Born to Die escrita por Agatha, Amélia


Capítulo 54
É uma ordem, não uma oferta


Notas iniciais do capítulo

Gostaríamos muito de agradecer pela recomendação da Mrs Dreams. Foi incrível, não esperávamos que isso acontecesse. Muito obrigada!
Ficamos surpresas com a esperança dos leitores, e acho que vocês vão entender do que estamos falando mais tarde. Vocês são "verdadeiros crédulos".
Boa leitura, e leiam as notas finais!



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*Narrado por Avery Hopper

Depois de sairmos pelos fundos da loja, corremos na direção leste, onde, segundo Scott, havia algumas casas. Não foi uma tarefa muito fácil, tivemos que percorrer mais vários quilômetros a pé durante a tarde e a noite até chegarmos a um bairro residencial. Já era manhã quando paramos de correr. Na rua em que estávamos todas as casas eram iguais, possuíam tinta branca desbotada por fora, dois andares e, a única coisa que diferenciava as casas, os jardins, tomados por grama alta, alguns com flores silvestres, outros não. Nenhuma delas parecia estar arrombada, e as portas estavam trancadas, o que significava que nenhuma pessoa ou errante havia passado por lá.

Ficamos parados em frente à casa da esquina retomando o fôlego. Por alguns segundos, todos nos entreolhamos, esperando que alguém dissesse o que deveríamos fazer. Carl, sem dizer nada, subiu as escadas e foi em direção à porta. Ele rodou a maçaneta algumas vezes, só para ter certeza de que estava trancada, antes de tomar distância e jogar seu corpo contra a porta diversas vezes, sem obter resultado.

– Ninguém vai me ajudar? – corri até a varanda e comecei a ajudar Carl, enquanto Scott apenas nos observava. Depois de um tempo ele veio até nós e apontou para a janela.

– Está aberta – Scott falou enquanto entrava pela janela, que era grande o suficiente para entrarmos por ela. Quando vi isso, me senti muito idiota por ter ficado tentando arrombar a porta e não ter prestado atenção nisso, mas ignorei esse fato e entrei.

– Poupa o nosso trabalho – Carl, como sempre, não se deu por vencido e nos seguiu.

O primeiro andar da casa era constituído por uma cozinha e uma sala de estar, ambas muito espaçosas. Eu queria me jogar no sofá e ficar lá por horas, mas tínhamos que verificar a casa por segurança. Carl foi para o andar de cima, Scott se dirigiu ao sótão e eu fiquei responsável pela parte mais chata: procurar comida na cozinha e ver se havia água nas torneiras. Só faltava eles me pedirem para checar se as lâmpadas se acendiam.

Como eu imaginava, não havia água nem comida, fora por alguns ovos estragados na geladeira. O lado bom era que havíamos trazido comida, e isso garantia que não morreríamos de fome, pelo menos por um dia. Como a minha tarefa já estava cumprida, finalmente pude descansar um pouco. Quando me deitei no velho sofá, meu corpo simplesmente se desligou e eu nem notei quando peguei no sono.

Acordei com muita fome, tendo perdido completamente a noção do tempo. A janela por onde havíamos entrado estava lacrada, e a porta, bloqueada por outro sofá. Scott estava na outra janela, observando a rua, e Carl, no sofá da porta, lia uma revistinha do Batman pela vigésima vez.

– Alguém tem chiclete? Tô morrendo de fome – falei me sentando e pegando a mochila que estava sobre a mesinha.

– Você está morrendo de fome e vai mascar chiclete? – Scott perguntou incrédulo.

– Claro! Patrick disse uma vez que isso mascarava a fome, e como não temos nada para comer, prefiro mascarar a fome – falei depois de finalmente achar uma embalagem com algumas gomas de mascar.

– O Patrick falava um monte de coisas inteligentes, e eu quase sempre ignorava – Carl disse com um pouco de remorso.

– É engraçado como as pessoas sempre dão mais valor quando perdem algo – Scott comentou. Também me senti um pouco culpada por isso, mas, apesar de não nos interessarmos muito pelos assuntos dele, éramos amigos.

– Ele sabia que a gente gostava dele. Agora vamos parar de falar dessas coisas chatas – falei arremessando uma almofada em Scott.

– Você pegou aquele ursinho? – Carl perguntou.

– Sim. Eu queria pegar algo para o Sam, mas não encontrei. Às vezes tenho a impressão de que eu sou a pior irmã do mundo.

– Quando não está com o Daryl, ele adora brincar com você – Carl comentou.

– Ser irmão mais velho não é só brincadeira, exige muita responsabilidade – Scott disse.

– Até porque você tem muita autoridade sobre o seu irmão mais novo – brinquei e todos riram. – Essa parte da responsabilidade eu deixo com a minha mãe. Vamos procurar alguma coisa para comer. Não podemos sobreviver na base do chiclete.

*Narrado por Gabriela Hopper

A noite anterior fora pior que o dia todo. Depois de colocar Sam na cama, apenas me deitei, sabendo que não conseguiria dormir. Das outras vezes eu ficava me preocupando se Daryl voltaria, mas agora eu sabia que isso não aconteceria. Todos do grupo me deixaram sozinha, e eu achava isso melhor. Tive muito tempo para pensar e cheguei à conclusão de que não poderia ficar de luto por muito tempo como da outra vez. Isso só prolongaria a dor, então achei melhor tentar seguir em frente, mesmo que fosse difícil.

No dia seguinte, deixei Sam brincando com os amigos, mesmo que isso não fosse entretê-lo. Ele ficou cabisbaixo o tempo inteiro, e quase não conversava. O grupo me liberou das tarefas diárias, e eu aproveitei o tempo livre para tentar distrair a mente. Isso não deu muito certo, pois eu sempre me pegava pensando em Daryl. Estava no galpão que usávamos como garagem e depósito.

Quando chegamos à base, passamos dois dias no galpão organizando tudo, mas decidimos morar nas tendas para que as famílias tivessem espaços individuais e acabamos guardando quase tudo lá. Mas, nos períodos de chuva nos mudávamos temporariamente para o galpão.

Nesse momento Sarah estava treinando tiro com Abraham, e eu resolvi assistir a aula. Ele era um ótimo atirador, porém era muito severo como instrutor. Isso era sinal de que ele levava o trabalho a sério, já que Abraham era completamente diferente no quesito paternidade, sempre atencioso, compreensivo e sorridente quando afirmava que seu filho seria um garoto.

– Você chama isso de atirar? – ele gritou. Esse treinamento era o oposto do que Rick dava a Sarah. – Não são errantes, são pessoas. Você tem dois segundos para mirar e atirar. Sabe fazer isso?

– Eu sei! – ela respondeu quase no mesmo tom de voz dele, claramente irritada e mirando para um alvo colocado a alguns metros de distância.

– Então faça! Atire e saia do lugar antes que alguém te acerte!

Depois de ouvir isso, Sarah se esgueirou entre os carros estrategicamente posicionados, atirando contra as latas vazias. Por mais que os alvos reais fossem muito maiores que as latas, Abraham dizia que, se a pessoa conseguisse acertar alvos pequenos, teria muita facilidade para acertar alvos maiores. Os treinamentos para defesa contra pessoas poderiam parecer equivocados, mas simplesmente não sabíamos o que esperar. Depois que Rick encontrou os cavalos em ótimo estado, começaram a especular sobre algum grupo próximo, e o que aconteceu com Daryl e Tyreese era a confirmação de que não estávamos tão sozinhos assim. Depois do Governador, começamos a tomar mais cuidado nas pessoas em que confiávamos, e a cautela sempre andava ao nosso lado.

De repente, escutamos uma rajada de três ou quatro tiros. Ficamos parados nos entreolhando em silêncio até que pudemos ouvir uma nova série de disparos vindos do lado de fora. Apenas esperei que algum deles fizesse algo.

– É uma metralhadora – Abraham disse reconhecendo a arma apenas pelo som. – Sarah, lembre-se do treinamento de invasão. Gabriela, leve as crianças para dentro.

– A Mika já deve ter feito isso. De qualquer forma, eu vou com vocês – falei. Ele concordou e nós saímos do galpão.

Do lado de fora todos estavam em estado de alerta. Eles levavam armas e preparavam a munição enquanto Mika, Rosita e as crianças iam para o lado oposto. Como o portão era de barras, era possível ver através dele. Por esse motivo, todos ficaram atrás do muro aguardando que o grupo do lado de fora se prontificasse. Não sabíamos o que eles queriam mas, pela abordagem, parecia ser algo ruim.

– Não adianta se esconderem. Apareçam! Eu sei que estão aí! – ouvimos uma voz desconhecida gritando do lado de fora.

– O que vocês querem? – Rick se posicionou de frente para o portão, e todos ficaram atrás dele, de forma que pudemos ver o grupo.

Havia cerca de vinte homens lá, todos com expressões agressivas e armas grandes. Na frente, o dono da voz parecia liderar o grupo. Ele tinha uma aparência bastante peculiar. Além de portar uma metralhadora e uma besta, a metade esquerda de seu rosto era totalmente desfigurada, como uma grande queimadura. Em meio à pele avermelhada, a única coisa que parecia intacta era o seu olho, que lacrimejava. Nessa região também não havia mais cabelo. O homem, que usava um colete de couro aberto, sorriu quando nos viu.

Antes mesmo de olhar para a expressão surpresa de Tyreese, eu soube que aquele grupo era o que havia atacado ele e Daryl. Uma parte de mim queria pegar uma arma e começar a atirar naqueles desgraçados, mas a minha parte racional estava conformada. Matá-los não o traria de volta.

Depois de analisar o chefe do grupo, comecei a fitar os outros homens atrás. Todos nos encaravam severamente e pareciam estar dispostos a fazer qualquer coisa. Porém, um deles me chamou a atenção. Eu conhecia aquele rosto.

– Daryl – sussurrei para mim mesma no instante em que os nossos olhares se encontraram.

Poderia ser apenas fruto da minha imaginação, porém ele parecia estar lá, olhando para mim. Mais uma vez era impossível decifrar sua expressão, mas eu sabia que era ele.

*Narrado por Sarah Grimes

Todos estavam apreensivos aguardando uma resposta da pessoa que parecia ser o líder. Longos segundos se passaram sem que ninguém dissesse nada. Apenas trocamos olhares ameaçadores, tentando disfarçar o nosso medo. O homem meio desfigurado deu um passo à frente. A queimadura em seu rosto me fazia pensar que ele havia passado por coisas horríveis, mas não era hora de sentir pena dele. Algo me dizia que aquele grupo era inimigo.

– Venho aqui em nome de Negan para dar uma ordem – ele falou. – A partir de hoje, vocês estão submetidos aos Salvadores. Terão que nos fornecer metade de tudo que têm e, em troca, protegeremos vocês. Nós sabemos o que escondem atrás dos muros.

– Nós não recebemos ordens – Rick gritou. – Muito menos desse tal Negan. O que temos aqui é nosso. Nós construímos, nós plantamos, nós conquistamos tudo isso. Não pertence a mais ninguém.

– Você não está entendendo. É uma ordem do Negan, não uma oferta. Não há recusa. Nós mandamos aqui.

– E se nós recusarmos?

– Teremos que usar a força para obrigá-los. Só estou avisando que sabemos muito mais do que pensam.

Senti um enorme calafrio ao ouvir o que ele disse. Eu não gostava de pensar em submissão, mas parecia o melhor caminho. Entendi que eles poderiam fazer algo terrível se não obedecêssemos. Não era só por mim, mas as crianças não mereciam sofrer, elas mereciam um futuro decente, sem dor e sofrimento, sem ter que passar pelos que nós havíamos passado. Olhei para Rick, que parecia estar analisando a situação.

– Sei, por exemplo, que você é o líder – o homem apontou para Rick. – Sei que você tem uma esposa. E também sei que tem dois filhos. Um adolescente e uma garotinha de 4 anos. Quer mesmo arriscar a sua família? Quer ver a sua bonequinha morrer? – nesse momento, meu coração acelerou. Meu instinto de mãe parecia falar mais alto. Eu não iria deixar que nada acontecesse com Grace. – Como eu sei disso tudo? Acho que está na hora de chamar o meu novo parceiro. Dixon, venha aqui.

Um dos homens se distanciou do grupo mais ao fundo e se posicionou ao lado do líder. Sem dúvida alguma, era Daryl. Eu não sabia se estava surpresa e feliz por ele estar vivo ou com raiva por Daryl ter se voltado contra nós. Mas ele estava ali, parecia indiferente, como se fizesse parte daquele grupo havia anos. Nem parecia o braço direito de meu marido. O homem com o rosto desfigurado colocou a mão no ombro de Daryl e sorriu.

– Esse meu amigo, com todo o respeito Dixon, é um grande filho da puta. Ele traiu a confiança de vocês em troca da sua vida miserável. Uma hora dessas, ele poderia estar morto, mas está aqui. Trocou de lado para salvar a própria vida. E é graças a ele que estamos aqui hoje. Então, Rick, qual é a sua resposta?

– Eu...

– Sei que deve estar confuso por causa do seu ex-amigo. Vou fazer o seguinte: nós vamos embora e voltamos daqui a dois dias, então você me dará a resposta final. Pense bem.


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Notas finais do capítulo

Antes de qualquer coisa, quem lê os quadrinhos sabe sobre esse grupo e suas intenções, mesmo que iremos aprofundar mais nisso. Não seguiremos completamente os acontecimentos das HQs, utilizamos apenas a base e vamos modificar algumas coisas para adaptar ao nosso enredo.
Agora vamos explicar o motivo da postagem adiada.
Hoje, 15/07, é o aniversário de uma pessoa muito especial, uma das "musas" dessa história. Hoje a talentosa atriz e maravilhosa pessoa, Lana Maria Parrilla completa 37 anos de vida. Esse capítulo é apenas uma pequena homenagem.
Voltaremos à nossa programação normal, então até quarta-feira, e não se esqueçam de deixar a sua opinião!