Born to Die escrita por Agatha, Amélia


Capítulo 56
Um mundo maior


Notas iniciais do capítulo

[NOTA DA AMÉLIA]
O dia que eu aguardava e temia com muita ansiedade finalmente chegou, vou tentar superar a nota do meu aniversário.Hoje (28/07) é aniversário da garota mais inteligente, sensata e responsável que eu conheço.A Agatha é tudo isso, porém é uma garota muito sensível e por mais que a cada ano que passe ela fique mais velha tanto fisicamente quanto mentalmente sempre será minha irmãzinha pequena, que a todo o instante eu tenho proteger.
É ela quem dá vida a essa fic com palavras que eu nem sei de onde ela tira.Não é só a ideia que faz o personagem, é o jeito com que ele é escrito e introduzido e é pela escrita dela que temos esses maravilhosos personagens.Muitas vezes ela aparece com ideias e sugestões incríveis que se encaixam perfeitamente no enredo.
Bem eu só queria desejar feliz aniversário a essa pessoa que eu considero minha irmã gêmea!Somos tão próximas que sabemos o que a outra está pensando sem nem olhar nos olhos!
Feliz aniversário Aggie!
Boa leitura!!
PS: Alguém se lembra do capítulo 19??



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*Narrado por Avery Hopper

– Patrick! – gritei enquanto corria até ele para abraçá-lo. Patrick soltou uma pequena gargalhada enquanto eu quase o derrubava. Não era um fantasma, era ele, em carne e osso.

– Eu sabia que estavam vivos, mas não sabia onde – ele disse quando finalmente me afastei para que ele pudesse apertar as mãos de Scott e Carl.

– Pensamos que estivesse morto! – Carl puxou Patrick pela mão e também o abraçou, ato que foi repetido por Scott.

– Vocês se conhecem? – o homem perguntou, mesmo que a resposta fosse óbvia.

– Claro! Richard, estes são Carl, Avery e Scott... Scott, você já foi menor! – ele continuava com o mesmo senso de humor. Scott riu com a brincadeira. Ele era quase do tamanho de Richard, que era maior do que Patrick.

– O que estão fazendo aqui? – o ruivo perguntou.

– Estávamos procurando os nossos cavalos, mas descobrimos que foram roubados por outras pessoas, e agora estamos procurando eles – Richard explicou.

– Não roubamos! – Carl se adiantou. – Encontramos eles na floresta e os levamos!

– Tudo bem, discutimos sobre isso depois. E o que vocês estão fazendo aqui? – Patrick indagou.

– É a nossa primeira missão de busca – Carl respondeu. – Estávamos fazendo a ronda, mas uma manada nos encontrou e estávamos nos abrigando nessa casa.

– Acho que temos muitos assuntos para conversar... Richard, podemos levá-los?

– Acho que não tem problema... Ezekiel adora visitas.

– Ezekiel? – perguntei.

– É o líder da nossa comunidade. Vocês vão gostar de conhecê-lo.

Entramos na casa para pegar nossas mochilas e os acompanhamos até carro. Naquele momento, não pensamos nada sobre estarmos indo para uma comunidade desconhecida ou sobre termos deixado o carro na loja, Patrick estava vivo, e era isso que importava.

Richard dirigia o carro, Patrick estava do lado e nós três ficamos atrás. Estava escuro, e a única coisa que eu poderia afirmar era que estávamos na estrada, mas não fazia a mínima ideia da direção que tomávamos.

O veículo parou em frente a um portão. Acima dele, alguns moradores pareceram reconhecer o carro e desceram. Logo em seguida o portão foi aberto e pudemos ver uma comunidade mal iluminada com alguns ônibus ao lado dos muros, e uma grande construção que deveria ser uma escola, rodeada por tendas. Algumas pessoas andavam pelo grande espaço, provavelmente cuidavam da segurança, e os outros moradores deveriam estar dormindo. Descemos do carro e observamos tudo com mais atenção.

– Esse lugar é incrível! – Scott comentou.

– Vocês precisam ver como é de dia! – Patrick falou. – Não estranhem, as pessoas aqui são um pouco... excêntricas aqui no Reino.

– Excêntricas? – perguntei.

– Vocês verão – Richard disse tomando a frente e nos guiando até a escola.

– Pensei que nunca mais entraria em uma escola – Carl brincou enquanto andávamos.

Passamos por um típico corredor de escola americana. As portas das salas estavam fechadas, talvez as pessoas dormissem lá. Em intervalos regulares nas paredes havia candelabros antigos com velas, o que dava ao local um ar antigo, quase assustador. Chegamos a uma grande porta dupla, onde dois homens com armaduras prateadas seguravam grandes lanças, ao estilo medieval. Eles olhavam fixamente para frente, e pareceram alheios à nossa passagem.

– Sua Majestade tem tempo para uma audiência? – Richard perguntou num tom cordial, mas eu julguei ser apenas uma brincadeira.

– O Rei sempre tem tempo para seus súditos – o guarda da esquerda respondeu sem desviar o olhar, completamente imóvel.

Richard empurrou as portas, revelando um grande auditório, repleto de cadeiras vermelhas. No meio delas havia um longo corredor, coberto por um tapete de veludo negro. As laterais possuíam portas de emergência e, mais ao fundo, estava o palco. O que chamava a atenção nele não era o tamanho, e sim o que havia no centro. Um trono que parecia ter sido esculpido diretamente de uma rocha e, sentado nele, um homem. Ele aparentava ter mais de 40 anos, talvez já tivesse passado dos 50. Seus cabelos eram dreads longos e grisalhos, ele era negro e vestia roupas escuras.

Quando vi os homens de armadura e ouvi eles falando de um Rei, pensei que fosse apenas brincadeira, ou talvez algum tipo de codinome, mas não era. Ao fitar o homem sentado no trono, entendi que eles levavam isso a sério.

Olhei para os lados. Patrick e Richard pareciam ver aquilo normalmente, como se fosse tão habitual quanto o nascer do Sol. Em relação a Carl e Scott eu não poderia dizer o mesmo, eles pareciam confusos diante daquela visão.

– Vossa Majestade – Richard começou com uma reverência curta –, esses são Carl, Avery e Scott, de... – ele se voltou para nós e continuou num tom mais baixo. – De onde vocês são mesmo?

– De uma base militar – Carl respondeu ainda atônito.

– Da Base Militar – o homem prosseguiu. – Eles são amigos do Patrick, os encontramos na cidade.

– Se são amigos do Patrick também são meus amigos. Sejam muito bem-vindos ao Reino. Eu me chamo Ezekiel – o homem se levantou do trono enquanto falava a depois voltou a se sentar. Seu modo de falar realmente lembrava o de um rei, e o fato de ele fazer isso com naturalidade tornava tudo menos estranho. – Eu adoraria apresentar o local para vocês, mas já está tarde. Tenham uma boa noite. Patrick, poderia encontrar uma sala vazia para eles? – Patrick assentiu e se voltou para Richard. – Richard, me acompanhe. Preciso falar com você sobre a visita de Jesus.

Os homens saíram por uma das portas de emergência e Patrick nos conduziu até a saída principal.

– Cara, isso é loucura! – Carl exclamou depois de passarmos pelos guardas.

– Ele é uma figura, não acham? – Patrick falou divertido.

– Se você me dissesse que ele tem um tigre, eu até acreditaria – brinquei.

– Bem, ele já trabalhou em um zoológico...

– E essa história de Jesus? Não me diga que também tem os apóstolos! – Carl usou o mesmo tom que eu.

– Cara, eu não vejo o Jesus faz um bom tempo. Existem outras comunidades nessa região, não vou perder tempo explicando isso. Jesus é um morador de uma dessas comunidades – Patrick parecia se divertir com a nossa incredulidade.

– E essa coisa de tempo medieval? É sério? – Scott indagou. Todos nós estávamos curiosos quanto a isso.

– Bem... Até hoje não sei direito a história, só os moradores mais antigos sabem. Parece que, no começo, Ezekiel fez algo grandioso que salvou essas pessoas. Ninguém conhecia o passado dele, começaram a criar lendas sobre antigos feitos heroicos. Alguém o chamou de Rei e todos acabaram entrando na brincadeira, e virou coisa séria. Ezekiel me disse uma vez que não gostou muito no começo, mas ele não queria destruir a fantasia das pessoas e acabou entrando. Ele havia dado uma esperança a eles, um líder que era quase um deus na Terra, e achavam que esse rei iria salvá-los de todo o mal. Viam ele como a esperança de um mundo melhor, um mundo seguro.

– O que mais tem aqui de esquisito? – depois daquela explicação, comecei a achar aquilo interessante.

– Além das armaduras? Temos cavalos, algumas armas antigas e as pessoas. Costumamos falar de maneira mais cordial.

– E você já se acostumou com essas bizarrices? – Carl questionou.

– Já se passaram 3 anos, agora eu já falo e ajo como eles. Mesmo assim ainda sinto falta de falar como uma pessoa normal...

– E está aproveitando que estamos conversando com você para voltar a agir normalmente – completei.

– Exatamente – Patrick parou diante de uma porta e a abriu. – Cavalheiros e donzela, chegamos aos aposentos. Tenham uma boa noite. Eu estarei aqui ao amanhecer.

Patrick fez uma pequena reverência e saiu. Ficamos parados observando enquanto ele sumia pelo corredor, levando consigo a sua cordialidade repentina. Era incrível como Patrick havia mudado completamente de postura em alguns segundos.

Os “aposentos” eram apenas uma sala de aula vazia, exceto por cinco colchões estirados no chão em locais específicos e outros cinco apoiados na parede do fundo.

Sem dizer nada, nos deitamos nos colchões. Só então parei para pensar no que havíamos feito. Praticamente abandonamos a missão e fomos até um grupo desconhecido. Talvez os adultos nos repreendessem por isso, mas preferi não pensar nesse assunto.

*Narrado por Sarah Grimes

Seguimos Eugene até o portão. Eu estava tão nervosa que conseguia sentir a pulsação do meu coração nas pontas dos dedos. Depois dos Salvadores, só podíamos esperar o pior, e tudo que não precisávamos no momento era mais problemas. Todos já estavam com as armas sacadas e destravadas, Rick ia à frente.

Paramos no portão. Do lado de fora conseguimos ver dois homens. O mais adiantado era alto e magro, tinha cabelos loiros que iam até os ombros, a pele bronzeada e parecia estar feliz, algo um tanto estranho. O que estava atrás tinha a mesma altura, porém tinha mais massa muscular, possuía cabelos escuros, curtos e um pouco arrepiados, com a pele mais pálida.

– Você é o líder? – o primeiro perguntou.

– Quem são vocês? – Rick apontou a arma para frente.

– Calma! Não estamos armados! – o segundo deu alguns passos à frente enquanto erguia as mãos junto com o outro.

– Perdoem a nossa abordagem. Eu sou Aaron, e esse aqui é Eric. Estão há muito tempo nessa base?

– Contem tudo primeiro! – Rick usou um tom mais hostil.

– Viemos da Alexandria, uma comunidade que fica a alguns quilômetros daqui – Aaron começou. – Costumamos vagar pela região em busca de membros nômades, com o intuito de recrutá-los para a nossa comunidade. Nunca reparamos nesse lugar. Então, há quanto tempo estão aqui?

– Também são capangas do Negan? – Abraham perguntou.

– Claro que não trabalhamos para aquele desgraçado! – Eric pareceu frustrado com a nossa desconfiança. – Olha, estamos falando a verdade. Viemos aqui sozinhos e completamente desarmados. Iríamos propor que vocês se mudassem para a Alexandria, mas esse lugar me parece bastante seguro. Sobre o Negan, não façam qualquer tipo de acordo com ele. Não há como ser vantajoso, as pessoas na nossa comunidade estão quase passando fome!

– E vocês não fazem nada? – Abraham questionou dando alguns passos à frente e ficando ao lado de Rick.

– Não podemos. Temos pouca munição e poucas pessoas lá sabem atirar. Não somos nada perto da força dos Salvadores – Aaron disse num tom mais sério do que o inicial. – Não a nada que possa ser feito... Não sozinhos.

Por um instante tudo ficou silencioso e calmo. A tensão parecia ter indo embora com o vento gélido da noite, deixando apenas uma leve apreensão no ar. Rick abaixou a arma e ficou pensativo por algum tempo. Ele com certeza tinha uma ideia em mente.

– E se tivessem ajuda?

– Ajuda? – Aaron indagou sem entender.

– Sei o que ele quis dizer – a expressão de Eric ficou iluminada. – Vamos levá-los ao Douglas. Temos um carro a alguns metros daqui, podemos levar três pessoas. Estão dispostos a se arriscar por essa ideia?

– Glenn, pode tomar conta de tudo? – ele assentiu e depois Rick se voltou para Abraham. – Você vem?

– Por que não? – Abraham deu de ombros.

– Eu gostaria de ir junto – me ofereci dando um passo à frente. Eu queria saber se valia mesmo a pena fazer aquilo, e precisava ver se seria possível. – Grace está dormindo, e tenho certeza que a Maggie vai cuidar dela. Eu não posso ficar aqui. Se vocês pretendem atacar os Salvadores, quero conferir se podemos mesmo fazer isso.

Rick apenas assentiu com um movimento de cabeça e o portão foi aberto para que nós três pudéssemos seguir a dupla.

Depois do que pareceram ser horas, o carro entrou em uma comunidade cercada por muros. Era como um condomínio residencial, tinha casas em perfeitas condições e jardins bem cuidados. Algumas poucas pessoas andavam pelas ruas, e pareciam incrivelmente tranquilas.

Aaron estacionou ao lado de outros carros, descemos e caminhamos até uma casa de dois andares com um alpendre na frente. Ela, assim como as outras, era iluminada, o que me deixou bastante surpresa. Encontrar energia depois de anos de apocalipse era o que eu menos esperava. Mesmo com o projeto que Eugene e eu desenvolvíamos, eu não esperava por isso.

Eric bateu na porta, me tirando do transe. Ela foi aberta por um homem jovem e loiro que passou os olhos por nós antes de se voltar para o interior da casa.

– Pai, temos visitas! – depois de alguns segundos, um homem mais velho, que deveria ter algo entre 50 e 60 anos, se posicionou diante de nós. Ele era calvo, possuía barba, bigode e usava óculos. O homem fez um movimento de cabeça para Aaron e Eric, que deram as costas e se retiraram.

O interior da casa era incrivelmente bem iluminado, e me lembrei de algo que Aaron dissera sobre a comunidade durante a viagem. Pelo que eu entendi, a Alexandria fora construída como abrigo por alguns políticos para o caso de ocorrer um grande desastre. Por isso era uma comunidade tão bem estruturada, parecia que o tempo havia parado antes do apocalipse começar.

– Douglas Monroe – ele começou. – Sou o líder da Alexandria. Entrem, por favor.

– Rick Grimes – Rick falou depois que entramos na casa. – Estes são Abraham e Sarah. Nós viemos de uma base a alguns quilômetros daqui.

– Estão a muito tempo lá?

– Uns 3 anos – Douglas fez um gesto para que nos sentássemos no sofá e nós obedecemos. – Aaron e Eric foram até nós e ficamos sabendo que são subordinados aos Salvadores.

– Não tivemos escolha. Não sei ao certo, mas deve fazer quase 1 ano. E vocês? Nunca ouvimos falar de sua comunidade. Também fazem parte do sistema deles?

– Na verdade, eles nos encontraram hoje mais cedo, e nos deram tempo para pensar na oferta, mas não temos muita informação sobre o que devemos fazer.

– Eu não aconselharia ninguém a recusar uma oferta dos Salvadores. As condições são péssimas, nossos estoques estão quase no fim, mas eles são muito fortes. A menos que tenham armas, o que é quase...

– E se tivermos armas? – Abraham o interrompeu.

– Se juntássemos as nossas forças, acha que poderíamos vencê-lo? – Rick completou o raciocínio.

– Não gosto muito da ideia de entrar em guerra, prefiro as palavras do que as armas, mas isso poderia ser a nossa salvação – Douglas disse um pouco receoso.

– O que sabe sobre eles? – perguntei. Se realmente estávamos pensando em recusar a oferta e entrar em conflito, não podíamos ficar no escuro, precisávamos saber com quem estávamos lidando.

– Eles costumam usar armas brancas, mas já os vimos com pistolas e metralhadoras. O número não dá para saber ao certo, o máximo que já vimos foi algo próximo de cinquenta. A localização do Santuário é incerta. O acordo que fizemos até seria bom, se tivéssemos pedido ajuda e se não soubéssemos nos defender. Essa coisa de ajudar a matar os errantes é só para parecer que é vantajoso, mas só os Salvadores saem ganhando com isso.

– Então eles dependem de vocês? – Rick questionou.

– De nós e de outras duas comunidades. Não mantemos muito contato com elas, mas parecem estar em uma situação melhor.

– Acha que podemos uni-las? E, se nos uníssemos, acha que poderíamos derrotar os Salvadores? – as últimas perguntas de Rick foram as fundamentais. Douglas conhecia os Salvadores melhor do que nós e, se ele concordasse, seria o primeiro passo para a nossa preparação. Talvez uma guerra não fosse tão ruim quanto eu pensava.

– Isso pode dar certo se tivermos o apoio dos outros grupos – Douglas finalizou. – E para isso vamos precisar de Jesus e de Ezekiel.

*Narrado por Gabriela Hopper

Era a última pessoa que eu esperava ver. Não queria ter que olhar para Daryl de novo, mas já era tarde. Puxei meus braços para que ele me soltasse e dei alguns passos para trás.

– Eu pensei que estivesse morto! Sam achou isso, todos nós achamos! – eu sabia que não deveria gritar, mas acabei usando um tom mais alto. Cerrei os punhos e comecei a desferir alguns socos contra o peito de Daryl, concentrando muita força neles. Parecia algo infantil, mas na hora eu apenas queria descontar toda a minha raiva nele. – Pensei que eu nunca mais ia te ver!

– Gabriela – ele segurou os meus pulsos e me puxou para perto dele antes de me abraçar, e eu acabei retribuindo o abraço. Parte de mim queria fazer isso. – Eu estou aqui – depois de alguns segundos o empurrei e o fitei com uma expressão severa.

– Eu já tinha aceitado a sua morte! Quando eu estava aceitando a ideia de ter que continuar sozinha, você apareceu! E o pior de tudo é que está nos traindo. Eu preferia que você estivesse morto! Isso não tem nada a ver com racional e emocional, é o que eu sinto! Seria mais fácil continuar sabendo que você morreu do nosso lado! Eu até entendo como pôde me trair, mas como conseguiu fazer isso com Rick? Vocês eram irmãos, estavam juntos desde o começo! – enquanto eu o atacava verbalmente, dizendo tudo o que eu precisava falar, Daryl apenas ouvia, sem demonstrar nada. – Agora faça um favor: vá embora daqui e não me procure nunca mais.

– Eu vou embora, mas antes me deixe explicar – permaneci imóvel. Não conseguia compreender o que ele estava fazendo lá, mas se tinha algo a explicar, eu precisava ouvir. Daryl esticou a mão e segurou meu braço, mas eu o puxei para trás.

– Não me toque!

– Tudo bem. Apenas se acalme – ele ergueu as mãos em sinal de rendição. – Do que você sabe?

– Que um grupo abordou vocês na estrada. O Tyreese conseguiu fugir mas você foi pego, e depois passou para o lado deles e mostrou a nossa localização, exatamente como o seu amiguinho disse – falei irritada.

– Quando eles me pegaram, me deram duas opções: passar informações sobre vocês ou morrer. Eu sabia que os outros estavam seguindo o Ty, e com certeza iam descobrir a base. Decidi passar para o lado deles, mas estou atuando como agente duplo. Só falei algumas coisas sobre o Rick para que eles confiassem em mim.

– E você espera que eu acredite nisso? – perguntei erguendo a sobrancelha direita.

– E por que eu teria perdido meu tempo vindo até aqui para tentar de enganar? Não estou aqui por mim, você merecia uma explicação e eu a dei. Eu poderia ter escolhido morrer, mas estou me arriscando pela segurança dos outros, e, principalmente, da minha família. Agora confia em mim?

– Eu quero aceitar tudo isso, mas não consigo! Me deixe em paz e continue com o seu plano, seja lá qual for – suspirei profundamente e baixei o rosto. Por que aquilo tinha que ser doloroso? Por que eu não podia simplesmente aceitar, já que era isso que eu queria? – Desculpe, mas eu não posso.

– Pode parecer que eu não me importo, que sou frio, mas eu não só não consigo demonstrar essas coisas. Não consigo ficar longe de você. Se quiser, eu tenho como provar que estou falando a verdade.

– Também não consigo ficar longe de você – admiti enquanto o abraçava.

Estar com Daryl novamente era muito reconfortante, como se todos os problemas estivessem distantes e tudo parecia não ter importância. Eu sabia que só ele poderia tirar o vazio que dominava meu corpo, era como se antes algo estivesse faltando, como se meu interior estivesse incompleto. Meus filhos poderiam ser meus motivos para viver, contudo só agora com ele eu tinha todos os motivos para lutar pela minha felicidade e ser feliz.

Andamos abraçados pela floresta e eu enxuguei minhas lágrimas. Ele estava ali, vivo, bem e ao meu lado. Mesmo estando um pouco desconfiada, resolvi não pensar em mais nada e apenas segui-lo. Paramos em frente a uma estrada, onde havia três motos estacionadas.

Meu olhar ficou preso no casal mais na frente. Não dei muita importância para o homem ao lado deles, eu apenas fitei o casal com atenção. Eu já os conhecia, mas ainda não sabia quem eram. Me aproximei mais um pouco, e só então me lembrei.

Ele tinha os cabelos negros um pouco grandes jogados para trás, o rosto reto, uma barba rala e olhos castanho-claros. Ela possuía cabelos castanhos um pouco acima dos ombros, rosto fino e olhos castanhos. O olhar era diferente do de antes, mas eu nunca me esqueceria daqueles olhos.

– Espera aí! Eu conheço você! – a mulher se aproximou de mim com um tom ameaçador. – Você tentou me matar! – Depois dessa frase me recordei do casal. Só poderiam ser aquelas duas pessoas que haviam sequestrado a mim e Avery na estrada depois que nos separamos de Josh e Scott, anos atrás.

– Você tentou me matar primeiro, e a minha filha também! – retruquei irritada.

– Vocês já se conhecem? – Daryl perguntou confuso.

– Foi há muitos anos, vamos esquecer isso... – o homem que a acompanhava tentou intervir.

– Esquecer? Do sequestro, do roubo e da tentativa de assassinato? – ataquei.

– Pessoal, calma aí! – o outro homem pediu. Ele tinha cabelos longos castanho-claros, barba um pouco grande e olhos azuis que reluziam na escuridão. – Isso com certeza não importa no momento. Você já deve conhecer Malcom e Rose. Eu sou Paul, mas todos me chamam de Jesus – ele estendeu a mão e eu a apertei.

– Gabriela Hopper.

– Já está ficando tarde, é melhor irmos – Jesus acrescentou.

– Como sabemos que dá para confiar nela? Essa mulher tentou quebrar o meu crânio no asfalto – Rose atacou novamente.

– A Gabriela? Ela não mata nem uma mosca! – Daryl tentou amenizar o clima.

– Não importa. Se Daryl confia nela, acho que também devemos confiar – Jesus se dirigiu a uma das motos e subiu nela.

O casal subiu em outra moto e eu segui Daryl até a sua. Eu pensava que nunca mais teria que fazer isso, eu realmente não gostava da sensação de insegurança que as motos me traziam. Na verdade eu não gostava de qualquer sensação de incerteza, gostava de exatidão, mas parecia que meu envolvimento com Daryl sempre me levaria a uma grande incógnita.

Seguimos pela estrada por mais ou menos uma hora até que as motos pararam de frente para um muro muito alto feito de madeira e metal. Sobre ele havia dois homens que seguravam lanças nas mãos. Suas expressões me pareceram sérias e severas de mais, o que me assustou um pouco.

– Quem são vocês? – um deles perguntou num tom ameaçador.

– Kal, abaixa isso! Sou eu! Não está me reconhecendo? – Jesus gritou um pouco irritado.

– Daryl, o que estamos fazendo aqui? – sussurrei enquanto o portão era aberto.

– Você não queria provas? Vou dar mais detalhes sobre isso – a moto voltou a andar e entramos no local. O silêncio de Daryl durante o resto do caminho me deixou bastante intrigada, mas me concentrei em observar o local.

Era um espaço grande e aberto, com algumas plantações nos cantos e cercados com porcos, galinhas e cavalos. Havia algumas dezenas de trailers enfileirados regularmente e, mais ao fundo, uma enorme construção, tão grandiosa como o Hotel Dallas. Seguimos até o prédio, cujo interior também lembrava o nosso antigo lar.

Era um espaço amplo, com uma longa escadaria ao fundo, um balcão à direita e alguns sofás espalhados pelo saguão.

– Isso aqui era uma mansão, depois virou um hotel. Agora é o nosso refúgio. Chamamos essa comunidade de Alto do Morro – Jesus explicou enquanto nos guiava até a sala da administração. O nome tinha a ver com a comunidade, já que ela se localizava nos arredores de um morro.

– Jesus, você nunca me trouxe aqui – Rose falou se sentando em um dos sofás enquanto passava a mão esquerda pelo estofamento. A mobília da sala era muito bem cuidada, como se o apocalipse ainda não tivesse atingido o local. O mais espantoso era que a lâmpada estava acesa, uma coisa que eu pensei que nunca mais veria, mesmo com todos os projetos. – Tem até energia aqui! Vocês pegaram dos reatores de Alexandria? Negan fez o mesmo no Santuário.

– Alexandria e Santuário? – perguntei confusa.

– Uma pergunta de cada vez – Jesus disse se sentando enquanto os outros faziam o mesmo. – Acho melhor se sentar, a história é um pouco longa – obedeci imediatamente e o observei com atenção. – Tudo começou alguns anos atrás. Havia um grupo que cuidava da segurança do Alto do Morro. Com o tempo, se tornou um número maior de pessoas, e homens cada vez mais violentos. Sem que percebêssemos, Negan assumiu a liderança e se tornou bastante popular. Eles passaram a exigir metade do que tínhamos e, logo depois, saíram daqui e se fixaram em um lugar chamado Santuário, uma fortaleza muito bem protegida. Eu não estava aqui na época, mas Gregory, nosso líder, presenciou tudo – ele fez uma pausa e fitou o lustre acima de nós, como se estivesse pensando em algo. – Alguns acreditam que Negan não existe, que ele é apenas uma figura criada pelos Salvadores para nos intimidar. A verdade é que, desde que eles saíram do Alto do Morro, ninguém nunca mais o viu. Eu também não acreditava que Negan existia, todas as minhas buscas nunca levaram a nada.

– Está me dizendo que esse Negan não existe? – falei me levantando com os braços ainda cruzados.

– Calma! Eu não sabia se ele existia ou não, até conhecer Malcom e Rose – Jesus prosseguiu. – Tudo mudou com a chegada deles.

– Mas e o antigo grupo de vocês? – perguntei me voltando para o casal. – Vocês também são do Alto do Morro?

– Na verdade, não – Malcom disse. – Quando te conhecemos, fazíamos parte de um outro grupo, com uma distribuição de tarefas bem rígida. Se alguém não alcançasse a meta teria que ir embora. Depois que você e a sua filha fugiram, não voltamos mais para aquele lugar, já estávamos praticamente expulsos. Um dia nós estávamos em um hipermercado e encontramos os Salvadores.

– Era bem grande, coisa de gente rica como você. Ele ainda estava cheio de mantimentos, então resolvemos nos fixar lá por uns tempos – Rose acrescentou.

– Um grupo de quinze homens nos atacou, sem mais nem menos. Rose esteve a centímetros de matar o Negan, mas desistiu quando me viu na mão deles.

– Se eu atirasse, perderia você – ela falou sorrindo para ele enquanto segurava a sua mão.

– Negan ficou admirado com a audácia dela, e foi isso que nos salvou – Malcom continuou o relato. – Desde então, trabalhamos para aqueles vermes. Já os vimos fazendo coisas horríveis, matando pessoas brutalmente apenas para intimidar. Um dia encontramos Jesus e mostramos a ele onde fica o Santuário. A partir daí passamos a trabalhar como agentes duplos para tentar impedir Negan e acabar com essa injustiça.

– E Alexandria?

– Além do Alto do Morro, os Salvadores também controlam a Alexandria e o Reino – Jesus explicou.

– E onde o Daryl entra nessa história? – perguntei aos três.

– Negan me pressionou até que eu revelasse a localização da base e me deu a “oportunidade” de me juntar aos Salvadores. Então Malcom e Rose, que estavam encarregados de me vigiar, explicaram o que estavam fazendo e acabei me juntando a eles.

– Daryl era muito fiel ao seu grupo, então pensamos que ele poderia ser útil – o homem comentou.

– De fato, ele nos ajudou bastante em pouco tempo. Daryl deu a ideia de te trazermos até aqui. Estávamos precisando de uma pessoa do seu grupo para guiá-los pelo caminho certo, sem que ninguém saiba nada sobre Daryl – Jesus explicou.

– E o que vem a seguir? – perguntei temerosa com a resposta que poderia obter.

– Uma guerra – Jesus fez uma nova pausa. – E não haverá descanso nem mesmo para os mortos.


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo ficou bem grande e acredito que tivemos várias explicações nele.Sobre os personagens novos, não tenho muito o que dizer, apenas que a Guerra Total não teria graça sem eles!Estamos tentando colocá-los no nosso contexto, por isso estão um pouco diferentes, assim como na aparência.É como vemos eles, talvez não se pareçam tanto com na HQ. Alguns conseguimos achar atores para representá-los, outros não. Se quiserem nos ajudar nessa escolha, tudo bem, toda a ajuda será bem vinda!
Richard: http://images.buddytv.com/articles/Image/All-My-Children/Colin-Egglesfield.jpg
Douglas: http://images.amcnetworks.com/amctv.com/wp-content/uploads/2011/06/BB-S4-Character-Portraits-590-284x184.jpg
Jesus: http://1.bp.blogspot.com/-4L9UirKROzI/UnWZ51YZ1HI/AAAAAAAA1-E/Ofrf_oezqE8/s640/tumblr_mvnrnaGIoB1qzc9e9o1_400.jpg