (HIATUS) escrita por MioBaskerville


Capítulo 2
II


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente~
:3



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Não consegui dormir. Só o fato de que eu ficaria em um lugar para loucos já me incomodava. Passei a noite embaixo do meu cobertor, desenhando. Não queria sair dali debaixo, estava com medo de vê-la de novo.

Talvez eu realmente fosse louca. Aliás, fantasmas não existem, não é? Pelo menos eu acho...

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Minha mãe desceu com minha mala enquanto eu esperava no carro, com meu pai.

– Você pode me agradecer assim que sair de lá. – Ele me olhava pelo retrovisor do carro.

– Pelo quê? – Olhei para fora, vendo minha mãe se aproximando do carro. – Se for por estragar minha vida, obrigada Jared. – Disse com o tom mais sarcástico que eu pude.

Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, minha mãe entrou no carro, e ele deu a partida.

O silêncio dominou o carro durante todo o caminho.

O carro finalmente parou, em frente a um edifício branco. O manicômio. A única coisa que se destacava no branco do prédio era a placa onde se lia: “Hospital de Adolescentes com PM”.

– O que é PM? – Perguntei enquanto saia do carro.

– Problemas mentais. – Meu pai respondeu indiferente. – O lugar perfeito para você.

– Jared! – Minha mãe gritou. Ele apenas bufou e tirou minha mala do carro.

– Vamos logo. – Ele respondeu impaciente.

– Bianca. – Minha mãe colocou suas mãos em meu rosto. Ela tremia, tremia muito. – Tem certeza?

– Ahn... – Mordi o lábio inferior. – Tenho... – Baixei o olhar, encarando nossos pés.

Minha mãe me abraçou e começou a chorar. Não me contive e chorei junto com ela.

– Toma. – Ela me entregou uma folha de papel. – Entregue isso na portaria. – Fungou.

– Não vai entrar comigo? – Franzi a testa.

– Seu pai não quer. – Ela disse, apontando para ele com a cabeça.

– Entendi. – Forcei um sorriso e peguei minha mala. – É melhor eu ir então, né?

Segui até a porta de entrada, depois de dar um último abraço em minha mãe.

– Não vai se despedir do seu pai? – Ele me olhava sério, próximo ao carro.

– Pro inferno você! – Entrei no hospital sem olhar para trás.

Segui por um corredor pequeno até ver a balconista. Ela sorriu para mim, como se estivesse olhando uma criança. Entreguei o papel, trocando a mala de mão.

– Bianca? Que nome bonito. – Ela começou a digitar alguma coisa em seu computador. – Onde estão seus pais?

– Não...quiseram entrar. – Olhei para meus pés.

– Entendo. – A voz dela soava desapontada. – Bem, vem comigo.

Ela se levantou, seguindo por um corredor longo. Fui atrás dela. Passamos por várias portas fechadas, até ela parar de frente para uma e abrir a porta.

– Esse é o seu “quarto”. – O jeito como ela disse quarto me deu arrepios.

Era grande, apesar de ser um pouco vazio. Tinha apenas duas camas e dois criados mudos. Uma das camas estava ocupada por um garoto de cabelos negros, brincando com um cubo mágico. Não consegui vê-lo direito, mas percebi que ele piscava muito.

– Jason? – a enfermeira gritou. O garoto a olhou no mesmo instante. – Essa é sua nova amiguinha, seja gentil, ok?

Ele não respondeu nada, mas senti ele me avaliando. Quando seus olhos pararam nos meus notei o quão negros eram. Então ele parou de me olhar e voltou a brincar com o cubo mágico.

– Você vai ficar com aquela cama. Depois do almoço e do jantar, todos os pacientes devem tomar os remédios que são deixados em seus criados mudos e é extremamente proibido sair do quarto depois do toque de recolher.

– Nós não somos obrigados a usar aquelas roupas brancas? – Franzi o cenho, não sei se por alívio ou surpresa. De qualquer jeito, eu imaginava camisas de força.

– Só a blusa e o sapato, iguais aos dele, mas você se acostuma. – Ela riu. – Bem, tenho que entender outros pacientes e entregar sua ficha para o doutor. – Ela fechou a porta e saiu.

O garoto não dizia uma palavra, continuava brincando com o cubo mágico. Caminhei até minha cama e coloquei a mala em qualquer canto, só para me desfazer do peso.

Havia copinhos com pílulas e outros objetos sobre o criado mudo, mas nada com ponta. Provavelmente, medida de precaução.

Apenas bufei, sentei na cama e fechei meus olhos. Eu queria voltar para casa, pros braços da minha mãe.

– Então, qual seu nome? – Uma voz rouca, masculina, disse baixo, me fazendo sentir um ar frio no pescoço.

Olhei por cima do meu ombro. Aqueles olhos negros, que não paravam de piscar, olhavam fixamente para mim. Dei um pulo pra fora da cama.

– Que foi? – Ele parecia ofendido.

– Nada. – Cruzei os braços e olhei para o chão.

– Então. – Ele se sentou na minha cama. – Seu nome?

– Nome? – Eu olhava indecisa para o chão. Aquele garoto me dava arrepios. – B-Bianca. – Gaguejei.

– Sou Jason. – Ele apontou para si mesmo. – Por que veio pra cá? – Ele sorriu.

– Bem, eu... – Senti um frio na espinha.

Não queria olhar, não queria vê-la. Não de novo. Fechei meus olhos e me sentei ao lado de Jason, na cama.

– Você o que? – Ele me olhava, de novo, tão fixamente que me incomodava.

– Eu...eu vejo as pessoas mortas. – Mordi o lábio. – Tipo espíritos, entende?

– Legal. – Ele sorriu. – Me descreve um deles?

– Pra que? – Olhei abismada para ele, mas o menino não tirou o sorriso do rosto.

– Curiosidade.

Hesitei por um momento, mas acabei descrevendo a menininha que eu havia visto. Afinal, se eu estou em um lugar para pirados, não vai ter problema nenhum eu dizer isso.

– Entendo. Então ela segurava uma bola, é? – O sorriso dele se alargou.

Ele olhou para o teto, esticando o braço, como se fosse pegar algo.

– Parece com uma das meninas que eu matei. – Ele olhou pra mim de soslaio.

Meu corpo congelou. Eu não conseguia sair do lugar, estava entrando em pânico.

– Corra. – Uma voz de criança soou atrás de mim. O frio só ia aumentando.

– Quer saber como a matei? – Ele dizia glorioso. – Sabe, foi bem fácil. – Ele começou a brincar com uma das mechas do meu cabelo.

– Não. – Disse tão baixo que acho que ele não me ouviu.

– Eu tinha oito anos, nós estávamos brincando de bola. Ela era novata. – Ele voltou a encarar o teto, mas não soltou a mecha do meu cabelo. – Eu a perguntei “ei, quer brincar”. E ela disse que sim. Um dos garotos jogou a bola nela e ela se assustou. Tinha acertado seu rosto. Ela começou a chorar e os dois garotos começaram a correr. Fiquei com raiva , peguei uma barra de ferro que achei por perto e corri atrás deles, pela pequena floresta.

Engoli em seco. Olhei para a cama do lado, a garotinha estava lá, chorando sangue e jogando sua bola para cima e para baixo.

– Corremos e corremos, até que um deles tropeçou. – Os olhos dele estavam cheios de emoção contando aquilo. – Eu cheguei perto e fiquei olhando as lágrimas no rosto dele, enquanto ele implorava, “Não me machuque.” – Ele fez uma careta. – E eu simplesmente peguei a estaca de ferro e bati na cabeça dele, o máximo de vezes que eu pude, até que... – Ele representou uma pequena explosão com as mãos, em frente seu rosto. – Boom! A cabeça dele explodiu. – Ele gargalhava agora.

Meu corpo conseguiu se mover um pouco. Pouco, porque assim que ele me olhou, meu corpo paralisou outra vez.

– Por que se afastou? – O sorriso sumiu. – Volta. – Era uma ordem. – Volta agora!

Eu voltei o pouco que eu tinha me afastado. Já podia sentir as lágrimas querendo sair dos meus olhos, mas me segurei.

– Bem melhor. – Ele voltou a sorrir. – O outro conseguiu fugir, mas perdeu meio braço.

– P-por que... – Hesitei quando ele colocou sua mão em meu rosto. – Por que matou a garota?

– A garota? – Ele disse indiferente. – Porque quando eu voltei, ela tropeçou e caiu no chão, me olhando apavorada. E quando eu estendi a mão para ajudá-la, ela começou a gritar e a se afastar. – Um arrepio desceu minha coluna. – Ela gritava muito, me irritava. Afinal, tinha matado eles por ela. – Ele se aproximou mais e colocou a mão na minha nuca. – Ai eu comecei a chutá-la e socá-la, peguei a estaca e dei uma batida na cabeça dela, mas não parecia o suficiente, então arranquei seus olhos e os esmaguei com meus pés. – Ele passou o braço pela minha cintura, se aproximando. – Está aterrorizada, Bianca?

Estou. Pensei comigo mesma, mas não consegui dizer nada.

Eu comecei a respirar cada vez mais rápido, mas o ar parecia nunca me alcançar. Ele me soltou. Eu não conseguia respirar, não tinha ar. Me arrastei até minha mala e a abri, procurando minha bombinha. Mas não achava, não estava ali.

Meus olhos começaram a ficar pesados e eu vi Jason se sentar no chão ao meu lado e me puxar pare seu colo.

– Calma, Bianca!

Ele colocou a bombinha na minha boca. Demorou um pouco, até eu conseguir respirar normalmente, mas meus olhos ainda estavam pesados. Ele me carregou e me colocou em minha cama.

– Asma? – Ele se deitou do meu lado.

Apenas fiz que sim com a cabeça.

– Vou chamar a enfermeira pra você. – Ele ia se levantar, mas eu o puxei pela manga do moletom branco.

– Não – Afoguei meu rosto no travesseiro, afim de que ele não visse minhas lágrimas caindo.

– Tá bem. – Eu soltei sua blusa depois que ele confirmou que ficaria ali.

Ele voltou a se deitar ao meu lado. Eu ainda tinha medo, afinal tinha um psicopata do meu lado.

– Ela tá aqui? – Eu me virei para ele.

Deve ter acontecido durante meu ataque, por isso não percebi, mas o frio se fora.

– Não. – Suspirei, aliviada.

– Sei. – A voz dele soou desapontada.

Jason se levantou e foi até a porta.

– Vai almoçar? – Fiz que não com a cabeça. – Sei, até mais tarde, então. – Ele saiu do quarto e fechou a porta.

Meus olhos começaram a se fechar e eu adormeci ali, naquele quarto vazio de hospício.


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