Paranoia escrita por Yasmim Rosa


Capítulo 30
Seven Devils


Notas iniciais do capítulo

OI GENTE! Não demorei nada dessa vez, como prometido. E fico muito feliz pelos comentários que recebemos, dei pulos de alegria ao descobrir que vocês não tinham abandonado a história.

Agora, a bomba que tenho para contar.
ESSE É O ÚLTIMO CAPÍTULO DE PARANOIA!
Não, eu não avisei ninguém sobre isso, queria que fosse surpresa, e bem, aqui estamos. Ao meu ver, está muito legal, e bem a cara da história terminar desse jeito, espero que gostem e... Nem tenho muito o que falar, foram tantas emoções com essa história que deixo para me lamentar depois...



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Os profundos e castanhos olhos de Diego mal acreditavam na imagem que tinha diante de si, e por vários segundos se manteve congelado entre sua mesa e a cadeira de couro, questionando-se como aquilo era possível. Talvez fosse mais uma de suas paranoias ou delírios, mas quando Lucas — ou León — emitiu uma pequena risada irônica, soube que era real. Que não era nenhuma criação de sua cabeça ou brincadeira estúpida feita por seus pacientes.

O doutor passou as mãos pelos cabelos escuros e respirou com força, sentindo o corpo tremular com o choque de realidade. Os olhos de Léon o fitavam com desventura, o encorajando a tomar força e dizer qualquer frase que pudesse ferir o seu orgulho.

— Eu só posso estar louco — Diego lamentou consigo mesmo e deu um passo em direção à porta que ainda estava aberta — Estive presente no enterro de León, Violetta, ele...

— Ele está vivo, Diego — frisou as palavras com força para logo em seguida questionar — O que fazia lá? O que você...

Diego engoliu em seco e fitou o homem ao lado da morena que declarara louca tantas vezes aos outros médicos. Muitas achavam o seu comportamento normal, pois estimava muito o namorado e perdê-lo foi um choque total, entretanto, outros dois sempre mantinham os olhos abertos e possuíam grande conhecimento que aquilo era a mais pura realidade.

Que talvez León Vargas estivesse vivo.

Diego os amaldiçoou diversas vezes por isso, mas teve que concordar: eles estavam certos.

— Eu estou auxiliando o Investigador Pablo — ao dizer essas palavras León sentiu um nó se formar em sua garganta. Pablo? Esteve confiando na pessoa errada todo esse tempo? — Naquela época, em meados de Outubro, ele me ligou, dizendo que algo estava errado... Que o exame de sangue era forjado.

Diego fitou o enfermeiro, ainda trajado com as roupas brancas e o sorriso cínico estampado em seus lábios. Sempre soube que havia algo errado com Lucas, porém nunca tivera tempo para pesquisar ou investigar. Sabia que a documentação era falsificada, mas naquela época ele nem pensava em analisar. Precisava de enfermeiros e médicos urgentemente e o tempo era seu maior inimigo.

— Pesquisei tudo o que podia e nunca cheguei a lugar nenhum. Perguntei aos pais de León, aos seus amigos e a qualquer outra pessoa ligada a ele — soltou um suspiro — Eu estava quase desistindo de ajudar Pablo, foi quando você chegou ao Manicômio. — Diego sorriu ao se recordar da pequena garota sentada na cama, totalmente apavorada — Pouco acreditei que estivéssemos falando do mesmo León, todavia – por alguma sorte – era a mesma pessoa.

Violetta observava a situação com os olhos atentos, sua respiração presa na garganta e as mãos suadas. Tentava processar as informações jogadas sobre si e a forjada morte de León.

Tudo isso realmente era por vingança? Essa pergunta repercutia tantas vezes em sua mente que já acreditava ser se tornado outro espírito a perseguindo. Mas se assim fosse, os medicamentos teriam feito efeito — se ao menos os tivesse tomado...

— Você me usou? — gritou entre lágrimas que já escapavam de seus olhos — Diga, Diego, usou-me para saber mais da morte de León? Para ajudar na porcaria da investigação?

O médico fechou novamente os olhos e deu mais um passo, ficando agora de frente para o casal que vira tantas vezes em fotos que Pablo lhe mostrara. Os olhos de ambos continuavam no mesmo tom — castanhos e verdes — contudo a mensagem que eles traziam não era mais a mesma. Antigamente a Castillo possuía a magia, sonho e bondade na aparência, juntamente com o sorriso ingênuo. Agora era carregada pela mágoa, dor e perda. Havia perdido o encanto.

E Vargas... Ele não era mais nada parecido com o garoto de vinte e um anos da foto. Talvez por esse motivo não tivesse notado que Lucas era Léon. Agora seu cabelo estava mais comprido e uma bagunça total, entretanto parecia harmonizar bem com seu rosto frio. Os olhos expressavam a vingança, raiva e a destruição da vida perfeitamente planejada que tinha. Seja lá quem fosse à pessoa que destruiu a sua felicidade, iria pagar caro por isso.

Diego sempre soube disso.

— Eu conheço vocês dois, Lucas — Diego mordeu a língua, não conseguindo dizer o verdadeiro nome — Os conheço melhor que a mim mesmo.

— O que está dizendo, Diego? — Violetta franziu o cenho, se perdendo totalmente na situação bizarra que se meteram — Você mal sabia que León estava vivo...

León apertou a mão de Violetta com força, prevendo o que aconteceria. Sonhara tantas vezes com aquela cena que não se surpreendeu nem um pouco quando os fortes olhos verdes da antiga amiga do casal abriu a segunda porta do aposento, acompanhada de seu confidente.

O cabelo ruivo lhe cobria a face, uma cicatriz tomava conta de sua sobrancelha e a tatuagem de corvo dominava toda extensão de seu braço, porém ainda era facilmente notada em uma multidão de pessoas.

— Camila? — Violetta berrou quando a antiga abriu um sorriso, os dentes que antes foram brancos, agora manchados — O que você...

Sua voz perdeu força quando a janela de vidro foi quebrada e um homem desconhecido assumiu o lugar ao seu lado. Os olhos ardiam de raiva e a boca tremia como se estivesse congelando de frio.

Diego retirou o jaleco branco e jogou em direção ao homem desconhecido, que o aceitou de bom agrado e o vestiu, para logo em seguida abrir um sorriso mínimo a Violetta.

Ela reconhecia aquele sorriso e os olhos castanhos. Os vira em suas longas e torturantes semanas no Manicômio. León também notou, mas se manteve congelado ao seu lado.

— Lucas? — Violetta gritou a tempo de vê-lo sacar a arma e atirar em sua direção.

Infelizmente o tiro não pegou em si, e quando olhou de relance para trás, notou que a bala atravessara o peito de León, exatamente o local que estava o seu coração.

Seu peito inflamou e o coração doeu mais que em qualquer momento de sua vida. Tentou gritar, pedir que Diego lhe ajudasse e a levasse embora dali, porém tudo o que o Doutor vez foi sorrir.

Camila balançou a cabeça para o lado e tomou a arma de Lucas de suas mãos imundas.

— Termine com essa palhaçada, Camila — ele gritou com força, e mesmo que tivesse sido em alto e bom som, Violetta não conseguiu ouvir com nitidez.

Pois o tiro ecoou com tanta força em seus ouvidos e a escuridão tomou conta de sua vista que nada mais pode ser processado.

A maior de suas paranoias havia se tornado real.

+ + +

Ainda adormecida, sentiu a forte cutucada em suas costas, resmungou tentando ignorar e continuar dormindo. Mas ao contrário do que imaginou, as cutucadas continuaram e impacientemente virou-se para repreender quem lhe incomodava, porém acabou dando de cara com a mãozinha pequena e macia apoiada na cama, seus olhos verdes reluzentes idênticos aos do pai e o cabelo castanho sobre os ombros da pequenina.

— Mamãe, estou sem sono — falou dengosa.

— Deita aqui — puxou a menina pra cama. — Por que está sem sono, pequena? — disse acariciando os fios de cabelo da filha.

— Tive um pesadelo com o papai — escondeu o rosto amargurado no peito de Violetta — Sonhei que ele tinha morrido e que a senhora tivesse ido embora e me abandonado.

Por um instante o local permaneceu silencioso, Violetta recordara do sonho que havia tido naquela noite. Tudo parecia ser tão real, a morte de León, sua internação no manicômio, seu envolvimento com Diego, a aparição de Lucas, os amigos assassinos. Então chegou à conclusão de que tudo não passava de uma fantasia criada pelo seu inconsciente. Ela jamais conhecera nenhum Diego e muito menos um Lucas, e também nunca fora internada.

— Meu amor? — ouviu a voz rouca de León. Lá estava seu amado, deitado do outro lado da cama, com o cabelo bagunçado, o rosto marcado pelo travesseiro e a expressão de sono. Seus olhos a transmitiam calma e não e fúria e vingança como o León de seu sonho. Estava abraçada a filha que já dormia tranquilamente entre os dois.

— Ela já dormiu? — Violetta olhou para menina com um sorriso torto nos lábios.

— Sim, estava contando o sonho que teve e caiu no sono — suspirou.

— Você ficou calada de repente, está tudo bem? — Fitou a esposa, preocupado.

— Estou sim, só estava um pouco pensativa. — Sorriu fraco.

— Ah, então tudo bem — disse meio desconfiado. — Boa noite, meu anjinho — sussurrou a filha que permanecia em seu sono instável — Boa noite meu amor— deu-lhe um beijo e virou-se para o outro lado, logo já estava dormindo novamente.

Mesmo com o silêncio no quarto, apenas o barulho das respirações de León e Lygia, Violetta não conseguia dormir. Aquele maldito sonho perturbava a sua mente, mesmo sabendo que não era real. Respirou fundo e começou a se lembrar dos momentos de quando ainda estudava no Studio. Logo estava entregue ao sono novamente.

Acordou desesperada na manhã seguinte, aquele maldito pesadelo voltara. Ela não conseguia entender, aquele sonho não fazia sentido. Olhou para o lado e percebeu que estava sozinha, nem León, nem Lygia estavam na cama como de madrugada. Olhou para o relógio, 11 horas da manhã. Estava tarde, tarde para ela que acordava todos os dias antes das oito.

Levantou-se meio tonta, sua cabeça doía ao se movimentar, seus olhos semiabertos lacrimejavam, foi então que se deu conta que chorava, chorava sem motivo. Sentou-se na cama controlando sua respiração e enxugou suas lágrimas rapidamente.

Sentiu a brisa gelada vinda da janela, o vento era fraco, porém frio demais. Seus pêlos eriçaram, um arrepio subiu por suas costas, algo sombrio demais, isso a assustava. E então encontrou o seu reflexo no espelho ao lado do criado mudo. Seus olhos estavam com olheiras, inchados, seu olhar era deprimente, estava com pena de si mesma. Chegou à conclusão de que precisava de um banho frio.

Levantou-se da cama na intenção de seguir até o banheiro, mas algo no meio do caminho lhe chamou a atenção. Parou em frente à escrivaninha de León, onde geralmente encontrava todas as manhãs o seu café da manhã deixado pelo marido antes de ir trabalhar. Mas dessa vez estava ocupado por outra coisa, uma carta e um porta retrato.

Aproximou-se de ambos bem lentamente, algo em sua cabeça dizia-lhe que aqueles objetos não eram de certa maneira agradáveis. Chegou mais perto e reparou na imagem meio gasta do porta retrato, uma moça com olheiras profundas e um vestido salmão abatido, com um jovem alto ao seu lado abraçando-a de lado, usando um jaleco branco, porém manchado. Estavam forçando um sorriso, não pareciam estar felizes, aparentar pelo local, um jardim escuro, um banco de madeira gasta, uma árvore velha — parecia uma macieira — e ao fundo da foto, um edifício cinza escuro com algumas manchas laranjas, algumas partes com tijolos a vista, janelas com cortinas bege e branca, e também um letreiro grande ao longo da entrada, “MANICOMIO SHODOL FOUVER”. Suas mãos alcançaram o porta retrato lentamente e assim que tocou a beira da foto, reconheceu as pessoas ali paradas, ela e Lucas.

Automaticamente seus braços começaram a tremer, sua respiração acelerou, e ela derrubou o objeto no chão. Caminhou para trás com passos lentos e caiu na cama, tentou apoiar as mãos na mesma, mas estava fraca. Não podia acreditar, aquela foto não podia ser real. Ela não entendia como aquilo acontecera.

Controlou sua respiração e caminhou novamente até a escrivaninha, seu medo era grande, mas a curiosidade maior. Desviou do porta retrato no chão e virou o olhar para a carta, um papel velho. Pegou a mesma, e dessa vez não demorou a reconhecer de quem era. A letra detalhada e ao mesmo tempo tremida, certamente de um médico estava legível suficiente para Violetta perceber quem era o remetente. Diego.

Seu nome grifado no início do papel indicava que a carta era para ela, porém seu medo de ler não a deixava continuar. Porém como sempre a curiosidade e a sua insanidade eram bem maiores. Passou os olhos rapidamente entres as palavras e conseguia identificar algumas frases.

“Talvez o que tivemos não foi forte o suficiente para você, mas saiba que eu te amo de verdade, como jamais amei ninguém. Nem mesmo Jackie foi capaz de desfrutar deste amor.”

Frases se declarando a ela, realmente Diego a amava, a amava mais que amou Jackie um dia, mesmo sabendo que eles se amaram um dia, agora ela entendia a dor que Jackie sentia, e por que a odiava tanto. Em seus pensamentos a perdoou por tudo. Então seu olhar parou na última frase da carta, na qual não a deixou pensar muito, mas a deixou atordoada.

“Tenha certeza de que eu estarei presente em você, em todos momentos da sua vida. Assim como Lucas. Estaremos em seus sonhos, em sua realidade, não fomos mentiras, somos reais. Nós te amamos e somos capazes de fazer qualquer coisa para tê-la, mesmo que a única saída seja a vingança. Você não pertence a León, você nos pertence Violetta Castillo.

Diego.”

Terminou de ler a carta em prantos, lágrimas involuntárias escorriam em seu rosto, tentou rasgar o papel em suas mãos, entretanto ainda estava fraca. Então jogou a mesma de volta na escrivaninha e pensou em correr para os braços de León. Mas antes que pudesse fazer isso ouviu um baque alto vindo de fora do quarto.

Saiu correndo tropeçando pelo caminho, o corredor até a sala parecia longo demais. Enfim chegou ao local, então desejou não ter visto aquilo, seu amado estava no chão todo ensanguentado, com a mão no peito e seus olhos se fechando. Ao seu lado dois homens estavam de pé, um segurando a arma e o outro com uma rosa murcha em suas mãos.

Lucas e Diego.

Olhou para os dois, estava horrorizada, seus olhares eram malignos, ela estava com medo. Lucas se aproximou lhe oferecendo a rosa e sorrindo claramente, enquanto Diego os fitava ainda segurando a arma.

Vingança é um prato que se come frio! — a voz dos dois ecoou pela sala.

F I M


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Notas finais do capítulo

PODEM GRITAR! SURTAR! E SEJA MAIS LÁ O QUÊ!
Mas sim, esse é o final de Paranoia. Depois de 30 capítulos e quase três anos de história, concluímos a jornada assombrosa de León, Violetta, Diego e Lucas. Foi muito difícil trabalhar nesse enredo, pois se vocês bem notarem, é diferente de qualquer coisa que já tenhamos visto na categoria Violetta. Enfim, eu quero agradecer - e a Yaya - por todo o carinho que vocês nos proporcionaram nesses anos, as recomendações, surtos e tudo o que mais for possível. E também por terem sido enganadas tantas vezes nessa história KKKK, foi divertido, afinal.

Enfim, para quem não entendeu direito o conceito do título da história:
Paranoia: termo introduzido na psiquiatria para designar os problemas psíquicos que tomam a forma de um delírio sistematizado. A paranoia engloba sobretudo as formas crônicas de delírios de relação, ciúmes e perseguição e a chamada esquizofrenia paranoide.


ENTENDEM COMO QUISER KKKK o final é para cada um entender do jeito que quiser. Todavia, as alucinações criadas pela Violetta são reais, e de fato aconteceram, como vocês bem notaram. Léon e Lucas são pessoas distintas uma da outra, mas parecidas na aparência. León se caracterizou como Lucas no Manicômio, mas, por ironia, do destino, havia outro Lucas no local. O qual desejava a morte de Violetta, como Camila, Pablo e Diego desejaram por tantas vezes....
Bem, é um hexágono de situações, e vai da interpretação de cada um.


BEIJÃO!



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