Isto não é mais um romance água-com-açúcar escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 19
Meu reino por um pingente!




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Se soubesse que aquele presente traria tanto problema, não estaria com aquela sensação de culpa tomando conta dela naquele momento. Por sua causa, Gintoki estava metido em um sério problema... E sem saber exatamente a razão disso.

“Sério problema” era pouco. O problema era mais do que sério. Tsukuyo tinha que correr contra o tempo. O veneno que circulava pelo corpo do Yorozuya aos poucos poderia logo matá-lo, caso não encontrasse a tempo o antídoto. Como uma correntinha poderia causar tantos problemas?

Claro, o problema era o maldito pingente! Se soubesse que aquilo era tão visado por bandidos da pesada, certamente não compraria aquilo! O difícil era tentar se concentrar na fuga.

Se ela estivesse sozinha, não era tão problemático. Acompanhada não era ruim, no caso Shinpachi e Kagura facilitariam essa procura. Porém, Gintoki também estava ali. Não que ele, por si só, fosse um problema pelo fato de ser encrenqueiro por natureza. Mas o problema era que a cada minuto ele se sentia mais enfraquecido devido ao veneno que circulava por seu organismo.

— Pessoal... – ele disse quase sem fôlego e se apoiando com as costas em uma parede de um beco no qual se adentraram. – Eu preciso dar uma parada... Não aguento dar mais nenhum passo...

Estava visivelmente esgotado. Seu rosto estava agora muito pálido e encharcado de suor devido a uma febre bastante alta. Suas pernas estavam bambas e ele sentia seu corpo cada vez mais fraco e dolorido. Deixou-se escorregar pela parede, até sentar-se no chão.

Tsukuyo, Kagura e Shinpachi perceberam que não tinha como seguir adiante. O albino estava indo de mal a pior. A loira se aproximou dele e passou a mão por sua testa excessivamente quente e encharcada de suor. Se ele estava assim, era por sua culpa! Nunca deveria ter comprado aquele maldito cordão! Deveria ter comprado qualquer outra coisa para dar a ele, como forma de agradecê-lo por se importar com ela!

Olhou para aquele cordão no pescoço do Yorozuya e, num impulso agarrou-o e puxou com força e rapidez, arrebentando-o com facilidade.

— O que...? – ele tentou perguntar.

— Se é esse maldito cordão que eles querem, é isso que eles terão! – ela disse. – Me desculpe, Gintoki, depois eu te dou outra coisa. Não quero que você morra por algo que eu te dei...!

— Larga de ser boba, Tsukuyo...! – ele disse. – Você acha que vou mesmo morrer por isso...?

— Para de brincar com coisa séria...! – o rosto da loira evidenciava que ela tentava não demonstrar preocupação.

— Eu não estou brincando, Tsukuyo... – ele deu um sorriso cansado. – Você sabe que eu sou duro na queda.

— Até os durões, quando estão envenenados, precisam se cuidar. – ela retribuiu o sorriso. – Shinpachi-kun, pode levá-lo para casa e cuidar dele enquanto isso?

— Ei, Tsukuyo, o que...?

— Posso, sim, Tsukuyo-san. – Shinpachi interrompeu Gintoki e respondeu, enquanto o levantava para ampará-lo. – O que pretende fazer?

— Kagura e eu vamos atrás do antídoto para o veneno.

— Esperem...! – o Yorozuya disse.

— O que foi, Gintoki? – a loira questionou.

— Se cuidem, vocês duas... Porque do jeito que eu tô o Shinpachi-kun já vai ter muito trabalho comigo...!

— Pode deixar, Gin-chan! – Kagura disse para tranquilizá-lo.

— Não temos tempo a perder! – a kunoichi falou. – Vamos, Kagura!

Quando as duas fizeram menção de sair daquele beco, viram que a gangue estava cercando as duas saídas. O líder logo se aproximou, enquanto Shinpachi sacava a bokutou de Gintoki, Kagura empunhava perigosamente o seu guarda-chuva e Tsukuyo já preparava suas kunais para proteger o ex-samurai.

— Não toque no Gintoki! – ela ordenou. – Se quer seu precioso cordão, ele está na minha mão! Se não tocar nele, eu entrego o que vocês querem!

O chefe da gangue se aproximou da líder Hyakka e disse, ao receber o objeto:

— Você é uma boa garota. Mas não podemos deixar testemunhas, então vamos fazer uma queima de arquivo. Companheiros, comecem matando o homem de cabelo prateado!

Quando um dos homens ia pra cima de Gintoki, que estava apoiado em Shinpachi, logo foi cravejado de kunais e abatido. Ninguém iria tocar um dedo naquele homem, pois Tsukuyo estava determinada a protegê-lo, como ele já lhe fizera antes.

— Um dia eu quero retribuir toda essa proteção que você me dá, Gintoki. Eu quero, pelo menos uma vez, ser forte perto de você. Parece estranho isso, vindo de uma mulher, mas eu gostaria de fazer isso... Como uma forma de te agradecer por essa sua proteção.

— Será que eu vou precisar disso?

— Não sei... Mas, se for preciso, quero protegê-lo. Assim como você, eu protejo aqueles a quem amo.

Kagura abriu fogo disparando uma rajada de tiros com seu guarda-chuva, enquanto Tsukuyo avançava para cima do líder daquele bando. Após se esquivar de várias investidas da katana dele, a loira conseguiu dominá-lo e apontar uma kunai para o seu pescoço.

— Entreguem o antídoto ou eu mato o chefe de vocês! – ela ameaçou.

Os homens da gangue logo se detiveram ao ver que a ameaça poderia ser cumprida. Um deles tirou do quimono um frasco com um líquido amarelo, porém o líder logo ordenou:

— Não entreguem! Não deem ouvidos a uma mulher!

Shinpachi sentiu que Gintoki estava pesando mais do que devia. Viu seu rosto se empalidecer ainda mais e se contrair de dor e parecer que lhe faltava o ar. Ele não se aguentava mais nem apoiado em alguém.

— Gin-san! – o garoto se apavorou. – Aguenta aí!!

O Sakata bem que queria aguentar, mas logo que começou a tossir sangue sua visão logo se turvou. Suas pernas não suportaram seu próprio peso e ele caiu no chão completamente ofegante e ainda mais febril, quase levando Shinpachi junto.

— GINTOKI!

Tsukuyo pressionou ainda mais a kunai ao pescoço do chefe da gangue, fazendo um corte e provocando um sangramento. Foi o bastante para que o bando cedesse e entregasse o frasco de antídoto. Porém, sirenes foram ouvidas e algumas viaturas do Shinsengumi chegaram a tempo de prender todos os integrantes da gangue.

*

Nenhum dos três quis arredar o pé dali do Hospital Geral de Edo. Ficaram ali na sala de espera mesmo. Shinpachi e Kagura haviam sido vencidos pelo cansaço e pelo sono, enquanto Tsukuyo tentava se manter acordada até o dia amanhecer.

Eles eram a família de Gintoki. Um sempre ajudava o outro e os três quase nunca se separavam. E o engraçado é que ela não se sentia uma intrusa.

Esfregou os olhos para espantar o sono e ouviu passos se aproximarem dela e dos dois que acabavam de acordar. Era o médico plantonista, que tinha um ar sério, mas não refletia nada ruim.

— Foram vocês que trouxeram o Sakata-san e aquele frasco supostamente de antídoto, certo?

— Sim. – a loira respondeu.

— Bem – ele limpou a garganta antes de prosseguir. – O veneno que havia pelo corpo dele estava prestes a fazê-lo entrar em uma espécie de colapso e até mesmo induzi-lo a um estado de coma... Que poderia ser irreversível.

— E... E como ele está? – Shinpachi perguntou.

— Felizmente, ele agora está fora de perigo graças àquele antídoto. Mas, como ele ainda está fraco, vai permanecer em observação.

— Podemos ver ele? – Kagura questionou.

*

Seus olhos abriram preguiçosamente e estranharam o teto. Não estava na Yorozuya. Embora ainda estivesse se sentindo fraco, não sentia dor nem febre. Estava no hospital, alguém o levara para lá.

Ouviu a porta se abrir e viu Shinpachi e Kagura entrarem. Percebeu que eles estavam mais do que aliviados ao vê-lo acordado. Após responder a várias perguntas sobre como se sentia, ouviu Kagura dizer:

— Gin-chan, a Tsukky ficou com a gente a noite toda.

— E cadê ela?

— Ué, Gin-san – Shinpachi olhou para trás. – Eu pensei que ela tinha entrado com a gente.

O Yorozuya achou graça. Era típico dela essa discrição perto de Shinpachi e Kagura. Mas eles logo se despediram, dando a entender que iriam deixá-lo a sós com Tsukuyo.

— Tsukuyo, entra aí.

Logo a kunoichi entrou e o viu. Sua expressão não era tão aliviada como a dos garotos. Ele, como de costume, enfiou o dedo mindinho no nariz e o limpou sem fazer a menor cerimônia.

— Vou ficar entediado aqui. – disse. – Odeio ficar de molho.

— Vai ter que ficar de observação, Gintoki. Mas o importante é que você tá fora de perigo.

— Eles disseram que por enquanto vou ficar aqui porque tô fraco. Aquele veneno quase me matou. Essa foi uma das poucas vezes que fiquei com medo de morrer.

A loira pegou a mão direita dele e os dois entrelaçaram os dedos firmemente.

— Eu também fiquei com medo de que você morresse. – ela disse. – Você não faz ideia do quanto.

— Talvez eu faça, sim. – Gintoki segurou a mão dela com mais firmeza.

— Eu que causei isso, Gintoki. A culpa foi minha, eu deveria saber que aquele maldito cordão nos causaria problemas.

— Você nem sabia o que iria acontecer, Tsukuyo. Para com isso. O pior já passou para mim.

— Fico mais tranquila em saber. – Tsukuyo sorriu e se levantou para dar um beijinho na testa do Yorozuya. – Vou a Yoshiwara. Se cuida.

— Pode deixar.

Porém...

— Tsukuyo! – ele a chamou, e ela se deteve.

— Diga, Gintoki.

— Fala pro Shinpachi-kun e pra Kagura-chan contrabandearem alguma coisa doce pra mim quando vierem de novo... É que essa comida de hospital é uma droga...!

— Você não tem jeito mesmo... – ela brincou.

— Tsukuyo – ele a chamou de novo.

— Pode falar.

— O que aquele pessoal queria com aquele cordão que você tinha me dado?

— O Shinsengumi prendeu aquela gangue porque aquele pingente tinha dados importantes armazenados para facilitar os assaltos a bancos em Edo. O combinado era que isso fosse disfarçado e que uma mulher loira comprasse o cordão.

— E quem comprou foi a loira errada.

— Basicamente. A partir disso, dá pra entender por que tentaram te matar.

— Mas não conseguiram. É isso o que importa, e... Ai, meu olho! – ele disse levando a mão ao olho direito.

— O que aconteceu? – Tsukuyo perguntou com ar de preocupação.

— Acho que entrou um cisco nele. Sopra pra mim?

Logo que Tsukuyo chegou mais perto para soprar o tal cisco do olho do ex-samurai, ele lhe roubou um beijo. Arranjara uma boa desculpa para sentir novamente seus lábios nos lábios macios dela. Graças a isso, se sentia até menos debilitado, como se aquela mulher o revigorasse.

Assim que se separaram, Gintoki brincou:

— Te peguei.

— Me pegou mesmo. Mas agora vou mesmo a Yoshiwara. Trate de descansar, mocinho!

Batendo continência com uma expressão debochada, ele respondeu:

— Pode deixar!


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