Born to Die escrita por Agatha, Amélia


Capítulo 21
História de um errante - Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Essa é a história do, ou melhor, da errante que mordeu o Josh no capítulo anterior. Ele foi praticamente escrito em um dia, então esperamos que esteja bom.
Fizemos umas mudanças que não comprometem a história, mas a partir de agora, todo capítulo "História de um errante" terá uma frase na Morte.
Boa leitura!



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*Narrado por Pamela Campbell

A espera por meu irmão estava se tornando imensamente cansativa, eu não entendia porque tinha que ficar na espera dentro do carro. Segundo Paul, meu irmão, era para evitar que alguém roubasse nosso carro, mas eu duvidava disso. Era praticamente impossível encontrar um sobrevivente por aí. O fato era que desde que essa porcaria toda começou, Paul passou a me proteger e se tornar responsável, sendo o filho que papai se orgulharia. Era uma pena que e ele e mamãe estivessem mortos, vagando por esse enorme país.

Mas com a responsabilidade veio a chatice também, tudo que eu fazia ele implicava. Ele dizia que eu não havia me acostumado com o novo mundo, que eu me comportava com uma criança. Mas tudo isso não passava de perspectiva, saber que a morte batia a porta era como um aviso: aproveite enquanto pode.

Aproveitar. Isso era uma coisa que eu queria muito fazer e não seria Paul, meu irmão mais velho por poucos minutos, que atrapalharia meus últimos momentos na Terra. O ponto crucial nessa história toda era que os momentos viraram dias e os dias, messes.

Já estávamos sobrevivendo há meses seguidos em um acampamento improvisado no meio da mata. Vivíamos em várias barracas, éramos dezoito ao todo. Nosso grupo já foi muito maior, porém sete dos nossos foram buscar armas e mantimentos e nunca mais voltaram, depois desse acontecimento Paul e Eliot se tornaram “líderes” para o grupo.

Meu irmão gêmeo se aproximou do carro me tirando dos meus pensamentos, ele estava com duas sacolas um tanto cheias e um engradado que eu notei ser de cerveja. Ele entrou na caminhonete vermelha com um sorriso no rosto.

– Parece que tiramos a sorte grande! – falei olhando para as sacolas e o engradado que ele havia trago. – Você trouxe até cerveja!

– Pamela, não estamos em uma colônia de férias ou acampamento de verão – ele disse serio. – Podemos morrer a qualquer momento e você pensa em bebida!

– Lá vem você de novo com essa história! – protestei cruzando os braços. – Então para que trouxe a cerveja?

– Óbvio que para o Bob! – ele exclamou visivelmente irritado, mas eu não mudei minha postura. – A bebida do Bob acabou e ele está tão louco por álcool que eu já o vi bebendo enxaguante bocal. Não vou deixar você beber para ficar viciada que nem ele!

– Querendo me proteger, mas e o Bob? Você está dando álcool para ele! Está alimentando o vicio dele!

– Você nem se importa com ele! Só quer beber!

– Como se você se importasse com o Bob!

– Eu me importo com todos naquele lugar – disse ele exaltado. – E é para o bem de todos que faço isso! Sem álcool o Bob fica louco e pode ameaçar o nosso grupo!

– Claro, o líder do grupo se preocupando com o bem comum...

– Chega! – ele exclamou me interrompendo e pondo fim a discussão.

Revirei os olhos, mas não consegui fazer isso direito porque Paul me encarou severamente.

Liguei o carro e comecei a dirigir. O caminho de volta para o acampamento foi silencioso. Era engraçado como agora eu e ele nos desentendíamos tão facilmente. Eu e Paul sempre fomos inseparáveis, mas na adolescência nosso vínculo aumentou. Com uns 15 anos começamos a nos enturmar com um grupo de garotos, matávamos aulas e ficávamos em bares bebendo quase que o tempo todo. Foi com eles que meu irmão aprendeu a dirigir e começou a participar de rachas, principalmente com, motos que eram sua paixão.

Nunca chegamos a usar drogas, mas logo nossos pais começaram a notar, segundo eles, as más companhias. Ficamos messes de castigo e jurarmos nunca mais nos encontrar com aquele grupo. Não quebramos a promessa, mas não falamos nada sobre beber. Aquele fora o ano mais feliz da minha vida. Os três anos seguintes não eram com a mesma adrenalina do ano anterior, depois desse período sem graça o apocalipse começou.

De início, nosso pai nos manteve em casa e não tínhamos quase nenhuma preocupação, apenas procurar alguma estação de rádio que nos pudesse dar informações. Mas é claro que depois que as pilhas e a comida começaram acabar meu pai e Paul foram pegar mais. Eles não tiveram muita sorte e papai foi pego, quando nossa mãe recebeu a notícia teve um infarto e também faleceu.

Desde então estão estávamos só eu e ele nesse mundo devastado. Eliot, um homem de quase 40 anos, nos levou para seu acampamento. Havia três crianças irritantes, que eram filhos do nosso “líder”; Meredith, uma garota de 17 anos que havia se tornado minha única companhia; Bob, o bêbado; e outras dez pessoas que eu não pretendia conhecer. Esse era nosso divertidíssimo acampamento no meio da mata.

O carro reduziu a velocidade e parou na clareira onde nossas barracas amarelas se encontravam. Todos nos esperavam com ansiedade. Da última vez que um grupo fora buscar comida nunca mais voltaram.

– Que bom que voltaram! – Eliot falou.

– Nossa, quando otimismo! – ironizei.

Paul e Eliot foram para um canto arrumar tudo que havíamos trazido. Entrei em uma barraca próxima à minha, onde Meredith lixava as unhas.

– O que foi? – ela perguntou voltando sua atenção para mim.

– O Paul, de novo! Ele está cada vez mais chato.

– Ele só quer cuidar de você. Coisa de irmão mais velho – ela tentou defendê-lo.

– Meredith, nós somos gêmeos! Ele só quer parecer mais velho que eu. Eu queria meu irmão de volta, mas isso parece meio impossível. O que eu tenho que fazer para ele parar de me tratar como uma criança?

– E se você estivesse agindo como uma criança? – ela perguntou com cuidado.

– Até você!? Sinceramente, até você está ficando careta? Eu preciso sair desse lugar! – falei me levantando. Eu não aguentava mais ninguém naquele lugar, todos pareciam estar contra mim. Eu até poderia pensar que estava na idade de me sentir deslocada e contrariada por todos, mas eu já tinha 18 anos e essa fase já havia passado.

Andei até um local afastado do acampamento. Apesar da distância, eu podia ver as crianças brincando de pega-pega e, mais ao fundo, Paul e Eliot conversando. Fui caminhando com as mãos nos bolsos do casaco enquanto observava a terra. Atrás de mim, meus passos formavam figuras quase invisíveis na terra marrom e um pouco molhada.

Eu queria poder ir embora daquele lugar, ficar longe daquelas pessoas, mas eu dependia do acampamento e, infelizmente, do meu irmão. Enquanto eu pensava nessas coisas que me deixavam mais pra baixo, vi algo no acampamento. Cheguei a ouvir gritos.

Um bolo de walkers se movimentava desordenadamente até as barracas enquanto as pessoas não sabiam o que fazer.

Corri até o meu carro. Quando eu e Paul completamos 18 anos, eu ganhei o carro, e ele, uma moto. Quando entrei no veículo, a manada já estava dentro do acampamento, enquanto as crianças gritavam desesperadamente e algumas pessoas corriam. Liguei o carro e fiquei esperando por Paul.

Eu o vi saindo de uma barraca, mas Paul não olhou para o carro. Apertei a buzina com força, ciente de que aquilo atrairia os errantes. Alguns vieram em minha direção, mas outros continuavam no chão, devorando algumas pessoas. Logo a porta se abriu e meu irmão entrou.

– Não podemos fazer nada – falei ao notar sua expressão derrotada.

– Eu sei. Vamos – ele disse e eu pisei no acelerador.

Antes que pudéssemos percorrer poucos metros, algo ou alguém entrou na frente. Só freei quando percebi que não era um mordedor, era o Bob. Destravei a porta e ele entrou.

– Para onde vamos? – ele perguntou depois de colocar o cinto de segurança.

– Vamos encontrar algum lugar – Paul respondeu sério.

Depois de alguns minutos silenciosos no carro, avistamos outra manada. Essa fazia a primeira parecer um simples grupo. Torci para que eles não nos notassem, mas já era tarde de mais.

– Dá ré! – meu irmão gritou e eu derrapei o carro.

Quando consegui fazer o carro acelerar novamente, eles já estavam muito perto, alguns tocavam a traseira do carro. Acelerei olhando para trás, observando os caminhantes se afastarem.

– Pamela! – ouvi Bob gritar, mas quando me virei para frente já era tarde de mais.

Tentei frear a tempo, mas era impossível. O carro se chocou contra uma árvore. Por um longo tempo, foi como se o mundo estivesse girando em alta velocidade. Quando recuperei a minha percepção, a primeira coisa que fiz foi ver como Paul estava.

Na verdade, ele não estava no carro. O para-brisas estava quebrado, com um enorme buraco em frente ao banco do passageiro. Tentei me mover, mas não consegui. Com muito esforço pude olhar para fora do carro. Ele estava destruído na frente e, ao lado da árvore, o corpo de meu irmão estava imóvel. Ao seu lado, Bob parecia checar se ele respirava.

Consegui levar minha mão à cabeça. Ela estava molhada, muito molhada. No volante havia uma enorme mancha vermelha, o meu sangue. Comecei a chorar, o que me deu uma sensação marteladas no cérebro.

– Eu sinto muito – ouvi uma voz. Bob colocou a mão em meu ombro pela janela.

Essas palavras aumentaram o meu desespero. Eu odiava Paul, mas não era um ódio de odiar de verdade, era um ódio de irmão, misturado com amor. Por mais que eu quisesse não precisar dele, eu não sabia o que fazer sozinha.

– Você vai ficar bem – Bob falou num tom preocupado. Senti o sangue escorrendo pelo meu rosto.

– Não, eu não vou – falei com dificuldade para aceitar aquilo. – Quanto sangue eu perdi?

–... Muito – ele falou analisando a pequena poça de sangue que se formou no canto do banco.

– Bob, a manada vai chegar logo.

– Eu vou ficar com você – ele insistiu.

– Vá – falei sentindo a tontura chegar. – Eu não preciso de ajuda para morrer e não quero que você veja isso.

Ele abaixou a cabeça e eu pude ver um pequeno sorriso para tentar me passar confiança. Ele tentou dizer algo parecido com “Adeus”. Seus lábios se moveram, mas ele não emitiu som algum. Ele se virou com relutância e começou a se afastar. Antes de sumir totalmente no horizonte, pude vê-lo se virar cinco vezes.

Abri a porta com dificuldade e fiz força para sair do carro. Caí no chão na pior posição possível, provocando uma enorme dor na minha perna esquerda. Gastei minhas últimas energias me arrastando até o local onde Paul estava. A única coisa que eu poderia fazer para tornar meu fim menos pior era morrer ao lado da pessoa que nasceu junto comigo.

Posicionei-me de frente para meu irmão morto e dei um fraco sorriso. Fechei os olhos e comecei a chorar até não conseguir mais. Senti a morte se aproximando como um vulto. Era como se eu estivesse com sono, mas sabia que não iria abrir os olhos nunca mais.

– Adeus – sussurrei com dificuldade.

Eu poderia tentar lutar inutilmente contra o que estava acontecendo, mas eu sabia que um dia isso iria acontecer e não fazia mais sentido continuar. No final das contas, aquilo não doía tanto, já que eu quase não podia sentir meu corpo. Minha respiração foi ficando mais pesada. Em certo momento, ela diminuiu o ritmo até parar. Era doloroso, mas eu estava aceitando a morte.

Não sou violenta.

Não sou maldosa.

Sou um resultado.

– Morte, “A Menina que Roubava Livros”


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo voltaremos para ver Gabriela, Avery e Scott na Prisão. Esperamos que tenham gostado!
Paul Campbell: http://1.bp.blogspot.com/-MiuX4ID69PA/TV8JoeJzOCI/AAAAAAAAAEc/BDv3oFeR4SA/s1600/Taylor-Lautner-2010-photoshoot-taylor-lautner-12614813-266-400.jpg
A parte 3 virá no capítulo 27. Aguardando suposições.
Até quinta!