Born to Die escrita por Agatha, Amélia


Capítulo 58
Algo a temer


Notas iniciais do capítulo

Bem, estamos de volta. Ainda não estamos na rotina que era postar na quarta, mas tentaremos fazer isso. Estamos muito felizes com os comentários. Vocês são incríveis, não poderíamos ter leitores melhores!
Sabemos que muitos estão pedindo por Cavery (Carl e Avery), e por isso pedimos paciência, tudo tem seu tempo, principalmente agora que tudo está decidido e não tem como mudar, mas não estamos dizendo que não teremos os dois! Mais uma vez, paciência, as coisas estão acontecendo rápido de mais e cada um terá seu momento!
Aos leitores da HQ, o nome do capítulo não tem exatamente a ver com o arco em si e, como já dizemos algumas vezes, estamos apenas nos inspirando na Guerra Total. Vocês verão!
Aos que não conhecem a HQ, Negan não é nosso personagem. Não gostamos muito de usar as palavras dele, mas confessamos que foi bastante divertido escrever o discurso! Então, não se assustem com o vocabulário do personagem, não podíamos descaracterizá-lo.
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/423724/chapter/58

*Narrado por Gabriela Hopper

Havia se passado um dia desde que saíramos do Reino, e tudo prosseguia do jeito que estava. Depois da visita inesperada do grupo de Negan, a promessa de guerra nos deixava apreensivos. A ameaça final do homem desfigurado deixara todos amedrontados, as baixas em uma guerra eram inevitáveis. Eu não queria perder ninguém, mas, de alguma forma, já estava preparada para isso. Contudo, tentávamos prosseguir naturalmente, apenas nos preparando e aguardando até que tudo fosse acertado com as outras comunidades.

Ocupávamos o nosso tempo organizando as armas, contando e separando munições, revisando o plano de Abraham, preparando carros, cavalos, água, comida e mantimentos para uma possível fuga e adiantando o projeto de Eugene. Com tudo tão próximo, a produção de balas seria essencial, por isso estava sendo apressada e, assim que as primeiras balas fossem produzidas, outras “fábricas” seriam montadas nas comunidades.

Em caso de evacuação sairíamos pelos fundos, provavelmente passando pela floresta antes de pegar a estrada. A prioridade seria retirar as crianças de lá. Se fosse necessário abandonar a base, o ideal seria irmos para Alexandria, porém eles estavam passando por algumas dificuldades e o Alto do Morro ficava mais próximo. O abandono da base não me agradava, seria mais um lar perdido, contudo, desde que nossos familiares estivessem a salvo, valia qualquer sacrifício.

No meio de tudo isso ainda tinha a rotina, que deveria ser mantida. A colheita estava sendo antecipada, os animais já começavam a ser abatidos ou preparados para transporte e estávamos retirando água do lago para armazenar. Todas as tarefas diárias prosseguiam, por mais que fosse difícil trabalhar com tanta coisa na cabeça.

Estava cortando legumes, como sempre fazia. Eu mesma havia me proibido de qualquer tarefa que incluísse a preparação direta das refeições, com o intuito de não estragar a comida, em vista de que já fazia anos em que eu não preparava algum alimento. Por isso eu apenas me encarregava de picar ou lavar alguns ingredientes, enquanto elas temperavam os peixes e preparavam a panela para cozinhá-los.

– Sinceramente, não aguento mais comer peixe! – estávamos tão tensos que eu não pude deixar de rir com aquele comentário aborrecido de Sasha. Apesar de tudo que ocorria, sempre conseguíamos nos preocupar com assuntos de menor significância, isso acabava nos ajudando. O simples fato de termos comida fresca já era bom, já que, depois de anos no apocalipse, era difícil encontrar enlatados ou qualquer coisa industrializada.

– Eu gosto de peixe – Maggie discordou.

– Eu também, só estou enjoada de comer sempre a mesma coisa. Sinto falta dos tempos em que podíamos escolher entre cervos ou coelhos...

Do jeito que Sasha falara, parecia que haviam se passado anos desde Daryl havia saído, desde que eu era feliz. Elas continuaram conversando, mas eu fiquei perdida em devaneios. Por mais que eu já soubesse o que Daryl estava fazendo, continuava não gostando da ideia. Tudo seria muito mais fácil se Negan apenas não existisse. Antes eu tinha consciência da minha felicidade, por isso mesmo parecia que seria eterna. A guerra me sobrecarregara tanto que era difícil definir o meu estado emocional, talvez um misto de vários sentimentos, por mais que a preocupação era sempre o mais forte.

– Gabriela! – Maggie chamou e eu arregalei os olhos, voltando a me concentrar na cozinha. Ela, Sasha e Rosita me observavam como se aguardassem uma resposta. – Você está prestando atenção? É que estávamos falando do Daryl, e eu só queria saber se pra você tem algum problema...

– Não, está tudo bem. Não podemos ficar fingindo que nada aconteceu. Desde que Sam continue pensando que o pai era um heroi, não vejo problema algum – respondi voltando a me concentrar nos legumes. Eu realmente não estava tendo que me esforçar, tudo o que fazia era esquecer que havia me encontrado com ele e descoberto a verdade, como se ainda o odiasse. E todos pareciam crer nisso, ou então estavam preocupados de mais para prestar atenção e descobrir que tudo era uma farsa, até mesmo minha filha.

Avery certamente ainda estava com Patrick. Ela, Carl, Scott e Mika não haviam desgrudado dele, como se quisessem recuperar os anos perdidos e evitar que eles se separassem novamente. Para as crianças, Patrick era uma atração, os três estavam adorando conhecer o amigo de seus irmãos. A volta dele viria com uma festa caso não estivéssemos bastante preocupados, mas o grupo inteiro estava feliz pela volta do garoto. Tudo seria motivo de celebração se não houvesse tantos problemas.

*Narrado por Avery Hopper

Estávamos nós oito brincando sentados em uma roda no chão enquanto Mika puxava algumas canções infantis. Os pequenos estavam extremamente animados e agitados com o retorno de Patrick. Por mais que não o conhecessem, o achavam bastante divertido. Eles estavam tranquilos e alegres, e eu invejava isso, já que era difícil não pensar nos Salvadores. A inocência deles era importante, e tentaríamos manter isso. As crianças não precisavam conhecer o mundo real tão cedo, elas precisavam ter uma infância de verdade.

Afastei os pensamentos e voltei a me concentrar na brincadeira. Os adultos estavam se preocupando com aquilo, e o trabalho de ficar com os meninos não era mais só da Mika, essa seria a nossa única tarefa durante esses dias, por isso tínhamos que nos divertir.

Eu tentava conversar com Patrick para colocar os assuntos em dia e explicar tudo que ele havia perdido, desde o encontro com o grupo de Abraham até a escolha dos nomes de nossos irmãos, já que ele só conhecia Grace, mas as crianças não deixavam. Apenas com muita insistência eu terminara a história.

– O que vocês querem fazer agora? – Mika perguntou ainda sentada com as pernas cruzadas. Ela sem dúvida daria uma ótima monitora de colônia de férias ou até mesmo uma professora de creche. Era incrível com Mika não conseguia se irritar um minuto sequer com toda aquela animação interminável, os gritinhos agudos e a histeria.

– Vamos pro deque! – Hesh gritou já se levantando. Sua fala era inconfundível, o garoto de touca costumava se embolar um pouco nas palavras e sua voz fofa costumava ser baixa quando ele não estava agitado.

– Mas o Patrick já viu o deque – Carl protestou. Já havíamos andado por toda a extensão da base naquela manhã, e o lugar onde nos encontrávamos parecia ótimo.

– Vamos, por favor! – ele insistiu.

As crianças começaram a puxar Patrick para levantá-lo em meio às risadas, e ele acabou cedendo. Aqueles sorrisos eram muito sugestivos, e eu sabia que eles estavam aprontando algo. No momento em que ele começou a andar, tropeçou em algo e caiu no chão. Os garotos começaram a rir e correr para longe gritando algo, e só então notei que os cadarços dos tênis de Patrick estavam amarrados uns nos outros.

Mika foi atrás dos pequenos enquanto Carl e Scott se aproximaram de Pat para ver se ele estava bem. Fiz o mesmo depois de rir um pouco, ele mesmo dizia que os meninos eram adoráveis.

– Eu avisei que essas crianças eram diabólicas – falei enquanto o ajudávamos a levantar.

– Não, eles são legais – Patrick discordou rindo um pouco e ajeitando seus óculos.

– Tão legais que te jogaram no chão... – Carl comentou. – Nós já falamos tudo sobre a base, mas você não nos contou como chegou ao Reino, se conheceu alguém lá...

– Não tem muita coisa pra contar, eu apenas sobrevivi. Eu encontrei um novo lar, mas sabia que a minha família estava viva em algum lugar do país – sorri um pouco emocionada por ouvir aquelas palavras, mas continuava curiosa. – Desde que me separei de vocês não fiz muita coisa além de correr, então eu encontrei uma garota. Ela era legal e me ajudou muito.

– Ela era bonita? – Carl perguntou. A menção da tal garota só aumentou a minha curiosidade.

– A mais bela que eu já vi – Patrick respondeu com os olhos brilhando. – Foi com a ajuda dela que eu cheguei ao Reino.

– E ela ainda está lá? – Scott questionou. O assunto, que antes era sobre Patrick, acabou se centralizando na garota, todos nós queríamos saber o que acontecera.

– Até você, Scott? Ela não está mais disponível.

– Espera, vocês estão namorando? O Patrick tem uma namorada e não contou pra gente! – exclamei surpresa e, ao mesmo tempo, sentindo uma pontada de ciúmes do meu amigo.

– Você nunca disse que tinha casado com o Carl – ele provocou e eu fechei a cara.

– Claro, nos casamos junto com Scott e Mika – Carl entrou na brincadeira, irritando o ruivo.

– Vocês estão desviando do assunto – Scott interrompeu desviando do outro assunto. As conversas sobre relacionamentos sempre acabavam em provocações ou até mesmo brigas. – O que houve com ela?

– Ela foi embora – Patrick disse abaixando a cabeça.

Antes que qualquer um pudesse falar algo, ouvimos sons vindos do portão. Virei a cabeça para o lado e pude ver um homem batendo um taco de beisebol coberto de arame nas grades do portão. A cena até seria cômica, se eu não tivesse reconhecido o homem desfigurado atrás dele.

– Toc, toc! Tem alguém aí? Abram a porra da porta! – o homem gritou e aquela violência verbal me deixou um pouco assustada.

– Quem é esse? – perguntei sem me mover.

– Ele existe! – Patrick exclamou surpreso. – Pensei que fosse uma lenda, mas o Negan está bem ali!

Os adultos se aproximaram do portão para ver o que estava acontecendo, e se assustaram ao ver os Salvadores e aquele homem desconhecido com o taco de beisebol. Ele tinha um sorriso que me deixou amedrontada, como se soubesse o que viria a seguir e não parecia ser nada de bom. Seus cabelos negros estavam jogados para trás, deixando seu rosto de maníaco à mostra. Suas vestimentas eram semelhantes às da maioria dos Salvadores, negras com exceção da blusa vermelho sangue debaixo da jaqueta de couro.

– Qual desses putos é o líder? – ele questionou quando todos já estavam lá, mas ninguém se moveu. – Vocês podem ser qualquer merda, mas não são covardes. Rick Grimes, apareça.

– Sou eu – Rick falou dando um passo à frente. Ele tentou dizer algo, mas foi interrompido.

– Olá, Rick. Eu sou Negan, o líder dos Salvadores. Pra começar, eu não achei nada legal quando mandei meus homens para fazer uma proposta amigável e vocês recusaram. Se você não entendeu direito, isso não é a porra de uma oferta, é uma ordem, e ninguém diz não para os Salvadores. Olha, eu e a Lucille ficamos muito putos com isso. Se fosse por ela, vocês já estariam fodidos, mas eu sou um cara justo, justo pra caralho. Eu poderia ter mandado um homem pra falar por mim, não gosto muito de aparecer, mas estou vindo aqui pessoalmente para tentar mostrar o melhor caminho. Vocês podem matar alguns de nós, mas todos os seus morrerão. Pense direito, Rick, não arrisque a vida da sua família pela metade do que têm. É como se isso fosse um imposto, e nós só tentamos arrumar as coisas, esmagaremos as cabeças desses sacos de merda arrombados por vocês, deveriam nos agradecer. Me emputece muito saber que tem uns cuzões por aí tentando esporrar o meu esquema – ele falou de maneira teatral e pouco convincente, era difícil levar aquilo a sério por causa daquele linguajar, e estranhei muito ao notar que a tal Lucille era seu taco. Negan estava mais para um louco do que para um tirano, mas seu poder de fogo era inquestionável. – Agora eu vou falar de novo. Viremos aqui amanhã para pegar a nossa parte, e eu só quero saber se vocês vão nos aceitar amigavelmente ou se vamos partir pra porrada. Eu não gosto de violência, mas estou disposto a fazer isso pra não foder com tudo. Então, o que me diz?

– A minha resposta continua a mesma – Rick respondeu rapidamente e mais convicto do que nunca. Eu sabia qual seria a sua resposta, assim como todos os outros membros da base concordavam que não iríamos nos submeter a eles. – Não. Isso não é um imposto, não pedimos nada a vocês, não precisamos da sua ajuda. Estou propondo que se retirem amigavelmente e não atacaremos vocês.

– Está me ameaçando? Você vai se arrepender fedorosamente, Rick Grimes! Mas, quando perceber a merda que fez, já estarão todos fodidamente fodidos pra caralho! – Negan gritou antes de começar a recuar. Eu realmente me surpreendi com aquilo, esperava que ele fosse insistir ou, na pior das hipóteses, atirar em nós.

Suspirei aliviada, mesmo sabendo que ele não deixaria a situação passar em branco, mas pelo menos teríamos algum tempo. Mas o alívio durou pouco já que, segundos depois, algo veio em nossa direção. Não deu tempo de fazer simplesmente nada, apenas olhar para o céu. O objeto explodiu, nos arremessando para longe, e então tudo ficou branco e um zumbido me fez perder aos poucos os sentidos, até que minha consciência fosse perdida por completo.

*Narrado por Sarah Grimes

A base ficou completamente tumultuada depois da primeira explosão. A granada havia ido em direção a Carl, Avery e Patrick, mas não pude ver o que acontecera com eles, e isso me deixava preocupada. Antes que pudéssemos fazer algo, houve outra explosão mais ao fundo e aquele som fez com que eu escutasse um zumbido intenso por alguns instantes.

Todos começaram a correr em direção ao local onde estavam os veículos, enquanto Negan e seus homens pegavam granadas para atirá-las por cima do muro. Eu acompanhei o restante do grupo, mas não iria embora antes de achar minha filha. As crianças começaram a correr e gritar desesperadamente. Pude ver o momento em que Grace parou de correr e fixou seus olhos em mim. Então uma granada cortou o ar e se aproximou dela, que não esboçou nenhuma reação.

Eu não sabia se era possível, mas pareceu que meu coração parou de bater por alguns segundos, e a única coisa que me mantinha viva era aquela visão. Rick, do outro lado, parecia compartilhar a mesma dor que eu, mas ele conseguiu reagir e correu até nossa filha. Quando meu marido a pegou nos braços, a granada explodiu. Mesmo com a fumaça negra obstruindo minha visão, eu já especulava havia ocorrido, apesar de temer estar certa.

Simplesmente não consegui mais ficar de pé e acabei caindo de joelhos no chão. Outras explosões ocorriam em locais diversos, mas era como se aquilo não tivesse importância. Depois de alguns segundos apenas fitando toda aquela fuligem que começava a se dissipar, não aguentei e virei o rosto para frente, sem coragem de olhar para aquilo. Eu tinha medo de vê-los mortos, de ter que viver sem eles, eu não sabia o que fazer.

Eugene, que me acompanhara durante o trajeto, se aproximou e me ajudou a levantar. Ainda em estado de choque, observei o que acontecia ao meu redor. Próximo ao muro, Gabriela, Tyreese, Glenn e Maggie retiravam os garotos ainda desacordados do local. Abraham e Rosita colocavam as armas no caminhão de transporte militar, enquanto Michonne assumia a direção dele. Mais ao fundo, Sasha abria a porta dos fundos. No momento em que ela fez isso, dezenas de errantes que haviam sido atraídos pelos estrondos entraram e avançaram sobre a mulher. Pude ver, sem ter como ajudar, o momento em que Sasha foi cercada e, mesmo assim, continuou lutando. Eram muitos e ela estava completamente desamparada. Tentei não observar aquela cena de carnificina explicita que começou logo após ela ser mordida por trás pela primeira vez.

– Temos que continuar – Eugene falou me tirando do transe e se referindo a Rick, Grace e Sasha.

Olhei uma última vez para o local da explosão, a fumaça já não estava mais lá, então pude ver claramente meu marido e minha filha, porém eles não estavam mortos. E não era uma visão ou alguma ilusão feita pela minha mente, eles estavam realmente ali. Se antes o choque de vê-los desaparecer por conta das granadas não fizera com que a dor da perda se espalhasse pelo corpo, a felicidade tomava conta de mim, e o gelo fora se derretendo aos poucos até que meus olhos ficassem inundados de lágrimas. Grace estava agarrada ao pescoço dele, e Rick permanecia ajoelhado no mesmo local segurando nossa filha assustada com força. Ela chorava, e tive a impressão de que Grace já podia entender um pouco o que se passava. Não era como na queda do hotel, ela parecia entender aquela destruição, mesmo que superficialmente.

Sem pensar em mais nada, corri até eles. Quando me aproximei, foi como se as explosões tivessem parado. Eu não suportaria perdê-los, mas eles estavam lá. Primeiro abracei Rick e o beijei diversas vezes, sem me importar com aquela reação exagerada. Depois peguei Grace nos braços para abraçá-la com força, e sussurrando muitas vezes em seu ouvido que tudo ficaria bem, mesmo sem ter certeza. Nós três permanecemos daquele jeito pelo que pareceu ser uma eternidade.

– Lucille, é hora de se divertir com os que sobraram – pude ouvir Negan falar e, quando me voltei para o muro, o portão não estava mais lá. No lugar dele havia um buraco, marcas de explosão e chamas. Ele disse alto anunciando que estava chegando com seus homens, apenas para nos amedrontar e dar a certeza que nosso fim estava próximo.

A única coisa que fiz foi segurá-los com mais força enquanto a chuva de balas começava. Se corrêssemos, eles no veriam facilmente, então o melhor que podíamos fazer era continuar lá. Eu não sabia se teríamos a sorte de sobreviver mais uma vez, contudo não conseguia perder a esperança. Ela, apesar de incerta, sempre seria minha última companheira e talvez a única coisa que eu podia me agarrar na luta pela sobrevivência. Os sons de tiros de metralhadora se aproximavam, e era possível escutar as risadas e gritos dos Salvadores.

Então um homem se aproximou. Ele segurava uma submetralhadora e pareceu se divertir ao ver nossas expressões assustadas. O homem sorriu e apontou a arma para nós. Houve um disparo, mas o som pareceu ter vindo por trás, e ele foi jogado no chão pelas balas. Quando me voltei para a origem do tiro, Rosita e Abraham estavam lá. Ela segurava uma arma longa com a coronha de madeira e o cano num tom cinza escuro.

– Não vamos deixar ninguém pra trás – Abraham falou e eu não pude deixar de sorrir.

Sem questionar nada, nos levantamos. Rick pegou Grace e a colocou no ombro. Abraham pegou a arma de Rosita e começou a atirar contra caminhantes e homens para abrir caminho. Eu acompanhei a grávida para ajudá-la a correr. Fui a primeira a subir no caminhão, em seguida peguei Grace. Rosita veio depois, auxiliada por Abraham. Ela escorregou ao apoiar os braços no local, mas conseguiu entrar sem maiores dificuldades.

Enquanto isso, os tiros prosseguiam atrás de nós, e eu só conseguia pensar que tínhamos que sair de lá logo. Depois de ajudar Rosita, o ruivo se preparou para subir no veículo, mas parou de súbito. Antes que pudéssemos fazer qualquer coisa, o homem caiu inerte no chão. As laterais de sua cabeça estavam perfuradas, provavelmente por uma bala que atravessara seu crânio, e havia muito sangue ao redor de seu corpo.

Rosita tentou sair do caminhão, mas Rick subiu e a segurou. Ela permaneceu relutante por alguns segundos, tentando fugir dos braços de meu marido enquanto as lágrimas percorriam toda a extensão de seu rosto. Não deixaríamos nenhum vivo para trás, porém Sasha e Abraham não veriam o final da guerra, eles não haviam tido a mesma chance que nós.

Quando o caminhão começou a andar, fiquei olhando a base pela última vez. Ela estava destruída, em chamas, repleta de inimigos mortos ou vivos. Era difícil de acreditar que em tão pouco tempo havíamos perdido o nosso lar, o lugar onde eu havia passado a melhor época da minha vida desde o início do apocalipse. Mas, no final, eu já deveria estar acostumada com isso. Nenhum lugar era completamente seguro.

Depois que nos afastamos do local, olhei para as pessoas que estavam dentro do veículo. Rosita chorava no canto, amparada por Eugene. Tyreese abraçava Mika, que também chorava bastante pela perda da mãe. Avery estava desacordada no colo de Gabriela, que intercalava os olhares entre a filha e Sam, sério o seu lado. Carl já estava consciente ao lado de Rick, havia um filete de sangue no canto de seu rosto, um arranhão na mão esquerda e sua face estava coberta de fuligem. Scott permanecia desmaiado com a cabeça apoiada nas pernas de Maggie, enquanto Glenn, ao lado deles, segurava Hesh, que estava bastante assustado. Patrick estava na mesma situação, sua respiração parecia muito forçada e havia alguns sangramentos no corpo todo.

Todos pareciam péssimos e permanecemos em silêncio. Nem mesmo a maior horda de mordedores poderia ter causado uma destruição tão grande. Os walkers sempre seriam nossos inimigos, mas estávamos lidando com algo pior. As pessoas eram infinitamente mais perigosas, e as baixas mencionadas pelos Salvadores já começavam a aparecer. Ainda estávamos no início das batalhas e Negan começara com vantagem. Ele poderia ter perdido alguns homens, mas provavelmente não sentiriam tanto quanto nós pela perda de Sasha e Abraham. Depois do que havia ocorrido, conhecíamos o inimigo e sabíamos que havia algo a temer. Contudo não existia outro caminho, tudo que nos restava no momento era lutar ou morrer.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Negan: http://www.obrejal.com/wp-content/uploads/josh-brolin-batman.jpg
Ignorem o uniforme do Batman...
Já foram dois, ainda faltam alguns! A guerra finalmente começou, e esperamos que gostem do que estamos preparando! Já estamos escrevendo o próximo, ele deve sair logo.
Não se esqueçam de deixar a sua opinião, ela é importante!
Até logo!