A Canção Permanece A Mesma escrita por Bella P


Capítulo 19
Capítulo 18




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SPINNER'S END, COKEWORTH – Duas semanas depois

– Tem certeza de que quer fazer isto? - Draco fuzilou Hermione com o olhar. Era a sétima vez que ela perguntava isto.

Duas semanas haviam se passado desde o fatídico dia em que Dean e ele saíram do portal no meio de uma floresta no Maine. Draco considerou dar meia volta e retornar, pois havia deixado uma coisa importante para trás: o seu coração, mas quando se virou o portal já tinha sumido.

– Vamos cara. - Dean havia pousado a mão no ombro de Draco para lhe chamar a atenção. O homem olhava para o espaço onde estivera o portal como se tivesse deixado a alma para trás, o que Dean estava começando a considerar verdade.

O modo como Malfoy havia reagido as notícias de Astoria era como se o mundo dele tivesse ruído ali. Dean também não queria deixar a prima para trás, mas compreendia a decisão dela, pois teria feito a mesma coisa se estivesse em seu lugar.

Draco suspirou cansado. Anos de busca em vão, para no fim somente terminar aquela jornada com um vazio enorme no peito.

– O que vou dizer para Daphne? - a cunhada poderia não demonstrar, escondendo-se por detrás de uma máscara de arrogância, mas ela também esperava ansiosamente a volta de Astoria. Dean somente deu de ombros como resposta e Draco percebeu a ausência de um certo alguém ao lado dele. - Onde está o Castiel?

A expressão fechada do caçador foi resposta o suficiente. Os olhos verdes tinham a mesma expressão sem vida que deveria estar nos olhos de Draco. Não convivera tempo o suficiente com o trio que acompanhava Astoria, mas tornou-se um bom observador durante os últimos anos para reparar em como Dean e Castiel olhavam um para o outro. Havia muito mais do que camaradagem naquele olhar.

Quando havia virado-se para Astoria para perguntar qual era o nível de profundidade da relação do anjo com o caçador, ela já sorria matreira em sua direção, tendo lido em seu rosto a pergunta em sua mente. O sorriso dela havia sido resposta o suficiente.

– Ele vai cuidar da Astoria. - embora Dean preferisse que ninguém tivesse ficado para trás, ao menos lhe servia de consolo saber que Astoria e Castiel teriam um ao outro. - Venha, precisamos saber onde estamos.

E ambos seguiram viagem pela mata, com Dean assustando um casal de campistas ao aparecer para eles no estado deplorável em que estava e ainda apontando-lhes uma arma. Draco permaneceu nas sombras das árvores, longe do feixe de luz da lanterna nas mãos do campista que tremia e cuja namorada escondia-se às suas costas.

– Onde está a estrada? - Dean havia perguntando com uma voz rouca e se Draco estivesse no lugar do garoto com a lanterna, também teria se borrado todo. Winchester parecia um maníaco e a sua sanidade fugiu de vez quando ele roubou a mala dos campistas e saiu correndo, obrigando Draco a fazer o mesmo.

Meia hora depois eles chegaram na estrada, perto de uma placa que dizia que eles estavam no Maine.

– Bem, acho que é aqui que nos separamos. - Draco declarou e recebeu um olhar chocado de Dean.

– Eu não acho... - o bruxo o interrompeu antes que ele dissesse mais alguma coisa.

– Eu sei o que Astoria pediu, e agradeço a consideração, mas eu preciso voltar para a Inglaterra e você tem um vampiro para ressuscitar.

– E um irmão para procurar. - porque Dean estava curioso em saber onde estava Sam. Se o tempo no Purgatório passava da mesma maneira que na terra, ele ficou praticamente um ano preso naquele buraco. O que Sam estava fazendo nesse meio tempo que não foi salvá-lo?

– Aqui. - Draco fechou a mão em um punho e franziu as sobrancelhas em concentração. Um minuto depois ele abriu os dedos para mostrar um cartão de visitas que ele havia conjurado. Prontamente estendeu o pedaço de papel para Dean. - São os contatos de Daphne Greengrass, irmã de Astoria e sua outra prima. Se precisar de ajuda com pesquisas ou a caçada, ou apenas dizer um alô, é só ligar para ela.

Dean guardou o cartão no bolso de sua jaqueta esfarrapada e estendeu a mão em um cumprimento. Se despediram sob a placa da estrada e enquanto Winchester seguiu o caminho que a placa apontava estar a cidade mais próxima, Draco desaparatou para o único local dos EUA que ele conhecia: Lawrence, Kansas.

Encontrar um telefone para ligar para Daphne e pedir uma chave de portal ilegal direto para Spinner's End não havia sido difícil. Difícil foi contar à ela por que Astoria não estava com ele.

Pela primeira vez desde que a conhecia, Draco viu Daphne chorar. Ela não era do tipo de ser escandalosa ao chorar, apenas sentou vagarosamente na cadeira atrás de sua mesa de trabalho e deixou as lágrimas rolarem silenciosamente pelo seu rosto pálido. E a cena era pior de se presenciar do que se ela tivesse realmente feito um escândalo.

– O que diremos aos meninos? - ela perguntou depois de meia hora fitando o nada, chorando quietamente. A sua voz estava rouca e carregada de tristeza e Draco teve que engolir o bolo em sua garganta para não despedaçar naquele momento.

Estava dormente por dentro, como se somente agora estivesse finalmente de luto pela morte de Astoria.

Quando a mansão explodiu, levando a vida de sua esposa junto, ele não se permitiu sofrer. Até porque, aquela situação não seria permanente. Mas agora que tinha regressado do Purgatório sem Astoria ao seu lado, sabendo que ela nunca mais voltaria, era que a ideia de que ela estava realmente morta finalmente entrava na sua mente enevoada.

– Vamos... - o quê? Mentir? Drew e Benny eram crianças inteligentes para a pouca idade que tinham. Enganá-los não levaria a nada. - Não sei.

No fim eles não precisaram dizer nada. Quando os garotos viram Draco de volta sem a companhia da mãe, eles compreenderam imediatamente o que tinha acontecido, pondo-se a chorar copiosamente nos braços do pai.

Naquela noite Daphne cedeu a cama de casal em seu quarto para Draco e os filhos dormirem. Eles precisavam desse contato, desse consolo que somente a família poderia oferecer. E no dia seguinte, Potter e a sua trupe apareceram em Spinner's End e foram colocados a par dos recentes acontecimentos.

– E o que você vai fazer agora? - Harry perguntou para Draco que lançou um olhar para Drew e Ben que brincavam na sala. Os meninos não queriam ficar longe do pai desde que esse voltou. Era como se eles achassem que se perdessem Draco de vista, ele sumiria de suas vidas também.

– Vou desbloquear os poderes deles...

– Malfoy. - Hermione começou. - Desbloquear os poderes deles não irá ressuscitá-los aos olhos do Ministério. E se você registrá-los com os seus novos nomes, irá levantar suspeitas. - Malfoy se recusava a tirar o Nico e Scorpius dos nomes dos meninos.

– Eu teria que registrá-los se fosse matriculá-los em alguma instituição de ensino mágica. O que não vai acontecer. Daphne e eu seremos perfeitamente capazes de ensiná-los tudo o que eles precisam saber sobre magia.

– E quanto a acusação que paira sobre a sua cabeça? - Ron perguntou.

– Não estará mais lá se eu estiver morto.

Essa conversa aconteceu há uma semana. Drew e Ben tiveram os seus poderes desbloqueados dois dias atrás. Agora era a vez dele, com a diferença de que o ritual que ele escolheu não seria reversível como o do seus filhos. E era por isso que Granger estava perguntando mais uma vez se ele estava certo disto.

– Granger, suspeito que você não tem confiança em fazer o ritual. - provocou e a resposta dela foi imediata: Hermione fez uma careta de desagrado e deu um passo à frente, com as pontas dos seus sapatos quase tocando a linha delimitadora do sigilo sobre o qual Draco estava.

O plano era simples: Potter e Weasley encontravam-se perto de Matlock, último local em que Draco fora avistado, em uma suposta perseguição que terminaria em um terrível acidente que faria o Land Rover virar cinzas, matando Draco Malfoy.

Draco admitia que lhe doía dar cabo do carro. O havia mantido somente para devolvê-lo a Astoria quando ela voltasse, mas também havia se apegado à ele. O Rover fora o seu lar nos últimos anos e agora seria o seu suposto túmulo.

Granger deu uma olhada no relógio de pulso e retirou do bolso o celular que havia emitido um pling avisando da chegada de uma mensagem. Provavelmente era de Potter ou Weasley informando que o Rover deveria estar sendo consumido por chamas naquele momento.

– Está na hora. - declarou e Draco assentiu, virando em um gole só a poção que estava em suas mãos ao mesmo tempo em que Hermione começou a recitar o feitiço dos druidas contido no velho livro que estava em seus braços.

O sigilo sob os pés de Draco brilhou a cada sílaba que Granger falava, borboletas pareciam revoar em sua barriga e a sua pele começou a brilhar, dispersando a energia que percorreu o seu corpo da cabeça aos pés até dissolver-se no símbolo no chão.

Quando Hermione disse a última palavra, um clarão os cegou por um instante e logo assim que sumiu, os dois se entreolharam. Granger estendeu para Draco a sua varinha e ele a pegou, a apontando para um jarro de ervas em uma das estantes que adornava as paredes daquele porão. Girou o pulso ao executar um simples feitiço convocatório que não funcionou.

– Irei ao Ministério me certificar de que você está realmente morto. - Hermione falou, fechando o livro e o colocando sobre a mesa mais próxima. - Eu... – hesitou. Isto era algo que queria dizer desde que Malfoy voltou do Purgatório, mas não sabia se as suas palavras seriam bem vindas. - sinto muito por Astoria. De verdade. - Draco apenas fez um leve sim com a cabeça, mostrando que aceitava as condolências dela, e a observou subir a escada até desaparecer além da porta do porão.

Assim que ficou sozinho, ele suspirou longamente. Tinha certeza que o ritual havia funcionado e agora que estava morto como o resto de sua família, sem mais acusações do Ministério pesando nas suas costas, o que faria da vida?

– Pai? - Draco ergueu a cabeça para ver Ben no topo da escada com os olhos cinzentos largos e torcendo os dedos um nos outros em um gesto nervoso. - Drew quer saber se você viria assistir um filme com a gente. - ele riu e calmamente subiu a escada, chegando ao topo e erguendo Ben no colo.

– Você está ficando pesado. - brincou. - Sem mais biscoitos da tia Daphne como lanche da tarde. - Ben somente fez um bico adorável para ele.

– Eu não estou gordo! - protestou ofendido. - São músculos! Um dia eu serei forte que nem você e irei caçar monstros com você! - falou convicto e Draco sorriu afetuoso, acariciando de leve os cabelos loiros.

– É, você vai. - respondeu, ainda com o sorriso no rosto.

Agora que estava morto como o resto de sua família, estava na hora de cuidar do que restou dela.

LIVERPOOL, INGLATERRA - um mês depois

Uma coisa que Draco detestava fazer era caçar em cidades grandes. Mais locais para os monstros usarem para se esconder e mais chances das autoridades locais perceberam que o seu distintivo era falso. Mas era um mal necessário, pois uma vez nesta vida era difícil deixá-la para trás. E agora que não era mais um bruxo, sobrava-lhe apenas ser um caçador.

Com todos os músculos doloridos, Draco abriu a porta do quarto de motel de décima categoria em que estava hospedado. O monstro da vez havia sido um espírito vingativo que não queria partir desta para a melhor de nenhuma maneira, e fez questão de enfatizar isto arremessando Draco de um lado para o outro contra paredes e outras superfícies duras e desconfortáveis.

Praticamente se arrastou para dentro do quarto, não perdendo nem tempo em acender a luz, deixando apenas que a iluminação do estacionamento clareasse fracamente o aposento. Quando encontrou a cama, jogou-se de bruços nela e estava pronto para se deixar levar para o mundo dos sonhos quando alguém disse:

– Olá Draco. - Draco saiu da cama em um pulo, já engatilhando a arma que havia tirado do cós da calça e a apontando na direção de onde veio a voz.

Um clique foi-se ouvido e luz inundou o quarto, cegando Draco por um segundo antes dos olhos dele se acostumarem com a claridade e reconhecerem o seu visitante.

Astoria estava parada perto da porta de entrada, usando a mesma roupa que usava quando morreu, com um pouco mais de cor do que na vez em que a viu no Purgatório. Ela sorriu para ele, um sorriso matreiro, e cruzou os bracos sobre o peito. Draco, por sua vez, permaneceu na mesma posição, com a arma ainda apontada para ela.

– Volto da morte e é essa a recepção que eu tenho? - gracejou, mas isto não desfez a carraca que ele ostentava.

– Me desculpe se não estou soltando fogos, mas da última vez que nos falamos você me disse que não poderia voltar à vida. E aqui está você, absurdamente viva. - porque ele tinha certeza de que Astoria estava viva. Ela não possuía a palidez comum de um fantasma ou as cores desbotadas desses. As suas bochechas estavam rosadas e as suas roupas com cores vibrantes, senão um pouco sujas.

– Se não confia, faça os testes. - e foi o que Draco fez.

Com a arma ainda apontada para ela, foi até sua bolsa de viagem e recolheu uma faca com lâmina de prata, a jogando para ela. Astoria pegou a arma e prontamente cortou o antebraço, fazendo este sangrar e nada mais. Em seguida veio um punhado de sal no rosto.

– Sério mesmo? Estou aqui sangrando e você ainda acha que sou um fantasma?

– Melhor prevenir do que remediar. - disse e estendeu para ela uma garrafa d'água. Astoria rolou os olhos e pegou a garrafa, tomando um longo gole da água benta dentro desta.

Quando finalmente ela passou em todos os testes que Draco relaxou e permitiu que a ideia de que Astoria estava realmente ali fosse verdadeira.

– Como... - perguntou com a voz falha.

– Castiel. Anjos vieram salvá-lo e ele negociou a minha ressurreição. Disse que não voltaria sem mim...

– O seu corpo...

– Usaram a minha magia. Nossa magia é da terra, o nosso corpo é atado a esta terra, perdi a minha magia, mas recuperei a minha vida.

– E quanto a marca do Inferno?

– Apagada quando fui marcada pelo Céu ao ser ressuscitada por anjos. E aí? O interrogatório acabou? Finalmente terei as boas vindas que mereço?

Draco desta vez não hesitou, simplesmente lançou a arma sobre a cama, cruzou o espaço que os separava em três passadas, envolveu os seus braços ao redor da cintura dela e esmagou os seus lábios nos de Astoria, a beijando com desespero, deixando as suas mãos percorrerem ombros, cabelos, pele exposta pelas roupas, tudo. Precisava sentir que ela estava realmente ali, que aquilo não era mais um das centenas de sonhos que já teve. Mas então sentiu o coração dela palpitar junto com o seu, as unhas cravarem em seus braços, marcando a pele, e a respiração quente chocar contra o seu rosto.

Astoria estava realmente ali. Viva! De volta aos seus braços, de volta a sua vida. De volta para ele.

Ficaram ali parados no meio do quarto por minutos, somente se abraçando, curtindo a presença um do outro, ainda mal acreditando que tudo tinha acabado bem. Que eles realmente estavam juntos de novo. Minutos de silêncio se passaram até que Draco percebeu algo curioso.

– Quem diria que em seu aniversário, quem receberia o presente seria eu. - Astoria se afastou, o mirando confusa.

– O quê?

– Dois de Maio, Astoria. Feliz Aniversário. - declarou e ela arqueou as sobrancelhas.

– E o meu presente? - Draco riu da maneira que não ria há anos.

Eram as mesmas palavras que trocaram no dia em que a guerra contra Voldemort havia acabado. Palavras que foram repetidas quando a guerra que nos últimos cinco anos acontecia dentro de Draco finalmente terminou.

Ele tinha o seu alicerce de volta em sua vida. Agora estava em paz.


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