Born to Die escrita por Agatha, Amélia


Capítulo 42
Passado, presente e futuro


Notas iniciais do capítulo

Em primeiro lugar gostaríamos de agradecer mais uma vez à Zoé pela nossa quarta recomendação, e à Laís, pela nossa quinta recomendação. Muito obrigada a todos que vêm acompanhando, comentando e recomendando!
Esse capítulo começa justamente onde o outro parou. Quando escrevemos nos lembramos bastante do capítulo 6.
Esperamos que gostem.
Boa leitura!



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*Narrado por Sarah West

Antes de qualquer coisa, preparamos um almoço improvisado com o pouco de comida que nos restava, como salgadinhos, barras de cereais e água. Tudo foi muito rápido, assim como nos reunimos, nos separamos. Rick formou duplas para explorar os andares do hotel e certificar que tudo estava seguro para passarmos a noite, mas, no fundo, eu sabia que Rick queria transformar o lugar em um lar.

– Fique aqui embaixo com as crianças, é mais seguro. Não sabemos o que há nos outros andares – Rick recomendou. – Carl, Avery e Patrick, vocês podem dar uma olhada no restaurante? – os três balançaram a cabeça quase que simultaneamente assentindo. – Mika e Scott, podem cuidar da Sarah para mim?

– Claro! – o garoto ruivo falou com um sorriso. Os dois mais novos estavam sentados no chão próximo a cadeira onde eu estava.

– E você, descanse – ele disse me dando um beijo na testa antes de sair.

Os dois garotos começaram a brincar pelo saguão indo direto para o guichê, enquanto eu continuei sentada. Minutos depois, Scott e Mika vieram até mim com grandes caixas de papelão, que pareciam transbordar de objetos empoeirados e algumas roupas. Havia um adesivo que indicava a função das caixas: “Objetos perdidos”.

– Então, o que vocês encontraram aí? – perguntei tentando observar o conteúdo.

– São objetos perdidos. Tem várias coisas aqui – Scott respondeu virando uma caixa no chão, e Mika fez o mesmo com outra. Sentei-me no chão ao lado dos dois e começamos a analisar todos aqueles objetos.

– Deve ter algo útil – Mika disse e, logo em seguida, começamos a “classificar” o que estava no chão.

Comecei a dar uma atenção especial às roupas, mesmo sabendo que seria impossível encontrar lá qualquer roupa de bebê. Era a primeira vez que eu pensava nisso, mas o fato de termos estado do lado de fora não me deixava pensar nesse assunto. Antes do apocalipse, eu me imaginava comprando roupas para um futuro filho. Arrumar o quarto, o berço, as roupas e os brinquedos, agora pelo menos ele teria um quarto. A realidade praticamente destruía meu castelo de cartas feito de sonhos, senti uma lágrima solitária escorrer pelo meu rosto, mas a limpei rapidamente, antes que as crianças percebessem, mas eles estavam bastante distraídos com os brinquedos. Mika segurava uma boneca de pano de cabelos vermelhos, e Scott, um peão.

Depois de observar algumas roupas, encontrei um casaco de couro escuro, com a gola felpuda. Imediatamente imaginei Rick usando aquele casaco. O inverno batia à nossa porta e não tínhamos roupas apropriadas, uma vez que os últimos invernos foram intensos. Dobrei cuidadosamente o casaco e o deixei ao meu lado, voltando minha atenção para as roupas.

– Acho que ela vai se chamar Griselda Gunderson! – Mika comentou contente enquanto analisava a boneca.

– O bebê já tem nome? – Scott perguntou. Na verdade, eu nunca havia pensado nisso, muito menos conversado com Rick sobre o assunto. Eu não sabia se era menino ou menina, e isso influenciava a dúvida sobre a escolha do nome.

– Ainda não. Nem sabemos se é menino ou menina – falei com um fraco sorriso. – Mas acho que já passou da hora de começarmos a pensar sobre isso.

– Estou torcendo para ser uma menina! – Mika disse.

– Eu prefiro um menino – Scott retrucou.

Eu não me importava com o sexo da criança. Eu esperei tanto por um filho que isso parecia não mudar nada perto da realização desse sonho. Desde que o bebê nascesse bem, e vivesse bastante e fosse feliz, para mim estava tudo bem. As crianças voltaram e se distrair com os objetos dentro da caixa e eu voltei para as roupas. Em seguida Mika começou a cantarolar uma linda música.

*Narrado por Gabriela Hopper

Subimos as escadas até chegar ao segundo andar. Daryl e eu nos dispersamos das outras duplas até chegar ao décimo andar. Desde que Rick havia nos mandado “limpar” os andares meu cérebro começou a trabalhar freneticamente, pensando em como poderíamos tornar esse lugar habitável, formar muros para proteção, organizar buscas por mantimentos, ou até mesmo começar a plantar alguma coisa. Mas, em primeiro lugar, era preciso exterminar qualquer walker do prédio.

Eu andava com o machado apoiado no ombro direito, e Daryl, na minha frente, segurava sua besta apontada para frente. O último andar era mais luxuoso que os outros. Cada detalhe havia sido muito bem trabalhado, e, mesmo com todo o abandono, o lugar ainda era estonteante, e só estávamos no corredor, que tinha várias portas dos dois lados.

– Pelos meus cálculos, vamos levar umas duas semanas para olhar todos os quartos, e, depois disso, ainda precisamos conhecer a área – falei enquanto caminhávamos. – Não só dentro do hotel, mas as redondezas. Temos o rio que passa aqui perto...

De repente, Daryl me jogou na parede e tampou a minha boca com sua mão. Arregalei os olhos e ele tirou a mão, mantendo o olhar fixo na porta ao nosso lado.

– Aqui não é lugar pra... – comecei a dizer irritada e ele tampou a minha boca novamente.

– Errantes – ele sussurrou apontando para a porta. Virei minha cabeça para o lado.

Sem falar nada, Daryl foi até a porta e eu entendi que deveria ficar atrás. Ele girou a maçaneta com cuidado e deixei meu machado em posição de ataque, mas não precisei usá-lo. Ele pegou uma faca e empurrou a porta rapidamente, mas ela não chegou a tocar a parede. Pelo som que foi emitido, havia um mordedor atrás da porta. Apenas fiquei parada em quanto ele exterminava os dois mordedores. O que estava atrás da porta voltou a dar “sinais de vida” e a se levantar com os braços esticados. Adiantei-me e o abati.

Prosseguimos o trabalho de limpeza pelos outros quartos que também possuíam muitos errantes, eu nos quartos do lado esquerdo e ele no direito. O último quarto deveria ser o mais caro do hotel. Havia uma enorme janela no fundo, com cortinas de seda velhas, uma enorme cama de casal na parede direita, uma televisão ao centro e, do outro lado, uma porta que levava ao banheiro. Os últimos raios de Sol entravam no quarto pela janela, dando um efeito mágico ao cômodo.

Enquanto eu me distraía observando o quarto, a porta bateu, me despertando do transe e voltando ao estado de alerta. Rodei o machado em minhas mãos e me voltei para a origem do som.

– Por que você tem que fazer isso o tempo todo? – perguntei ao ver Daryl rindo.

– Gosto de te ver irritada.

– Claro! Por que eu nunca pensei nisso? – soltei meu machado no chão soltando um suspiro de cansaço.

– Isso é bom. Quando você fica irritada, esquece um pouco a racionalidade, e quando isso acontece, podemos ficar juntos.

– Tudo bem, tenho que encontrar seu ponto fraco agora – sorri.

Deixei-o sentado na cama enquanto fui explorar o resto do ambiente, indo para o banheiro, que tinha praticamente o tamanho do quarto e, em sua maioria, era feito de mármore, com uma grande banheira, um chuveiro e um espelho central. Parei de andar ao reparar no meu reflexo. Minha expressão era bem diferente da de alguns anos atrás, e fiquei me perguntando sobre o que a Gabriela do passado pensaria de mim agora. Em primeiro lugar tinha a Avery. Eu nunca havia pensado em ter filhos antes, muito menos em adotar uma adolescente de 14 anos de idade, mas, por incrível que pareça, ela me fez e me faz muito feliz. Daryl não se encaixava no perfil de nenhum dos meus antigos namorados, ele era muito diferente de qualquer pessoa de minha convivência. Ele podia parecer um caipira grosso, mas, no fundo, era muito mais que isso, e tinha valores maiores do que os meus no passado. Mesmo assim, eu não podia ignorar o meu passado. Eu também tinha coisas boas, e com esses erros e acertos, a antiga Gabriela se tornou o que eu era agora.

Por fora, eu era a mesma pessoa de antes, exceto pela cicatriz. Era engraçado pensar que antes eu a odiava, mas agora não conseguia me imaginar sem ela. Viver sem aquele risco acima do lábio originado de uma fuga parecia difícil, porque ela fazia parte de mim. A cicatriz era o símbolo da minha mudança, um marco entre a transição do que eu era antes e o que havia me tornado.

Pelo espelho, pude ver Daryl se aproximando. Ele me abraçou por trás e apoiou sua cabeça sobre a minha, colocado seus braços ao redor do meu corpo e eu sorri. Senti-me minúscula naquela posição, com Daryl me envolvendo.

– Podemos ficar aqui – ele disse. – Esse andar só pra nós.

– Talvez – respondi. – Temos que decidir com os outros. Além disso, eu tenho que falar com a Avery. Agora que temos um abrigo seguro, fica mais fácil contar isso.

Eu estava disposta a esquecer qualquer mania idiota que tinha antes do apocalipse. Eu não me importava em morar junto com Daryl, agora isso parecia natural.

– Isso é sério?

– Podemos fazer isso, mas com calma – respondi.

*Narrado por Avery Hopper

Estávamos nos esgueirando por algumas salas do hotel. Eu me sentia uma espiã ou agente secreta entrando sorrateiramente no quartel general inimigo, só que dessa vez os inimigos já estavam mortos.

Paramos de frente para a porta da “brinquedoteca”. A sala era escura, principalmente por causa das cortinas mofadas tampando as janelas. Havia duas mesinhas de plástico para crianças, vários escaninhos com brinquedos, caixas organizadoras de plástico transparente com brinquedos maiores e, mais no canto, um balcão. Dele surgiu um walker com quepe usando uniforme do hotel. Rapidamente, Carl apontou a arma, mas eu a abaixei com a minha mão.

– Vai gastar uma bala? – disse num tom provocativo. – Hora de estrear essa belezinha aqui.

Peguei meu punhal com lâmina e encaixei meus dedos da mão direita. Dei um pequeno sorriso e andei com passos confiantes, enquanto o errante tentava sair do balcão. Quando cheguei perto, levei minha mão esquerda à sua nuca e bati a cabeça dele contra a madeira do balcão, para ter mais firmeza na hora do golpe final. Ergui a mão direita com a faca, que reluziu na sala escura, e a finquei no crânio. Arranquei a lâmina sem dificuldade, e o corpo escorregou até o chão.

– Acho que não tem mais ninguém aqui – Patrick comentou.

– Vamos olhar os brinquedos – falei animada, sem me importar com o olhar que Carl me lançou. No fundo ele queria dizer que isso era infantil, mas como era minoria, apenas nos acompanhou.

Patrick foi direto para as peças de montar, e eu olhei por cima do balcão, onde havia uma prateleira com pequenos cilindros coloridos. Estiquei meu braço para pegar um potinho com material líquido dentro.

Quando me virei, notei que Carl analisava uma pistola de água. Mesmo quando estava fazendo algo que julgava infantil, ele tentava parecer mais adulto. Abri o pote e só então notei que eram bolhinhas de sabão. Soprei algumas na sala, e ficamos os três parados, apenas observando as bolhas descendo, até se estourarem no chão. Aquela sala deveria ser a preferida das crianças quando o hotel estava em seus dias de glória, mas agora era só um legar escuro e empoeirado com cheiro de cadáver e mofo. Era no mínimo triste pensar que muitas crianças tiveram seus sonhos arrancados por mordedores.

Uns gemidos fracos ecoaram pela sala e o som parecia vir do restaurante, que ficava no final do corredor. Guardei o pote de bolhas no bolso e me levantei, assim como Carl e Patrick. Como se nós três estivéssemos pensando na mesma coisa, saíamos de onde estávamos e seguimos o corredor até o restaurante.

Lá dentro encontramos três caminhantes perambulavam pela sala à procura de algo, e encontraram isso quando nos viram. Confiante, entrei na frente dos dois e comecei a matar os walkers sem muita dificuldade. O primeiro tinha o crânio mais duro, o que dificultou um pouco a perfuração. O segundo era o mais desajeitado, permitindo que eu o derrubasse para matar o terceiro antes que finalizá-lo. Depois disso, começamos a andar pelo local.

– Vamos olhar a cozinha. Não deve ter mais nenhum aqui, mas é melhor conferir – Carl falou.

Eles seguiram a caminhada e eu me sentei no balcão que ficava próximo à entrada, onde os funcionários deveriam receber os clientes. Peguei o pote de bolhas de sabão e assoprei algumas delas com desânimo e cansaço.

Acompanhei sua descida, até que elas tocaram o mármore da entrada e explodiram. Olhei para trás, e sorri levemente ao constatar que, atrás de mim, havia uma prateleira com algumas garrafas. Muitas delas estavam vazias ou quebradas, mas algumas ainda tinham líquido, provavelmente usado para fazer batidos.

– Ave! Vem ver isso aqui! – ouvi a voz de Patrick e saltei do balcão. Corri até a cozinha, mas não encontrei ninguém. Dirigi-me a até uma porta que levava a uma pequena escada escura. Lá embaixo, Carl e Patrick contemplavam uma prateleira comprida com várias garrafas. – É uma adega! Temos que mostrar isso pro seu pai.

– Para ele e para os outros – ele respondeu com a maior naturalidade, como se a menção ao nome do pai não o enfurecesse mais.

– Carl, eu tenho que perguntar uma coisa – comecei. – O que realmente te incomoda no relacionamento do seu pai com a Sarah?

– Bem... – Carl ficou pensativo por alguns instantes. Ele olhou um pouco para as garrafas, depois para o teto, e só então voltou a me encarar. – Você já sabe. Meu pai tinha superado a morte da minha mãe, mas eu não. Vê-lo seguindo em frente parecia uma traição, como se ele tivesse se esquecido dela. Mas agora eu já entendo.

– Então por que ainda não conversou com eles? Você precisa se desculpar e acertar as coisas. Sua relação com o seu pai não pode continuar assim – conclui e ele assentiu. – Mas você sabe que não precisa fazer isso agora. Pode esperar que eles terminem de limpar o hotel todo.

Eu estava feliz por vários motivos. Agora eu tinha um lugar seguro, poderia descansar e a sensação de incerteza diminuía. Além disso, Carl já havia entendido o que estava acontecendo e finalmente tudo ficaria bem entre ele, seu pai e Sarah.


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Notas finais do capítulo

O nome do capítulo é sobre a reflexão que as três fazem, uma vez que elas estão lembrando do passado, vivendo o presente e sonhando com o futuro.
O próximo será um pouco mais descontraído, já que eles já têm um lugar seguro.
Deixem a sua opinião!
Bom feriado a todos e até sábado!