Caindo Em Sua Atmosfera escrita por Leelan


Capítulo 1
Uma "visita" inesperada


Notas iniciais do capítulo

Oi :)



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A casa dos seus pais ficava em um atalho para cidade, onde as árvores começavam a dar espaço para a civilização, mas ainda assim, guardava um pouco da sua essência. O cheiro da terra e das flores que brotavam para o início da primavera, o som de alguns insetos aqui e aculá, mas principalmente do rio a uns 300 metros dali. Era tão calmo e a brisa tão boa que às vezes, bem raramente, se arrependia de ter saído de lá, até pensar que os motivos para ficar não compensavam.

Ao abrir a porta o cheiro de bolo invadiu seu olfato e sua barriga roncou, chamou por alguém e só sua irmãzinha, Melissa, de 4 anos, veio lhe atender.

- Irmão! Irmão! Brincar de neneca, de casinha, vem! – E saiu puxando-o pela casa até alcançar seu quarto que ficava no térreo, por causa do perigo da escada, mesmo que apenas de poucos degraus. – Analu é o nome da minha filha e da sua é Maria.

Quando ele lhe fez a vontade de sentar no chão, ela lhe deu um beijo estalado na bochecha e um sorriso doce, já acomodando a Maria na dobra do seu braço. “Assim!”, ela assentiu satisfeita. Como sabia do amor de seus pais por aquela pequena, não podia imaginar que a tinha deixado ali sozinha, presumindo que sua mãe, no mínimo, estaria por ali. Muito provavelmente em seu estúdio no anexo, com suas modelagens de barro e argila pela qual tinha paixão e com a qual fazia o maior sucesso.

- Aqui, irmão, pra ela ficar alimentadinha. – E passou-lhe uma mamadeira de brinquedo.

- Como vai você, Mel? - Ele perguntou.

- Doce, doce – Respondeu primeiramente como sempre faziam na brincadeira típica deles, e então era só riso, um riso maravilhoso de criança. Ele encheu o rosto gordinho dela de beijos, matando a saudade. – Mamãe comprou um vestido “indo indo” pra eu que vou vender as peças com ela na feira.

- Que bom. Toma, acho que ela já comeu tudo.

- Ela é bem gulosa, parece com a mãe.

Daniel levou dois minutos até entender que a mãe era ele.

- Haha, engraçadinha. – E lhe encheu de cócegas.

- Tá bom, tá bom. – Ela disse rindo, até que ele parou. – Agora venha aqui, pra eu te deixar “bi-ito”. – E começou a puxar seus cabelos, no que ela chamaria de pentear.

- Querida, pra ser cabeleireira tem que ser mais delicada. – Disse, fazendo careta.

- Mais papai disse que sou delicada como um touro. – Rebateu, chateada.

- Bom, em alguma coisa ele tinha que ter razão.

- Tá vendo! – E sorriu toda satisfeita, achando que era a delicadeza em pessoa. – Cliente, pegue uma revista pra ver! – Ordenou, no modo em que cabeleireiras não ordenam à clientela, enquanto colocava presilhas e mais presilhas em seus cabelos louros.

- Sim, senhora! – Ele resmungou, pegando uma revista toda rabiscada da Barbie.

Foi essa cena que Olivia viu quando chegou e foi até a porta da Mel para descobrir quem estava com ela, poderia ter ficado horas olhando sem ser descoberta ali se não fosse por seu risinho denunciador.

Os olhos secretos pertencentes ao dono daquele cabelo dourado cheio de presilhas rosa olharam para ela com indiferença, como que assimilando sua presença, então as sobrancelhas em um tom mais escuro que os cabelos quase que se uniram ao franzirem e depois uma só levantou, indagando.

- Olie, Olie! – Se animou Melissa ao notar que ela estava ali, antecipando-se antes que ela pudesse se apresentar. – Meu irmão não tá ficando “bi-ito”?

Olivia lhe sorriu com carinho, então para seu irmão, prestes a dizer algo, mas ele lhe interrompeu.

- Olie não é nome de garoto?

- Só se você tiver uma mente limitada. – Ela disse bem humorada e apontou para a sua blusa que dizia em letras garrafais: “FAÇA UM FAVOR À HUMANIDADE, ABRA MAIS A SUA MENTE DO QUE AS SUAS PERNAS!”.

- O que você quis dizer com isso? - A sobrancelha esquerda do Daniel ainda estava suspensa.

- Que bom que você perguntou, as pessoas costumam entender errado. – Sua resposta veio com um pouco de malícia, mas verdadeira. E curta, não fazendo nenhuma menção de explicar.

- Olivia, querida, já chegou! Trouxe o manjericão

Daniel ouviu a voz de sua mãe antes de lhe ver o rosto, e então aquela face em forma de coração com as bochechas eternamente rosadas com uma animação interna apareceu na porta, com os olhos pretos brilhantes espiando pelo quarto.

- Filho! – Seu rosto já iluminado iluminou ainda mais com um sorriso. – Venha aqui dar um beijo e um abraço bem gostosos na sua mãe. – E esperou, como os braços estendidos.

Daniel não era nem louco de não cumprir aquela ordem, nem se fosse um pedido, nem se ele quisesse, já que a amava e estava com saudades. Então a levantou do chão e se deliciou com sua risada musical.

- Oi, mãe. – Ele sorriu, então fez uma careta. – Você não cresceu nada em todo esse tempo, como pôde?

- Nem me venha com essa, seu menino. – Lamentando com murmúrios a única coisa que lhe desagradava na vida, seu tamanho. – Sorte sua que mesmo garoto e mesmo puxando na maioria das coisas à sua mãe, não se saiu do meu tamanho. Sortudo de uma figa é você. E essa menininha aqui – continuou, pegando Melissa no colo – com fé em Deus não vai ser igual também, não é, querida? Deixa esse pesar pra essa velha aqui que teve de cuidar de dois filhos virados no sete, da casa e do marido...

Adelaide ouviu Olivia rir e só então lembrou que ela estava ali.

- Sim, sim, Olivia, o manjericão... Dan, já conheceu Olivia? – A dona da casa começou a andar para cozinha com a filha no colo, olhando para trás vez ou outra para dar atenção aos dois. – A nossa mais nova visitante.

- Uma visita mesmo? - Daniel perguntou, recebendo um olhar de insatisfação da mãe. Olivia não entendeu, franzindo a testa.

Adelaide deu um beijo na filha e a deixou no chão.

- Vão, vão, não fiquem na minha cozinha, quando o almoço estiver pronto eu chamo, o manjericão...

-... no balcão, dona Adelaide. – Olivia terminou.

- Pronto, obrigada. Agora chispem, até loguinho.

Mel já puxava Olie para o quintal para tratar de algum assunto a qual ela denominou de “caça ao tesouro”. Daniel seguiu a mãe, encostando-se ao balcão e pegando uma maçã da cesta.

- Mãe, e essa garota?

- Uma intercambista fofa, querido, a quem estamos dando abrigo, comida e cultura regional. – Adelaide enchia uma panela de água para cozinhar a massa do macarrão.

Daniel deu um suspiro resignado.

- Quando você vai parar de trazer estranhos para casa?

- Quando você vai se entender com seu pai? - Ela disse ao se virar. Daniel continuou sério, recusando a tocar no assunto.

- Pois os dois são ambos tão cabeça dura e tão iguais. Porque que não se entendem? Por isso. – E essa menina pode ser uma estranha, mas não somos ingênuos. Relaxe, vai me dizer que não convive com tudo o que é tipo naquela república em que você teima em ficar, enquanto deveria estar aqui com a sua família, na sua cama quentinha.

- Mãe, a cama não fica quente a menos que alguém esteja deitado nela, de modo que minha cama na república fica tão quente quanto.

- Ora, não tente me fazer de boba, sabe que não é a mesma coisa.

- Ok, insista então nessa sua hospitalidade irritante. Eu tenho que ir.

- Ah, não, querido, almoce com a gente, vai. Estou com tantas saudades. Permita a sua velha mimar o garotinho dela com seu prato preferido.

Mas um suspiro resignado, já que ele odiava lhe dizer não.

- Uhum. – Resmungou. – Mordendo a maçã e indo se sentar na cadeira de balanço que ficava na varanda que dava para os fundos da casa.


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Notas finais do capítulo

Dependendo da recepção posto mais ainda hoje.
Até mais ;)