Born to Die escrita por Agatha, Amélia


Capítulo 11
...Mesmo assim não desistimos de lutar


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo para vocês, queremos agradecer aos comentários que recebemos!
Já assistimos o novo episódio de TWD (só que em inglês). Se alguém viu, gostaríamos da opinião de vocês.



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*Narrado por Gabriela Hopper

Eu estava ao lado de Josh enquanto Charles, que eu considerava um sábio apesar de sempre estar bêbado, tirava a própria vida sem muita explicação. Na verdade, nunca compreendi a lógica dos suicídios.

Olhei para o lado e vi Elias, que inicialmente obstruía a visão de Scott, mas agora o abraçava. Do outro lado, pude ver Avery perplexa. Entendi que ela esteve lá quando Charles disse suas palavras finais e viu sua morte. Em seus olhos, pude ver o quanto ela estava confusa. Não era como se ela não quisesse que eu a visse, ela só não sabia o que fazer. Dei um passo em sua direção, mas ela saiu correndo e eu a segui.

Ela percebeu que eu estava perto e começou a correr mais rápido, inicialmente sem rumo. Resolvi parar um pouco e dar um tempo a Avery. Fui andando vagarosamente enquanto pensava sobre o que deveria dizer a ela.

Quando cheguei no mirante, me deparei com ela sentada na beira, em cima de umas pedras baixas. De vez em quando ela olhava para o céu, voltava a olhar para os seus pés, jogava pedras nas árvores.

Me sentei ao seu lado e ficamos em silêncio por um bom tempo até que ela olhou para mim e começou a falar.

– Você acha que nascemos para morrer? – demorei um tempo para pensar na resposta.

– Desde sempre, todos sabiam disso. Depois de nascer, a única certeza que temos é de morrer um dia, mesmo assim não desistimos de lutar.

– E vale a pena lutar agora? – a intenção de Charles ao fazer aquele discurso era fazer as pessoas pensarem sobre isso, e Avery entendeu o que ele quis dizer.

– Eu tenho pelo que lutar. Tenho você, o Josh e todos aqui no parque. Você quer lutar pela sua vida?

– Eu não quero morrer, só isso. Não quero morrer como Charles, mas também não quero morrer como os meus pais – ela pensou um pouco e continuou. – Eu sei que não é pra levar a sério o que ele falou, mas acabamos de descobrir que estamos sozinhos agora. E se isso não acabar nunca?

– Você tem a mim, e eu vou cuidar de você – abracei-a.

– Eu estou com medo.

– Não precisa ter medo. Além disso, você pode imaginar que estamos em um daqueles filmes de terror com mortos-vivos.

– Quando eu falei disso pros meus pais eles ficaram com raiva – ela fez uma careta.

– Que eu me lembre hoje cedo você estava toda animada pra aprender a se defender.

– Você ainda vai me proteger?

– Claro! Agora vamos caminhar um pouco.

– Mas você odeia caminhar!

– Caminhar ajuda a pensar – suspirei desanimada, eu realmente odiava isso.

– Você ainda não me disse como achou o Scott – ela falou enquanto andávamos pela trilha e olhava para os seus tênis, que antes, quando nos conhecemos eram num tom rosa bebê e agora possuíam um tom bem desbotado e estavam sujos.

– Ele era filho do meu vizinho, aquele que minha mãe queria jogar pra cima de mim. O Scott a conhecia, e eu nunca soube disso. Estava passando perto da minha casa e ouvi uns gritos. Ele estava sendo atacado por um walker.

– Parece que ele não gosta de matar os mordedores. Ele me disse que pode haver uma cura, acha que eles são doentes. E disse que o Senhor – ela fez uma voz engraçada – quis isso.

– E você vai respeitar a crença dele.

– É – ela falou e nós chegamos à região protegida pela cerca.

Quase todos estavam na mesma posição de antes, um tanto chocados com o que tinha acontecido. O corpo ainda estava imóvel no centro. Scott conversava com Molly e Elias e tentava compreender aquela situação.

–O que vamos fazer? – perguntei.

– Enterrá-lo – Josh respondeu. – Ele era um dos nossos, fazia parte do grupo. Enterrá-lo é o mínimo a se fazer. Eu e Jacob vamos fazer isso, mas Molly e Elias disseram que deveríamos fazer um funeral, sabe para não perder os costumes.

–Acho que deveríamos fazer isso – falei.

–Bem, Emily foi fazer o almoço, os alimentos estão acabando, mas ainda dá para fazer uma refeição decente. Ashley foi ajudá-la, se você e a Avery quiserem ir também. Não há muito que se fazer aqui...

–Não sei se sou muito útil na cozinha, Avery você quer ajudar? – perguntei me voltando para ela.

–Tudo bem – ela falou desanimada.

De repente começamos a escutar grunhidos. Todos ficaram em posição de alerta, Avery sussurrou a palavra “walker”, confirmando minhas suspeitas sobre o barulho. Olhei para todos os lados a procura do mordedor que deveria ter passado pelo que ainda não estava cercado, porém não vi nada.

Os ruídos inelegíveis persistiam. Kate deu um berro e apontou para o corpo de Charles que vagarosamente se levantava, ele virou a face para onde ouvira o grito e pude ver seu rosto deformado como o de um errante. Aquilo não fazia sentido...

–Meu Deus, ele virou um deles! – Jack exclamou.

–Como... Como isso é possível? – Avery falou tirando as palavras que não conseguiram sair da minha boca pelo meu estado de choque.

–Eu não sei – Josh disse bastante confuso.

Charles, ou melhor, o que restou dele começou a caminhar na direção de Kate com a faca ainda cravada em seu peito. Todos ficaram parados, até o walker se aproximar e estender os braços para agarrar a garota. Josh se antecipou puxando a faca do peito de “Charles” e cravando em sua cabeça, fazendo o errante cair para trás.

–Obrigada, mano! – Kate agradeceu ofegante.

Depois do agradecimento todos ficaram silenciosos e pensativos. Aquilo não fazia sentido, para ninguém aqui. Charles não havia sido mordido, como ele havia voltado como uma daquelas aberrações?

– O que isso significa? – perguntei confusa.

– Pode ser que já estamos infectados. Quando morrermos será igual. – Josh raciocinou

– Como assim? – Jacob perguntou.

– Uma vez eu comparei isso à peste negra, ambas são doenças, isso nós temos certeza. A diferença é que não sabemos muito sobre esta. É como se fosse um vírus inativo no nosso corpo, que só se manifesta nos mortos. É a única explicação que encontrei até agora.

*Narrado por Avery Dickens

Depois de ouvir aquilo, senti que não podia morrer de forma alguma. Antes eu só não queria virar refeição de caminhante, mas qualquer morte poderia me levar a aquilo. Era como se o mundo estivesse tão caótico que era proibido morrer, ou você mataria sem saber como um deles.

Para diminuir a tensão, Josh e Jacob começaram a cavar a sepultura de Charles, nas proximidades do lago. Enquanto isso, nós fomos almoçar, ou pelo menos tentar almoçar.

Ninguém conseguia pensar em comida, ficaram todos em silêncio sentados nas mesas, se entreolhando como se não quisessem acreditar naquilo. Primeiro descobrimos que estávamos sozinhos, então um dos nossos se mata na frente de todos como se fosse um show de rock bem pesado e depois volta dos mortos, comprovando que basta morrer para se juntar aos errantes que vagam por aí em busca de carne.

Enquanto os mais velhos se esforçavam para dar a Charles um enterro decente, eu e Scott nos sentamos na beira do lago.

– Você disse que não gosta que matem os “doentes”, mas não tentou impedir Josh de fazer isso – falei.

– Depois daquela mensagem do rádio, pode ser que não tenha mais ninguém atrás de uma cura, estamos sozinhos. Matá-los é como dar um descanso a suas pobres almas. Mas não quero ter que fazer isso, só se for necessário.

– Você sente falta do seu pai?

– Muito. Rezo todas as noites por ele. E você?

– Sinto mais a falta da minha mãe, meu pai não era o tipo de cara que ganhava o prêmio de melhor pai do ano. Ele achava que não era o meu pai. Mesmo assim, eu gostaria que ele estivesse aqui.

– Minha mãe foi embora quando eu tinha 5 anos. Fico pensando se ela pode estar bem. Se eu ao menos soubesse onde ela está...

– Bem... Sinto muito – eu não sabia o que dizer para ele. – E eu reclamava porque meus pais não me davam atenção... Talvez eu tivesse razão, talvez não.

– Nunca reclamei disso. Sei que existem pessoas numa situação pior que a minha. Com isso tudo, devem ter muitas pessoas sem casa, sem comida, com frio, desprotegidas... – ele fez uma voz dramática sem querer.

– Para! – agitei os braços. – Tá fazendo eu me sentir péssima! Pareço uma pessoa que tem tudo e quer sempre mais.

– E você é? – ele me fez pensar um pouco.

– Não! Eu tinha muitos bens materiais, muito mais que outras pessoas, mas eu nunca liguei muito para aquilo – exceto o meu MP3 -, eu só queria mais atenção dos meus pais. Queria saber se eles me amavam de verdade. Por que estou falando isso com você? – perguntei e ele encolheu os ombros. – Olha só pra você! Tem 10 anos e, se pudesse, estaria na África, na Tailândia ou no Haiti salvando pessoas. O que você quer ser quando crescer? Padre? As pessoas que pensam de mais nos outros têm que pensar um pouco em si mesmas.

– Por que você pensa isso? – era filosofia de mais para mim.

– Talvez existam pessoas que se preocupam com você. Se não quiser pensar em si mesmo, pense nessas pessoas, o quanto ela se importam com você – ele fez um gesto para que eu continuasse. – Por que não aprende a se defender? O que faria se encontrasse uma pessoa sozinha, cercada por walkers?

– Tentaria salvá-la de qualquer forma.

– Pedindo gentilmente para que o mordedor não devorasse a pessoa?

– Eu me viro. Pensei que estivéssemos falando sobre você – ele mudou de assunto.

– Estamos falando sobre nossas atitudes! – protestei.

– O que você faria se...

– Sem situações! Isso é complicado! – cortei ele antes que me enlouquecesse.

– Vamos lá. Acho que está tudo pronto – ele se levantou e me puxou.

– Nunca fui num enterro antes – falei enquanto caminhávamos. – Nem nos dos meus avós, mesmo que eu queria ter ido me despedir.

– Para tudo tem uma primeira vez – ele filosofou.

Nos dividimos o redor de um monte de terra com uma cruz com o nome “Charles Watson”, que sinalizava a localização do corpo. Segurei minhas mãos e fixei o olhar na cruz. Todos aguardavam em silêncio que alguém tomasse a iniciativa. Os ventos de outono bagunçavam os meus cabelos e gelavam o meu rosto.

– Eu... – Gabriela deu um passo a frente e começou a falar. – Não pude conhecê-lo muito bem, mas eu queria – ela arrumou seu cabelo, que estava um pouco bagunçado por causa do vento. – Só sei que Charles era um homem sábio, que nos ajudou muitas vezes, com seus pensamentos e ideias. Ele era o mais experiente entre nós e com certeza fará muita falta, mas aquele homem havia morrido antes dele, no momento em que ouviu aquela mensagem.

– Acho que todos aqui já perdemos pessoas importantes, sabemos como lidar com isso. Se estivesse aqui, Charles diria que precisamos seguir em frente. Desde que isso começou, ele sempre foi a mente do grupo, não sou muito bom falando dessas coisas – Josh acrescentou. – Só sei que vou sentir muito a falta dele, eu nunca me esquecerei do que Charles fez por mim, expondo seus pensamentos e me ajudando sempre que precisei.

– Agora ele está em um lugar melhor – Scott completou. – O Senhor deve perdoar seu último ato e deixá-lo descansar em paz – depois que ele terminou, os outros foram falando algumas palavras de despedida, mas eu não dei muita atenção, estava pensando em muitas coisas ao mesmo tempo.

Paz. Era isso que eu queria, todos nós queríamos. Charles deveria estar visando isso quando se esfaqueou e era o que ele estava tendo agora.


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Notas finais do capítulo

Dessa vez não conseguimos colocar um gif, mas essa foto é do parque de verdade (sim, ele existe).
Esperamos que tenham gostado, o próximo será postado essa semana mesmo!



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