Dias de Um Passado(quase) Esquecido escrita por Lexas


Capítulo 2
Luz do Amanhã




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Tisc !
Tisc !
Tisc !
E, pela, quarta vez , ele tenta .
Tisc !
Não funcionara, mais uma vez . Aquilo já o estava deixando deveras irritado . Mas isso não era o pior . O pior era que ele teria que se levantar .E rápido, se não quisesse sofrer as conseqüências .
Estalando seus (raros) músculos, ele se arrasta pela cama . Tinha mesmo que fazer aquilo ? Esse era o problema da Tecnologia : gastava-se muito para dar comodidade as pessoas, mas nas horas mais inconvenientes ela ficava de Tecnobabaquice !
Ele vai se arrastando, passando despercebido pelo travesseiro e pelo cobertor . Silenciosamente, ele vai se aproximando até o pé da cama, de onde está prestes a executar um salto mortal, aterrissando com perfeição e escapando da Cama da Morte .....
Infelizmente, as coisas são sempre mais fáceis na nossa mente . Quando se aproxima do pé da cama, ele vê aquela sombra ;
Oh, oh !
A entidade maligna ao qual pertence a sombra o encara, num misto de frieza e desprezo . Ele a encara, suando frio . Calculando friamente seus movimentos, ele se lança para trás, na esperança de escapar . Infelizmente, a esperança é a última que morre ..... mas hoje ela morre !!!
A entidade maligna agarra a colcha da cama e a puxa, causando um efeito esperado : ele perde a concentração durante o movimento, enquanto é posto no ar durante alguns instantes . Tão imediato é o movimento que seu corpo também é lançado bem mais para trás do que ele calculara, fazendo-o sair totalmente do espaço físico que acomodava seu corpo . Durante os longos e sofríveis nanossegundos em que seu corpo permanece no ar, ele amaldiçoa a si mesmo por ter confiado na tecnologia dos humanos e por não Ter se preparado para uma situação como esta . Seu corpo termina seu curto vôo e se choca, causando um impacto de pequeno barulho, mas deixando efeitos nada agradáveis em seu corpo . Em outras palavras, ele foi jogado para fora da cama .
— Ohayo, Okaasan !
— Ohayo, Shin-kun . What’s up, guy ?
— Anoo ....
— Levante-se daí e vá tomar um banho .
Sem questionar ( isso passava pela sua cabeça ?) , ele se coloca de pé e corre para o banheiro, aproveitando que a criatura oferecera uma trégua . Rapidamente ele tira a roupa , mas surge um dilema : a água fria do chuveiro . Ele passa longos segundos ali, encarando o chuveiro, tentando juntar coragem para girar o registro, até que ....
— Aaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhh !!!!!!!!!!
A água o atinge de surpresa, sem dar tempo de um preparo psicológico .
— A senhora é muito cruel !!!!
— Seja homem ! Não me diga que está com medo de um banho frio ?
Ele teve que engolir aquilo a seco . Minutos depois , já arrumado, ele se preparava para comer .
— Ande logo, Shin-kun ! Desse jeito, vai acabar se atrasando !
— Mas, haha, ainda .....
— Não discuta .
— Tá .
O café estava realmente delicioso . Por ser uma Terça, não era algo muito caprichado, mas tinha seu valor . Assim como em todas as manhãs . Tinha um ingrediente muito especial : amor .
Amor
Amor
Amor
Quanto tempo .... ? Era um luxo que ele não tinha . Embora se lembra-se de fatos simples, parecia que sua mente brigava consigo mesma quando ele tentava se lembrar de fatos mais profundos .
Mas ele se lembrava . Lembrava da luz ..... luz .....daquele chão, frio, molhado e sujo, do barulho ..... e daquele dia em que ......
— Shin-kun, acorda !
— Hã ? Hã ?
Não era um habito, mas ela já havia aprendido a reconhecer aquele tipo de situação . Ela se aproxima dele e coloca a mão sobre sua testa, verificando que ele estava bem . Em seguida, o abraça carinhosamente, enquanto termina de "despentear" seu cabelo .
— Aí ! Haha, olha o que a senhor ..... !
— Shin-kun ! Nunca te ensinei a nunca reclamar quando uma mulher estiver te fazendo um carinho ?
— Não !!!!
— Pois é uma boa hora para aprender . Vamos, está na hora .......
* * * * * * * * * * *
O chão estava frio, como sempre . o vento era frio, como sempre . O lixo já não o incomodava mais . Nem a chuva, a não ser em algumas situações em que se tornava forte demais ..... aquela luz .... ferindo ....
— Shin-kun!!!
Ela o pega pela gola e o puxa de volta à calçada . Um motorista passa disparado e faz alguns comentários quanto as mães dos pedestres . Com o coração na mão, ela o segura fortemente e começa a sacudi-lo ;
— Shin-kun, no que é que você está pensando ? Já não te disse para prestar atenção ao atravessar rua ?
Há pouco ele havia despertado de seus pensamentos, no exato instante em que era salvo de um atropelamento . Sua pequena mente ainda se recuperava do choque, tentando processar a situação .
— Shin-kun, está me ouvindo ? Shin-kun ?
— Anoo ? Okaasan ? Me .... me desculpe !!!
Em algumas ocasiões, o brilho daqueles olhos castanhos eram capazes de dobrar o seu coração . Essa era uma . Ela o abraça incontrolávelmente, derramando algumas lágrimas furtivas ;
— Shin-kun, por favor ..... tome mais cuidado ! Eu não quero que nada de mal lhe aconteça, ok ?
— Un !
Os dois continuam seu percurso . Haviam saído há dez minutos de casa, e ainda faltava mais um pouco para chegarem ao seu destino, mas tinham tempo de sobra . "Okaasan sempre foi de acordar cedo", ele pensava . O que não deixava de ser verdade . Antes dele acordar, suas roupas e o café já estavam prontos . Em sua mais sincera opinião, ela só o acordava bem cedinho por que não queria que ele ficasse mal acostumado .....
— Chegamos !!!!
Ela não deixou de notar esse comentário dele . Não que ele odiasse a escola, mas não se lembrava de alguma vez ele Ter demonstrado tamanha alegria em vê-lá, ainda mais perto das férias do meio do ano ;
— Eu te encontro depois, Shin-kun .
Ela dá um beijo nele e se despede . Calmamente ele entra na escola e se dirige até seu armário, pegando um estojo .
— Ohayo, Shin-san !
— Ohayo, Hitomi-san ! Desde quando você chega tão cedo ?
— Okaasan me fez despertar mais cedo hoje, não me pergunte o motivo .
— Tá . Vamos indo .
O comentário era válido . Com exceção de alguns "caxias" , a escola estava literalmente às moscas !
— Shin-san, você vai .....
Antes que Hitomi pudesse se dar contar, ele já estava quase virando o corredor, deixando-a para trás . Claro que isso não a deixava nem um pouco calma ;
— Shin-san ! Shin-san ! – ela gritava enquanto corria, ignorando as pessoas que começavam a chegar – Por que fez isso ?
— Hã ? O quê ? Anoo ..... gomen, Hitomi-san . Eu estava meio distraído .
— Mas o que houve ? Não dormiu direito ?
— Ó, até demais . Acordar é que foi o problema ......
* * * * * * * * * * *
O sinal começaria a tocar dentro de cinco minutos, mas ambos já estavam na sala há muito tempo . Hitomi ainda não havia se conformado com o fato de ter sido esquecida, mas conversava com ele normalmente . Como eram os primeiros , puderam observar seus demais colegas entrando na sala de aula .
— Ohayo, Shin-san , Hitomi-chan !
— Ohayo, Noriko-chan !
— Oí .
— Puxa, Shin-san, o que foi que houve ? Está passando bem ?
Nisso, entra um rapaz na sala de aula . Seus olhos verdes e seus cabelo, negro como a noite, chamavam a atenção de qualquer um .
— Ohayo, minna !
Com Shin envolto em seus pensamentos, e Hitomi tentando entender o que houve com Shin, Noriko havia sido a única que havia prestando atenção e respondido .
— Ohayo, Hino-san !
Depois disso, não demorou muito para que o resto dos alunos chegassem .
— Eí, Shin, acorda !!!!
Tomado de surpresa, ele perde o equilíbrio (de novo !!!) e, na vã tentativa de manter o equilíbrio, sua cadeira caí para trás . Grande, era a única coisa que passava pela sua cabeça . Seu primeiro desejo supremo era esganar o engraçadinho , mas dois alunos em particular que haviam entrado na sala de aula junto com os outros chamaram sua atenção .
Como que se tudo fosse combinado, a professora entra em seguida . O silêncio na sala de aula é geral .
— Ohayo, classe !
— Ohayo, sensei !- diziam todos juntos, quase como se fosse um coro .
— Vamos a chamada . Aoi Hitomi .
— Presente .
Aoi Hitomi . Delicada, meiga e esforçada . Seu sonho é entrar numa igreja vestida como uma princesa . Faz parte do clube de dança .
— Kageyama Hinorobu .
— Presente .
Kageyama "Hino" Hinorobu .Bonitinho, mas seus olhos verdes possuem uma tonalidade tão viva que o tornam impossível de passar desapercebido . Tem um espirito brincalhão, o que às vezes deixa seus amigos irritados, embora ele saiba contornar a situação . Gosta muito de desenhar e faz parte do clube de Mangá.
— Sakai Noriko .
— Presente .
Uma das garotas mais competitivas da escola . Faz parte do clube .... ah, sei lá quais os clubes que essa daí faz parte ! Aposto que deve fazer parte de todos !
— Kino Akira .
— Presente
Um dos "galãs" da classe . Alto, cabelos castanhos, olhos verdes, só que numa tonalidade diferente dos olhos de Hino-san, mais .... "atenta" . Faz parte do clube de Artes Marciais ,e não me perguntem qual estilo . Em matéria de atenção, só perde para ....
— Por quê está repetindo o nome de todo mundo, Megumi ?
— Porque eu adoro o som da minha voz, Akira-chan !
— Hino Megumi .
— Presente !!!!
.......... a rosa vermelha . A mais bela e elegante dama . Seu carisma, superados apenas por sua beleza incomparável, fazem-na uma das maiores candidatas , e por que não, musa de todos os garotos desta humilde, do resto da escola e de todo o universo !!!
— Aino Shinnosuke .
— Presente, okaa ..... anoo , sensei !
E, por último, mas não menos importante, pois como poderíamos esquecer dessa pessoa ? O líder do grupo que ocupa "o lado esquerdo da sala" , o admirado, certinho, protegido da professora e outros adjetivos dos quais se eu fosse contar não iria dar tempo pois a chamada terminaria e eu ficaria falando em voz alta ..... Aino "Shin" Shinnosuke ! Puxa-saco-môr da professora e primeiro a chegar todos os dias em Juuban School !!!
— Isso tudo , por algum acaso, é inveja de alguém ?
— Que nada, Akira-chan . É que ele é mais bonito que você ....
— Como estou desapontado .....
— Você ficaria se a sua mãe fosse a professora ?
Akira deixava escapar um sorriso furtivo enquanto conversava com Megumi . Embora sua atenção estivesse voltada em outra pessoa, ele não deixara de ouvir tudo o que ela falara . Embora parecesse, Megumi não era uma "megera", como diriam alguns . Era apenas o seu jeito de ser . Embora parecesse, não era do tipo que implicava muito com as pessoas .
Alheio a tudo isso, Shin se encontrava mais uma vez em seu "mundinho dos sonhos" . Aquela imagem não lhe saia da cabeça . Aquela luz .....
O chão estava frio, como sempre . o vento era frio, como sempre . O lixo já não o incomodava mais . Nem a chuva, a não ser em algumas situações em que se tornava forte demais ..... aquela luz .... ferindo .... ferindo seus olhos .... sangue ..... sangue ? Ela .... ela estava sangrando ? Hã ? Mas .... mas como ele sabia que .... como ele sabia que era .... que era ..... "ela" ?
De repente, algo lhe atinge a nuca, fato despercebido por quase toda a turma, provocando risos nos poucos que estavam prestando atenção . O resultado é uma marca de giz em sua testa, lançado sorrateiramente pela "professora" para acorda-lo do "País das Maravilhas" ....
— Itte !!!!!
— Gostaria de compartilhar seus pensamentos conosco, Shinnosuke ?
— Hã .... bem ....
E agora ? Droga , ele tinha mesmo que fazer isso ?
Shin reconhecia aquele olhar . Significava "não pense que vou dar mole para você, mocinho", e indicava que estava sozinho nessa !
— Vamos continuar do ponto onde nós paramos . Estudaram ?
A surpresa na sala de aula era geral . Até onde podiam se lembrar, não havia nenhuma prova marcada, logo .....
— Não estudaram ? Vejamos ..... como estamos próximos das férias de meio-de-ano, quero que façam uma redação e, para os que estudaram, será fácil fazer uma reação criativa e original !
— Sensei, – perguntava Hiro – qual será o tema ?
— Vocês são espertos . Vão pensar em um !
Logo após, o tempo corria . Embora todos estivessem empolgados com as férias, imaginação fértil estava em falta . Correção, quase em falta . O Maior medo deles era no fato da professora Ter o hábito de pedir para as melhores histórias, na sua opinião, serem lidas pelo autor na frente da classe . Fazer uma péssima redação de propósito estava fora de cogitação : ela sempre percebia isso também, e fazia os autores destas lerem na frente da classe também !
Mas para alguns, isso não era problema . Vejamos Hitomi, por exemplo ; apesar da idade, ela escrevia muito bem . Histórias de amor, obviamente . Claro, não era algo "perfeito" , sendo que algumas histórias longas possuíam alguns "furos de roteiro" . Nada que a prática não resolve e aperfeiçoe .
Agora, em se tratando de escrita, tanto em qualidade quanto em quantidade, ninguém da sala batia Hiro . A máquina de escrever da turma 4-e já estava na metade da Segunda folha, e isso em menos de cinco minutos, com uma caligrafia bem aceitável . E não parecia que estava no fim .....
Mas, do fundo do seu coração, a professora e todos os anteriores agradeceriam enormemente se ele parasse de também ilustrar suas redações ....
Já Noriko parecia encara-lo quase a ponto de explodir . Ela não estava se saindo muito bem, e não conseguia entender como alguém conseguia escrever tão rápido . Aliás, ela se perguntava constantemente de onde ele tirava tanta inspiração para suas histórias . Já havia dado uma olhada em alguns desenhos deles, os quais ela julgou bons (apesar de quadrinhos não serem o seu forte), e concluiu que não era influência do clube de mangá . Era ele quem influenciava o clube .
— Mas como é que você consegue escrever tanto, Hino ?
— Ah, mas é muuuiiiito fácil !!!!! É só voc – subitamente ambos haviam sido interrompidos por uma força superior, um poder que se encontrava em uma dimensão totalmente diferente da deles : Olhar de mestre™ .
— Vejo que já terminaram .
Um outro problema da professora : Redação instantânea .
Antes que ela o alcança-se, Hino adicionava mais algumas linhas a sua redação . Não era o final que havia planejado, mas pelo menos era "entregável" . Quanto a Noriko, escrevia desesperadamente, implorando no seu íntimo por um milagre : ele veio .
A professora passou direto por eles, se dirigindo até o final da sala . De lá, ela começou a recolher o trabalho dos alunos . Hino, obviamente, não perdeu a oportunidade :
— "E naquele dia eu vi uma luz ......"
— Sem graça !- retrucava Noriko enquanto escrevia – Por que não aproveita e termina a sua história ?
Ele nem esperou ela terminar de falar .
Megumi não havia achada graça . Não mesmo . Isso porque ela havia ganho menos tempo . Quando a professora se aproximou de sua carteira, Megumi percebera que já estava condenada .
— Ainda não terminou, Megumi ?
— Minako-sensei ! Por favor, só mais um pouco ! Eu já estou quase terminando ! Eu .... eu ....
Ao olhar para sua direita, Megumi pôde perceber um sorrisinho imperceptível escapar de Akira . Problemas .
— Megumi, já conversamos sobre isso antes . Não seria justo com o resto da turma – e, enquanto ela falava, o resto da turma corria o mais rápido possível com a redação - , e você me parecia bem inspirada .....
Uma face de ódio, escondida por um sorriso de alegria brotava de Megumi, enquanto, com o canto dos olhos, ela olhava Shin . Nesse meio-período, a professora pegara a redação de sua mesa, junto com a de Akira . Os demais alunos interpretavam aquilo como o sinal da morte™ .
O motivo de tanto medo ? Bem, a professora tinha o hábito de comentar diversas vezes com os pais sobre o desempenho dos alunos, e redação era um prato cheio . Ao chegar em sua mesa, os alunos torciam por mais um milagre : não veio .
As folhas passeavam lentamente entre seus dedos . Ela fazia questão de ler as redações na sala, causando horrores aos alunos . E, como já foi dito, as melhores serão interpretadas "lá na frente" pelos autores, com direito a explicação do que estava sentindo quando escreveu....
Subitamente, ela para de ler . De igual forma, ela pede licença e se retira da sala . Quando algumas bolinhas de papel passeavam pela sala de aula, um rapaz entra na sala . Era mais velho do que eles, e um pouco mais novo que a professora . Obviamente .....
— Deve ser um estagiário – pensava Hiro, em voz muito alta, embora não tivesse idéia do que fosse um ....
A turma toda havia ficado quieta . Aquilo preocupava o rapaz . Ele já havia estado no lugar daquelas crianças . Isso lhe daria uma vantagem, se ele não soubesse que naquele jogo você não tem vantagens . É você e somente você . "Sem problema" , ele dizia sempre, mesmo quando a professora Aino teve que se ausentar por alguns instantes e solicitara um substituto . Era para isso mesmo que ele estava ali . Um dia, teria sua própria turma .
Uma bola de papel em cheio no olho esquerdo o tirava violentamente de seu mundo de planos .
Voltando a encarar a turma mais uma vez, eles com olhares de "anjinhos" , ele com um pouco de suor escorrendo pela face direita .....
Voltando a encarar a turma mais uma vez, eles com olhares de "mais anjinhos" ainda ....
De alguma forma, ele podia sentir que estava na ante-sala do inferno™ .... por que, nesse instante ..... ele podia jurar por tudo que é mais sagrado que começar a ouvir a música tema de ..... "Rocky" ....
* * * * * * * * * * *
Fim do dia . Aquele pobre coitado que foi filho de alguém, irmão de alguém e, depois do dia de hoje, dificilmente pai de alguém, seguia para casa . Embora tentasse relaxar, sua mente estava em choque .
De sua sala, a diretora observava, enquanto se perguntava se aquele voltava amanhã ....
— Se voltar, é por que está determinado a suceder o manto sagrado do conhecimento ! – dizia sua assistente – Grandes poderes trazem grandes responsabilidades, e elas não são poucas .....
A diretora olhava sua assistente com uma gotinha de suor no rosto, perguntando-se o que fez para merecer isso .....
* * * * * * * * * * *
Mais um dia, assim ele pensava . O rubro dos céus era lindo, assim como o pôr-do-sol . Sentado no chão, encostado na árvore que ficava em frente a escola, ele aguardava uma pessoa . Uma pessoa muito especial . Um sorriso se abria em seu rosto no momento em que ela atravessava o portão, caminhando em sua direção .
Naquele momento, foi a vez dela sonhar . Tanto tempo ..... em tão pouco tempo . Aquela árvore .... a escola .... o pátio .... não, não fazia tanto tempo assim .... ou será que não ? Podia ver as garotas ali, naquela árvore , conversando . A primeira imagem que lhe vinha a cabeça era a de Rei e Usagi, como sempre, discutindo por algum motivo bobo . De longe, eram as que mais chamavam atenção . Não que Makoto, com seu tamanho família, e Amy, com seus livros, passassem desapercebidas . Mas, se os antigos inimigos delas tivessem sobrevivido e montado uma organização do tipo "matem as Sailors Senshi" , com certeza as brigas entre Moon e Mars constariam nos arquivos da organização ....
— Há,há,há .....
— Por quê a senhora está rindo ?
— Nada, querido . Não foi nada . Que tal um sorvete ?
— Hai !!!!!
* * * * * * * * * * *
Chocolate com leite condensado por cima era o seu sabor preferido . Duplo, ainda por cima .....
— Hmmm .....
— Eí, esse é o meu !!!! – Gritava Shin enquanto Minako dava uma lambida no seu sorvete .
— Não seja egoísta ! Se quiser, eu também deixo você dar uma lambida no meu !!!
— Jura ?
— Alguma vez eu já menti para você ?
* * * * * * * * * * *
— Há,há . Não devia acreditar em tudo o que as pessoas dizem, Shin-kun .
Sem um pingo de atenção no comentário, Shin andava cabisbaixo .Estava pensando . Estava lembrando ..... até que um estalo o tira de seu mundinho particular . Dessa vez, o estalo vira dele mesmo .
De alguma forma ele sabia .... ele sentia que não deveria fazer aquilo ali, na rua . De manhã ele estava tão concentrado naquilo que quase foi atropelado, e não queria que isso se repetisse .
— Eí, Shin-kun ! Shin-kun ! Não precisa ficar chateado por causa disso !Toma, pode ficar com o meu !
Procurando ajuda e, ao mesmo tempo, consolo, ele olha para ela . Demora alguns instantes para que ela entenda o olhar, mas finalmente entende . Pior, entende algo que ele não havia entendido, e que ela não queria entender .
— Conseguiu se lembrar ?
— Hã ?
— Você ..... esteve estranho .... pensativo .... o dia todo . Está tentando se lembrar de algo, não é ?
— Eu .... eu .... mãe, eu não sei . Não sei o que tá acontecen – nisso, Minako o encara por alguns instantes .
— Shinnosuke .
— Desculpe . – Ele sabia o significado daquele olhar . Se tem algo que ele aprendeu, era que ela não gostava nem um pouco de vê-lo "giriando" , usando um vocabulário tão vulgar . Nem um pouco . – Não sei o que está acontecendo . A ....a senhora .... a senhoria podia me ajudar ?
Ela parara de olha-lo, abaixando a cabeça . Alguns instantes que mais pareciam uma eternidade ocupavam seu tempo . No final desse curto período de tempo, ela deixava escapar um suspiro e, embora sua cabeça continuasse abaixada, ela falava, sem no entanto encarar Shin .
— Gomen, Shin-kun . Gomem .
— Tá .
Durante o resto do percurso, a rua parecia diferente . Tudo parecia diferente . Era como se os dois fossem os únicos na rua . Como se não houvesse mais nada . A rua, a calçada, os carros, as pessoas, os prédios .... tudo vai sumindo, lentamente, até que só restam os dois, caminhando pela rua, ou ex-rua, já que tudo ao seu redor era branco, mas um branco sem fim . Ao olhar para o lado, Minako percebe que Shin havia se afastado um pouco . Ela continua andando e, ao olhar de novo, percebe que ele havia se afastado um pouco mais . Ela continuava andando, e ele havia se afastado mais um pouco, e mais um pouco, e mais um pouco .... muito antes de ele sumir de sua vista, ela estava gritando, procurando por ele . E continuava gritando, mais e mais . E mais . E mais. E mais . Mas não adiantava . Nem um pouco . Não mais . Por que ele havia sumido . Ele não estava mais lá, ao lado dela . Ele a havia deixado, sozinha, naquele lugar . Mas o que a assustava mais não era o fato de estar ali, sozinha . Era o fato dele Ter sumido . E lá estava ela, ajoelhada, chorando . Era um choro silencioso, porem muito triste e dolorido . Um choro que não teria fim, pois se estenderia por toda a eternidade . Isso tudo por que .....
Ao olhar para o lado, percebe que tudo havia voltado . As casas, os prédios, as pessoas, os carros, as ruas ..... Shin . Ele estava lá encarando-a, com aqueles olhos brilhantes e inocentes, acompanhando-a enquanto aguardava uma resposta . Sem perder tempo, embora com um pouco de hesitação, ela dizia :
— Gomen, Shin-kun . Gomen .
— Tá .
E, pelo resto do percurso, permaneceram em silencio, sendo que Minako, de tempos em tempos, o observava discretamente, só para ter certeza de que ele estava ali .
Mas aquilo era apenas uma máscara . Por dentro, ela estava quase perdendo o controle . Estava quase chorando . Uma angústia sem fim tomava conta de seu corpo por completo .
Ela estava triste .... por que ..... deixou de fazer .... algo importante .... para Shin ..... e para ela .
Ela poderia ter ajudado-o .
Ela podia ter dado um fim as dúvidas dele .
Podia .....
Aquilo teria esclarecido suas duvidas .... ou, ao menos, dado o passo inicial para as respostas . Não importa .
Ela sabia perfeitamente qual era o problema com Shin . Sabia perfeitamente do que se tratava . Suas suspeitas começaram no café-da-manhã, e haviam se estendido durante todo o dia .
Uma pergunta tão simples, feita por uma criança tão adorável de olhos tão doces e meigos .
Uma pergunta que ela poderia ter respondido, mas não respondeu .Tudo isso por um motivo .
medo
Medo . Medo . Medo . Medo de que tudo acontecesse . Medo de que seus maiores temores se concretizassem . Medo de que tudo começasse de novo . Medo .
Medo das guerras . Medo do sangue . Medo das mortes . Medo .
Medo de tudo o que havia acontecido . Ela só queria uma vida normal, sem aventuras, sem adrenalina, sem decepções, sem mortes ....
Sem a incerteza de tornar a ver um amigo, sabendo que as chances dele voltar são mínimas .
Apenas uma vida normal, como a de qualquer um . Uma vida normal que ela adotou .
Uma vida normal que ela adotou no dia em que deixou de ser Sailor Vênus .....

Continua ..... ?

Glossário
No decorrer do episódio, usei alguns termos não muito comuns . Para os que desconhecem o significado, eis aqui :
Ohayo - Algo como 'olá', mesmo que só usado de manhã.
Okaasan - Mãe (quando se fala da própria mãe, geralmente usa-se a forma "haha").
— kun - Forma de tratamento equivalente ao "-san", mas usado apenas para meninos.
Anoo - Err...
— san - Sufixo usado quando do se refere a uma pessoa. Bem formal.
Gomen - Desculpa
— chan - Usado entre pessoas íntimas, entre amigas da mesma idade, entre um garoto mais velho e uma garota mais nova, ou entre uma mulher mais velha se referindo a uma garota mais nova.
Minna - Pessoal, amigos, turma.
Sensei - professor, mestre.
Un - É, Tá
Itte - Expressão de dor. 'Ai'
Hai - Sim

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