Louise No Mundo Dos Sonhos escrita por Dama dos Mundos


Capítulo 10
Tempo suspenso


Notas iniciais do capítulo

EIIII! Olá seus lindos!
Adivinhem quem voltou? ME! Podem largando os archotes, porque o capítulo está bem grande pra compensar a mega demora. Também estou tendo problemas pessoais que estão ferrando.
A boa notícia de hoje - ou não tão boa assim, é que LnMdS está chegando ao fim, galera. Falta bem pouquinho, logo estarão livres de mim - se é que alguém ainda acompanha essa fic. Mas estou pensando em iniciar um mega projeto com ela, com outras fics que contêm os personagens secundários. Um exemplo seria A menina que contava estrelas, a one-shot com Bree.
Não é nada certo, mas se eu realmente fizer mesmo, mandarei o link para aqueles que se interessarem.
Por enquanto, desejo uma boa leitura a todos. :3



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No segundo dia após deixarem para trás o local onde Bree descansava, o grupo de resgate começou a notar as mudanças do relevo. A grama deixou de crescer para dar lugar a alguns arbustos esqueléticos, e uma cordilheira de montanhas era visível mais adiante. A trilha que haviam resolvido seguir parecia estender-se para passar por um vale entre duas delas. A terra foi ficando avermelhada, transformando-se logo em areia.

— Onde nós estamos? — Perguntou Salazar, no seu habitual transporte feito de cartas, enquanto erguia-se completamente, na tentativa de enxergar mais longe… sem sucesso algum.

— De acordo com a minha memória… — Allistar levou um dedo à testa, sem que o Porteiro tivesse oportunidade de deter seu trote. — Devemos atravessar o Vale Parado no Tempo, e com isso teremos cruzado a fronteira entre o mundo conhecido e as Terras de Ninguém.

— Ainda assim… estamos demorando demais. — Vega estreitou seu único olho e forçou sua montaria a acelerar. — E aqueles caras não vão ser fáceis de se lidar…

— Que caras? — Louise ergueu a cabeça, observando-a. Vega deliberadamente ignorou a pergunta, e Salazar agachou-se novamente, suspirando.

— Este é o território de dois irmãos… e eles são, como posso dizer? Um tanto quanto peculiares…

— Mais do que vocês todos já são? — questionou a garotinha, que por incrível que parecesse, tinha um vocabulário bem extenso.

— Está me chamando de estranho outra vez?

— Não exatamente… ah… talvez um pouco… na verdade, você é bem estranho mesmo. — ela voltou a abrir um daqueles sorrisos cegantes e o mago passou apenas a praguejar sozinho, em um tom baixo. Allistar estava mais sério, e fez um sinal para que todos diminuíssem a conversa.

— Vamos adentrar esse território dignamente, e quem sabe eles nos deixam passar sem causar nenhum contratempo…

— Me parece o tipo de coisa impossível… — Vega tomou a palavra novamente, sua boca se contraindo em um sorriso maquiavélico. — Ainda mais com alguém tão estranho como essa menina junto conosco.

— Estranha, eu…? — Louise inflou as bochechas, pronta para alegar categoricamente que aquilo era um absurdo, mas não o fez. Porque naquele mesmo instante eles haviam passado por uma fenda no chão, tão sutil que era difícil de vê-la a distância. Parecia mais um marco, uma fronteira… ainda assim, quando a atravessaram, depararam-se com um lugar bizarro: relógios flutuavam em pleno ar, seus pêndulos balançando com elegância. Havia apenas água sob seus pés, não dava para se ter certeza se era um lago ou algo similar. Eles apenas mantinham uma pequena parte dos pés abaixo da superfície lisa, ocasionalmente bombardeada por mais gotas, que caiam dos pêndulos.

Exatamente onde deveria ser o centro daquele lugar – visto que parecia formar um círculo perfeito, ainda que extenso – havia uma mesa. Nada em especial nela ou sobre ela… era apenas uma mesa comum, de tampo arredondado e feita de madeira. Duas cadeiras, igualmente irrelevantes, estavam postas de cada lado.

Vega desmontou de Firole, com o típico humor de alguém que faria em pedacinhos o primeiro infeliz que se aproximasse. Salazar, apressou-se em segurá-la pelo ombro para que ficasse ali, mas ela estapeou sua mão sem muita tolerância. — Solte-me. O que há com essa atitude covarde?

— Er… não é bem “covarde”, se pensar bem sobre aonde estamos. — ele retirou a mão antes que recebesse outro golpe, e a balançou com sutileza. Lançou um olhar para trás, na direção em que Louise ainda esperava, junto de Allistar e o Porteiro. — Hum… não se aproximem mais, creio que é melhor irmos com calma.

— Mas por que…? — Louise parecia um tanto quanto nervosa com aquela conversa. Por tal razão, talvez, desistiu de bancar a teimosa e ir se enfiar atrás de Salazar. Considerando essa possibilidade, Allistar agarrou-a pelo punho e manteve-a segura por ali.

— Esses gêmeos… não são criaturas usuais no Mundo dos Sonhos. Quanto mais pessoas despreparadas para lidar com eles entrarem em seu território, pior vai ser.

— Isso não explica nada!

— Observe-os… — a segunda cabeça do Porteiro, ou Roy, intrometeu-se. — E entenderás.

A garotinha voltou a fazer bico, achando tal resposta insuficiente, mas absteve-se de voltar a perguntar e arregalou os olhos vermelhos, como se isso fosse fazê-la ver melhor. Paralelamente, Vega e Salazar aproximavam-se da mesa vazia, e detiveram-se ali. A caolha hora ou outra era forçada a abaixar um pouco a cabeça, por ser alta e alguns pêndulos oscilarem abaixo da linha de seu pescoço.

— Quem vem para tirar nosso sono? — uma voz ecoou, de um ponto desconhecido, enquanto outra, com um tom praticamente igual à primeira, atalhava logo em seguida.

— Não estamos aceitando visitas hoje!

— Pouco me… — Vega foi calada por um cutucão forte do mago, que logo uniu suas mãos em uma absoluta pose de trégua.

— Oh, na verdade nós não viemos visitar, apenas queremos atravessar para as Terras de Ninguém.

— Isso é com A Barqueira, não conosco. — a segunda voz retrucou.

— Sumam daqui, deem a volta! — A primeira atalhou, categórica.

— Não há outro caminho, vocês sabem muito bem! — Uma ruga de estresse despontou na testa de Vega, enquanto ela erguia um dos punhos para o ar. — E parem com esses joguinhos, apareçam de uma vez!

— Ah! A guerreira quer nos ver, Heri!

— Ela quer, ela insiste, Cras! Devemos satisfazer seu desejo?

Uma risadinha mórbida elevou-se a volta dos dois. As cartas de baralho, parecendo pressentir o perigo, começaram a girar tendo o mago e a guerreira como centro, formando um parco escudo. O ar estalava, como se estivesse repleto de eletricidade estática. Partículas luminescentes se reuniram nas duas cadeiras um pouco mais a frente, e de repente, onde não havia absolutamente nada, agora estavam duas figuras, devidamente sentadas em seus lugares.

O rosto era o mesmo em ambos, mesmo que fosse difícil divisá-lo com precisão, pois uma fina máscara negra cobria a área de seus olhos. Estes eram verdes e continham um brilho malicioso. Os cabelos, mesmo que fossem curtos, eram cheios, no mesmo tom de verde, e isso dificultava ainda mais a visualização de suas faces. Apenas o sorriso dos gêmeos era claramente visível. Sorrisos de raposa, astutos e pérfidos.

Suas vestes também eram iguais, roupas de grife, as quais Louise conhecia – ou deveria conhecer – mas duvidava que encontrasse alguém usando tal coisa por lá. As blusas sociais eram brancas com riscas de cor cinza, blazers e calças pretos finalizavam o conjunto. Os sapatos também eram negros, estranhamente modernos naquele cenário de sonhos.

 

Havia uma única discrepância na aparência de ambos, e esta estava no chapéu fedora que o gêmeo da direita utilizava-se, de maneira que se abaixasse muito a cabeça, a única coisa que realmente aparecia era sua boca. Foi este que recomeçou a falar, enquanto retirava o acessório e girava-o em seu dedo indicador. — E então, podemos começar a festa, certo? Creio que estejamos todos aqui.

— Sabe, eu realmente detesto ser forçado a aparecer, então é melhor que me entretenham bastante.

— Eles são um pouco antissociais. — cochichou Louise, ficando na ponta dos pés para alcançar o ouvido de Allistar.

— Eles são desconfiados por natureza… na verdade, talvez isso tenha a ver com suas próprias personalidades. — ele apontou discretamente para os gêmeos. — O da direita, com o chapéu, é Cras. O da esquerda se intitula Heri. Dizem que nasceram de um “instante” em que o “passado” e o “futuro” entraram em comunhão, mas ninguém sabe se isso é realmente verdade.

— O que eles são, exatamente?

— Entidades atemporais… deuses menores, pelo que se sabe. Vieram de além das Terras de Ninguém e se instalaram aqui. E não há ninguém para retirá-los.

— O que? — Louise tapou a própria boca, notando que soara muito alto. Então continuou, num tom mais baixo. — São tão fortes assim?

— Hum… na verdade não é questão de força… — o explorador levou a mão para trás da nuca pensativo. Parecia querer explicar, mas decidiu que era melhor deixá-la tirar suas próprias conclusões.



Em frente aos gêmeos, Vega e Salazar esperavam. A primeira estava indiferente como sempre, e o mago mostrava sinais claros de inquietação.

— Eu acho o cúmulo do absurdo vocês barrarem nossa passagem. — a guerreira retrucou, num tom azedo, enquanto passava o fio da espada com delicadeza entre seus próprios dedos, como quem testa se uma faca está realmente cortando. — A alguns dias, um verdadeiro exército de monstros das sombras atravessou esse mesmo caminho para nos atacar e retornaram.

— Ah… aqueles caras… — Heri revirou seus olhos verdes, mostrando um mínimo sinal de insatisfação. — Nós tentamos evitá-los, é óbvio, mas os desgraçados são indestrutíveis.

— Além do mais, eles voavam tal alto que não chegaram a nos atrapalhar. Ao contrário de vocês, que tiveram a ousadia de nos trazer cá para baixo. Atrapalharam nosso chá da tarde. Estamos descontentes.

— Absolutamente descontentes.

— Por terem perdido o chá da tarde? O que vocês são, crianças? — Vega estreitou as sobrancelhas, cética. — Além do mais, detiveram suas atividades porque bem quiseram, nós só estamos passando por este território.

— E, bem… tem outro exército vindo na retaguarda, e não devem demorar muito para chegarem aqui. — Salazar ergueu o dedo indicador. — Então, sinto informar-lhes, mas serão interrompidos mais uma vez.

— Que interessante… — Heri fez um esgar.

— Tanto que me dá vontade de rir. — seu irmão, de fato, deu uma curta gargalhada, e voltou a observá-los, com divertimento. — Mas, sabem… esse reforço que estão esperando, se é que esperam mesmo… vai ter o mesmo destino que vocês.

Louise não soube distinguir bem o que houve depois daquilo. Seus olhos não foram treinados para observar aquela situação… Cras, o gêmeo que usava o chapéu, já estava nas costas de Vega quando terminou sua frase. A espadachim desviou a tempo do toque de seu dedo, calmamente apontado em direção as suas costas. Ela ouvira o suficiente das lendas para saber que não deveria deixá-lo tocá-la em hipótese alguma. Ao mesmo tempo Heri, o outro irmão, deslocou-se tão rapidamente quanto e postou-se sem dificuldade alguma exatamente dentro da redoma protetora que as cartas de Salazar voltaram a formar, assim que Vega fora retirada de perto dele. O mago, infelizmente, não tinha a mesma habilidade de esquiva de sua parceira, e acabou sendo atingido pela palma da mão da entidade, que tocara placidamente em suas costas. No mesmo instante, ele sentiu algo sem sombra de dúvida fantástico… mas ao mesmo tempo aterrorizante.

Seu corpo estava… mais jovem.

Sim. A diferença era mínima, pois com o susto, Salazar saíra novamente de sua posição, quebrando o contato. Mesmo assim, era visível o leve frescor da juventude que apoderara-se dele. Dois, três anos facilmente haviam sido tirados de si com aquele mero toque. O que poderia suceder se o rapaz deixasse seus dedos sobre ele por mais tempo? Com toda certeza, rejuvenesceria até virar “coisa alguma”.

— Ah… eu havia esquecido parcialmente desse detalhe. Vega, não deixe que ele toque em ti!

— Não sou estúpida, mago inútil. Preocupe-se consigo mesmo. — ela respondeu, grunhindo, enquanto lutava para tomar maior distância possível do inimigo. Cras era mais sutil e oportunista que Heri, seus ataques eram calculados e precisos. Sem dúvida o que a salvava era sua rapidez natural, mas uma hora ele acabaria acertando-a. Lançou uma estocada mirando o meio do rosto dele, mas com um tapa este mudou sua posição, fazendo-a riscar o ar, apenas. Vega pôde ouvir o estalo em suas articulações quando o gêmeo fez um movimento ligeiro em direção ao seu estômago.

Vega desceu o corpo, rolou no chão e pôs-se novamente em guarda, sua espada fina cortando com violência, mantendo-o afastado dela. Seu coração parecia ter entalado na garganta, e ela concentrou-se momentaneamente para se lembrar de como era respirar. Não era um medo irracional que sentia no momento, era mais um receio, fruto do conhecimento que haviam partilhado com a mesma.



Não deixe que os Senhores do Tempo lhe toquem.

Em hipótese nenhuma, não permita que eles lhe encostem.

Pois os gêmeos traiçoeiros roubam-lhe os anos.

E no fim, há de ver, só serás uma pilha de panos.



Era uma canção que as crianças eram ensinadas a recitar, desde cedo, para que quando fossem jovens e resolvessem sair para explorar os Reinos Oníricos, mantivessem distância daquele lugar. E todos tinham razão em temê-los, aqueles gêmeos ladrões de horas, e por isso ninguém inteligente ia até lá.

Isso significava que eles, aquele grupo enviado pela Rainha na tentativa suicida de recuperar sua filha, estavam fadados a perecer. E, se tratando de Vega, ter esse pensamento em mente era completamente inusual. Aquilo a irritou profundamente, uma irritação tão grande que fez com que esquecesse temporariamente de seus temores.

— Não brinque comigo, deus de quinta categoria, não vou cair por sua causa, e mesmo que eu caia, não vai ser pelas garras do medo.

— Que sabias palavras, eu já estava começando a achar que isso aqui era outro duelo entediante. — Cras sorriu mais uma vez, aquela ideia parecia agradá-lo perfeitamente…

Em contra partida, Salazar estava sofrendo nas mãos de Heri. Suas muralhas de cartas não faziam diferença alguma, o rival era rápido demais para elas conseguirem protegê-lo a tempo. Já tinha sido roçado por aqueles dedos umas três vezes, e pelos seus cálculos deveria estar na adolescência novamente, os cabelos verdes que normalmente eram tão longos, agora não chegavam nem à altura dos ombros.

Heri parecia cansado de brincar. Ele estralou os dedos de ambas as mãos, decidido a terminar de uma vez com a situação. — Suas últimas palavras?

— Espero que todo esse tempo roubado lhe dê indigestão…

— Nah. — ele fez um barulhinho negativo com a boca. — Nem, o tempo é um prato leve. — Ele armou a postura e levou a mão a frente, pronto para agarrar Salazar, mas nesse instante algo atravessou seu corpo, na altura do peito.



Vega arfou, sabendo que havia atirado sua única arma útil contra Heri, e que possivelmente ia ser destruída por Cras. Este não pareceu se incomodar muito com o irmão, que fora acertado num ponto vital e havia cessado os movimentos (não se sabia se era pelo choque ou se o golpe fizera realmente efeito), preferindo seguir até ela e estender sua mão direita para agarrá-la pelos cabelos. Os fios curtos começaram automaticamente a perder a cor escura que lhes era característica. — Heri é muito descuidado… terei de dar um jeito nisso depois.

Quando sua outra mão foi lançada em direção a ela, uma parede de cartas impediu-o, atirando-o para trás. Salazar arrancara também a espada do outro gêmeo, ainda imóvel, e gritou por Vega, devolvendo a arma para esta poder atacar novamente. A espadachim esperou as cartas recuarem e atravessou um dos olhos verdes de Cras, prendendo-o ao chão.

— Ora… vocês dois estão muito cooperativos um com o outro, mas isso não vai fazer diferença alguma. — ele sorriu, ainda que seu rosto estivesse mutilado e metade pregado ao chão, de uma forma que uma pessoa normal tivesse morrido. — Eu estava me divertindo, mas já me cansei. — ele voltou a desaparecer, assim como o chapéu que havia caído com o impacto e jazia ao seu lado. Salazar foi abraçado pelas costas e começou a sentir o rejuvenescimento agindo sobre ele novamente, a ponto de torná-lo uma criança desta vez. A voz de Heri era sucinta. — Eu acho que isso é um adeus.

— O tempo de vocês terminou. — complementou Cras, agarrando Vega pela nuca e vendo-a envelhecer ao seu mero toque. Rugas de expressão foram surgindo em sua face, enquanto o cabelo que já havia perdido muito de sua cor na primeira investida dele, agora ficava completamente branco e longo. Ela começou a perceber, também, que seus ossos estalavam, e sua visão do olho bom começava a falhar.

E então, ambos puderam ouvir a voz.

— Parem! Parem com isso agora, deixe-os em paz!

Um vendaval atacou os gêmeos com ferocidade, forçando-os a largar suas presas e voltarem sua atenção para a pessoa que começava a se aproximar do centro do lugar. Louise vinha caminhando decididamente, praticamente marchando, as bochechas infladas. — Parem de machucar o Sala e a Vega, eles são boas pessoas. Nós estamos apenas tentando resgatar a princesa, isso é desnecessário.

Os gêmeos se juntaram novamente, sem que a ventania tivesse feito qualquer dano significativo. Cras ajeitou o chapéu na cabeça, este parecia tampar o olho ferido por Vega – que, estranhamente, ficava no mesmo lado do que ela própria havia perdido – enquanto Heri fazia uma careta de poucos amigos.

— A princesa, você disse?

— Creio ter visto uma garota sendo levada de volta por aqueles monstros estranhos, mas foi de relance.

— De qualquer forma. — Cras cortou. — Isso não é da nossa conta. Saiam do nosso território, é a última vez que avisaremos.

— Depois de vocês terem feito isso com os meus amigos? — Louise apontou para uma Vega que mal conseguia se por de pé, com pelo menos uns quarenta anos a mais do que deveria ter, e um Salazar baixinho e franzino, que não parecia chegar nem aos dez anos de idade.

— Vocês foram avisados.

— Sim, e várias vezes ainda por cima! — Heri levou as mãos a cintura. — Pare de agir como se sua amiga não tivesse culpa dessa situação!

— Bom… creio que todos sejam um pouco culpados. — Allistar interrompeu a discussão, finalmente adentrando o terreno, também. Ele espanou as suas vestes com as mãos e ajeitou seu próprio chapéu, antes de observar Cras. — Seu irmão deveria cuidar “disso” para você.

Com “isso”, ele referia-se ao olho ferido, que deixava uma linha sangrenta escorrer pela face da entidade, como se fosse o caminho de lágrimas vermelhas. Cras deu de ombros, sem se dar ao trabalho de endireitar-se uma vez mais. — Isso não é de sua conta, Allistar. Você é sensato, faça o favor de pegar esses jovens encrenqueiros e levá-los embora.

— Estranhamente eu vejo mais vocês dois como encrenqueiros, mas isso não vem ao caso. — o explorador retirou do bolso um amuleto estranho, parecia muito com um relógio de bolso, mas não se movia nem tiquetaqueava. Ele segurou-o pela ponta da corrente, fazendo-o balançar de um lado para o outro, como um pêndulo. — Encontrei isso aqui quando escavava as Terras de Ninguém, a um bom tempo atrás.

Os olhos de ambos os gêmeos cresceram. Heri, o mais desinibido, saltou para a frente, pronto a agarrar a coisa, mas Allistar retirou-a de perto dele antes que conseguisse. — Como você…?

— Eu tenho minhas fontes, e meus méritos como explorador. — O homem sorriu, e fitou o outro gêmeo. — E então, vamos fazer uma troca? Devolvam os anos roubados de meus parceiros e deixem-nos atravessar, assim como aqueles que virão atrás de nós, e lhe dou isso aqui.

— Isso não vale tanto assim. — protestou por sua vez Heri. Ele havia cruzado os braços e encarava Allistar como uma criança birrenta. Louise se perguntou porque ele simplesmente não tirara o amuleto do homem, já que era tão poderoso assim.

— É uma troca injusta, e sabes bem disso. — prosseguiu Cras, finalmente mostrando seu sorriso malicioso novamente. — Contudo… se ficar nos devendo o resto da compensação, já que é uma pessoa honrada que cumpre suas promessas… podemos fechar o acordo.

O outro gêmeo sorriu também, astutamente, e andou em direção a Vega, tocando-a com sutileza no braço. Com um misto de desagrado e alívio, ela viu quando seus anos extras foram retirados. Cras foi na outra direção e tocou Salazar na testa, de maneira que logo o mago estava com sua idade ideal, e suas cartas disparavam alegremente ao seu redor, podendo reconhecer o mestre.

Não era preciso uma resposta de Allistar. Ele sorria calmamente, esperando com cautela enquanto os parceiros eram curados. — Vocês não vão me mandar fazer nada ilegal, vão?

— Hum… você compreende muito bem os riscos. — Cras estreitou seu olho verde.

— Nah… nada relacionado a crimes desta vez, mas talvez sua ajuda seja útil mais para frente. — Heri saltava alegremente, de um lado para o outro, com as mãos para trás. Ele capturou o chapéu fedora do irmão, deixando seu rosto maculado à mostra, e logo encostou a palma da mão na ferida. Esta também acabou por cicatrizar-se, completamente, sem deixar nem rastro.





Com as bençãos dos gêmeos do Tempo – sabiamente compradas por Allistar – nossos amigos seguiram viagem, em direção ao último obstáculo antes de seu objetivo. O Porteiro e Firole ficaram para trás, a espera dos reforços que viriam a passar por ali, para terem certeza de que Heri e Cras iam cumprir sua parte no trato. De maneira que, quando atravessaram o limite do Vale Parado no Tempo, se libertando dos pêndulos gigantescos e oscilantes, para chegarem à margem de um rio fluorescente a ponto de cegar, a vanguarda se resumia em quatro pessoas:

Uma espadachim talentosa com o orgulho despedaçado.

Um mago com os nervos a flor da pele.

Um explorador com nenhuma habilidade conhecida de luta.

E uma garotinha de olhos de coelho, desmemoriada, cuja imaginação era a sua única cartada.

E assim, o fim desta aventura torna-se cada vez mais próximo.


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Notas finais do capítulo

Well... espero que tenha valido a pena a espera rs
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Considerações especiais do capítulo: Heri e Cras são palavras em latim (ou pelo menos o google tradutor afirma isso) e significam respectivamente Ontem e Amanhã. Por isso o primeiro tem o poder de rejuvenescer, e o segundo de envelhecer.
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Apesar de LnMdS ter um estilo meio "Alice no País das Maravilhas", os gêmeos não são baseados nos irmãos Tweedles. A ideia de ladrões do tempo é inspirada em um livro chamado Manu, a menina que sabia ouvir.
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Ainda sobre os gêmeos, a imagem é uma fanart humana de Shifty e Lifty, personagens de "Happy Tree Friends", que NÃO É PARA CRIANÇAS, então se você que está lendo isso for uma criança, não veja.
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A propósito, a capa da fic foi mudada também, e é uma fanart da Alice em versão anime - diga-se de passagem, essa imagem é realmente linda.
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Agradeço a todos que me acompanham até agora, e mil beijos para vocês.
Até a próxima



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