Louise No Mundo Dos Sonhos escrita por Dama dos Mundos


Capítulo 9
Um vislumbre da garota que contava estrelas.


Notas iniciais do capítulo

Nossa, esse demorou um pouco para sair, mas está aqui!
Um agradecimento especial ao Nick, que sempre aparece por aqui para deixar sua opinião e me incentiva a escrever mais.
Também agradeço a todos os outros leitores que tem paciência pra aturar a minha demora. rsrsr.
Boa leitura para todos :3



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Louise descobriu que cavalgar num cão de três cabeças era uma experiência sem sombra de dúvida muito interessante. O Porteiro parecia voar de tão rápido, as patas gigantescas levantando poeira e tudo o mais que ficasse no caminho. Quando passou por um terreno gramado, a pequena garota podia ver seres minúsculos sendo levantados do chão por aquele galope canino. Suas vozes eram tão baixas que era difícil de se escutar.

Pareciam pequenos duendes, com a cabeça grande e corpo pequeno, a pele sendo de tonalidade verde e os olhos de um tom amarelado, sem pálpebras. Eram até mesmo fofinhos, ainda mais com suas orelhas pontudas que lembravam um elfo. Suas vozes, contudo, eram claramente irritadas e afinadas. Para não dizer aflitas…

— Ei, que raios pensa que está fazendo!?

— Você vai nos pisotear!

— Mamãe, é um terremoto!

— Não é um terremoto, criança, volte já para dentro! — Uma mãe empurrava o filho para dentro de sua micro-casa, que por sorte havia ficado inteira após entrar na fenda entre os “dedos” do gigante canino, em sua passagem.

Obviamente, isso não chegava aos ouvidos de nossos exploradores. Louise dependia de Allistar para mantê-la em cima do Porteiro, pois ela escorregava no pelo lustroso e preto, e por ter as pernas pequenas não conseguia fincá-las para escorar-se. O homem sentava-se atrás dela, e ocasionalmente agarrava um duende que voava mais perto de si.

— Vocês não tem outro lugar para andar!? Estão destruindo nossa vila!

— Sinto muito, meu caro amigo. A Rainha compensará vosso prejuízo. — E dizendo isso largava temporariamente o corpo da criança a sua frente para descer sua bengala até o chão e o indivíduo poder descer. Claro que fazer isso em alta velocidade ainda era arriscado, como pular de um trem, mas nosso explorador era um cavalheiro, não iria jogá-lo novamente lá em baixo sem ajuda alguma.

Vega havia conseguido uma montaria para utilizar, e Louise podia jurar que ela estava se divertindo bastante enquanto cavalgava um cavalo sem cabeça, de pelo castanho e calda ruiva como o fogo. Firole era uma égua extremamente rápida para quem não via por onde andava, mantendo-se em pé de igualdade com o cão de três cabeças. A jovenzinha se perguntou porque alguns seres naquele mundo tinham cabeças demais, enquanto outros tinham de menos.

Salazar era carregado por suas cartas, que formavam um círculo perfeito embaixo do mesmo com circunferência extensa o bastante para que ele pude-se ficar em posição de meditação. Ele mantinha-se de olhos fechados, parecendo um guru, enquanto os cabelos verdes chicoteavam com o vento e alguns duendes acabavam se prendendo a eles. Nas pausas que raramente aconteciam, ele via-se com duas ou três criaturinhas dependuradas em suas mechas, tendo que afastá-las com a mão. — Ora, mas onde já se viu… fora, todos vocês!

— Tecnicamente isso é culpa do Ed. — Disse a menina.

Louise incomodava-se de chamar o Porteiro por seu nome, embora ele não tivesse outro pra começo de conversa. Às vezes respondia por Cerberus, mas nessas ocasiões Allistar costumava sussurrar, alegando que o Cerberus Verdadeiro não era um habitante do Reino dos Sonhos, mas de outro lugar completamente diferente. Então ela apelidou alegremente as cabeças de Ed, Roy e Joe.

Ed era a que ameaçava devorá-la sempre, e quando ganhou esse título esperneou e quase mordeu-a de fato.

Roy era a cabeça do meio, a mais formal, e pareceu gostar do nome.

Joe era a última. Para ele tal nomeação era definitivamente inútil, mas não reclamou da mesma, assim como não se satisfez.

— Eu posso morder ela agora? — Rosnou Ed para os outros dois, recebendo apenas olhares enviasados em resposta.

— Não, não pode.

A pequena comitiva parecia ter deixado a área dos duendes, sendo aqueles que Salazar Green enxotara os últimos. Haviam chegado a uma região ainda mais extensa, com uma grama ainda mais verde que a última, perfeitamente cuidada. Uma pequena colina estava diretamente a frente deles, com uma casinha pequena e simpática construída no seu ponto mais alto, fazendo vizinhança com uma árvore realmente gigantesca. Aos pés desta, uma menininha dormia. Ela não parecia ter mais de dez anos, numa primeira olhada, sendo mais nova que Louise.

Usava um vestido branco e fino, quase diáfano. Seu cabelo era azul como o oceano, e um diminuto ser de brilho amarelado descansava entre as madeixas, como se estas fossem um estilo de coberta. A criança parecia estar bastante relaxada, usando as raízes da árvore como travesseiro. Louise franziu o cenho, pensando se elas não seriam feitas de algo mais macio que madeira. Aquela árvore era uma macieira – aquilo parecia mais uma memória saída do caos que era seu passado – devia ser bem desconfortável.

— Quem é? — questionou, indecisa, levantando os olhos para Allistar. O homem havia descido do Porteiro e segurou-a por baixo das axilas para que ajudasse-a a chegar também ao chão.

— Consegue vê-la?

— Sim. Eu não deveria?

— Na realidade… levando em consideração que quer recuperar suas memórias, faz todo o sentido.

— Aquela é Bree. — Salazar comentou, também girando seus olhos em direção ao local. — A contadora de estrelas. Nós estamos bem no limite entre o Sonho e a Realidade, por isso podemos vê-la, mas quem está do outro lado não pode.

— Por quê?

— Nossa, é sempre tão curiosa essa guria… — Vega bufou, tirando um pouco do cabelo do rosto e cruzando os braços logo em seguida. — Porque a Realidade é regida por outras leis. As pessoas de lá não costumam querer travar contato conosco. Logo nunca vão até os limites de seu Mundo, e não podem encontrar com Bree. Além do que, ela só pode ser vista por quem tem um desejo no fundo do coração.

— Um desejo? Tipo como dos gênios da lâmpada?

— De onde você tirou essa ideia, garota, nenhum gênio que se preze fica dentro de coisas tão pequenas e humildes como lâmpadas.

— Eles tem mania de grandeza. — Completou Salazar, piscando os olhos. — É uma pena que a pequena Bree esteja dormindo, se não poderia… — ele parou, reparando que estava falando sozinho. Sua acompanhante de cabelos dourado prateados havia girado nos calcanhares e já começava a subir a colina, em direção a garota adormecida. — Mas que raios ela está fazendo?

— Deixe a pirralha fazer o que quiser, vamos dar uma pausa… — sugeriu Joe, a terceira cabeça do cão, e eles puderam ver o corpo deste se espreguiçando. Logo após deitou-se na grama, as cabeças adormecendo uma a uma. O Porteiro parecia cansado, afinal.

Allistar ficou olhando na direção da árvore por um bom tempo. Depois apenas deu de ombros e ajeitou o chapéu sobre a cabeça. Ele não via nada naquela direção, além da colina e da macieira. Exploradores não podiam ver Bree, pois era de conhecimento geral que estes corriam atrás dos próprios sonhos, não dependendo dos desejos que ela disponibilizava. Contudo, ver Louise correndo em direção ao nada lhe trazia certa angústia, de maneira que focou sua atenção nos outros membros da equipe. — Nós acamparemos por aqui, creio. A noite deve descer em breve.

— Hum… pra mim tanto faz. — Vega ajeitou sua espada na bainha que prendia-se a sua cintura e olhou em volta. — Não há como juntar lenha, só tem grama para qualquer lado que eu olhe.

— Está enxergando super bem pra quem não tem um olho…

— Não vou escutar isso de um mago que não pode nem ao menos fazer fogo…

— Ei, ei… os dois tenham um pouco de compostura, sim? Nós temos Louise, ela pode ficar encarregada da fogueira.

— Sua encarregada acabou de fugir para falar com uma outra garota estranha. Aliás, tem crianças estranhas demais na minha vida nos últimos dias. — O protesto de Vega saiu seco. Ela estava visivelmente irritada novamente, o que era algo perigoso de acontecer.

— Então apenas esperamos. — Allistar sorriu, inclinando a cabeça, e sentando-se no mar de grama, remexendo na mochila que carregava por um tempo antes de jogar a ela o que parecia ser um pedaço de pão.

Vega agarrou o objeto no ar, erguendo apenas uma mão, deixando-se cair sentada e fixando seu único olho verde nele por tempo indeterminado, antes que finalmente começasse a comer. Talvez estivesse sentindo falta do típico líquido verde que costumava tomar. — Obrigada.

Salazar também havia deitado seu corpo, usando os braços em baixo da cabeça como se fossem um travesseiro e bocejando longamente. — Eu fiquei realmente surpreso, agora.

— Por qual razão? — questionou a mulher. O explorador havia deixado o chapéu sobre o rosto, sinal de que tentava tirar um cochilo ou algo que o valesse. Agora apenas os dois mantinham uma conversa.

— Pensei que já havia amadurecido o suficiente para deixar de desejar… mas aquela garota ainda aparece para mim.

Vega desceu sua atenção para o pão entre seus dedos e suspirou profundamente, mordendo-o e mastigando em silêncio. Ele pensou que a espadachim não responderia, até que sua voz cortante chegasse até ele novamente, algum tempo depois. — Eu também…

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Louise havia subido a colina entre tropeções, ela havia desacostumado de usar vestido com aqueles poucos dias lutando no torneio. Eles pareciam uma eternidade, pensando bem sobre isso. A grama estava úmida e escorregava bastante, mas conseguiu manter-se em pé pelo menos, sem cair em nenhum momento, recuperando o equilíbrio rapidamente. Parou em frente a garotinha que dormia sob uma árvore. Seus olhos avermelhados cravaram-se nela. Parecia tão etérea, ali naquele lugar. Um típico ser de contos de fadas.

Ela é mais nova do que eu.

Chegou a essa conclusão facilmente, embora não soubesse bem sua idade… treze, quatorze anos no máximo. Louise não se lembrava nem da data de seu aniversário. Enquanto refletia sobre isso, o fim de tarde virava noite. E a garota que contava estrelas abriu seus olhos. Sem dúvida estranhou o que viu. Bree nunca recebia visitas. Nunca, sua única companhia era…

— Bree… já está na hora? Pare de mexer tanto essa cab… — o serzinho que embolava-se em seus cabelos se desequilibrou com o susto da garota, que fez com que ela levantasse a cabeça com velocidade, e então caiu no meio da grama alta, quase sendo tampada pela mesma. — Bree! Eu estou aqui, dá pra ter um pouco mais de cuidado!?

Os olhos claros – de cor indefinida entre o verde e o azul – fitavam a visitante com extrema curiosidade, até que a mocinha lembrou-se de sua companheira e abaixa-se na direção que vinha a voz da mesma, recolhendo-a entre seus dedos. Agora Louise podia vê-la melhor, ou quase: uma criatura com traços femininos, embora ofuscados pelo brilho dourado que emitia. — Sinto muito, Stella! Nós… nós temos uma visita.

— Uma visita? — A voz dela era tão baixa quanto a dos duendes, e Louise mal conseguiu discernir o que a criatura falava. — Quem é essa garota estranha com olhos de coelho?

— Não seja tão mal-humorada… — repreendeu Bree, e voltou a fitar Louise, agora com um certo entusiasmo. — Er… quem é você?

— Eu sou Louise… estou perdida neste mundo.

— Perdida? Como pode estar perdida? Espere, de que lado… — Bree, no topo de sua colina, olhou para o lado de onde a garota havia subido e logo depois para o outro. Então usou a mão livre para tocar a própria testa. — Ah, sim… o Sonhar. É claro!

— Me disseram que você realiza pedidos, é verdade?

A criança inclinou a cabeça, pensativa, e Stella voltou a agarrar seus cabelos, usando-os como uma escada para chegar ao ombro da mesma. — Hum… isso é uma maneira meio estranha de definir o meu trabalho, mas… basicamente, sim. — Ela apontou para o céu, para as estrelas que lentamente começavam a aparecer. — As estrelas cadentes morrem quando chegam ao chão sem ter um propósito. Eu apenas as observo e ligo-as aos desejos que chegam na minha mente. Dessa forma elas podem se transformar e seguir em direção aos seus novos donos.

Louise mordeu o lábio inferior, olhando para baixo, para além da grama, onde os companheiros estavam reunidos. Pensou e repensou por alguns segundos, e depois sentiu alguém segurar sua mão. Bree mantinha-a entre as dela, parecendo extremamente ansiosa. — Você… quer algo? As pessoas não costumam me visitar, nem desse lado, nem do outro. Mas você foi a primeira em muito tempo. Então… quer que eu lhe transmita um desejo?

— Não… — Louise sorriu de canto, voltando a observar aquele mesmo lugar de antes. A outra garota pareceu reparar só então naqueles que estavam acampando ao lado de sua colina, embora eles estivessem fora da redoma que considerava seu “território”. A contadora de estrelas viu mais dois desejos naquela direção, e lembrou-se do que era ser necessária. E também de seu trabalho.

— Certo. Quando estiver pronta, volte aqui, e eu o realizarei. — Ela piscou para Louise, ajeitando-se e fazendo menção de bater com o punho na árvore, fazendo uma maçã cair em sua mão. Depois bateu uma segunda vez, e a Garota dos cabelos de Ouro e Prata precisou ficar esperta para agarrar a segunda fruta. — Agora preciso voltar ao trabalho. Divida a maçã com seus amigos, eles não precisarão de mais nada se comerem dela.

— Muito obrigada. — Louise desceu seus olhos em direção a maçã. Quando subiu-os novamente, Bree já havia chegado ao galho mais baixo da árvore. O serzinho em seu ombro, escondia-se em suas madeixas azuladas, deixando apenas a cabeça de fora. — Você não fica sozinha, aqui, nesse lugar?

— Eu tenho Stella ao meu lado, ela nunca me deixa sozinha. Todos temos alguém que nunca nos abandona, mesmo nos piores momentos.

— Até mesmo alguém perdida como eu?

— Principalmente alguém como você, Louise. Vê? Seus amigos estão a espera. Eles não vão deixá-la para trás enquanto estiver por aqui. — Bree ergueu os braços para segurar um galho mais alto e içou o corpo pequeno para poder subir no mesmo. — Quando voltar, vamos observar as estrelas juntas! É uma promessa.

Louise piscou os olhos algumas vezes e afirmou gentilmente com a cabeça. — Okay. É uma promessa… — E então não viu mais nada da outra. Pôs-se a descer a colina novamente, dessa vez se sentindo um pouco mais esperançosa. Ela iria recuperar Hanny junto com os outros, e quando retornar-se àquele local, poderia voltar para casa e reaver suas memórias. Estranhamente, nunca imaginou que na hora de sua futura despedida preferisse ficar a ir embora…

Ela saudou com alegria aqueles que ficaram para trás, repartindo a maçã irmãmente até entre as cabeças do Porteiro, e com um estalar de dedos criou uma pequena fogueira para que se mantivessem aquecidos, tomando conta para que o fogo não pegasse na grama e se espalhasse. Eles dormiram naquela noite sob um firmamento estrelado, ora ou outra riscado por uma estrela cadente. Se olhassem para a árvore e prestassem bastante atenção, veriam um diminuto vulto nos galhos mais altos, o qual todos ali sabiam que não tiraria seus olhos do céu.

Afinal, esse era o trabalho da garota que contava estrelas...


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. :3
.
Estava para fazer esse capítulo com a Bree já faz um tempo, mas acabei escrevendo uma one-shot com o foco nela antes. Para quem se interessar e quiser saber um pouquinho mais sobre a nossa contadora de estrelas, aqui está o link -> https://fanfiction.com.br/historia/635045/A_menina_que_contava_estrelas/
.
Kisses para vocês, seus lindos, e até a próxima



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