Isto não é mais um romance água-com-açúcar escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 17
Homens apaixonados tendem a esquecer certas coisas




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Seus olhos vermelhos tiveram um pouco de dificuldade para se adaptarem à luz do sol que entrava ali. Esfregou-os e deu um generoso bocejo. Olhou para o lado, para certificar-se de que o que ocorrera na última noite fora mesmo real.

Sim, Gintoki estava no quarto de Tsukuyo e estava dividindo o mesmo futon que ela. E, pelo cômodo, via as roupas espalhadas. Sorriu ao se lembrar do que ocorrera antes de adormecerem. Fora uma noite inesquecível de amor que os dois tiveram.

Mas... Tinha a sensação de que estava esquecendo alguma coisa... O que seria? Repassou mentalmente tudo o que ocorrera desde o encontro fracassado, as intervenções de Sacchan, Katsura e do Shinsengumi, até o que viera depois. Se tivesse bebido, enchido a cara, com certeza teria esquecido alguma coisa, mas isso não ocorrera. Por isso, nem de ressaca estava.

Só que alguma coisa ele estava esquecendo.

Nisso, olhou um relógio despertador ali perto e viu o horário – dez horas da manhã. Tomou um susto, levantou-se rapidamente e começou a se vestir. Claro! Tinha um serviço marcado para as nove e meia e estava completamente atrasado!

Nisso, Tsukuyo acordou:

— O que aconteceu, Gintoki?

Ele, se atrapalhando ao vestir as calças, respondeu:

— Tô atrasado pra caramba e preciso fazer um serviço lá pra pagar o aluguel pra velha!

Mal vestira a camisa, saiu fechando o cinto e carregando o paletó na mão, sem tempo para se despedir. Calçou os sapatos de qualquer maneira e saiu correndo dali, apenas respondendo os cumprimentos de Hinowa e Seita.

Correndo quase tão rápido como Usain Bolt, o albino chegou exausto até a Yorozuya, abriu a porta corrediça, mas não viu ninguém. Mentalmente, ele já estava se preparando para ouvir Shinpachi o chamando de irresponsável e Kagura pouco se lixando para o que acontecia. Porém, não fora o que ocorrera. Tudo ali estava vazio e nem mesmo Sadaharu estava lá.

Colocou as mãos nos joelhos para repor o fôlego perdido e começou a refletir. Dentre os “contras” de se estar envolvido com alguém estava o problema de se esquecer de certos compromissos.

Ouviu a campainha tocar. Largou o paletó jogado em qualquer lugar e foi lá abrir a porta. Antes que dissesse qualquer coisa, viu uma mão ir quase à sua cara e Otose dizer, no melhor estilo Senhor Barriga:

— Pague o aluguel!

A velha tinha que aparecer logo agora? Deveria ter ficado lá em Yoshiwara mesmo, dando mais uns amassos em Tsukuyo e, quem sabe, eles estariam num delicioso segundo round. Pelo menos nisso saía no lucro. Estava arrependido de ter voltado à realidade de Kabuki.

Suspirou aborrecido e disse:

— Vem buscar mais tarde, velha. Ainda tô liso.

Gintoki fez menção de dar as costas e fechar a porta, mas um cabo de vassoura o deteve. Tama se colocou na frente dele, apontando-lhe o lado que dispara da vassoura. O Yorozuya engoliu seco, pois sabia que estava mais do que encrencado.

— Não tem essa de “mais tarde”, Gintoki! – Otose esbravejou. – Deixa de ser enrolado e me passa o dinheiro!

— Além de velha caquética, você tá surda, é? Eu não tenho nada nos bolsos e nem na minha carteira! O que eu tinha eu gastei num encontro!

— Encontro? E desde quando você tem namorada?

Gintoki só pôde fazer um facepalm. Ele deveria estar acostumado a isso, mas não estava. Custava acreditarem, pelo menos uma vez na vida, que ele era capaz de pegar uma mulher? De namorar uma? E até de sacrificar um aluguel pra custear um encontro, pra tentar ser mais cavalheiro?

Na hora que ele tentaria novamente fazer com que Otose acreditasse que ele estava namorando Tsukuyo, Kagura e Shinpachi, seguidos por Sadaharu, chegaram e deram à dona do imóvel um maço de dinheiro. Assim que Otose e Tama se retiraram, Gintoki olhou para os outros dois já prevendo um sermão do garoto de óculos.

— Eu sei, eu sei – o Yorozuya já se antecipava. – Eu sei que sou um irresponsável, que deveria ter me lembrado do serviço de hoje, e...

— Relaxa, Gin-san – Shinpachi sorriu. – Você se divertiu ontem à noite, não foi?

Aquela pergunta deixou o albino desconcertado. Cadê a tradicional bronca do cara certinho, do tsukkomi?

— Shinpachi-kun – Gintoki colocou a mão na testa do Shimura para ver se estava com febre. – Você está bem? Você é o Shinpachi-kun mesmo, ou foi substituído por um clone?

A resposta do garoto foi um facepalm. Conclusão: era realmente o Shinpachi.

— Não vou me estressar, Gin-san. – ele disse com uma expressão aborrecida. – A gente só fez isso porque vimos o quanto você deu duro pra fazer aquele encontro acontecer.

— Foi só desta vez, Gin-chan. – Kagura se fez ouvir enquanto mascava uma tirinha de sukonbu. – Vê se não acostuma.

O ex-samurai sorriu enquanto seguia os outros dois para dentro da Yorozuya. Disse:

— Respondendo à sua pergunta, Shinpachi-kun... O encontro foi um desastre total. Mas, em compensação, a noite após ele foi inesquecível.

— Você e a Tsukuyo-san foram aonde?

— Pra casa dela... Eu a levei pra lá e, por conta da chuva, fiquei.

— Espera aí, você e ela...?

— Desta vez nós passamos a noite juntos.

— Fizeram... “Isso e aquilo”?

— Aham. – sentado no sofá, o albino olhou para o teto. – Pode parecer meio estranho eu dizer isso, mas nós nos amamos. E foi muito bom. Espero que um dia você chegue a entender o que eu quero dizer, Shinpachi-kun.

— Com dezesseis anos, acho que dá pra eu entender sim. Eu não sou uma criancinha.

— Mas também não é homem. Você ainda é virgem. Apenas um par de óculos virgem.

Shinpachi, totalmente sem graça, murmurou:

— Você realmente gosta de ser sádico comigo nesse sentido, não é, Gin-san...? Definitivamente, você tá causando muito mais traumas em mim do que os tamagoyakis da minha irmã.

*

Vestiu-se com calma, não tinha pressa alguma. Tinha que saborear aquele raro momento. Parecia estranho, mas eram raríssimas as vezes em que ela acordava tarde. Seu senso de dever e de alerta não a permitiam que se deixasse dominar pela preguiça. Só que desta vez era uma dessas raríssimas exceções.

Parecia que ela havia pegado uma parcela da preguiça habitual de Gintoki enquanto se deitara com ele. Não que fosse ruim de todo, até porque a Hyakka, de vez em quando, insistia para que ela desse uma descansada.

E, mesmo com uma noite tão agitada como fora a última, foi algo que certamente lhe fez muito bem. Gintoki fora capaz de apagar da memória dela a pior parte do trauma que tivera com Ryo.

Engraçado que ele, com aquele jeitão explosivo, era capaz de ser tão gentil com ela. Ele não forçara nada, nem mesmo quando ele queria. Fora uma noite inesquecível, pois não fora apenas uma simples relação íntima.

Ela temia apenas uma troca de beijinhos e depois a cama, mas não fora assim. Sabia que ele sentia por ela o mesmo que ela, por ele. Mesmo tendo dito que o encontro no restaurante fora um desastre, ela sentira que não. Apenas o esforço dele já valera muito a pena.

No fundo, no fundo, o Yorozuya sabia ser romântico a seu modo. E isso a encantara muito.

Começou a pensar na possibilidade de retribuir o que ele fizera. Mas... Como retribuir?


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