Fernanda E Caio - O Político. escrita por Vanessa Carvalho


Capítulo 17
Capítulo 17




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Apesar de não saber ainda da morte de Aguiar e do mandado de prisão em seu nome, Henrique sempre evitava chegar pelos aeroportos oficiais. Sempre desembarcava em um aeroporto clandestino que ele conhecia. Quando chegou um carro já estava à sua espera. Um carro azul escuro, um modelo Ford.

Ele entrou sem falar muita coisa. Sempre que tinha que vir ao Brasil sentia-se enjoado. Detestava vir a este país de quinta, mas seu tio não desistia de centralizar os negócios aqui. Por isso mesmo, ele criou algo parecido com uma ponte aérea entre o Brasil e Amsterdã.

Durante o caminho para seu apartamento, tentou diversas vezes falar com seus contatos, sem sucesso. Olhou para o relógio e viu que já passava das três da madrugada. Não era de se estranhar que não estava conseguindo falar com ninguém. Se recostou no banco adormecendo logo em seguida. Só acordou quando o motorista avisou que já haviam chegado.

Ao entrar no apartamento, ligou logo a TV. Por mais que odiasse deixou em um canal de notícias 24h. Queria saber o que estava acontecendo no país, mesmo que odiasse.

As investigações sobre o esquema de tráfico de mulheres continuam. A informação mais recente é que o principal responsável, o Senador Aguiar...”

Ao ouvir o nome do Tio, Henrique começou a prestar atenção à matéria. Ele ficou completamente estático ao saber que o “esquema” como estavam falando, foi desativado? E Aguiar? Por que ele não estava conseguindo falar com ele?

“... Foi abatido depois do resgate da famosa advogada Fernanda Costa. Ele ainda recebeu atendimento médico, mas acabou morrendo no local. Caio Costa, empresário e marido de Fernanda, foi ferido, mas segundo informações passa bem, apesar de seu estado ainda requerer atenção. É de conhecimento da polícia federal que a rede era internacional, com atividades também em Amsterdã. A Interpol foi chamada para ajudar a polícia brasileira...”

Uma raiva incontrolável começou a surgir na boca do estômago de Henrique. Ao escutar o nome de Fernanda e de Caio e que eles foram os principais responsáveis pela morte de Aguiar, ele simplesmente não conseguiu mais se conter. Num impulso jogo o copo de uísque que estava na mão queimando a TV de plasma.

Pegou o telefone e discou um número que somente ele e o tio conheciam. Precisou ligar mais duas vezes para que fosse atendido. A voz do outro lado, ainda sonolenta, não o reconheceu de pronto, o que aumentou ainda mais sua raiva.

– Que porra que aconteceu na minha ausência? – Henrique estava histérico.

– “Henrique? Quando você voltou?” – O tom sonolento da voz ao telefone irritava ainda mais Henrique.

– Não interessa quando eu voltei, porra. Quero saber o que merda aconteceu aqui.

– “Eu falei para seu tio não levar a lancha para aquela Marina. Eles descobriram fácil o local. Também falei para Aguiar não subestimar o Caio.”

– Merda! E você porra? Não pôde fazer nada? A gente te paga e paga caro para que essas coisas não aconteçam.

– “Eu tentei, mas a merda foi que seu tio tentou estuprar a Fernanda. Caio escutou os gritos dela. Foi isso que aconteceu.”

– Merda. Quem atirou?

– “Henrique, é melhor eu conversar com você pela manhã e...”

– Quem atirou? – Desta vez ele não estava brincando. Apesar de sua voz estar num volume normal, a raiva escondidas nelas fez com que a espinha de quem estava ao telefone gelar.

– “Thiago. Foi o tiro dele que matou seu tio. Tiro direto no coração. Antes de morrer, porém, seu tio conseguiu atirar em Caio.”

– Sim, eu vi que ele está no hospital. Ele sofreu?

– “Não.” – A voz ficou esperando qualquer sinal de vida do outro lado da linha. Henrique estava calado. Estava como uma noite escura sem lua ou qualquer tipo de ruído. – “Você ainda está por ai?”

– Me encontre as dez da manhã no lugar de sempre. Precisamos decidir umas coisas.

Henrique desligou sem esperar respostas. Precisava se acalmar. Entrou no banheiro e ligou o chuveiro na água mais quente que conseguiu suportar. Ficou quieto. Desde que o pai morrera, Aguiar se tornou referência para ele. E agora ele também estava morto.

– Ah, sua piranha... Agora você vai sofrer como nunca sofreu em toda a sua vida.

Henrique desligou o chuveiro e molhado da forma que estava se jogou na cama adormecendo em seguida. Ele precisava estar calmo para poder se vingar da mulher que tirou tudo dele.

Há temos Henrique vinha pedindo para que Aguiar esquecesse Fernanda. O que estava feito estava feito. Sua rede era forte demais para arriscá-la com uma advogada de porta de cadeia. Agora, justamente por causa dela, a operação estava toda desfeita. Não foi como no passado. Agora era diferente. Henrique estava sozinho.

No dia seguinte, se dirigindo para o local marcado, Henrique começou a criar um ódio por Fernanda que não era normal. Ele queria que ela sofresse, a morte para ela era pouco. Queria vê-la com uma dor tão intensa quanto a que ele estava sentindo. Pensou na criança, mas, apesar de ter ódio da mãe, ele jamais teria coragem de fazer mal a uma criança. É como geralmente dizem, uma pessoa não é 100% boa, nem 100% má.

Ele queria destruir Fernanda. Poderia destruir a carreira dela, mas ele a conhecia, sabia que ela não ligava muito para isso. Ela tinha certa fama por ser considerada uma boa advogada, mas não dava importância pra isso. Tanto que desistiu da advocacia quando a filha nasceu.

O que ele sabia de Fernanda? Uma profissional competente. Advogada brilhante. Incorruptível. E completamente dedicada a família. Desistiu da carreira depois que casou.

– Pense Henrique! – Henrique estava falando sozinho.

Olhou novamente todos os documentos que tinha de Fernanda. Escondida entre vários papeis, Henrique encontrou uma foto dela e de Caio. Na foto eles estão um olhando pro outro. Ela está sorrindo. Feliz. E ia ser nessa categoria que Henrique iria afetar Fernanda. Enquanto esperava seu contado, Henrique começou a criar um plano para acabar com a mulher que lhe tirou tudo.

Naqueles dias Fernanda não estava conseguindo dormir direito. Ficava sempre preocupada com Caio. Ele ainda exigia cuidados especiais. Mas, ao menos agora já estava podendo dormir no seu próprio quarto. Mas ela estava com problemas pra dormir. Para evitar acordar Caio, sempre amanhecia no escritório. O que sempre deixava Caio chateado. Mas não era somente isso, alguma coisa a estava incomodando. Ela não sabia o que.

Naquele dia especialmente estava com o sono agitado. Sempre que fechava os olhos pra tentar dormir, imagens ficavam passando pela sua mente, como um filme passando no modo mais rápido que tem. Era difícil gravar as imagens; exceto uma...

Fernanda foi para o escritório e ligou o computador. Abriu uma pasta que somente ela tinha a senha e ficou analisando vários documentos em PDF. Eram os relatórios sobre o assassinato de Marcelo. Ela sabia que estava deixando passar alguma coisa, mas não sabia o quê. Ela estava distraída o suficiente para perceber o marido entrando no cômodo.

– Com problemas de sono de novo, doutora? – Caio sentou-se perto dela abraçando-a carinhosamente. Ele notou o quanto ela estava tensa. – Fernanda eu sei que você tem se preocupado comigo, mas... Que documentos são esses?

– Os relatórios sobre o assassinato de Marcelo. – Fernanda falou sem parar de ler (De novo) o relatório de Thiago.

– Qual o problema? – Caio estava beijando o ombro da mulher. Ele sabia que isso fazia com que ela se acalmasse.

– Sinceramente? Não sei.

– Isso não é uma boa coisa?

– Está tudo perfeito demais, entende? Sem furos, sem nada...

– A não ser pelo fato de ninguém saber quem está envolvido concretamente. – Caio terminou a frase da mulher. Ele sabia que mais cedo ou mais tarde ela se lembraria de Marcelo. Estava preocupado por ter acontecido cedo demais. – Fernanda, quer saber? Está tudo certo.

– Está tudo perfeito demais... Alguma coisa estou deixando passar. O Matheus... Já era pra ter encontrado alguma coisa do caso.

– Ele estava investigando o Aguiar, Fernanda.

– Mas...

– Mas nada. Eu conheço esse seu olhar. Essa sua ruga na testa. Você está achando que alguma coisa está errada nas investigações. E que vai se meter. Deixe o Matheus fazer o trabalho dele. Ele faz muito bem, você não precisa se preocupar com nada.

– Você? Defendendo um policial? – Fernanda falou tocando na testa do marido para se certificar que ele não estava delirando de febre.

– Ele estava ocupado tentando salvar você, meu amor. Agora, como ele está livre disso, vai poder se dedicar ao seu professor.

– Eu não sei... – Fernanda falou se encostando no corpo de Caio. Ela mal havia notado o quanto estava sentindo falta desses momentos de carinho com o marido.

– Amor, podemos ter, pelo menos alguns anos de paz? Já estou cansado de viver preocupado. De viver com medo de perder você e a Cris.

– Eu também. – Fernanda falou olhando para o marido.

– Que bom que chegamos em um acordo. Agora vem, estou sentindo a cama fria sem você nela. – Caio falou levantando puxando Fernanda para o quarto principal.

Na tela do computador um documento aberto. Criptografado. Nele continha algumas informações que Fernanda deixou passar. Informações estas que ao fim, ao cabo, traria uma enorme decepção para ela.

Naquele mesmo dia, pela parte da tarde, Henrique entrava em um café, desses de beira de estrada. Escolheu uma mesa mais afastada possível e esperou. Enquanto esperava, ficou analisando todos os documentos que possuía de Fernanda e Caio. Ele sabia que os dois confiavam plenamente um no outro, já vira isso outras vezes. Um relacionamento assim era difícil quebrar, só mesmo com a morte.

– Você está atrasado! – Henrique falou para o homem que sentou à sua frente.

– Desculpe, tive que resolver uns problemas. Como foi a viagem?

– Não me venha com essa de “como foi a viagem”, quero saber o que realmente aconteceu, e quando.

– Tem mais ou menos umas duas semanas. Eu estava tentando esconder a lancha e lembrei da tal marina. Achei que estivéssemos seguros lá. Não sabia que a Fernanda e o Caio conheciam o dono.

– Certo... O que mais?

– Eu vi tudo. Seu tio ficou bêbado e tentou agarrar a Fernanda a força. Ela gritou. Eles apareceram. Eu tive que me manter escondido, mas tentei ao máximo atrasá-los. Sem sucesso, claro. Falei para aquele velho idiota...

– Cuidado como você fala do meu tio. Ele não sabia raciocinar direito, mas ainda é da família.

– O que estou querendo dizer, é que seu tio não se controlou ao ver a Fernanda. Você há de convir que ela é atraente. Sempre foi assim, desde os tempos de faculdade.

– Eu não quero saber se ela é ou não atraente, quero que ela sofra.

– Então, quanto a isso...

– Não me venha ficar de coração mole agora...

– Henrique, posso ser bandido, vendido, do que você quiser me chamar, mas não quero ver a Fernanda sofrendo...

– Se você se preocupasse tanto assim com ela, jamais a teria chamado para lhe ajudar. Tudo isso é culpa sua.

– Eu sei, foi um erro meu, deveria ter imaginado que ela conseguiria resolver o problema.

– Então agora, o que você sabe sobre ela e o Caio?

– Não muito. Você deve saber melhor do que eu, afinal de contas...

– Eu sei. Meu pai, aquele estúpido. A mamãe não aguentou, entende? Depois que ele morreu?

– Henrique eu...

– Do que eles têm medo?

– Como é?

– Medo? Quais são os medos deles dois?

– A Fernanda eu sei, ela tem medo de ficar sozinha, de baratas e de cobras. O Caio? Não tenho certeza, não o conheço muito, mas acho que de ficar em um local fechado, abafado e de perder a Fernanda.

– Claustrofobia? Não sabia.

– Bom não sei o grau, mas sei que uma vez ele comentou, por que?

– Por nada. Obrigada. E Marcelo?

– Sim?

– Admita...

– Admitir o que?

– Voce quer que ele suma pra poder ficar com ela.

– Agora não dá mais. Eu estou morto, lembra?

– Nunca se sabe.

Marcelo ainda ficou sentado mais tempo no café pensativo. Lembrou de como enganou a todos com sua suposta morte. Ficou esse tempo todo escondido nos arredores da cidade. Aguiar precisava de alguém como ele para o sucesso do seu esquema. Ele só não poderia permanecer vivo.

Quando chamou a Fernanda para ajuda-lo, tentou de todas as formas enganá-la, mas ela era esperta demais e logo chegou a pista certa. Por sorte, seu nome não havia aparecido. Mas era questão de tempo. Então, Aguiar deu a ideia de ele “morrer”. E assim foi.

No dia em que a lancha de Aguiar ancorou na marina, Marcelo estava preparado para partir junto com eles. Iria conversar com a Fernanda e leva-la com ele. Jamais deixaria que Aguiar a transformasse numa prostituta de luxo e com o tempo, ela talvez o perdoasse e até se apaixonasse por ele.

Mas, Marcelo sabia que isso era apenas um forte desejo. Nunca vira Fernanda tão apaixonada por alguém como ela é por Caio. E nada abala o amor que ela sente por ele. Durante alguns anos, Marcelo se ressentiu disso, mas depois de ver o quanto Fernanda estava feliz, resolveu não interferir.

Quando Aguiar o procurou, com a proposta, não conseguiu dizer não. Estava viúvo. Ele e a mulher não tiveram filhos, então... A proposta pareceu tentadora. Agora ele estava num dilema. Se conta ou não a verdade para Fernanda. E se ele contar, como ela vai reagir? Mas, agora ela realmente estava em perigo. Nunca confiou em Henrique. E agora, ele está com ódio de Fernanda. Marcelo não poderia deixar que nada de ruim aconteça com ela.

Calmamente levantou-se da mesa e entrou no carro. Ficou um tempo apenas olhando o painel. Ele sabia que talvez não saísse vivo dessa, mas... Fernanda valia a pena. Ligou o carro e rumou em direção a cidade.


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