Dias de Um Passado(quase) Esquecido escrita por Lexas


Capítulo 3
No Coração da Tempestade




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  "Ei, como estás cara Julieta ?
Os clones que me dizem que és antiquado
É o amor que as bonecas tem por ti
Eu sei lidar com eles
O Dna que carregas
É a perfeição que eu buscava
Se simularmos nossa união mais tarde
Veremos o nascimento de uma nova era
Mais ainda melhor do que fazê-lo virtualmente
É passar por isso um milhão de vezes, certo ?
Não entendo a lógica, sabe
Daquilo que o meu coração quer
Ninguém mais pode entender, sabe
E eu não preciso demonstrar
Esta paixão suprema que sinto, quando sou como Romeu para você ...."
— Até que você canta bem, Akira .
— Hã ? Quem está ai ?
Antes que termine sua linha de pensamento, um vulto sai da copa de uma das árvores e cai alguns degraus acima . Olhando para trás, Akira lembrou-se de que estava numa escadaria, em que qualquer distração poderia ser bastante dolorosa .....
O vulto salta para cima dele, enquanto ele pensa : Como foi que cheguei a esse ponto ?
* * * * * * * * * * * *
Lá estava ela, como sempre, treinando . Tinha que treinar . Era a titular da equipe de Karatê da escola . E mais do que isso : tinha que estar sempre pronta para qualquer "eventualidade" . Qualquer mesmo .
No entanto, algo a perturbava . Era uma inquietação .... uma distração . Algo interferia com a harmonia do ambiente . Se tivesse aberto os olhos, descobriria facilmente o motivo, mas ao invés disso resolver se concentrar mais e mais . Era incrível o que a falta de um professor fazia . Ela ficava se perguntando se as coisas seriam diferentes se tivesse tido um professor adequado para lhe ensinar ....
Repentinamente ela abre os olhos e olha para trás . Havia mais alguém na sala além do professor . Era um rapaz .
O professor aplica-lhe um golpe na nuca, chamando sua atenção em definitivo ;
— Limpe sua mente de todos os pensamentos mundanos .
— Mas eu ....
— Não discuta enquanto eu falo . Apenas ouça e execute .
— Hai .
E ela volta a se concentrar . Num movimento de sorte, ela olha para trás sem que o professor perceba, mas o garoto já não estava mais ali . Que estranho, ela pensava . Aquele garota lhe era muito familiar ....
* * * * * * * * * * * *
Arrancado de seus pensamentos, Akira é atingido no peito e arremessado para trás . Num esforço enorme, ele gira o corpo para baixo, de forma que consegue apoiar as mãos no chão . Ainda sofrendo pela velocidade ganha no impacto, ele toma impulso com a mão e termina de girar o corpo, caindo de pé por pouco .
Tão logo toca o chão, Akira é vitima de uma rasteira, essa o fazendo cair por definitivo de cara no chão . Durante os longos e sacrificados segundos que seu cérebro leva para processar a dor, ele tem um novo pensamento : "Ai" .
* * * * * * * * * * * *
Realmente, as deficiências deixadas pela falta de um mestre foram enormes . Parando por alguns instantes, ela se lembra de tudo pelo qual havia passado . Teria sido diferente ? Se tivesse se empenhado mais , será que ....
Não, era o que lhe vinha . Tudo já havia acabado . Se ela havia conseguido sobreviver ate aqui, era foi forte . E ser forte não é apenas ter grande força física .
Em meio ao seu ar de preocupação, ela nem percebe quando chega ao refeitório .
Logo depois, quatro pessoas sentam junto dela : duas loiras, sendo que uma delas possuía duas tranças realmente enormes, uma outra cabelo cujos cabelos pareciam um misto de negro com vermelho e uma outra que havia se sentado por ultimo, só que, ao contrário das três ultimas, seu jeito de andar não havia chamado tanta atenção . Uma das loiras começou :
— Meninas, vocês precisavam ter visto a competição de hoje .
— Competição ?- A que havia se sentado por ultimo se expressou . Ele havia colocado um marca-texto em seu livro e começou a prestar atenção no assunto – Que competição ?
— Ora, a de natação !
— Está dizendo que houve uma competição de natação hoje ? Que bom, mas ..... Minako .... quando você começou a praticar natação ? – Ela perguntava num tom de curiosidade, mas nunca esperava a resposta que estava por vir .
— Ela não pratica, Amy . Foi assistir o Yusuke da turma A-3 disputar o campeonato .
Amy nem se deu ao trabalho de comentar . Como essas "ocasiões" não eram novidade, ela se pôs a continuar comendo .
Mas algo chamou sua atenção .
Makoto .
Desde que chegaram no refeitório, ela não deu um pio . Estava ali, quieta, apoiando-se na mesa, como se estivesse olhando para o vazio .... ou para alguém ....
Embora não fosse muito boa nisso, algumas engrenagens começaram a girar na cabeça de Amy :
1 – Makoto estava em silencio ;
2 – Ela não havia dito nada quantos todas sentaram-se à mesa ;
3 – Ela não parece Ter prestado atenção ao comentário de Rei ;
4 – Tampouco ao comentário de Minako ;
5 – Se sua memória não falhasse, ela podia jurar que conhecia aquela expressão facial que Makoto estava fazendo ;
6 – o tópico 5 é muito importante ;
Maquinando minuciosamente cada informação obtida, Amy começa a formular uma teoria, no entanto, o acanhamento a impede de expor sua conclusão, logo ....
— Makoto , por acaso você está apaixonada por alguém ?
Pena, ela pensava . Se Rei tivesse ficado calado só por mais alguns instantes, ela poderia ter exposto todo o resultado de sua pesquisa, começando dos primeiros sintomas até o estudo detalhado da melhor abordagem . Makoto não estava nem aí .
— Aí, aí .... hoje eu vi alguém .....
Minako, Rei e até Amy, falam todas ao mesmo tempo :
— Que te lembra alguém que partiu o seu coração !
Isso a deixa corada por alguns instantes, mas logo passava. Logo, logo passava .
* * * * * * * * * * * *
Mais chato do que dar de cara no chão, era o fato da poeira levantada pela sua respiração entrar no seu olho . Isso realmente é irritante . Akira estava passando por um desses momentos . Poderia ficar pior ? Por mais que tentasse se virar, por mais que tentasse levantar, ele não conseguia . Havia um pé nas suas costas, e o mesmo não concordava com o ponto de vista de Akira . Em meio a tanto irritação, ele começa a lembrar de algumas coisas .....

— Sensei, como faço para escapar quando um inimigo me encurralar ?
— Muito simples , pequeno Akira . Seja como o vento, que percorre os vastos campos, como a água, que molha a forte arvore,
como a terra, que dá solo aos necessitados, como o fogo, que ilumina as esperanças de cada um .
— Pô, sensei , não entendi !
— Nem eu !

— Ó flashback inútil ! Pois vai ser na marra !
* * * * * * * * * * * *
— Na marra !
Dando uma forte cotovelada no adversário, Makoto escapa facilmente de uma imobilização . Quando se vira em posição de contra-ataque, percebe um detalhe : ele já estava no chão .
— Ops !
O pobre rapaz tentava se levantar, mas seus ossos não concordavam com a opção dele . De fato, a cotovelada além de inesperada , foi violenta . Muito . O mestre olhava calmamente para Makoto, a qual já sentia que havia extrapolado ..... de novo .
No entanto, a reação dele é diferente do usual . Com uma ordem, ele encerra o treino, dispensando todos os demais alunos, que colocam de pé seu amigo . O mestre segue em direção a saída, passando por Makoto, num silêncio total .
E, se havia algo que ele havia ensinado, era que certas coisas não merecem nem palavras .
"Tenho que controlar mais a minha força"
Dirigindo-se até o vestiário, ela sutílmente percebeu que a sala não estava vazia . Olhando para trás, percebera rapidamente que havia um rapaz parado na porta, observando-a .
— Puxa, como você é forte ! Você luta muito bem !
— Um pouco ruborizada com o comentário, ela tratou de retribuir :
— O-obrigada . Eu me chamo Makoto . E você ?
— Suiti . Bom, eu tenho que ir . A gente se vê !
— Esper .....
Antes que ela pudesse terminar a frase, ele já havia saído . Ela corre atrás dele, mas ele havia sumido de sua vista . Ela continua correndo, chegando até o pátio, mas falhando inutilmente em encontrá-lo .
Foi aí que ela se tocou de que estava no pátio, de kimono , e que havia corrido desesperadamente atrás daquele garoto .
— Acho que .... acho que ....
Ela suspirou, libertando um pequeno riso em seguida . Seus olhos brilhavam e suas bochechas coravam . Makoto sabia o que isso significava : Estava apaixonada .
Até que era uma cena bonita de se ver, pensava Usagi, que estava no segundo andar ,observando a amiga . Embora tivesse se mantido calada(e mastigando) durante o recreio, ela havia prestado atenção ao comentário de suas amigas, e torcia firmemente para que Makoto finalmente encontra-se o seu par . Amy, que estava por perto, mantinha uma opinião um pouco diferença e até que um tanto quanto realista sobre o assunto .....
* * * * * * * * * * * *
Quando tudo falha, você não se desespera, improvisa
Akira agarra a perna que estava esmagando-o e, com um esforço incrível, começa a se mover . Seu adversário perde o equilíbrio, o que faz com que os dois comecem a rolar a escada , dolorosamente . Muito .
Felizmente, os degraus acabaram-se com uma rapidez incrível, deixando Akira arriado no chão, mal sentindo seu corpo . No entanto, contra a vontade de seu corpo, ele rola para a esquerda, escapando de um chute . Com o mesmo esforço, ele consegue se colocar de pé, pronto mais uma vez para encarar seu adversário .
A situação já havia passado de critica, mas desistir não era uma boa opção . Não mesmo .
Correndo para atacar, Akira é detido quando sente um punho fechado na boca-do-estômago, o qual o arremessa contra uma das árvores . Enquanto tenta retomar o ar, a figura sorri, num misto de malícia e engenhosidade .
Então, para a surpresa de Akira, o atacante começa a subir a escadaria , saltando alguns degraus de cada vez, sem diminuir o ritmo .
Isso significava uma coisa :
Problemas .
* * * * * * * * * * * *
Surpresa foi a reação de Makoto ao abrir seu armário para pegar um dos cadernos, e encontrar flores . Havia algo escrito : Suiti .
Admirada com o presente, ela trata logo de fechar o armário, embora tenha chamado a atenção de algumas pessoas .
Se tivesse prestado mais atenção, perceberia que estava com uma rosa no bolso do uniforme, e estava circulando por todo o colégio assim . Mas não era isso que ocupava sua mente . Nem mesmo quando a professora de biologia aplicava a aula sobre educação sexual, nem quando Minako passou no corredor e lhe deu bom dia, nem mesmo assim ela saiu de seu estado pensativo .
Makoto tinha motivos de sobra para estar assim . Algo a preocupava . Aquele garoto .... como era lindo !!!!!
Mas o que ela sentia por ele .... não podia ser .... era .... era diferente . Ao menos, era o que pensava . Já havia ficado apaixonada por outros rapazes, mas, de alguma forma, sentia algo um pouco mais .... mais ... profundo por aquele garoto .... mas como ?
Só havia visto ele duas vezes, e conversado na metade delas ! Será isso o que chamam de "amor verdadeiro" ? Será que foi assim com Usagi e Mamoru ?
Será que ela realmente estava amando aquele garoto ?
Ela pensava nisso a todo instante, enquanto folheava se caderno, no pátio . Nem lhe passou pela cabeça que talvez estivesse chamando atenção . Nem um pouco . Naquela altura dos acontecimentos, nada poderia surpreende-la ou asssustá-la . Nada .
Nada ?
Três toques ela sentiu, três toques ela percebeu, três vezes ela suspirou .... e uma vez olhou para trás .
E lá estava ele, cutucando-a . Tinha o mesmo tamanho que ela, seus olhos era verdes, numa tonalidade bem clara, e seus cabelos, marrom-claros . Seu uniforme estava semi-arrumado, com a blusa um pouco fora de lugar na parte de baixo, e a gola um pouco desarrumada . Mas ele estava ali, diante dela, e somente dela . E, para ela, aquilo era perfeito, era tudo o que ela queria .
Por que aquele garoto não lembrava alguém que havia machucado seu coração ....
* * * * * * * * * * * *
Ou talvez não .
De qualquer forma, ele estava fugindo . Sim, fugindo . Não sabia o motivo, e nem por quanto tempo, mas aquilo lhe garantia tempo para pensar . Ou se recuperar .
O ultimo golpe havia deixado efeitos mais críticos do que os anteriores . E não era pouca coisa, não . Aquilo realmente doía . Seria preciso um milagre para fazer que ele se movesse dali nos próximos minutos .
Infelizmente, o milagre(?) veio .
Foi quando Akira olhou para as escadas, longas, extensas, que pareciam atingir os céus.
E era isso que faziam .
Não "os céus" , mas o SEU céu . O seu paraíso . A coisa mais preciosa para ele .... estava no fim daquela escadaria .
Akira se lembraria disso depois, mas com certeza não reclamaria . Reclamaria da dor, mas não de sua decisão . Apesar da necessidade, seu corpo insistia em negar apoio . Estava sozinho . Mal podia contar consigo mesmo .
Se houvessem pessoas no local, teriam ficado incrivelmente espantadas ao ver um garotinho, de cerca de dez anos, correr a enorme escadaria . O que era realmente impressionante era que ele estava pulando cinco ou seis degraus a cada salto, num ritmo contínuo . O mais impressionante ainda só podia ser percebido por uma pessoa . A dor gerada pelo esforço, somada as fores crescentes do esforço de subir a escadaria , só eram detidas por uma coisa : sua força de vontade .
* * * * * * * * * * * *
Naquele instante, Makoto lembrou-se das flores . Era lindas . Tanto, que a simples lembrança a deixava envergonhada . Estava diante do rapaz .... e não sabia o que dizer . O rapaz parecia sofrer do mesmo .
— Hã .... é .... bem, eu .....
Logo Makoto percebeu o nervosismo e ansiedade em sua voz . Era fácil isso . Ele estava tenso, com medo da resposta .
— Sabe, Makoto, eu deixei aquelas flores no seu armário, sabe .
Isso era um tanto óbvio, ela pensava . No entanto, ela também estava agitada com a situação, não sabendo o que fazer .
— Mas .... por que essas flores ?
Era um jogo . Uma troca de responsabilidades .
— Por que elas refletem as pessoas . Elas refletem você, Makoto . Tão linda e forte, mas por dentro, aposto que esconde uma fragilidade e delicadeza sem tamanhos .
— ...... ?
— Sabe, Makoto, semana passada, dias atrás no dojo, aquelas flores ..... sabe, esses dias eu tenho te visto e....e .... eu nunca tinha conhecido uma garota como você , sabe . Forte, dedicada, corajosa, decidida e, além de tudo, mas não mais importante, muito bonita . Sempre que eu olho pra você, eu sinto uma .... uma coisa dentro de mim, e a cada dia já não consigo mais me controlar . Por isso eu tomei coragem e vim falar com você, me explicar . Eu queria passar mais tempo com você, Makoto . Estar ao seu lado, te conhecer melhor, sair com você, rir com você, com suas amigas ..... eu quero aprender a amar mais você .
Grande, pensava Amy . Era só o que faltava . Mais um conquistador .
Não era exatamente o que Makoto esperava . Quer dizer , até era, mas não dessa forma . Não esperava que ele atacasse de forma tão ... tão .... bem, numa escala de 1 a 10, sendo dez um conquistador irresistível, e 1 a cantada mais medíocre da face da terra, Suiti teria ganha algo em torno de .... – 4 !
Realmente, não era o que Makoto esperava . Ela esperava alguém que se expressasse melhor, que soubesse expor melhor seus sentimentos , que .... que ..... de qualquer forma, isso parecia não importar . Não a partir do momento em que ela podia sentir sinceridade em sua voz . Um sinceridade que ela não sentia a tempo . Talvez, por causa disso, ela nem tenha percebido quando começou a abraça-lo .....e a beijá-lo ....
Isso assustou incrivelmente Koizumi Suiti . Realmente, nem ele esperava por isso . Quer dizer, não dessa forma .
A verdade .... a verdade era que realmente estava apaixonado por Makoto . Era mais um garoto que havia terminado o primeiro grau e se aventurava pelo colegial, encontrando toda a sua sorte pelo caminho . Makoto foi uma dessas coisas que você encontra pelo caminho . Quando a viu, sentiu um fervor dentro de si diferente de tudo o que havia sentido antes . Incentivado por alguns amigos, ele tentou um "vai ou racha" . Aparentemente, havia funcionado . Pena que ele não possuía muita experiência nesse assunto, do contrário descobriria/perceberia muito mais de Makoto do que imaginava . Naquele simples abraço , teria notado algo mais da personalidade dela .Teria encontrado uma garota carente, com um espaço enorme no coração . Alguém que gostava de ser cativada, que precisava ser amada . Infelizmente, ele não percebeu isso ..... e pra sua sorte, naquele instante isso não estava fazendo diferença para ninguém .... a não ser para Amy , que demonstrava um olhar um tanto quanto triste enquanto Usagi comemorava por sua amiga .....
— Makoto-no-baka ....
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As escadas nunca pareceram tão extensas . Ele corria, digo, saltava, saltava, saltava .... e no entanto, nunca chegava ao fim . Alias, parecia que nunca iria alcançar seu alvo . Mas ele tinha que tentar . Ele tinha que se esforçar . Por ela . Por aquela que era tudo para ele . A sua razão de viver . Se ele era o que era, era por causa daquela pessoa .
Obviamente, seus ossos doíam mais, mas ele não se importava . Nem um pouco . Estava feliz , pois estava chegando ao fim, estava alcançando seu adversário . E isso antes dele chegar ao topo da escadaria . Seu adversário olhava para trás, arrependendo-se ao perceber um brilho nos olhos do rapaz . Havia fogo naqueles olhos . E ele gostava disso . Tanto que ficou perplexo quando o rapaz apoiou a perna nas escadas, dando um salto tão alto e tão .... perfeito, caindo em frente a ele, obrigando-o a parar. Pena, faltavam só alguns degraus .
A força com a qual Akira o chutou foi surpreendente para alguém da sua idade . Desnorteado por alguns instantes, ele não pode reagir quando o garoto agarrou seu braço e começou a girá-lo, cada vez mais rápido . De repente, ele o solta, lançando-o para cima das escadarias, o que acabara de deixar o indivíduo totalmente confuso . Mas a confusão não havia durado muito tempo, pois Akira também havia saltado e, quando aquele ser estranho havia tocado no chão ileso, Akira fizera o mesmo .
O ser estranhou, mas logo percebeu que o garoto estava entre ele e algo que parecia ser uma moradia . Esperto . Ele queria ganhar espaço para lutar melhor . Esperto, muito esperto .
Estranho era a única palavra que nascia nos lábios de Akira . O indivíduo usava uma roupa totalmente diferente do que ele imaginava . Tanto que ele nem sequer conseguia lembrar do nome . E, mesmo depois de tentar se concentrar em seu adversário, não conseguia visualizá-lo com extrema nítidão, apesar de estar vendo-o com extrema perfeição ..... ?
Mas afinal, eu estou vendo ele ou não ?
— Isso não importa . Minha vida bloqueará sua passagem !!!
Por um instante ele se surpreendeu . Se havia algo que não esperava, era o que o garotinho havia acabado de dizer .
Aceitando o convite, ele rapidamente parte com tudo em direção a ele . Só que, desta vez, com um sorriso a mais no rosto .....
* * * * * * * * * * * *
E, mais uma vez, Amy quebrara a cara . Aquilo já estava ficando repetido . E doloroso .
Há quanto tempo ela estava fazendo isso ? Dias ? Semanas ? Um dos dois . Mas isso não mudava a questão . Na tentativa mais recente, quase perdeu a amizade de sua amiga . E de suas outras também . A situação era bem delicada . Era como ser o único torcedor de um time . Usagi e Minako, as mais "avoadas" , não estava ligando para isso, chegando a dizer que ela estava com inveja de Makoto . Quanto a Rei .... bom , ela estava com um problema parecido .....
Mas o problema maior era Makoto .
Ao contrário do que as outras pensavam, Amy não estava com inveja de Makoto . Ela estava preocupada com sua amiga . Muito . Ela não confiava naquele garoto . Nunca confiou .
Mais do que ninguém, ela entendi a carência de Makoto, a ponto de sentir dor por ela . Desde que Makoto começou a sair com aquele rapaz, Amy conversava com ela, dizendo que ela devia usar a razão, e não o coração .
No entanto , foi em vão .
Todas já estavam no segundo bimestre, e desde então muitas idéias começaram a aflorar na mente de Amy . Uma delas era o que a fazia ficar preocupada com Makoto .
Particularmente, ela achava que Makoto havia dado muita sorte por não ter se dado mal anteriormente, visto que se apaixonava por tudo quanto é garoto que cruzava seu caminho .
E, pelo visto, sua sorte havia acabado ....
De qualquer forma, ela decidira ficar quieta . Mesmo que soubesse das conseqüências, sabia que uma nova investida acarretaria na perda da amizade de Makoto . Ela teria que entender o motivo da preocupação de Amy por conta própria ....
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Enquanto corria na direção do garoto, ele o observava de maneira fascinante . O garoto havia assumido uma posição um tanto quanto incomum : não possuía defesa alguma . Até onde sabia , geralmente alguém preparava o corpo todo para resistir a um ataque, o que consome todas as forças do indivíduo . Em contrapartida, por ter aberto tanto a guarda, seu corpo concentra toda a sua força num único e decisivo ataque . Essa pessoa acaba por esgotar-se por completo, mas deixa sérios estragos no alvo .
E ele era o alvo ! Aquele garoto não estava brincando !
Percebendo a determinação dele, o indivíduo rapidamente dá um salto curto para esquerda e em seguida, para frente e, para finalizar, para a direita . O que ocorre é que ele faz uma curva , deixando Akira golpear o vácuo , enquanto ele se posiciona atrás do garoto, segurando-o pelas costas e imobilizando-o completamente .
— Que ? Mas .... mas quem é você .... ?
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Simplesmente um fim-de-semana qualquer . Uma festa . Jovens dançando e se divertindo . O que pode resultar disso ?
De qualquer forma, Suiti estava lá, junto de Makoto . Uma espécie de confraternização que os alunos do terceiro ano promovem na metade do ano, como se fosse um "Seja bem-vindo" atrasado . Por ser realizada na casa de um dos alunos, a musica e a bebida não eram controladas . Parece familiar, não é ?
De qualquer forma, Suiti havia percebido algo (ou será que ele já havia percebido antes, e vindo na festa com essa idéia ? Vai saber .... ) em relação a maioria dos casais da escola : eles passavam muito tempo junto, saiam quase sempre junto, possuíam um grau maior de intimidade, não tinham vergonha de se beijarem perto dos amigos .... enquanto ele e Makoto estavam no "pega na minha mão" . Não que fosse tão ruim, mas ele começava a se incomodar com aquilo . E aquela amiga de Makoto, que vivia falando mal dele, dando palpites e metendo o bedelho onde não deve .... isso o irritava . Mas as coisas ainda iam esquentar .
Já deviam ser quase onze horas, e parecia que a festa não tinha hora para acabar . Depois de ficarem boa parte da noite juntos, o sangue de Suiti fervia cada vez mais . Vê-la na festa, com aquele lindo, lindo .... e sexy vestido, só haviam servido para provocá-lo mais e mais . Horas e horas dançando, colado com ela, beijando-a ardentemente, inclusive algumas vezes sua mão parecia ter vida própria, mas Makoto tratava logo de corrigi-lo . Numa dessas, ele se irritou :
— O que foi ? Qual é o problema ?
— Sabe, Suiti-chan .... eu .... bem ..... não acho que .....
— Ainda não entendi qual é o problema . Já não disse que te amo ?
Aquilo ainda a deixava corada .
— Eu também, mas .... é que .... você fica me "acariciando" aqui, e ainda por cima na frente de todo mundo .... não acha que nós estamos indo um pouco rápido ?
— Rápido ? Rápido ? Makoto, Nós estamos Juntos há seis meses . Qual é o seu problema ? Tem medo de mim ?
— Não, é que .....
— Já entendi . Você acreditou no que aquela sua amiga disse de mim . Eu vou indo . Até outro dia .
Aquilo a assustou . Não esperava por uma reação dessas da parte dele . No fundo, ela estava cheia de dúvidas . Afinal, qual seria a decisão mais certa ? No seu coração, ela sabia que o que sentia por Suiti não era paixão, e sim amor . Será que era esse o motivo dele estar chateado ? Será que ela não estava correspondendo ao amor dele .
Aquilo atravessava seu coração como uma faca quente abre caminha através manteiga . Abrindo caminho entre as pessoas, ela corria mais e mais rápido em direção a Suiti . Ele já estava na porta, quando ela gritou seu nome . Mesmo assim, ele continuo andando . Quando finalmente conseguiu chegar a saída, ele já estava no jardim, indo em direção ao portão . Quando faltavam alguns passos para alcançar a rua, ele ouviu a voz de Makoto, vindo detrás dele .
— Suiti !!!!
Mais alguns passos . Ao olhar para trás, ele viu que ela estava no jardim . Só mais alguns . Só mais alguns passos . Ah, dane-se !
Enquanto andava em direção aquela linda garota, ele tentava arrumar as idéias . Tentava arrumar a confusão que se formara . Não conseguiu .
Tão logo se aproximou, Makoto tratou de abraçá-lo de uma forma que ele não pudesse escapar, beijando-o em seguida . Sem que percebessem, estava caminhando pelo jardim, para uma parte longe da festa e dos outros . Em seguida, estavam sentados num banco que havia encontrado . Suiti colocara docemente seu braço sobre Makoto, de forma que sua mão esquerda acariciava a face de Makoto . Silêncio .
— Mako-chan .... do que você tem medo ?
Aparentemente ela não havia entendido a pergunta, era o que Suiti pensava . Estava enganado . Durante longos minutos, ela olhava para o céus . Qualquer um pensaria que ela estava contemplando o brilho das estrelas, mas na verdade estava contemplando outra coisa : Júpiter . O maior de todos o planetas . Seu guardião e, em tempos ancestrais, seu lar . Do que Júpiter teria medo ? Do que ? O que realmente poderia lhe fazer mal ? Nada . Júpiter não precisava se preocupar com algo que lhe fizesse mal .
— Eu .... eu não sei .
— Nem eu, Mako-chan . Nem eu .
Makoto deixa de olhar para cima, voltando seu olhar para Suiti . Ela encosta sua cabeça no ombro dele, deixando todas as suas preocupações de lado . Afinal, o que deveria temer ? Nada . Tudo havia acabado . E, se algo surgisse, sabia que todas as suas amigas estariam ali, unidas . E se isso ainda não fosse suficiente, Suiti estava ali .
Como por instinto, Suiti levantava gentilmente o rosto de Makoto . Era um rosto doce . Doce e carente .
— Kimi ga suki da yo .
— Também te amo, Suiti . Eu te amo muito .
Enquanto se beijavam, ambos sentiam seu sangue ferver . Em determinado momento, o qual havia sido apagado de suas lembranças, ambos perderam o controle de si mesmos e se entregaram um ao outro . Suiti acariciava Makoto, mas de uma forma que a cativava mais e mais . Ela nada fazia para reagir . Lentamente ele a acariciava, enquanto Makoto ficava bêbada de tanto provar seus lábios .
O resto .... é conseqüência .
* * * * * * * * * * * *
Akira se debatia mais e mais, inutilmente . Aquele ser misterioso o havia agarrado por trás de tal forma que ele não conseguia se livrar . Já havia usado tudo o que havia aprendido, mas nada havia dado certo . Mas isso não era o suficiente para fazê-lo desistir . Não mesmo . Ele continuava se esforçando para escapar, enquanto chutava a pessoa . No entanto, não conseguia se soltar, apesar não estar sendo esmagado . Isso era estranho, ainda mais quando percebeu isso . Aquele ser o segurava , mas havia cessado o ataque, estranhamente . Demorou mais alguns instantes para Akira perceber o que realmente estava acontecendo : Aquele indivíduo estava abraçando-o . Isso o assustou . Um pouco . Estava cada vez mais confuso, até que, de repente, a ficha caiu :
— Okaasan ?
— Hai, Akira-kun .Hai .
Agora ele estava entendendo . Tudo havia se tornado mais claro . Era por isso que não conseguia se soltar . Era por isso que seu adversário lutava tão bem . Era por isso que não havia conseguido descobrir quem era ....
* * * * * * * * * * * *
Algumas horas depois, Akira estava sentado à mesa, estudando . Aquele exercício que Minako-sensei havia passado era realmente difícil, mas ele tinha que tentar .
Entre um cálculo e outro, ele ficava pensando . Pensando na dificuldade em descobrir a identidade de sua mãe . Óbvio demais : Ela havia sido uma das famosas Sailors Senshi . De alguma forma, a transformação delas cria um efeito especial, uma aura, uma ilusão, ou seja lá qual a melhor explicação, mas ela cria algo que interfere com a percepção das pessoas . Elas não usam máscaras simplesmente por que a máscara é criada na mente das pessoas . Não que ele não soubesse quem ela havia sido, apenas nunca havia visto ela transformada e, como só havia ouvido falar das Senshi através de histórias e boatos, não sabia como elas eram .
Da cozinha, enquanto lavava a louça, Makoto estava orgulhosa . Tinha motivos de sobra para isso . Embora pequeno, seu filho era muito corajoso . E não era pra menos, já que corre em suas veias sangue de Júpiter . Sangue de guerreiro . Embora tenha "pego leve" com ele, sua forças não podiam ser comparadas . Mesmo assim, ele não desistiu nem um instante, mesmo quando seu corpo se negava a obedecer . Ele havia encarado-a, arriscando-se até o último instante, visando proteger, mesmo que ao custo de sua própria vida, uma pessoa : ela . E pelo fogo em seus olhos, não tinha dúvidas de que faria isso por qualquer pessoa .
Enquanto olhava para ele, Makoto se lembrara rapidamente de Suiti . Estranho . Nesses anos todos, praticamente havia esquecido dele . E do que Amy tanto falava . E também se lamentava .
Haviam se passado alguns anos . Todos marcados em sua vida .
E as palavras de Amy cravadas em sua mente .
E pensar que Amy era a única que se preocupava com ela . Era um sinal de que aquela garotinha tímida e frágil estava mudando .
E pensar que certa vez ela havia brigado com Amy por causa de Suiti . Idiota, ela pensava .
Amy tinha razão . Ela se preocupava com Makoto devido a mudanças de tempo . Elas estava no colegial . Eram jovens, bonitas e até que um pouco inocentes . Já tinha ouvido falar de muitas adolescentes que "se perdem" no meio do caminho, que fazem algo que as prejudica pelo resto da vida . Era isso o que Amy queria dizer . Ela não queria que Makoto fizesse algo de que se arrepende-se depois . Mas foi o que aconteceu .
Durante um curto período de tempo, ela amou e foi amada . Ela havia finalmente preenchido aquela lacuna em seu coração, e nada poderia tirar isso dela . Foi apenas uma noite, uma doce, suave, calorosa, ardente e tão preciosa noite, mas foi algo de que ela não se esqueceu . Se houveram outras, ela não se lembra . Apenas daquela noite, que havia sido muito especial . Naquela noite Suiti havia lhe passado todo o seu amor .
Faltava a dor .
A gravidez não havia sido bem recebida por ele . Desespero, nervosismo, raiva .... apenas algumas faces dele que ela não conhecia .... ou conhecia, mas ignorava . Como ela havia sofrido internamente . Naquele instante, as palavras de Amy explodiam em sua cabeça . Não que suas amigas não a tivessem amparado, mas aquilo não era o suficiente . Suiti não havia se mostrado capaz de assumir aquela responsabilidade, e tampouco interessado em assumi-lá . Ela o via cada vez com menos freqüência, e com uma dor crescente . Ela podia sentir que ele abandonaria a escola, mas não foi necessário : quando seus vômitos começaram a ficar mais freqüentes, ela decidiu por transferir-se para o turno da noite, em outro colégio . Mas o que mais lhe doeu foi o fato dele não tê-la procurado mais, nem mesmo quando o menino nasceu . No começo ela sentia muita dor , mas teve que aprender a superar, e da pior forma possível . Ela teve ajuda, e até hoje agradece por isso, mas certas coisas teve que superar sozinho . Mas, no entanto, ela não desistiu . Correu atrás de seus objetivos, batalhou por eles até o fim . Depois de muito esforço, conseguiu se formar, e sozinha, sem a ajuda de ninguém . Ela sabia que depender sempre das pessoas acabaria , mais cedo ou mais tarde, atrapalhando suas amigas, que estavam começando a formar suas famílias .
De seu antigo mestre, ela herdou um dojo de karatê, apesar dela ensinar uma variante que não havia aprendido com ele . Era estranho . Tão pouco tempo com ele e, no entanto, havia sido mais próximo do que "certas" pessoas. Fazer o que ? É a vida .
E mais uma vez ela olhava para Akira . Estava crescido . E como . Suiti era um idiota . Todos esses anos, todos esses momentos . Ele havia perdido tudo . Idiota . Muito mais do que ensina-lo a lutar, ela havia ensinado-o tudo o que aprendera . Suiti não teria esse gosto, esse orgulho, essa honra de educar seu filho .
E ele havia aprendido cada lição .
Depois dos acontecimentos daquela tarde, ela havia decidido que ela hora de testar não somente a força física, mas também a força que habitava no coração dele .
E ela era enorme .
— Akira, já terminou sua redação ?
— Hum ?
— Você tem uma redação para entrega amanhã, não tem ?
— Anoo .... como é que a senhora sabe disso ???
— Sua professora me contou .
— Esteve com Minako-sensei ? Quando ?
— Hoje, de manhã .
— De manhã ? Então isso foi ... foi ... foi por isso que ela saiu de repente da sala e deixou aquele cara pra tomar conta da gente !
— Cara ?
— Era mais novo que Minako-sensei . Ficou com a gente até o final da aula . Mas o que vocês duas estavam fazendo ?
— Isso, filhinho, eu te conto daqui à pouco ....

Continua .... !!!!

Glossário : Para que algumas expressões não confundam ninguém, aqui vai o seu significado .
Dojo : Escola de Artes Marciais
Escola de Artes MarciaisBaka : Bobo, idiota.
Bobo, idiota.—chan : Usado entre pessoas íntimas, entre amigas da mesma idade, entre um garoto mais velho e uma garota mais nova, ou entre uma mulher mais velha se referindo a uma garota mais nova.
Usado entre pessoas íntimas, entre amigas da mesma idade, entre um garoto mais velho e uma garota mais nova, ou entre uma mulher mais velha se referindo a uma garota mais nova.Kimi ga suki da yo : Eu te amo, querida (Isso é dito de um garoto para uma garota ! Não te aconselho a trocar as bolas .... )
Eu te amo, querida (Isso é dito de um garoto para uma garota ! Não te aconselho a trocar as bolas .... )Okaasan : Mãe
Hai : Sim
Sim — kun : Forma de tratamento equivalente ao "-san", mas usado apenas para meninos.
Senshi : Guerreira .É o que as Sailors são . No Japão são chamadas de Sailors Senshi, nos Eua de Sailors Scouts e aqui de Sailor Guerreira, sacou ?
Guerreira .É o que as Sailors são . No Japão são chamadas de Sailors Senshi, nos Eua de Sailors Scouts e aqui de Sailor Guerreira, sacou ?Sensei : Mestre , mas em outros casos também pode significar doutor , ou até outros diferentes . O exemplo de Minako(professora), é diferente do professor que ensinou Makoto(no caso, instrutor).
Mestre , mas em outros casos também pode significar doutor , ou até outros diferentes . O exemplo de Minako(professora), é diferente do professor que ensinou Makoto(no caso, instrutor).
E a seguir :
— Oi, aqui é a Mako-chan !
— Makoto, isso não te incomoda nem um pouco ?
Minako, Minako, Minako .... dá pra parar um pouco ? Por acaso eu implico com você ?
— Não tanto quanto antes .
— Escuta, será que dá pra vocês duas deixarem isso pra depois ? Não esqueceram daquele nosso probleminha, não é ?
— O que quer dizer com nosso , Rei ?
Não percam no próximo capítulo de Dias de um Passado(quase) Esquecido :
"Mas que diabos está acontecendo aqui ?" ou "É incrível o que a falta de criatividade gera" .
" ou

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