Born to Die escrita por Agatha, Amélia


Capítulo 7
Espontaneamente


Notas iniciais do capítulo

Desculpem pela demora!
Boa leitura!



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*Narrado por Avery Dickens

Eu não sabia quanto tempo ao certo já que ninguém estava contando, mas deveria ter se passado mais ou menos uma semana desde que limpamos as casas e Ashley ficou doente. Os remédios estavam quase acabando, mesmo que havíamos achado alguns nas casas. Ninguém sabia o que ela tinha, por isso ficávamos com medo de dar para ela o remédio errado, mas era necessário, já que a cada dia a situação da Ashley ficava pior.

Nos dividíamos em turnos para vigiá-la, e agora era a minha vez. Nós duas ouvíamos músicas (nem sei como consegui ficar tanto tempo sem ouvi-las) e, por mais que ela gostasse se country e eu só tivesse rock e um pouco de pop, aquilo parecia animá-la.

Olhei pela janela e vi Kate e Jack indo em direção à floresta. No dia anterior ela estava com Jacob, mas parecia que nenhum dos três (Kate, Jack e Jacob) ligava para essa condição absurda.

– Eles estão juntos? – Ashley me perguntou com a voz extremamente fraca.

– Não. Eles estão ficando – essa era a única definição que poderia ser dada para aquilo.

– Como assim?

– Me desculpe, esqueci que você viveu mais da metade da sua vida no século XX! É tipo... Ela fica com os dois, tipo reveza, também não entendo muito bem isso. Não é um namoro. É tipo um relacionamento sem compromisso.

– Ela ainda acha que vai morrer? – dava pra notar o esforço que ela fazia para falar.

– É, ela é louca.

– Uma pena, ela é tão jovem...

Nesse momento, Molly chegou para ficar com a amiga. Eu saí e, obviamente, fui para a floresta procurar Kate. Mas, quando cheguei lá, não encontrei quem eu esperava. Vi Gabriela e Josh conversando, muito próximos. De vez em quando eles sorriam e, no final, Gabriela se levantou e foi abraçá-lo, mas Josh se virou e a beijou. Depois de um tempinho, Gabriela recuou e disse alguma coisa. Ele tentou argumentar, mas ela saiu.

Voltei correndo para o nosso chalé, me joguei na cama, coloquei os fones e comecei a ouvir música. Gabriela chegou e parecia meio confusa. Desliguei o MP3 para conversar com ela e fazer um joguinho para fazê-la falar.

– Onde você estava? Te procurei pelo parque todo!

– Andando... - ela não prestava atenção em nada que eu falava.

– Sozinha?

– Com quem eu poderia estar?

– Sei lá... Mas, mudando de assunto, agora que somo tipo colegas de quarto, precisamos nos conhecer melhor. Eu tive um namorado no verão passado, o nome dele era Dylan, mas nunca mais o vi depois da colônia de férias em Tallahassee. E você?

– Claro que sim! Mas que pergunta... - agora ela prestava atenção no que eu dizia.

– Algum em especial? Mais recente?

– Não me lembro... Acho que o último foi há uns três anos. Quantas vezes vou ter que dizer que eu vivi pelo meu trabalho?

– Desculpa... Só preciso te conhecer melhor. Vai que estou dividindo o quarto com uma psicopata que esconde corpos mutilados em casa?

– Eu tenho corpos mutilados em casa – ela respondeu com a maior naturalidade.

– Jura? – ela confirmou com a cabeça e fez um sorrisinho maléfico. – Preciso avisar para os outros! Qual é o número da guarda nacional?

– Estamos sem telefone, esqueceu? – ela se divertia com o meu desespero.

– Preciso fugir para as montanhas do oeste!

– Lá tem índios.

– Legal! Sempre quis saber fazer armas!

– Eles são canibais.

– Mas é sério essa coisa dos corpos?

– Você queria que eu matasse a minha mãe e deixasse o corpo no centro da cidade?

– Faz sentido... Como você consegue mudar de assunto sem que eu perceba?

– É fácil, você é muito empolgada!

– Mas você ainda não me respondeu.

– Não me lembro do meu último namorado, mas a minha mãe sempre me empurrou pra cima de um vizinho. Eu nunca falei com ele, mas ela queria que saíssemos.

– Tem certeza que você estava sozinha na floresta?

– Eu nunca disse que estive na floresta – ela me descobriu. – O que você viu?

– Você e o Josh.

– Aquilo não foi nada de mais – parecia que ela não dizia aquilo para mim, e sim para si mesma.

– Você precisa ser mais espontânea, eu vi como foi. Parecia que você não estava pensando naquele momento,como se você não usasse a cabeça e sim seguindo o seu coração.

– Exatamente, eu não estava pensando.

– Tudo bem, eu entendo se não quiser falar sobre isso... – depois que eu disse isso ela saiu.

*Narrado por Gabriela Hopper

Eu estava na floresta cortando lenha quando Josh chegou. Me sentei num toco de madeira e ele se sentou ao meu lado.

– Precisamos conversar... – Josh não completou a frase. – Abaixa!

Eu obedeci e só pude ver quando ele puxou o meu machado e bateu em algo atrás de mim. Me virei e percebei que ele havia acabado de me salvar. Meu coração batia forte e eu estava assustada. Fazia um bom tempo que um mordedor não se aproximava de mim, eu havia esquecido que não estava segura do lado de fora. Eu poderia ter morrido se Josh não estivesse lá, na verdade, eu poderia ter morrido inúmeras vezes desde que isso começou, mas eu sobrevivi. Dizem que tudo tem um motivo, talvez eu tenha um para estar viva.

– Obrigada, de verdade!

– Não foi nada...

– Eu já agradeci por terem nos deixado ficar aqui?

– E eu já agradeci por administrar o parque? – ele falou e nós rimos.

Eu me levantei e fui abraçá-lo, mas Josh se virou e me beijou. Não sei muito bem o que aconteceu lá, não sei se gostei ou se desejei que aquilo nunca tivesse acontecido, depois de um tempo, recuei.

– Isso não vai se repetir.

– Eu não me arrependo disso – ele tentou falar, mas eu saí.

Resolvi voltar para o chalé e pensar um pouco. Quando cheguei lá, Avery estava ouvindo música na cama dela.

– Onde você estava? Te procurei pelo parque todo!

– Andando... - eu não prestava atenção em nada que ela falava, só conseguia pensar no que aconteceu.

– Sozinha?

– Com quem eu poderia estar? – evitei responder a pergunta dela.

– Sei lá... Mas, mudando de assunto, agora que somos tipo colegas de quarto, precisamos nos conhecer melhor. Eu tive um namorado no verão passado, o nome dele era Dylan, mas nunca mais o vi depois da colônia de férias em Tallahassee. E você? – aquele fato foi irrelevante, o que provava que ela só queria puxar assunto.

– Claro que sim! Mas que pergunta... – resolvi parar de pensar naquilo e tentar conversar.

– Algum em especial? Mais recente? – eu não fazia a mínima ideia.

– Não me lembro... Acho que o último foi há uns três anos. Quantas vezes vou ter que dizer que eu vivi pelo meu trabalho? – respondi um pouco nervosa, mas me arrependi disso.

– Desculpa... Só preciso te conhecer melhor. Vai que estou dividindo o quarto com uma psicopata que esconde corpos mutilados em casa? – ela estava fazendo aquilo para me irritar.

– Eu tenho corpos mutilados em casa – era verdade, mas pelo tom que eu usei, ela me pareceu um pouco assustada com a resposta.

– Jura? – confirmei com a cabeça e dei um sorriso. Eu estava começando a gostar daquilo. – Preciso avisar para os outros! Qual é o número da guarda nacional?

– Estamos sem telefone, esqueceu?

– Preciso fugir para as montanhas do oeste! – tão dramática...

– Lá tem índios.

– Legal! Sempre quis saber fazer armas!

– Eles são canibais.

– Mas é sério essa coisa dos corpos?

– Você queria que eu matasse a minha mãe e deixasse o corpo no centro da cidade? – agora eu falava com seriedade.

– Faz sentido... Como você consegue mudar de assunto sem que eu perceba?

– É fácil, você é muito empolgada!

– Mas você ainda não me respondeu – e nem queria responder.

– Não me lembro do meu último namorado, mas a minha mãe sempre me empurrou pra cima de um vizinho. Eu nunca falei com ele, mas ela queria que saíssemos.

– Tem certeza que você estava sozinha na floresta?

– Eu nunca disse que estive na floresta – ela sabia de alguma coisa. – O que você viu?

– Você e o Josh – ela viu.

– Aquilo não foi nada de mais – eu não disse aquilo para ela, só queria me convencer de que estava certa.

– Você precisa ser mais espontânea, eu vi como foi. Parecia que você não estava pensando naquele momento,como se você não usasse a cabeça e sim seguindo o seu coração.

– Exatamente, eu não estava pensando.

– Tudo bem, eu entendo se não quiser falar sobre isso... – saí depois que ela terminou de falar.

Fiquei pensando no que aconteceu, no que Avery falou e em muitas outras coisas. Voltei para a floresta e voltei a cortar lenha. Depois de um tempo, já estava escurecendo e eu resolvi voltar para o chalé. No caminho, encontrei Josh vigiando uma das entradas. Ele estava debruçado sobre a janela da guarita e parecia estar pensativo. Me aproximei devagar e fiquei na mesma posição que ele.

– Você se incomoda se eu ficar aqui? – perguntei com cuidado.

– Não – ele olhava fixamente para um ponto no horizonte e eu fiz o mesmo.

– Me desculpe pelo modo que eu falei com você.

– Tudo bem.

– No que você estava pensando?

–No mesmo assunto que você deveria estar pensando.

– Estou pensando nisso. O que vamos fazer? – ele demorou um pouco para responder.

– Sabe, acho que às vezes penso como a minha irmã, mas só as coisas boas. Ela acha que vamos morrer a qualquer momento e que precisa fazer o que ela não pôde fazer antes. Talvez Kate não esteja tão errada quanto parece. O que aconteceu com você hoje é a prova de que não estamos tão seguros quanto pensamos. Por mais que vigiamos as entradas, um caminhante sempre achará um jeito de passar.

O que ele falou fazia todo o sentido. Ficamos um tempo em silêncio até que ele olhou para mim e continuou.

– Mesmo que não me preocupo muito com isso, não posso dizer que estou protegido da ameaça. E se eu morrer amanhã? Eu não quero morrer sozinho. Isso deve ser um aviso, talvez todos precisem ser um pouco mais espontâneos – lembrei do que Avery havia me dito. – Não que eu esteja dizendo isso porque estou desesperado atrás de alguém, eu tenho outras opções aqui no parque, mas eu escolhi você. Eu te conheço há uns nove ou dez dias, mas já tenho certeza do que eu sinto.

– Josh...

– Você pode não perceber isso, mas eu acho lindo o modo com que você se preocupa com a Avery – ele pegou as minhas mãos. – Eu não ligo se você estiver confusa agora, eu vou te esperar.

– Não precisa esperar, já tomei a minha decisão – nós dois sorrimos.

Nos beijamos e dessa vez foi diferente da outra, eu não queria mais fugir.

– Eu tenho que ir, não quero te atrapalhar – falei. – Boa vigia.

– Toma cuidado, nem sempre estarei perto para te salvar.

– Pode deixar! – saí com um sorriso bobo, o que é natural quando essas coisas estão acontecendo.

Voltei pensando em como encarar uma adolescente eufórica e muito curiosa. Não sabia se contava para ela ou não, mas às vezes Avery era surpreendentemente madura.

– Senhorita Hopper, onde você estava? – ela perguntou enquanto eu acendia a luz.

– Nossa, você está parecendo o meu antigo chefe! – brinquei.

– A senhorita está feliz de mais para mim! – e tinha como disfarçar? – Fala o que aconteceu! Você falou com ele?

– Falei.

– E?... Fala logo! Vou morrer de curiosidade!

– Acho que deu certo – enrolei um pouco.

– Como assim “acho”?

– Interprete isso como “estamos namorando”.

– Jura?

– Claro que sim! Mas agora a Senhorita Dickens precisa jantar.

– Lá você me conta?

– Na frente de todo mundo?

– É!

– Nem pensar! Circulando, mocinha. Não conte pra ninguém, entendido?

– Me recuso a responder! – ela saiu e eu fui atrás.

Na mesa, ela tentava de tudo para me fazer falar para os outros. Uma hora ela quase conseguiu.

– Gabriela, por que não conta para eles?

– Contar o quê? – fingi que não sabia do que ela estava falando.

– Você sabe!

– O que você tem que falar? – Charles perguntou depois de terminar de beber uma garrafa.

– Não é nada... – tentei disfarçar.

– Fala! – Emily pediu. Eu não podia falar, estavam todos lá, menos Josh (não sabia se ele queria que eu falasse), Ashley e Molly.

– Eles vão gostar de saber! – Avery insistiu.

– Tudo bem, vocês me convenceram! Acho que com a lenha que temos quase dá para fazer uma cerca ao redor de boa parte do parque – menti.

– Legal! – Elias falou enquanto Avery me fulminava com os olhos.

Depois do jantar voltamos para o chalé e Avery acionou a metralhadora de sermão.

– Por que você não falou?

– Josh não estava lá.

– E se ele quisesse que você falasse?

– E se ele não quisesse que eu falasse? – retruquei.

– No campo das suposições eu não discuto!

– Foi você quem supôs que ele iria gostar que eu falasse.

– Chata! – ela se jogou na cama.

– Boa noite.

– Péssima noite para você! – ela fingiu que estava com raiva.

– Impossível! – brinquei e fui dormir.


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Notas finais do capítulo

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