Era mais uma de suas noites mal dormidas, e o sentimento de vazio se apossava cada vez mais de seu peito, não sabia mais o quanto seria capaz de suportar. A dor era demais para sozinho suportá-la, e não via ânimo algum em nada que fazia para ocupar a mente.

Era inacreditável até de pensar, mas ele, Shadow, estava depressivo. Não sabia o que fazer, ou se havia algo para ser feito, apenas vivia rastejando em seu âmago. Abandonara a G.U.N por conselho do próprio comandante, que fora incrivelmente condescendente para com ele, lhe liberando de um local em que ele seria praticamente inútil no estado emocional em que estava.

Não recebia visitas, se escondia de seus aliados, há muito não sentia o calor do sol sobre a face ou até mesmo a brisa que geralmente se faz presente no final da tarde. Apenas ficava deitado, encolhido entre cobertores e travesseiros, sentindo um frio irreal, apenas emocional.

Muitas vezes se repreendia, dizendo para si mesmo que era irracional ele estar naquele estado, mas não sabia como ou o porquê de estar assim, apenas sentia e se entristecia. Seus motivos eram estranhos para si mesmo, não entendia a si mesmo, por que Shadow, a Ultimate Life Form estava encolhido e chorando em um quarto frio e vazio? Ele só queria não ter existido, desejava morrer ou simplesmente sumir da face da Terra, sem deixar rastros ou lembranças para os que lhe conheceram.

Ouvira a porta de sua casa bater e se encolheu, emudecido pelo tremor, não cogitou em sequer se levantar para atender quem é que foste, nem para dizer para que não atormentasse. Não tinha energia para tal.

– Shadow, abra a porta! Sei que está ai dentro! – Ouvira a voz que menos esperava soar da porta. Definitivamente não tinha humor para recebê-lo, seu rival de pelo azul. Preferiu ignorar, e cobriu a cabeça com os cobertores.

– Shadow, abra a porta, senão a abro a força! – Voltou a insistir o ouriço azul, Shadow apenas se encolheu mais.

Com um suspiro, Sonic colocara a mão na maçaneta, e a girou, e como que atendendo seus clamores, a porta de madeira se abrira, estava destrancada, Shadow esquecera de trancá-la e isso soou como um alerta na mente de Sonic, que já não antes estava preocupado pelo isolamento do negro ouriço, agora estava bastante alarmando.

Andara tentando fazer o mínimo ruído possível, enquanto olhava desaprovador para a enorme bagunça que estava nos corredores e sala, todo cômodo em que passava via bagunça e desleixo. Até que enfim chegara ao seu destino, ao quarto de Shadow, também não estava trancado, mas no fundo, desejava que estivesse.

Abriu a porta vagarosamente, tomando o cuidado para não assustá-lo, e estancou na porta com a imagem que vira, visíveis escuras olheiras estava sob os olhos escarlates do outro e seu corpo demonstrava uma fraqueza doentia, não conseguia acreditar que este em sua frente era o Shadow de outrora, tão vívido e forte.

– Meu Deus, Shadow! – Correu ao seu encontro, tirando as camadas grossas de cobertores e vendo seu corpo melhor, estava beirando a desnutrição.

Vasculhou a bolsa que trazia e tirou de lá um de seus chili dogs favoritos, estendendo na direção de Shadow.

– Tome, você precisa se alimentar. – Disse com um de seus típicos sorrisos e piscando de uma forma amigável.

– Não – fora interrompido pelo som de seu estomago, o cheiro do chili dog o havia incomodado e o deixado faminto. Pegou o alimento das mãos de Sonic com ferocidade, comendo-o voraz.

Sonic apenas sorriu, vendo o antes controlado e frio Shadow se comportando como um animal faminto, se sujando no ato de saciar a fome. Tirou mais alguns de sua bolsa e os entregou para ele, não se importando em dividir com alguém que urgentemente necessitava.

– Vá devagar, Shadow, pode passar mal. – Advertiu com a voz calma, recebendo um grunhido em resposta.

Sonic apenas via Shadow se alimentar, sorrindo de uma forma terna, e se aproximou quando o mesmo terminara de digerir, se sujando pelo desejo de saciar a fome, com um lenço, e se aproximara dele e deliberadamente e cuidadosamente limpava seu rosto, deixando o ouriço negro um tanto atônico e constrangido.

Sonic então feito sua tarefa, se ajeitara para sair, sua bolsa estava arrumada, e já estava a sair do quarto quando ouvira o ruído da cama e o som de passos em sua direção, virou-se a tempo de segurar o corpo de Shadow, antes que o mesmo, ainda fraco, atingisse o piso de madeira gélido.

– Cuidado, calma... – tocou suas costas, delicadamente, receando machucá-lo e o sentiu apertar-lo com a força, chorando em seguida, com soluços ruidosos de dor.

– Não chore... – murmurou a retribuir o abraço e confortá-lo em seus braços.