Born to Die escrita por Agatha, Amélia


Capítulo 28
Nova integrante, novo lar


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, mas só conseguimos postar agora. Para compensar o atraso, fizemos um capítulo um pouco maior do que os outros, mas não vão se acostumando, já estamos escrevendo o 29 e ele não ficará tão grande assim.
Boa leitura! Até as notas as finais!



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*Narrado por Avery Hopper

Não sabia quantas horas ao certo, mas já deveria estar tarde. O Sol estava inclinado para o lado oeste e esse era meu único meio de diferenciar a manhã da tarde. Não podia negar que estava um pouco ansiosa para chegada do grupo que fora buscar suprimentos, minha mãe estava nele.

Estávamos parados na porta do nosso bloco de celas apenas olhando para o horizonte. Era hora do grupo de leitura e obviamente não éramos bem vindos lá. Além de Carl e Patrick, Beth nos acompanhava mais à frente com Judith, a filha mais nova de Rick. Beth parecia uma boneca frágil aos seus mais de dezoito anos de vida, cabelos loiros, olhos azuis e pele rosada como porcelana.

– Finalmente você conheceu a namorada do Carl – Patrick disse e eu não pude deixar de ficar surpresa. Mesmo que fosse uma brincadeira era estranho pensar em Carl com Beth.

– Ei! A Beth não é minha namorada! – ele resmungou.

– É o que ele diz para todas. Pare de negar, Carl Grimes – falou Patrick, que deixou o garoto de chapéu mais irritado.

– Patrick, por que não namora logo com a Ave? Não precisa ficar fazendo intriga – e lá estávamos nós de novo discutindo sobre coisas idiotas.

– Por que ele ainda não pediu – respondi a fim de acabar com a discussão.

– Não seja por isso – Patrick disse com um sorriso nos lábios. Ele gostava de irritar Carl, até havia o apelidado de pavio curto. – Avery Hopper, aceita ser minha namorada?

– Claro que sim! – brinquei.

– Vocês não tomam jeito – Carl revirou os olhos ao dizer.

– OK, vamos parar com essa besteira – falei. – Não estou namorando o Patrick e o Carl não namora a Beth. Fim de história.

– Isso quer dizer que eu tenho dois pontos e o Senhor Pavio Curto aqui nenhum – Patrick provocou mais uma vez, falando sobre uma “competição” de quem irritava quem primeiro.

Antes que Carl pudesse retrucar vimos um carro chegando pela estrada secundária feita pelos próprios moradores da prisão. Saltei de onde estava e comecei a correr em direção ao portão principal seguindo Carl, que já estava bem mais à frente.

Ajudei-o a puxar as cordas para abrir o grande portão enquanto uma aglomeração começava a se formar.

Os primeiros a sair do carro foram Rick e Daryl, que estavam na frente do carro e saíram com mochilas com alguns mantimentos. Logo em seguida Sasha saiu pela porta de trás. Os três pararam e olharam para o carro à espera que algo acontecesse. Meu coração estava apertado. Onde estava minha mãe? Apertei o colar de madeira que estava no meu pescoço como se minha vida dependesse disso.

Depois de alguns segundos inquietantes e silenciosos onde todos olhavam para o carro, minha mãe saiu dele, e eu suspirei aliviada. Eu já ia correr para abraçá-la e falar com ela quando uma quinta pessoa desceu com muita dificuldade do carro. A mulher que saiu do veículo parecia muito debilitada, sua pele era pálida e ela estava bem magra. Seus cabelos castanhos passavam dos ombros e sua roupa parecia bem suja, poderia ser sangue, mas não era possível saber de onde eu estava.

Rick e Daryl foram ajudar a mulher a andar e minha mãe veio até mim.

– Senti sua falta – falei com voz manhosa e minha melhor cara de cachorro abandoado, tudo de brincadeira.

– Meu Deus! Que filha manhosa eu fui arrumar! – ela exclamou brincando e me puxando para um abraço apertado. Ficamos assim por um tempo até que Carl pigarreou, chamando nossa atenção.

– Desculpe atrapalhar – Carl começou a dizer. – Você esteve lá no supermercado, sabe o que aconteceu e também sabe quem é aquela mulher.

– A encontramos muito debilitada naquele supermercado, não sabemos muito sobre ela, só o nome – ela disse matando minha curiosidade juntamente com a de Carl e Patrick, que estavam lado a lado. – Sarah. Bom se me derem licença vou ver como ela está.

Ela me deu um beijo na testa e foi em direção a grande construção à nossa frente. Ficamos os três parados ali parados observando ela passar pela “multidão” que esperava curiosa por resposta. Eu tinha uma resposta, mas com certeza essa resposta havia trago várias perguntas.

*Narrado por Gabriela Hopper

Fui direto para o bloco onde minha cela ficava, onde Rick e Daryl tinham levado Sarah. Fiquei alguns minutos procurando os três até encontrar Rick.

– Gabriela, será que poderia arranjar algumas roupas para Sarah? É temporário, ela não pode ficar com aquelas roupas.

– Claro, mas as minhas não devem servir nela – possuíamos tipos físicos bastante distintos. – Acho que as de Maggie ficariam melhores, vou falar com ela.

– Certo, deixe lá no banheiro. Tenho que ver como as coisas estão por aqui.

Ele saiu em direção à sala onde eram feitas as reuniões do Conselho e eu fui pela direção oposta, saindo do bloco e indo até a torre onde Glenn e Maggie moravam. Ela me emprestou algumas roupas e as deixei no banheiro assim como Rick havia pedido, e depois esperei que Sarah terminasse o banho.

Ela saiu alguns minutos depois. Seus cabelos estavam molhados e não havia nenhum sinal dos cachos que ela possuía com o cabelo seco. Um sorriso até estava se formando no rosto fino dela e os olhos azuis cintilavam. Ela parecia estar renovada.

– Como está? – perguntei.

– Um pouco melhor – ela respondeu. – Foi você que me emprestou as roupas? Muito obrigada!

– Na verdade, eu só as trouxe. As roupas são da Maggie, achei que ficariam melhores em você. Sei que não é a melhor hora, mas... – pensei um pouco antes de completar a fala. – O que aconteceu com você?

– É uma história bem longa... Nem sei por onde começar – ela falou e começamos a andar. – Eu e meu marido estávamos viajando para Washington, mas não conseguimos nem sair da Geórgia. Eu não fazia muita coisa, James fazia tudo. As coisas pioraram quando eu descobri que estava grávida. No começo ele pareceu gostar da ideia, mas logo mudou de opinião. Nós discutimos naquele supermercado – ela fez uma pausa e olhou para o chão com os olhos marejados. Agora eu estava começando a entender a história, o que me deixava mais chocada. – Ele me enforcou, e me jogou no chão. Em seguida me chutou várias vezes. Ele pretendia me matar, mas preferiu me deixar lá com aquele caminhante.

– Eu não sei o que dizer – falei boquiaberta. Como alguém poderia ter feito algo tão monstruoso? Chutar a mulher grávida? Agora eu entendia o porquê de todo aquele sangue, Sarah tinha sofrido um aborto. – Sinto muito.

– De certa forma a culpa era minha – ela disse ainda com o olhar fixo no chão. – Eu sabia como James era, talvez eu pudesse ter evitado isso... Eu o enfrentei e... Tentei parecer forte... – Sarah começou a chorar. Aquilo foi muito doloroso de se ver, e, por algum motivo, dei um passo à frente e a abracei. – Eu perdi meu bebê...

– Não foi sua culpa – falei. Por mais que ela fosse entre seis e dez centímetros mais alta que eu, Sarah havia se encolhido e parecia uma criança pequena que chorava sem parar e que necessitava de um abraço. – Você é jovem. Eu nunca fui muito de acreditar em Deus, mas sei que se ele te tirou esse filho é porque tem algo guardado para você.

– Obrigada – ela disse ainda com a voz chorosa enquanto enxugava suas lágrimas com as mãos. – Obrigada mesmo.

– Acho que agora você deve se alimentar. A propósito, Gabriela Hopper.

– Sarah Mo... – ela começou a dizer, mas parou, olhou para a mão esquerda, suspirou e depois continuou. – Sarah West – ela falou antes de tirar a aliança. – Acho que não preciso mais disso.

Eu a levei até o refeitório. No caminho, não pude pensar no quanto de pena eu sentia dela, mas junto com a pena também vinha a compaixão, que era bem mais forte. As coisas pelas quais ela teve que passar eram duras de mais, talvez até mais duras do que tudo que eu já havia passado naquele apocalipse. A diferença era que eu tinha alguém comigo esse tempo todo, e Sarah havia perdido a única pessoa que tinha.

*Narrado por Sarah West

Minha mente ainda tentava absorver tudo que havia acontecido. As mudanças na minha vida foram tão bruscas quanto as do começo do apocalipse. Quando finalmente pude voltar a me sentir segura, passei a tentar me convencer de que as coisas iriam melhorar. Enquanto ainda estava presa naquele supermercado, eu implorava por mais uma chance, por uma salvação, e meus pedidos foram atendidos.

Gabriela estava me ajudando muito, mesmo sem me conhecer. Ela era uma mulher de aparência latina, alguns centímetros mais baixa que eu, tinha olhos castanhos e cabelos negros que não passavam dos ombros, mas continuavam fora do corte. Eu não a conhecia muito bem, mas suas ações me passavam uma ótima impressão, a começar pelo supermercado. Ela era uma pessoa determinada, e mesmo ciente dos riscos, parecia estar disposta a fazer sempre o que era certo por se preocupar com as pessoas.

Estávamos sentadas em uma das mesas do refeitório daquele enorme presídio. Ele parecia ser bastante seguro, e com certeza foi muito eficiente na época em que criminosos eram presos nela. Eu estava sentada de frente para Gabriela enquanto comíamos legumes enlatados.

– Você tem família? – perguntei para puxar assunto.

– Tenho uma filha – ela respondeu. – Talvez você tenha visto ela na entrada.

– Aquela garota loira que estava com o menino de chapéu? – foi a melhor descrição que eu consegui.

– Sim, a Avery. Eu sei, não somos muito parecidas. Na verdade, eu a adotei há alguns meses. Ela estava sozinha na estrada e acabara de perder os pais – Gabriela esclareceu.

– Nossa! – eu estava impressionada com aquilo. – É uma coisa muito bonita, principalmente nos tempos atuais...

– A Avery passou por muita coisa... Ela é uma garota muito irritante, mas é especial. Agora eu só quero que ela tenha uma infância de verdade, que ela não se preocupe mais – seus olhos brilhavam quando ela falava da filha, mas mesmo assim eu podia notar sua preocupação, ela não queria aprofundar no assunto com medo que isso me lembrasse do meu filho que nem chegou a nascer. - Então, com o que você trabalhava antes disso? – ela mudou de assunto.

– Eu era médica, atendia emergências em um hospital.

– Isso vai ser muito útil para todos aqui na prisão. Temos outros três médicos aqui e alguns equipamentos.

– E você?

– Eu trabalhava na administração de uma empresa de eletrônicos, mas isso é inútil agora.

Passei os olhos pelo local. Algumas pessoas andavam despreocupadas por aí, mas algo chamou a minha atenção. Na mesa à nossa frente um homem e uma mulher me observavam atentamente enquanto discutiam sobre algo. Reconheci o homem como uma das quatro pessoas que estiveram no supermercado quando fui encontrada.

– Gabriela... – falei depois de desviar o olhar tentando parecer discreta.

– O que foi?

– Na mesa de trás. Tem duas pessoas me observando, acho que estão falando sobre mim. Tem como você olhar, discretamente? – eu não sabia muito bem o que falar.

Gabriela jogou os cabelos para o lado de maneira bastante natural e virou a cabeça levemente. Depois de se voltar para mim novamente, ela colocou uma mecha de seus cabelos atrás da orelha. Com certeza ela foi bem discreta.

– Rick e Carol – ela começou. – Eles são do Conselho aqui da prisão. Só irão fazer algumas perguntas para você.

– Ele é o líder? Rick parecia liderar vocês lá no supermercado.

– Ele era o líder do grupo há um tempo, depois se afastou e agora é membro do Conselho, mas ele é muito bom em tomar decisões.

– Ele parece um homem... - não sabia como descrevê-lo.

– Admirável – Gabriela completou. – Ele também passou por muita coisa, como a maioria das pessoas aqui. Não sei muito bem como descrevê-lo, mas admirável me parece um bom adjetivo para ele.

– Me parece boa pessoa.

Depois de um tempo, notei que Rick e Carol se levantaram. Eles começaram a vir em minha direção, até que Carol parou ao lado de Gabriela e Rick ficou ao meu lado.

– Aqui na prisão temos um procedimento com as pessoas novas, e precisamos que responda a algumas perguntas.

Acompanhei os dois até uma grande sala com uma mesa redonda ao centro, onde outras pessoas nos esperavam. Essas pessoas foram brevemente apresentadas antes que as perguntas fossem feitas. Eu estava meio apreensiva, mas sabia que qualquer coisa que acontecesse naquele momento não seria pior do que a dor que havia sentido dias atrás e se recusava a passar.

– Quantos walkers você já matou? – Hershel começou.

– Nenhum – respondi. Todos naquela sala pareciam bastante surpresos com a minha resposta, principalmente Carol. – Meu marido fazia isso por mim – foi o máximo que consegui dizer para tentar explicar.

– Tudo bem. Quantas pessoas você já matou?

– Nenhuma – a mesma resposta, mas essa não os surpreendeu tanto como a primeira.

– Por quê?

– O único momento em que tive vontade de matar alguém foi quando eu estava presa naquele supermercado, mas se eu o visse agora, simplesmente seguiria em frente – fui bastante sincera nessa resposta. Depois disso, todos se entreolharam e houve um curto silêncio antes que alguém tomasse a iniciativa.

– Nós dissemos que eram três perguntas, mas no seu caso... – Sasha começou. – Eu preferia não ter que fazer esse tipo de pergunta, mas no seu caso será necessário, para a segurança de todos. Tudo bem?

– Claro – respondi meio confusa.

– Por que você estava sangrando quando te encontramos? – ela foi direta.

Fechei os olhos por alguns segundos e aquela imagem voltou à minha cabeça. Eu me vi novamente naquele chão enquanto recebia chutes, vários chutes. Então veio o sangue. Tive vontade de chorar, mas segurei.

– Não precisa ter medo, vamos te ajudar – Rick falou para tentar me deixar mais à vontade.

Abri os olhos e respirei fundo. Eu sentia que meus olhos começavam a se encher de água, mas eu não queria chorar. Eu não queria chorar na frente deles, eu tentava parecer forte. Apertei minhas mãos com mais força antes de encontrar a voz que eu precisava para falar. As lembranças ainda eram dolorosas, por dentro e por fora.

– Eu... – engoli em seco. – Eu sofri um aborto.

– Tudo bem. Obrigado por colaborar – Hershel falou e eu me levantei para sair.

Quando notei que estava fora do alcance visual deles, fechei a porta e me encostei meu corpo na parede ao lado. Afundei o rosto nas mãos, mas mesmo assim tentei segurar o choro.

– Foi tão ruim assim? – ouvi a voz de Gabriela e me assustei.

– Você me esperou? – disse passando as mãos no rosto antes de encará-la.

– Claro! O que aconteceu?

– É que... Eles perguntaram. Do sangue – expliquei pausadamente tentando encontrar as palavras certas.

– Você está bem? – Gabriela colocou a mão em meu ombro.

– Sim, obrigada – falei com um fraco sorriso.

– Vem, temos que encontrar um cela para você.


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Notas finais do capítulo

Para quem não entendeu, West é o sobrenome de solteira da Sarah.
Já mudamos a sinopse, o que vocês acharam?
Preparamos uma coisa especial para os leitores. Resolvemos fazer um pequeno GAME, que terá apenas um vencedor. A primeira pessoa responder a pergunta corretamente ganhará um Spoiler.
A pergunta é: Quem teve mais gifs na fic, Gabriela ou Avery?