Born to Die escrita por Agatha, Amélia


Capítulo 26
Chance


Notas iniciais do capítulo

Esperamos não ter demorado muito.Temos ciência de que normalmente postamos as terças-feiras, mas como postamos um no domingo preferimos postar hoje.
Esperamos que tenham gostado da nova capa, simplesmente perfeita!!!
O capítulo será sobre o passado da Sarah e esperamos que ele explique os mistérios que envolvem essa personagem. Havia muito tempo que não fazíamos um capítulo com mais de 2000 palavras, e esse foi muito legal (e doloroso) de se escrever.
Futuramente mudaremos a sinopse da fic, fiquem de olho.
Boa leitura e até as notas finais (tem um aviso importante lá)!!!



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*Narrado por Sarah Morris

Quando as coisas ainda estavam dentro da normalidade, eu tinha dois sonhos: ser médica e mãe. Ao completar 26 anos me formei em medicina com especialização em atendimentos de emergência. Aos 28 anos conheci James, com quem me casei. Ele poderia parecer uma pessoa calculista e até um pouco fria, mas bastava conhecê-lo melhor para ver seu lado amável.

Antes de tudo começar, eu trabalhava na área de emergência de um grande hospital em Jackson, no Mississippi. Depois de alguns meses atendendo infectados, resolveram evacuar os hospitais e as pessoas começaram a sair da cidade. No meu último dia de trabalho os mortos-vivos conseguiram fugir do isolamento, tomando conta de Jackson.

Quando a situação piorou, eu e meu marido resolvemos viajar rumo a Washington D.C., onde a segurança deveria ser maior. Os aeroportos estavam lotados de pessoas, então tivemos que fazer a viagem de carro. A rodovia principal estava interditada, forçando-nos a procurar uma rota alternativa, o que nos custou mais tempo.

Por mais que aquele mundo parecesse ser horrível, as mudanças não foram tão gritantes para mim. James fazia tudo, desde acabar com as aglomerações de infectados que representavam algum risco, até buscar suprimentos quando era necessário. Eu não fazia quase nada a não ser tentar deixar nossa nova casa melhor, já que agora vivíamos num carro, e preservar as nossas saúdes.

O meu grande problema era quanto à comida. Por ser médica, eu era meio neurótica quanto aos alimentos, de forma que eu acabava recusando tudo que estava fora do prazo de validade ou parecia estar contaminado. Por outro lado havia o problema de meu marido, ele era alcoólatra, e quando bebia muito se descontrolava. O pior era saber que um dia a bebida iria acabar e eu não poderia prever sua reação.

– O que foi? – James perguntou desviando o olhar para mim.

– Nada, só estou pensando. Eu tenho uma coisa pra te dizer.

– Pode falar – ele parou o carro.

– Não sei exatamente como falar isso, já pensei em várias formas, mas ainda não sei – fiz uma longa pausa. – Sei que não foi do jeito que nós queríamos, mas... Nós vamos ter um filho.

– Sério? Nossa, isso é... ótimo! – ele disse com um sorriso. Não sabia se aquele sorriso era verdadeiro o falso, tinha meus motivos para achar isso.

Eu realmente não sabia o que esperar dele, eu mesma ainda estava em choque com a descoberta da gravidez. Com o mundo devastado, eu já estava pronta para desistir de ter um filho, pensando que isso seria melhor. Justamente quando estou pronta para abdicar disso descubro que não tem mais volta, já aconteceu. Eu estava dividida entre a preocupação de como meu filho viveria nesse mundo e a plena felicidade. Olhei mais uma vez para James que sorria enquanto voltava a dirigir.

Nunca havíamos conversado muito sobre esse assunto. James demonstrava mais interesse em sua carreira como promotor, enquanto eu procurava me preocupar com a medicina. Mesmo assim, ele sempre soube do meu sonho e concordava comigo. Eu não sabia se esperar uma reação positiva ou negativa, mas as coisas pareciam estar indo bem.

Alguns dias se passaram e as coisas pareciam estar piores do que naquele dia. Não que estivessem ruins, mas começavam a voltar ao normal, e a alegria de James simplesmente havia desaparecido. Isso não parecia ter muito a ver com seu estado, mas a cerveja estava quase no fim.

O carro estacionou em frente a um grande supermercado no meio da estrada. Não estávamos precisando de comida, mas ele precisava das bebidas. Desci do carro junto com ele, mesmo sabendo que ele não teria uma reação muito boa quanto a isso.

– Por que saiu do carro? – ele perguntou com a voz um pouco alterada.

– Vou com você – falei tomando a frente e me dirigindo até o supermercado sem ligar para reação dele. Já que estávamos num supermercado, eu deveria tirar proveito disso e aumentar nossos estoques de alimentos.

O local estava bem revirado, muitas pessoas deveriam ter passado por ele. Várias prateleiras estavam remexidas ou vazias, o ambiente era escuro e o cheiro de comida estragada impregnava o lugar. Suspirei e fui em direção às prateleiras que ainda estavam cheias, eu teria que abandonar logo minha neurose, ou não conseguiria sobreviver nesse mundo.

– Sarah! – ouvi a voz autoritária de James me chamar. Um arrepio percorreu minha espinha dorsal, ele nunca havia usado esse tom de voz comigo. – Volte para o carro agora!

– Não!

– Sarah, é meu dever fazer isso – ele disse mais uma vez com aquele tom de voz amedrontador. Virei-me para encará-lo. – Principalmente agora!

– James, temos que tomar mais cuidado agora – disse lentamente para tentar acalmá-lo em vão, prevendo rumo que essa conversa iria tomar. – Tenho que checar melhor os alimentos agora que estou grávida e... – hesitei. – E você tem que parar de beber.

– Sarah, você nunca foi de fazer gracinhas – ele deu uma risada abafada como se eu estivesse fazendo uma brincadeira.

– Não estou brincando. Pensa que eu não sei que veio aqui pela bebida?Ainda temos comida lá! Você tem que parar de beber. Você fica alterado, não consegue dirigir, pode até causar uma tragédia!

– Não vou parar de beber simplesmente por que você ficou grávida! – ele gritou como se quisesse me culpar pela gravidez. Era como se isso fosse algo prejudicial. – Eu não quis essa coisa, nunca quis.

– Coisa?! Como pode chamar nosso filho de coisa?

– Nosso? Seu filho!

– Eu estava errado, você é bem melhor quando está bêbado! – ataquei com raiva enquanto ele andava em minha direção.

– Quem é você para dizer isso? Uma mulher que recebeu meu nome? Você não é uma Morris! As mulheres da minha família ficavam em casa cuidando do lar, da família, respeitando a decisão dos maridos! O que você fazia? Trabalhava como médica em um hospital! Nunca cuidou da nossa família! Nem ao menos respeita minhas decisões!

Fiquei um longo tempo o observando. Eu procurava forças para dizer algo, mas não sabia o que fazer. Como ele poderia ter dito aquilo? Em dois anos de casamento tivemos discussões, mas nenhuma foi como essa. Eu estava assustada, pasma com tudo aquilo.

– Isso é submissão! Eu não tenho que respeitar tudo que você faz! Principalmente se você toma decisões erradas! – enquanto eu falava, ele vinha em minha direção e eu recuava. Seus punhos estavam cerrados e sua expressão era de fúria. Mesmo com medo do que ele pretendia fazer, não hesitei e continuei. – E não vou fazer nada que pedir até que se acalme!

Nesse momento, meu espaço acabou. Eu estava presa entre ele e uma prateleira. Minha respiração ficou mais acelerada à medida que ele se aproximava. Quando James chegou perto de mim eu estava extremamente assustada, mas não poderia fazer nada para me defender. Ele levantou as mãos e segurou meu pescoço com força.

Minha respiração ficava cada vez mais fraca à medida que ele me erguia no ar e me sufocava. Eu sentia que não iria aguentar aquilo.

– Como ousa ofender o nome da minha família? – ele falou me olhando nos olhos e apertando meu pescoço com mais força.

– James... Por favor – sussurrei suplicando para que ele parasse.

– Isso mesmo vadia, implore!

– Por favor.

– É assim que eu gosto – ele disse com um sorriso diminuindo a força. – Agora você vai aprender a me respeitar como uma boa esposa.

James se virou e me jogou contra a prateleira ao lado. Minha respiração era forte e acelerada no momento em que meu corpo se chocou com a dura prateleira de aço. No começo, fiquei meio zonza, com as mãos apoiadas no chão para não cair. Ele se virou e começou a andar enquanto eu me recuperava. Ergui a cabeça e tomei coragem para falar.

– Você é louco! – minha fala saiu num tom mais baixo do que eu queria.

– Como? – James se virou com um olhar que transmitia insanidade. Ele ouviu o que eu disse, mas queria me testar. Ele queria saber se eu teria coragem de dizer isso na cara dele.

– Você é louco! – repeti num tom mais alto e ele veio em minha direção com os passos mais pesados e decididos que antes. Aquilo me dava medo, mas eu não poderia fugir, tinha que enfrentá-lo.

Tentei me levantar, mas meu corpo estava dolorido de mais para isso. James sorriu de uma forma assustadoramente macabra, sua expressão era a de um assassino. Ele parecia se divertir com o meu desespero, que logo deu lugar à dor. Ele começou a chutar meu corpo com força. O primeiro chute foi nos braços, fazendo com que a minha cabeça atingisse o chão. Depois disso, eu não conseguia distinguir os locais, só sabia que doía bastante.

Eu estava desesperada, me contorcendo muito enquanto gritava. A única coisa que eu podia ouvir era uma risada doentia. Eu tive certeza absoluta de que morreria naquele momento, mas algo inesperado aconteceu.

Um cheiro de carne morta começou a se impregnar pelo local. Logo foi possível ouvir alguns grunhidos. Por um instante, James parou de me chutar e se virou. Eu não conseguia me mexer, mas sabia que havia um infectado lá. Ele me chutou mais duas vezes antes que aquilo acabasse.

– Boa sorte – ele falou com ironia. James empurrou o walker contra a parede, o derrubando, e correu em direção à saída do supermercado. Ele estava me deixando lá para ser devorada.

Tentei me levantar com dificuldade, então notei que estava sangrando muito. Caí no chão no momento em que o walker se levantou e começou a caminhar lentamente em minha direção. Eu não tinha tempo para pensar em meu estado, nem para avaliar o sangramento, por mais que eu tivesse uma pequena ideia do que aquilo significava, o que me deixava mais apavorada. Comecei a me arrastar pelo frio chão do estabelecimento sem rumo algum, apenas com a intenção de me afastar do infectado.

Por mais que a dor fosse enorme, ela parecia diminuir enquanto eu me arrastava freneticamente. Era como se meu corpo entendesse que aquela dor poderia me matar e que eu precisava sair de lá. Depois de intermináveis segundos de agonia acabei encontrando uma porta. Aumentei minha velocidade para ter tempo de chegar lá antes que fosse tarde de mais. Mesmo com as mãos cheias de sangue, consegui me apoiar na maçaneta e usar toda a minha força para abrir a porta. Entrei no local que um dia foi restrito aos antigos funcionários do supermercado e fechei a porta rapidamente.

Encostei meu corpo na parede e fiquei observando a porta, torcendo para que aquele walker não conseguisse abri-la, mesmo forçando o corpo contra ela. Só então tive tempo para pensar em tudo que havia ocorrido.

Olhei para minhas mãos e depois para o sangue ainda fresco no chão. A única coisa que poderia ter causado isso era o aborto. Os chutes que levei fizeram com que eu perdesse meu filho. As lágrimas começaram a sair rapidamente, embaçando meus olhos e tudo que eu fiz naquele momento foi chorar e perguntar o porquê. Em um momento eu estava feliz e realizada. No outro, o mundo tinha desabado sobre mim. Qual era o porquê disso tudo?

Havia outra pergunta em minha cabeça: como eu nunca tinha percebido o monstro que vivia ao meu lado? Talvez eu já soubesse e apenas tentava me convencer de que estava errada, de que James era bom. Por que eu tinha que ser tão burra?

Encostei minha cabeça na parede e continuei chorando enquanto a dor só aumentava. Eu iria morrer lá, por hemorragia, sede ou fome. Ou, na pior das hipóteses, aquele infectado abriria a porta e me devoraria, acabando com o meu sofrimento. No que eu estava pensando? Eu queria viver mais. Tudo que eu mais queria naquele momento era sobreviver. Talvez eu tivesse mais um sonho na vida que também não havia sido realizado. Eu queria ser feliz, e esse sonho parecia muito distante.

Primeiro perdi meu emprego dos sonhos por necessidade, depois vi meu filho ser morto ainda dentro de mim, e a felicidade pela qual eu lutei tanto parecia fugir de mim. Quando eu pensei que não tinha mais nada a perder lembrei que me sobrou algo: a vida. Era a única coisa que eu tinha agora. Ela parecia ter menos valor com tudo que estava acontecendo, mas eu sentia que só precisava de uma chance para tentar melhorá-la.

A única coisa que pude fazer era chorar mais enquanto esperava mais uma chance, uma salvação.


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Notas finais do capítulo

James Morris: http://cinema10.com.br/upload/noticias/leonardonewp.jpg
Esperamos que esse capítulo tenha esclarecido as dúvidas de vocês, até o próximo e não se esqueçam de deixar seus comentários!
No próximo capítulo faremos uma homenagem para os leitores que estão comentando a história, esperamos que gostem!
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