Isto não é mais um romance água-com-açúcar escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 48
É chato ser uma donzela em perigo




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Gintoki correu seguido por Shinpachi e Kagura, que não entendiam a razão para que seguissem até aquele lugar. Ele não lhes contara, mas isso não importava no momento, pois sabiam que não demoraria para que viesse alguma explicação. A única certeza que tinham é que ele aparentava estar bastante aflito. Assim que chegaram, viram que uma brigada de bombeiros já estava combatendo as chamas sob o olhar de uma família assustada.

Para alívio de Gintoki, o patriarca dos Oyamada informou que não havia ninguém dentro do cômodo agora destruído. Durante essa conversa os dois adolescentes por fim tomaram conhecimento a respeito do local onde ocorriam alguns encontros secretos entre o Yorozuya e Tsukuyo, uma gentileza da família para a kunoichi que salvara a filha, Ayumi, de dois ronins que estavam causando problemas naquela área.

Por um lado, havia o alívio pelo fato de aquele cômodo estar vazio na hora do incêndio, mas por outro, Gintoki sentia que suas recordações queriam voltar a um ponto que fora bloqueado por sua memória. Muito provavelmente, algo que fora tão traumático a ponto de ter sido mergulhado no recôndito mais profundo de suas lembranças referentes à sua vida pregressa. Entretanto, aquele incêndio não o remetia à Shouka Sonjuku ardendo em chamas quando o Tendoushuu aprisionara Shouyou-sensei.

Não. Aquele incêndio que acabara de ser extinto o remetia a algo que sua memória se recusava a desbloquear. Algo muito mais antigo, no canto mais obscuro de suas lembranças desde que se entendia por gente.

A jovem Ayumi entregou ao albino uma folha de papel, endereçada a ele e com “Shiroyasha” escrito abaixo de seu nome, tal como o primeiro bilhete. Ele respirou fundo e desdobrou o bilhete, escrito tal como o anterior.

 

“Isto foi apenas um aviso a você, garoto. Passei vinte anos seguindo os seus passos, mesmo o perdendo de vista algumas vezes. Isto é apenas uma mostra do que pode acontecer se você não me encontrar para pagar por seus pecados. Você não seria capaz de permitir que outra pessoa seja o bode expiatório, seria?

Eu o espero para nosso acerto de contas. Consegue chegar em menos de três horas?”

 

Tal como fizera com o bilhete anterior, Gintoki o amassou e jogou com raiva no chão. Aquele desgraçado podia muito bem continuar se gabando de saber todos os seus passos, mas fosse quem fosse, iria descobrir que com o Shiroyasha não se brinca. Muito menos quando alguém ousava sequer tocar nas pessoas que ele amava!

Jurava a si mesmo que iria mostrar que era capaz de tudo, absolutamente tudo, para proteger quem lhe era querido.

Tirou de dentro de seu yukata branco vestido pela metade a kunai que trouxera do quarto de Tsukuyo. Sua lâmina tinha um pouco de sangue seco, que poderia ser tanto dela quanto de seu raptor e poderia ajudar. Mostrou para Sadaharu, que cheirou o objeto por alguns instantes e deu um latido, como se tivesse conseguido assimilar aquele cheiro à memória que tinha de pessoas as quais já cheirara antes.

Tinham três horas para chegar até onde quer que fosse. Enquanto isso, Gintoki tentava fuçar sua memória para saber que lembrança de seu passado era aquela que insistia em não vir à tona. Por mais que não quisesse realmente descobrir, precisava dela para poder saber quem ele estava enfrentando naquele momento.

 

*

 

Abriu os olhos ao mesmo tempo que começou a sentir uma dorzinha chata em sua cabeça, combinada com uma leve tontura. Assim que sua visão conseguiu se adaptar à claridade que entrava na janela, percebeu que não estava em casa e sentiu seus pulsos firmemente amarrados com uma corda bastante áspera. Essa mesma corda também prendia seus tornozelos, impossibilitando-a de se levantar. Sentiu em sua boca um pedaço de tecido, que logo percebeu que era uma mordaça.

Ah, como odiava estar naquela situação, totalmente vulnerável...!

Seus olhos violetas percorreram o local ao seu redor. Pelo estado das paredes e do teto, deduziu que era uma construção velha abandonada. Ao constatar isso, sua mente começou a refazer os últimos momentos até sua inconsciência. Tudo o que lembrava era que um homem chegara procurando Gintoki, dizia ser seu amigo de longa data e que desejava fazer-lhe uma surpresa após tanto tempo longe.

O que aquele homem não sabia era que a relação que tinha com Gintoki era muito mais profunda. Ela sabia que ele tinha poucos amigos de seu passado, e que a maioria morreu na guerra uma década atrás. De seu passado apenas restaram Katsura, Sakamoto e Takasugi (com quem a amizade chegara a ser rompida por várias razões). O albino raramente se abria com alguém e ela era uma das raras pessoas a quem ele confidenciava boa parte de seu passado, provavelmente por se identificar com ela. Dizia que se sentia mais à vontade quando conversavam.

Muitas vezes ele lhe contava algo que nem Shinpachi e Kagura sabiam. Não queria que eles soubessem certas coisas que ainda não vieram à tona sobre seu passado e que de alguma forma os machucasse. Era a sua forma de proteger aqueles dois adolescentes que andavam com ele para cima e para baixo. E essa confiança era mútua. Ela também confidenciava a ele várias coisas a seu respeito, que muitas vezes não tinha coragem de contar a Hinowa. Um entregara ao outro seu coração, seu corpo, seus segredos e seu amor.

Voltando aos últimos momentos antes de ser raptada, lembrou-se de ter desmascarado o tal homem de frios olhos negros e cicatriz chamativa no rosto. Ele imediatamente ordenou para os companheiros que o acompanhavam para jogar uma bomba de fumaça, que fez com que Hinowa e Seita desmaiassem em questão de segundos. Ela fora até o quarto buscar kunais, visto que estava afastada da Hyakka e naquele momento não tinha nenhuma à mão. Apesar dos seis meses de gestação, ela ainda tinha certa agilidade, mas o tal homem fora mais rápido e conseguira interceptá-la. Houve uma luta e ela conseguira até feri-lo, mas o gás entorpecente entrara pelo quarto e a fez perder a consciência momentos depois.

E aqui estava ela, desarmada e impotente, tendo que esperar alguém para resgatá-la como uma princesa em perigo em uma cabana caindo aos pedaços localizada sabe-se lá onde.

Desde que se entendia por gente, aprendera a não depender de ninguém nas situações de perigo e isso se tornara algo de sua personalidade. Tentava não expor sua vulnerabilidade a ninguém, qualquer que fosse. Era instintivo. Por isso, muitas vezes pensou que ser resgatada era uma fraqueza... Principalmente se fosse resgatada pelo homem por quem nutria um interesse amoroso.

E o pior dessa história de parecer uma donzela em apuros era saber que estava sendo usada como isca. Ela sabia que aquele homem a usaria como isca para atrair Gintoki e tentar matá-lo. E ele enfrentaria seu raptor para tirá-la de lá.

Esperava que ele não viesse sozinho. Sabia que ele era forte e habilidoso, mas torcia para que viesse acompanhado com qualquer ajuda.

Sentiu algo. Era o bebê se mexendo, o que era razão suficiente para que ficasse ainda mais preocupada, pois na sua atual situação estava impossibilitada até de proteger aquela criança em seu ventre, que crescera consideravelmente. Não queria fazer com que Gintoki se sentisse duplamente responsável, por ter que proteger a ela e à criança que esperava.

Suspirou. Por conta da mordaça, era a única coisa que conseguia fazer para externar seus temores e preocupações de momento. Tudo o que podia fazer era apenas esperar por ele, só e impotente, como uma típica donzela em perigo.

Definitivamente, odiava esse papel.

 

*

 

Sadaharu ia à frente do Trio Yorozuya, seguindo o cheiro que reconhecera na kunai que Gintoki trazia consigo. Estava determinado a descobrir quem era o sujeito que lhe mandara aqueles bilhetes após raptar Tsukuyo... E, sim, tinha uma vontade insana de matar quem fosse. Já que queria ver o Shiroyasha, não se importava em dar-lhe o que pedia. Por Tsukuyo e pela criança que ela esperava dele, não hesitaria em mostrar ao seu inimigo a sua pior face.

― Gin-san – ouvira a voz de Shinpachi penetrar por seus pensamentos furiosos e meio que agradecia por isso. – Será que já estamos chegando?

― Boa pergunta, Quatro-Olhos. – ele respondeu passando a mão pelos cabelos prateados para tentar se acalmar. – Só o Sadaharu pode nos responder.

Nem bem acabou de falar, o Yorozuya viu Sadaharu disparar na corrida. Kagura o alcançou para que o inugami não fosse longe demais e o trio não conseguisse segui-lo. Os outros dois se juntaram à garota ruiva e avistaram uma velha cabana na clareira da floresta em que estavam. Quando iriam avançar, ouviram três katanas sendo desembainhadas e as lâminas sendo apontadas para o trio.

Pelo modo como foram recebidos, já sabiam que haviam chegado ao lugar certo.


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