Aquele reconfortante abraço já estava durando tempo demais e Lucas ainda não entendia o porquê dele. Apenas sabia que a jovem se sentia segura ali. Ele lhe transmitia segurança e tranquilidade, e ela retribuía tudo aquilo com seus suspiros, que cessavam cada vez mais. Então ele resolveu separar seus corpos e com dúvida olhou diretamente para Violetta que ainda mantinha o semblante triste, mas um sorriso frouxo se formara em seus lábios rosados; era pequeno, porém muito singelo.

– Não entendo. Por que fez isso? – Lucas perguntou hipnotizado pelo sorriso da garota que sumira assim que ouviu sua pergunta.

– Desculpe, foi impulso. – Violetta abaixou a cabeça na esperança de conter suas lágrimas. – Não deveria ter feito isso. – Ela se virou e voltou para a cama, sentou-se na beira e começou a pensar.

– Não precisa pedir desculpa, não achei ruim! – O enfermeiro sorriu. – Só me assustei um pouco...

– Tudo bem... Obrigada por me abraçar de volta! Eu precisava.

– Não há de quê! – Lucas permaneceu parado na porta e, com as mãos dentro dos bolsos, observava a menina. – Você realmente está bem? Não entendi porque chorava.

– Apenas me lembrei de algumas coisas... – disse pensativa enquanto olhava para as suas próprias mãos.

– Família? – Violetta percebeu que ele havia se sentado ao seu lado na cama.

– Não! – foi fria. – Mas em uma pessoa muito importante para mim.

– Léon?

– Como sabe... dele? – sua voz saiu fraca, mas audível o suficiente para que ele escutasse.

– Bom... – Ele pareceu ficar um tanto nervoso. – Diego me disse!

– Ah, claro! – convenceu-se. – Sinto tanto a falta dele! O pior é que agora Léon nem sequer aparece mais pra mim!

– Não seria esse o motivo de estar aqui?

– Sim, mas... eu quero vê-lo novamente! Entende? – Violetta parecia confusa. – Pelo menos uma última vez, para que pudesse me despedir direito... já que não tive chance antes.

– Entendo! – O jovem fitou os olhos da garota que brilhavam radiantes de esperança. Ela queria muito rever o amado. – Mas talvez seja bom que não o veja mais.

– Não! Eu necessito vê-lo! – Ela suspirou frustrada. – Aonde quer que seja, em qualquer lugar – Ela olhou para o enfermeiro que permanecia a observando fixamente e o abraçou novamente, um abraço ainda mais intenso.

Lucas afagou seus cabelos, entendia bem a garota, mas sabia que com o tempo ela acabaria esquecendo Léon, assim como sairia daquele manicômio de uma vez por todas. Violetta suspirou pesado em seus braços, a dor era agonizante, dominava-a, mas sentia que com ele ali o buraco em seu peito, logo, iria cicatrizar.

– Err... Eu tenho que ir, mas depois eu passo aqui de volta. Tenho outros pacientes para atender. – Desfez o seu abraço com gentileza. Violetta sorriu de lado e assentiu.

Viu o enfermeiro dar as costas e bater a porta em seguida, então fechou os olhos sentindo ainda o seu abraço. Fazia tempo que não se sentia assim e, pela primeira vez em três anos, algo mudara. Olhou para a cama e teve vontade de dormir, sem comer nada mesmo.

Arrumou as cobertas, se deitou na cama gélida, olhou diretamente para o teto e respirou fundo. Sentiu-se completamente sozinha naquele momento e nem mesmo a televisão do quarto a entretinha. Fechou os olhos tentando imaginar sua casa e seus amigos, como teria sido sua vida com Léon, mas uma dor atingiu seu peito: a dor de acreditar que nunca mais seria feliz e que o amor seria impossível depois da morte dele. Se soubessem pelo menos onde estava o corpo dele, mas ninguém sabia sobre isso e nem quem o matou, nada.

Talvez tenha passado alguns minutos desde que Violetta tinha se deitado ali, pois logo escutou batidas na porta e viu Lucas entrando com uma caixa em suas mãos. Violetta ergueu uma das sobrancelhas, não entendendo nada.

– O que faz aqui? – perguntou se sentando na cama e passando a mão pelos cabelos desarrumados.

– Como eu disse – sorriu –, voltei e foi por uma boa causa. Mesmo estando em um manicômio, não significa que você não pode se entreter com um filme, certo? – Ele se agachou em frente à televisão e abriu o compartimento do DVD.

– Mas, isso não é errado? – Olhou para os lados, confusa.

Lucas, ainda sorrindo, se sentou ao seu lado na cama e falou baixo:

– Sim, mas se não contar a ninguém que estou aqui com você vendo um filme, e que estou desrespeitando o meu horário de trabalho, não é errado. – Ele tirou os sapatos e se cobriu junto com Violetta.

Violetta olhou-o confusa. Não entendia o motivo do enfermeiro ser tão condescendente com ela, entretanto, gostava da ideia de não passar aquela noite ali sozinha.

– Tudo bem então, não falamos nada, e você não diga nada a ninguém também. – Aconchegou-se na cama e encontrou Lucas fitando-a com um sorriso no rosto.

– Fechado.

Violetta mal conseguia prestar atenção ao filme, não parava de olhar para Lucas. Observava-o durante todo o tempo e, quando ele fazia o mesmo, ambos davam risadas e trocavam sorrisos. Mas não diziam uma só palavra. Até certo ponto ainda trocavam alguns comentários. Ela ficava cada vez mais encantada com o enfermeiro ao seu lado. Cada gesto, cada toque, cada sorriso, tudo o que ele fazia a deixava feliz. Até se esquecera por uns instantes onde estava e porque estava ali. Parecia mais uma noite como todas as outras que sempre tivera com Léon, juntos. E Lucas não estava diferente, sempre reparava na menina, em cada detalhe.

A jovem já estava cansada, morrendo de sono. Ao perceber isso, Lucas lhe abraçou, fazendo com que ela ficasse envolvida em seus braços. Ela nem percebeu quando o cansaço lhe venceu e acabou caindo no sono ali mesmo, ao lado do seu enfermeiro.

Acordou com o barulho da chuva lá fora, caíam pingos fortes, fazendo um som estranho naquela janela velha. Viu o espaço ao seu lado vazio. Lucas já havia ido embora ou dormira ali mesmo com ela? Violetta não se lembrava de nada além do momento em que ele a envolveu em seus braços na noite anterior, antes de cair no sono.

Levantou-se com muito esforço, a preguiça lhe dominava naquela manhã. Algo muito estranho, afinal, ela não era de sentir preguiça. Prendeu seu cabelo bagunçado num coque frouxo e calçou suas pantufas roxas. Olhou em volta e tudo estava igual, se não fosse pela bandeja com o seu café da manhã, ao lado de um papel que parecia um bilhete. Curiosa, Violetta correu até a mesa.

"Bom dia!

Dormiu bem? Acordei cedo e vi que estava num sono pesado, como tinha que voltar ao trabalho não te despertei. Espero que tenha gostado da "atividade extra" na noite passada, me diverti bastante. Quem sabe dias assim possam se repetir?

PS: Deixei seu café da manhã aí, caprichei hoje! Você merece!

Beijos, Lucas."

Violetta sorriu, um simples sorriso, mas um dos mais sinceros que ela já tinha dado naquele lugar. Olhou para a bandeja e teve uma vontade inesperada de comer as frutas, o pedaço de bolo e beber o café. Ingeriu tudo quanto pôde e tomou os seus medicamentos. Na verdade, parecia que ela estava melhorando em partes, mas não sabia onde.

Depois de tomar o seu café, se olhou no espelho e viu o estado que estava. Com certeza tinha que trocar de roupa e arrumar o cabelo rebelde. Feito isso, suspirou entediada como sempre. Não queria ver o filme novamente, e a chuva lá fora impedia de sair. Olhou em volta com desdenho, foi quando ouviu batidas na porta e viu Diego ali.

– Bom dia. Mesmo estando cedo, você tem visitas. – Diego abriu um pouco mais a porta e Violetta viu Lara entrando com um sorriso triste no rosto.