Born to Die escrita por Agatha, Amélia


Capítulo 22
Enterro


Notas iniciais do capítulo

Estamos de volta à Prisão. Esse capítulo é um pouco triste e foi meio doloroso de escrever.
Gostaram da nova sinopse?
Boa leitura!



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*Narrado por Gabriela Hopper

Era impossível imaginar como as coisas seriam sem o Josh. Depois de passar tanto tempo com alguém, é difícil se acostumar a viver sem essa pessoa. Era difícil acreditar que ele estava morto. Passamos muito tempo procurando um lugar seguro, e justamente quando estamos protegidos ele morre.

Fiquei sentada lá, chorando por um bom tempo, sem me importar se o homem ainda estava lá. Isso não fazia diferença alguma até que ele se sentou ao meu lado. Continuei imóvel, apenas eu e a minha dor que parecia não ter fim.

– É Gabriela, não é? – ele falou sem desviar os olhos da parede do outro lado. – Meu nome é Rick – ele tentava puxar assunto, mas eu continuei em silêncio. – Eu entendo que você não queira falar com ninguém agora. Eu entendo porque também perdi alguém – enxuguei as lágrimas e olhei para Rick. – Minha esposa morreu depois do nascimento da nossa filha, Judith.

– Eu sinto muito – foi a única coisa que eu pude dizer.

– Aquelas crianças que vieram com vocês, quem são?

– Avery é minha filha. Scott era meu vizinho.

– Quando Lori se foi, eu sabia que precisava ser forte, pelos meus filhos – ele falou. – Eu tive vontade de morrer, mas não podia deixar meus filhos sozinhos. Saber que existe alguém que precisa de você é algo que ajuda a superar a dor.

Por mais que nada diminuiria o meu sofrimento, aquela conversava começava a ficar interessante. Rick havia passado pelo mesmo que eu e sabia como superar esse tipo de perda.

– Eu tenho vontade de atirar de um precipício, me enforcar, me jogar encima daqueles malditos walkers, mas a Ave precisa de mim. Josh se sacrificou para salvá-la. Eu... Eu queria muito que Josh ainda estivesse aqui, mas a minha vida não faria sentido sem a minha garotinha e ela precisa de mim.

– A prisão está aberta para vocês, só precisamos fazer umas perguntas antes. Se quiser mais um tempo, podemos adiar isso.

– Obrigada. Estamos há muito tempo lá fora – ele sorriu e se levantou.

– Se quiser enterrá-lo aqui, é só falar – Rick ofereceu.

Continuei mais alguns minutos pensando em tudo aquilo. Era o melhor que eu poderia fazer, e a minha única opção.

– Eu aceito – respondi e ele saiu.

*Narrado por Avery Hopper

Acordei em um lugar estranho. Eu estava muito tonta e não conseguia ver muita coisa, nem mesmo me lembrar como eu havia parado lá. Eu só me recordava de um grito e uma dor de cabeça terrível.

– Dr. S., eu assumo – um velhinho falou entrando e outro homem saiu. O velhinho se parecia bastante com um Papai Noel de shopping e tinha um sorriso simpático no rosto. – Vejo que a mocinha já acordou.

– Quem é você? – perguntei com a voz sonolenta.

– Meu nome é Hershel, e o seu?

– Avery.

– Posso? – ele apontou para a minha cabeça. Eu assenti com um movimento rápido, que fez tudo girar. Ele passou alguma coisa molhada no canto da minha testa, o que provocou um grande ardor.

– O que aconteceu?

– Você bateu a cabeça no chão com muita força. Isso provocou um corte, mas não é nada grave.

– Não é isso. Onde eu estou? Como eu vim parar aqui? Onde está a minha mãe? – despejei todas as perguntas de uma vez.

– Creio que ela esteja um pouco ocupada no momento, mas logo ela poderá explicar tudo isso – ele falou passando um pano no local do ferimento.

– Você pode chamá-la? – pedi.

– Claro – ele terminou de limpar o meu rosto e saiu.

Olhei para as paredes, para o teto, o colchão, a grade. Eu estava dentro daquela prisão, mas como eu havia chegado lá ainda era um mistério. Pelo menos eu conseguia me sentir mais segura do lado de dentro.

Minha mãe entrou na cela. Ela estava totalmente abatida, seus olhos inchados e vermelhos fitavam o chão, como se ela não quisesse me encarar. Seu rosto era de profunda dor.

– Mãe, está tudo bem? – perguntei e ela se sentou no canto da cama.

– Sim – ela falou com dificuldade.

– Tem certeza? – insisti.

– Como você está? – ela mudou assunto e passou a analisar meu ferimento.

– O que aconteceu? – aquela conversa não tinha foco, mas podíamos entender tudo perfeitamente. – O Scott e o Josh estão bem?

– O Scott está bem, mas ainda não falei com ele.

– E o Josh? – a resposta dela foi muito suspeita.

– Ele... Ele morreu – ela abaixou a cabeça e algumas lágrimas escorreram pelo seu rosto.

– Como? – me levantei.

– Tinha... Tinha um walker atrás de nós. Acho que ia te atacar, mas o Josh te jogou no chão e foi mordido – depois de terminar a fala com dificuldade, e a abracei com força.

Senti uma lágrima em meu rosto, mas não era nada comparado ao choro de minha mãe. Era difícil de acreditar naquilo. Josh era um homem bom, muito bom. Eu sabia como Gabriela o amava e ele era um grande amigo, um protetor para nós e Scott. Era como se todos tivessem um objetivo na vida, o dele foi nos guiar até um local seguro.

– Eu sinto muito – aquilo não era inútil, mas era o que as pessoas diziam. – Como você realmente está?

– Eu estou bem – ela respondeu com a voz chorosa.

No findo, eu tinha certeza absoluta de que ela estava péssima. Eu temia que minha mãe nunca mais voltasse a ser a mesma, não depois de tudo que havíamos passado. Comecei a me perguntar como seria se todos do parque estivessem lá, como estariam felizes.

– Mamãe, você promete que vai ficar bem? – perguntei olhando no fundo de seus olhos.

– Avery, você foi o melhor presente que esse mundo me deu. Eu não vou te perder também – foi a sua resposta.

Eu também não poderia perdê-la. Nem ela, nem Scott, o meu único e melhor amigo dos últimos meses. Eu não queria me sentir sozinha de novo, seria insuportável!

Nesse momento doloroso, ouvi o som de passos. Na porta, um homem alto escorava seu corpo na parede. Gabriela o fitou com atenção por um tempo, até o silêncio ser quebrado.

– Gabriela, estamos começando a cavar a cova. Posso mostrar o local para vocês – ele falou com calma e educação.

Nos levantamos e caminhamos silenciosamente até um local aberto. Era possível ver ao fundo outros mordedores, que já começavam a se amontoar na grade. Chegamos num gramado vazio onde um homem tirava a terra do solo, formando um buraco. Ao lado, o corpo de Josh estava enrolado em um pano branco. Eu não queria tentar imaginar como ele estaria só sabia que seu crânio deveria estar perfurado.

Depois que os dois terminaram de fazer a cova, eles carregaram o cadáver até o local. Minha mãe ficou apenas observando enquanto a terra era colocada de volta no local, fazendo com que o pano branco sumisse dentro daquela imensidão marrom. Eu abraçava minha mãe com força, como se aquilo pudesse diminuir o seu sofrimento. No final, um dos homens veio em nossa direção. Ele era enorme e com grandes olhos castanhos e usava uma toca velha na cabeça.

– Oi, sou Tyreese – ele falou apertando as nossas mãos.

– Eu sou Avery, e essa é Gabriela – respondi rapidamente e ele sorriu.

– Meus pêsames – Tyreese disse antes de se afastar.

Ficamos fitando aquele montinho de terra por um longo tempo. Esse não era um enterro que precisava de palavras, nossos pensamentos já diziam tudo. Com toda a certeza, ele faria uma enorme falta para mim, minha mãe e Scott. Desde que tudo aquilo começou, foram muitas mortes. Charles, que nos fez pensar bastante sobre como morrer; Jake mostrou que fora da cerca tudo era incerto; Kate, mesmo sendo maluca, era uma ótima amiga e foi a pessoa que aproveitou o final sua vida melhor que qualquer um; Josh provou que sacrifícios eram necessários em certo momento, e que era preciso ter coragem para fazer isso por alguém. Também havia os outros, Elias, Molly, Ashley e Emily, cada um contribuindo com uma coisa que parecia pequena, mas que foi capaz de nos ajudar em todos os momentos. Todos tiveram um fim trágico, que nenhum deles merecia.

Josh poderia ter me deixado lá para morrer, mas ele não poderia porque tinha um bom coração, e eu seria eternamente grata por isso. Um simples empurrão mudou nossos destinos, agora só restava saber se meus atos seriam capazes de suprir os dele.

Nesse momento da minha vida, eu não era capaz de me lembrar das pessoas que conhecia antes disso. Meus professores, colegas de classe, amigas... Era como se a minha vida de verdade tivesse começado quando os mortos voltaram à vida, ou pelo menos começaram a andar e morder.

– Ele disse que sempre iria me proteger, mas eu não pude protegê-lo quando Josh mais precisou... – ouvi minha mão sussurrar com dor.

Eu não respondi. O que eu poderia dizer? Que ela fez o que podia? Eu não vi nada! Também não tive uma chance de ajudar, nenhum de nós teve. Se tivesse, Josh poderia estar vivo... Olhei para o chão. Talvez já devêssemos entrar, talvez não fizesse mais sentido continuar lá.

– Mãe, vamos – falei puxando-a. Ela, porém, continuou parada. – Mamãe, precisamos ir. Não podemos ficar aqui para sempre – ela olhou para mim.

– Me desculpe. Vamos – ela colocou as mãos em meus ombros e se virou. – Rick – ela falou quando demos de cara com aquele mesmo homem que juntamente com Tyreese cavou a cova.

– Eu posso levá-las para dentro – Rick disse se virando.

– As perguntas. Pode fazê-las – minha mãe falou seriamente.

– Não precisa fazer isso agora. As perguntas podem esperar até amanhã...

– Faça as perguntas – ela pediu.

Fomos conduzidas até uma sala, onde Scott e algumas pessoas nos aguardavam. Logo elas se apresentaram. Além de Daryl e Hershel, estavam presentes Glenn, um jovem de aparência asiática; Carol, uma mulher que aparentava ter entre 40 e 50 e tinha cabelos muito curtos e grisalhos; e Sasha, uma mulher de aparência séria que usava uma trança.

Eles nos explicaram que havia um Conselho que tomava as decisões por lá. Disseram que eu e Scott não precisávamos responder, minha mãe poderia fazer isso por nós, mas preferimos estar presentes.

– Podemos começar? – Carol perguntou e minha mãe assentiu.

– Quantos walkers vocês já mataram? – Hershel fez a primeira pergunta.

– Nós já perdemos a conta – ela respondeu depois de pensar um pouco. Eu só me lembrava até o vigésimo, depois disso, não senti mais necessidade de contar.

– Quantas pessoas vocês já mataram? – Hershel prosseguiu.

– Nenhuma.

– Por quê? – essa pergunta poderia parecer fácil, mas era necessário pensar muito antes de responder.

– É tudo uma questão de princípios. Não temos o direito de tirar a vida de ninguém – minha mãe respondeu olhando para Scott. – Não tem como eu saber, nunca passei por uma situação em que isso fosse realmente necessário, não sei o que eu faria se precisasse matar alguém. Avery e Scott nunca passaram por isso também.

– Estão dispensados – Sasha falou e nós saímos.

Depois de uns minutos, chegou a notícia que esperávamos. Nós poderíamos ficar lá. Eu queria conseguir ficar feliz, mas não dava. Era impossível não pensar em Josh, qual seria a reação dele. Como Josh teria respondido as perguntas?

O lado bom de tudo isso era que finalmente tínhamos um lugar seguro. A Prisão era o nosso novo lar, e não havia mais preocupação em fugir de manadas ou de maníacos.

Scott foi visitar o túmulo de Josh enquanto Glenn nos mostrava as nossas celas. Eu e minha mãe ficávamos na mesma cela, e Scott ficava em uma ao nosso lado.

Naquele lugar havia muitas pessoas, tantas que parecia quase impossível conhecê-las, então deixei essa tarefa para depois. Naquele momento, eu queria conversar com quem eu já conhecia.

– Como você está Scott? – perguntei quando ele voltou.

– Sei lá... Acho que estou bem.

– Onde você estava?

– Me levaram para uma biblioteca com umas crianças, a Carol leu uma história pra a gente – ele fez uma pausa e suspirou. – Era como se eu voltasse a ser uma criança normal.

– Você tem 10 anos ainda é criança! – falei. – Foi legal, não foi?

– No começo foi estranho, mas depois ficou tudo normal.

– É, acho que você vai ter que se acostumar com isso. Eu também.

– Você acha que esse lugar é seguro? – Scott mudou de assunto.

– Claro que sim! Só vai levar um tempo pra gente se adaptar.

– Tudo bem. Vou arrumar as minhas coisas. Você precisa descansar, e a Gabriela também – Scott falou e entrou em sua cela.

Entrei na cela, onde havia um beliche. Subi na cama de cima e fiquei sentada. Na cama de baixo, minha mãe continuava como antes. Ela estava mal, muito mal, mas um dia isso iria passar, eu tinha certeza.


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Notas finais do capítulo

Continuem comentando! Até o próximo capítulo!