Minha escrita por danaandme


Capítulo 18
Welcome to Lima


Notas iniciais do capítulo

Todo mundo teve um bom Natal? Ou Hanukkah? De qualquer maneira, muito amor para todos vocês e Feliz Festas! :)



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CAPÍTULO 18 – WELCOME TO LIMA

Ding, ding, ding, ding. Ding-ding-ding-ding-ding-ding.

“Bom dia, McKinley High. Primeiro, um informe especial para todos aqueles que fazem parte do clube Otaku, que motivados por algum transtorno psicocultural que desconheço, resolveram encher minha sala com chocolates na última sexta-feira. Saibam que em nome da casa de repouso de Lima, agradeço pela generosa contribuição do mais eficiente laxante já utilizado pelo homem em forma de chocolate de terceira. Podem ter certeza que vou dedicar o resto do ano letivo para demonstrar minha gratidão a cada um de vocês. Muito bem, agora é hora de anunciar o início da semana mais inútil de todo ano letivo; A semana de comemoração a música. E é com extrema relutância que anúncio que o Glee Clube estará em plena atividade, profanando todos os ambientes dessa instituição de ensino, com vários números que com certeza, causarão ânsia de vômito em todos nós, da mesma maneira que a quantidade absurda de gel no cabelo de William Schuester me faz regurgitar meu café da manhã todos os dias. Então eu espero que todos estejam preparados para toda uma semana repleta de clássicos da Broadway, que vocês nunca ouviram na vida, e para insuportáveis baladas românticas dos anos 80. Sem mais anúncios para o momento. Bom início de semana a todos.”

Ding, ding, ding, ding. Ding-ding-ding-ding-ding-ding.

Quinn cruzou os braços sobre o peito, com um sorriso torto no rosto. Sua visão periférica captou alguns alunos com camisas de motivo j-pop correndo apavorados em direção aos banheiros.

“É como voltar no tempo.”

“Nem brinque. Só de pensar que eu deveria estar ralando no campo a essa hora, já fico nervosa.”, resmungou Santana.

Quinn mal acreditava que ela tinha voltado. Mas, apesar daqueles corredores serem tão familiares, ela não se sentia mais parte dali. As lembranças há muito enterradas de sua adolescência pareciam se materializar à sua frente, passeando em suas formas translucidas tais quais fantasmas há muito esquecidos. Ela podia ver claramente a orgulhosa Head Cheerio fazendo todo corpo discente da McKinley High se partir abrindo passagem para ela, tal qual um Mar Vermelho humano, enquanto ela caminhava imponente através deles, com as mãos na cintura, queixo erguido, olhar superior e um sorriso predador no rosto.

“Terra para Quinn? Você ainda está conosco, Fabray?”, Santana estalou os dedos na frente do rosto da amiga, chamando sua atenção.

A loira piscou várias vezes, um tanto atordoada. “É. Estou. É que... é tudo um pouco demais. Só isso.”

Santana a observou atentamente por um momento. “Q, eu já posso até ouvir essas minhoquinhas começando a comer esse seu cerebrozinho, que Deus durante todos esses anos manteve milagrosamente livre de cisticercose. Por isso eu só vou falar uma vez, então preste bem atenção; o ontem é história, o amanhã é mistério, mas o hoje é uma dádiva. Por isso nós o chamamos de presente. Então pode parar de encher essa sua cabecinha de lembranças depressivas e aproveite o fato de você está de volta para mostrar a toda essa cidade o quanto você já superou toda aquela hipocrisia de merda que atiraram na sua cara, okay?”

Quinn franziu o cenho. Não que as palavras da amiga apagassem toda a dor em forma de lembranças, que ameaçava voltar com força total e destruir seu coração, mas a maneira de como Santana a compreendeu no mesmo instante, tentando aliviar a pressão a tranquilizou por um momento.

“Britt fez você assistir Kung Fu Panda de novo?”, ela perguntou com um sorriso.

“Ah, cala a boca. Eu gosto do mestre tartaruga. Ele sabe das coisas.”, ela deu um cutucão na amiga. Elas caminhavam pelos corredores já vazios em direção a diretoria, na esperança de cruzarem com Mr. Schue antes de terem que lidar com a então Diretora Sylvester.

“Ei, não que seja da minha conta, mas cadê sua anã de bolso?”

“Rachel. O nome dela é Rachel, Santana. Quando você vai aprender?”

“No dia que ela crescer.”, Santana respondeu com um sorriso gozador, fazendo Quinn revirar os olhos.

“Ela ficou no hotel. O assistente pessoal e aprendiz dela, Tony, teve uma emergência familiar e precisou voltar para Índia. Ele finalmente deu notícias hoje de manhã, e Rachel está numa conferência por Skype com ele e os pais dela.”, disse dando de ombros.

“Entediante.”, Santana parou na porta da diretoria e deu uma espiadinha. “E aí? Pronta para voltar no tempo?”

Quinn suspirou resignada. “Temos alternativas?”

“FABRAY! LOPEZ! Sutileza nunca foi o forte de nenhuma de vocês duas. Agora tragam essas suas bundas inúteis até aqui. Eu não eduquei vocês para agirem feito duas idiotas!”

As duas ex-cheerios estremeceram ao tom de ameaça de sua antiga treinadora, e quase atropelaram a secretária na presa de entrar no escritório.

“Sim, treinadora.”, responderam em coro.

...

COUNTRY INN & SUITES – 8:15 AM

“Você tem certeza disso?”, perguntou o rapaz com um olhar triste.

A pequena morena se encostou no balcão da recepção do hotel e olhou mais uma vez para seu namorado.

“Finn, eu já disse que é melhor assim. Kurt e o noivo dele já estão no quarto de hóspedes por causa da reforma, e além disso, seus pais tem o bebê para dar atenção. Eu vou ficar perfeitamente bem num hotel.”

“Eu sei, mas...”

Ela o calou colocando o dedo indicador sobre os lábios dele.

“Finn. Nós já falamos sobre isso. A minha decisão de vir com você foi de última hora, e eu não quero incomodar. Além disso, não vou me sentir bem ficando no seu quarto na casa dos seus pais. Você sabe muito bem como eu sou, e você deve lembrar muito bem de como as coisas aconteceram na casa dos meus pais, huh?”

Finn deu um sorriso torto. “É... aquele sofá era pequeno. E duro.”

“Isso porque você apareceu sem avisar. E tenho certeza que você preferiu o sofá a dividir a cama com meu primo Ronald.”, ela disse rindo do jeito que ele corou, lembrando das duas opções que sua mãe havia dado ao rapaz, ‘Sofá-cama na sala ou dividir a cama com Ronald, que apesar de já ter dez anos, ainda fazia xixi enquanto dormia.’

Eles já estavam tendo essa conversa desde o instante em que chegaram em Lima e ficaram sabendo que Kurt e seu noivo Blaine, haviam decidido voltar atrás na decisão de não comparecerem a reunião do Glee. O problema era que até então Finn não havia dito a seus pais que Michele havia aceitado seu convite para passar a semana junto com ele.

Depois que Finn literalmente, apareceu do nada na casa dos pais da morena, no final de semana em que ela esteve em New Jersey com seus pais, o casal não havia planejado o que fazer a respeito do convite surpresa feito pelo antigo professor dele. Na verdade, aquele final de semana trouxe consigo várias surpresas. E Michele ainda não tinha decidido como lidar com algumas delas.

Tudo começou com uma ligação de sua mãe, avisando que seu pai havia sido internado com urgência, por causa de ataque cardíaco. Ela estava no aeroporto naquele instante, pronta para seguir viagem com Elise e Jesse, rumo a cerimônia do Oscar.

‘O que aconteceu?’, Elise se aproximou da morena, que tinha acabado de desligar o celular.

‘Meu pai...’, a morena sussurrou atordoada. ‘Ele está no hospital.’

Elise a puxou pela mão em direção ao balcão da companhia aérea. ‘Vamos, precisamos trocar as passagens.’

Michele olhou para ela surpresa. ‘Precisamos?’

‘Lógico. Eu não vou deixar você ir sozinha...’

‘Ah, você vai, sim.’, Jesse argumentou se metendo entre as duas. ‘Você precisa estar naquele tapete vermelho, Elise.’

‘Eu não admito que você me diga o que eu devo ou não devo fazer, St. James. Isso é uma emergência.’, a ruiva rosnou. Mas antes que a confusão piorasse, Michele resolveu ser a voz do bom senso.

‘Elise. Tudo bem, ele tem razão. Você precisa ir. Eu vou ficar bem.’

Por alguns instantes, o olhar dela pareceu refletir a mesma tristeza que naquele dia, que ela deixou o apartamento de Michele, após seu encontro com Finn. Então, no minuto seguinte, Elise fechou a cara, descontando sua frustração no balcão de atendimento da companhia aérea, esbofeteando com a palma da mão a superfície de tonalidade perolada várias vezes consecutivas, exigindo ser atendida imediatamente.

Mas mesmo revertendo a sua versão 'megera mal humorada', a ruiva insistiu em acompanha-la até o portão de embarque. Sendo obviamente seguida por um Jesse extremamente estressado, dando vários chiliques dignos de uma Diva, porque o voo deles saia antes do dela. Michele até pensou que essa havia sido a maneira que Elise tinha encontrado para ter sua vingança contra ele, até perceber a genuína preocupação que jazia escondida sob as inúmeras camadas de azedume.

Elise não havia soltado sua mão, desde o momento que ela havia desligado o celular. E quando Michele começava demostrar sinais de ansiedade, sentia o polegar dela acariciar sua pele, ou um olhar mais gentil, um leve aperto em sua mão. Gestos simples, que aliviavam a pressão no coração da pequena morena.

Elise só a deixou ir quando anunciaram a última chamada para o voo com destino à Los Angeles. Jesse pareceu ter uma síncope quando a ruiva deu meia volta, saindo da fila de embarque, só para correr mais uma vez para aonde Michele estava, para dize-la que era só ligar que ela estaria num avião para Jersey no mesmo instante. Michele percebeu que ela hesitou por um momento antes de deixar um delicado beijo de despedida em sua testa, só depois ela atendeu aos chamados desesperados de Jesse e entrou correndo pelo portão de embarque.

Foi uma surpresa boa, Michele decidiu. Apesar do mal humor de fachada, Elise fora doce e gentil de uma maneira que ela não era há semanas.

Foi um voo curto. Ela desceu no aeroporto em Teterboro, alugou um carro e dirigiu por mais meia hora até o Centro Médico em Englewood, cidade vizinha à Tenafly, para onde seu pai fora encaminhado. Michele passou toda a madrugada junto com sua mãe à espera de notícias. Ela só foi para casa quase no final da manhã do outro dia, por causa da insistência de seu pai, que graças a Deus, já ameaçava saltitar pelo quarto, fazendo questão de dizer que estava ótimo.

Michele estava exausta, seu telefone tinha descarregado e ela ficou chateada por não poder enviar uma mensagem a Elise dizendo que tudo não passou de um susto e que seu velho pai estava bem.

Pedindo a Deus por um bom banho e uma cama, a morena praticamente arrastou o carro até Tenafly passando pelas ruas familiares de sua vizinhança, até finalmente chegar no cruzamento da Grove St. com a Oradell Ave, tomando a primeira entrada à esquerda, respirando aliviada no momento que estacionou o carro defronte da casa branca e telhado acidentado, onde nasceram os seus mais preciosos sonhos.

Sabendo que seus tios e primos haviam vindo de Atlanta para passar o final de semana, deixando a casa lotada por consequência, sua mãe, que havia permanecido no hospital, pediu que ela usasse o quarto deles para descansar. Visto que ela teria que buscar a cama de armar no deposito, já que gêmeos já estavam ocupando o quarto que era dela, enquanto seus tios estavam no quarto de hospedes e seu primo Ronald tinha ocupado o quarto extra no sótão. Mas ao chegar em casa, ao invés de um banho quente e algumas horas de sono, ela se deparou com mais uma surpresa do final de semana: Finn Hudson estava sentado na sala de estar servido de ‘montanha’ para seu primo Jonas praticar ‘escalada’.

A chegada inesperada de seu namorado foi uma surpresa que levou Michele a ter uma surpresa ainda maior. Porque por um breve momento, ela havia desejado que Elise estivesse ali, e não Finn... E a surpresa que a abateu nesse minuto só foi superada dois dias depois, na noite de Domingo, quando em meio a transmissão do RED CARPET e uma comemoração improvisada pelo retorno de seu pai do hospital, Finn ficou de joelhos na frente dela e tirou um anel do bolso.

“Ainda não gosto da ideia de deixar você sozinha num hotel todas as noites.”, a voz de Finn a trouxe de volta de seus devaneios.

“Não há motivos para isso. Eu já sou bem grandinha e já sei me cuidar muito bem.”, ela respondeu inclinando o rosto sobre a palma que acariciava seu rosto.

“Hmmm. Grandinha? Tem certeza?”, imediatamente ele sentiu uma dor aguda subindo por sua canela. “Aí!”

Michele cruzou os braços sobre o peito, franzindo o cenho com uma careta.

“Você sabe que mereceu essa. E por causa dessa sua brincadeirinha, vai voltar para casa sem beijo de despedida.”, ela completou empurrando o namorado pela recepção.

“Encontro você mais tarde.”

...

ALGUMAS HORAS DEPOIS

Rachel seguia pelos corredores da WMHS, em meio a um grupo de líderes de torcida muito serelepes para seu gosto. Bem, após mais de duas horas de vídeo conferência com seus pais e Tony. Ela não estava tão estressada quanto achava que estaria, mas isso não queria dizer que ela estava disposta a lidar com um bando de adolescentes cheias de hormônios e sem nenhum filtro.

Bem, a boa notícia era que seus pais conseguiram contornar bem a situação, e Tony teria mais algumas semanas de férias, e Rachel não precisaria voltar atrás na sua decisão em se afastar de seu cargo por alguns meses para se dedicar a seu projeto na Broadway. Leroy resolveu coordenar todos os projetos que estariam despertando a preocupação do conselho, assumindo a agenda de viagem de inspeções. O que significava que Rachel estava livre para respirar aliviada e finalmente poder ir ao encontro de Quinn.

Há mais ou menos uma hora, ela havia recebido uma mensagem de sua namorada, dizendo que ela estaria no campo de futebol, mas e depois de rodar pelos corredores por apenas poucos minutos, Rachel acabou sendo reconhecida por algumas cheerios, que pulando eufóricas na frente dela, disseram que a levariam até Quinn.

As garotas não paravam de disparar perguntas sobre o relacionamento delas duas, algumas somente um tanto indiscretas, enquanto outras eram bastante indecorosas. Rachel pode notar que algumas realmente só estavam curiosas para saber como ela conseguiu fisgar a infame ‘Quinn Fabray’, mas outras pareciam realmente unicamente interessadas nos detalhes mais quentes da relação. Então, quando elas finalmente atingiram a linha do campo de futebol, Rachel respirou aliviada, apressando o passo ao ouvi uma das garotas perguntar se Quinn era tão sexy na cama quanto ela aparentava ser.

Chocada com tamanha ousadia, Rachel mal percebeu por onde ia, e acabou esbarrando num garoto que parecia carregar vários copos repletos de algo imensuravelmente gelado, que praticamente cegou a morena quando atingiu em cheio seu rosto.

“Rachel!!!!”, a voz de Quinn se destacou entre o mar de vozes ao redor dela.

A loira abriu passagem, se aproximando de sua namorada que depois de um grito de dor, agora tentava tirar o excesso de gosma sabor uva que escorria por sua face.

“Quem fez isso?”, a ira contida na voz de Quinn, fez com que um silêncio tenebroso se abatesse sobre os presentes, e Rachel já conseguia vislumbrar o olhar gélido que sua namorada deveria está direcionando a pequena multidão que havia se juntado.

“Quinn.”, Rachel chamou, cuspindo raspadinha. “Quinn, a culpa foi minha. Eu estava distraída e acabei esbarrando em alguém.”

Mãos suaves envolveram sua cintura de uma maneira cuidadosa, e dessa vez, a voz de Quinn parecia soar mais calma.

“Venha. Eu vou ajudar você a se limpar.”

Quinze minutos depois, Rachel Berry era capaz de jurar que a entrada para o paraíso era em Lima, porque era inacreditável ver como Quinn Fabray tinha conseguido a proeza de se tornar ainda mais sexy simplesmente vestindo seu antigo uniforme das Cheerios.

Até aquele momento Rachel não tinha tido a oportunidade de ver sua namorada. Somente quando Quinn limpou a pegajosa camada de raspadinha de uva, que cobria o rosto dela, Rachel foi capaz de se perder na visão que era Quinn Fabray naquele uniforme.

Wow. Se ela tivesse a visto antes, provavelmente todas aquelas adolescentes malucas teriam suas malditas perguntas respondidas ali mesmo no campo de Futebol.

Ela sabia que seu rosto provavelmente estava com um belo adicional sabor uva. E sim, Rachel também sabia que elas estavam numa posição bastante comprometedora num banheiro feminino, numa escola repleta de estudantes menores de idade, que poderiam invadir o lugar a qualquer minuto... Mas com Quinn vestida daquele jeito? Nada mais importava no mundo.

“Rachel...Nós...”, Quinn gemeu quando duas mãos cheias de ousadia subiam possessivas por suas coxas. “...Deviamos...”, as mãos se fecharam firmemente sobre sua bunda, a puxando, ainda mais, para junto do colo da morena. Quinn gemeu ainda mais alto, friccionado seu corpo ao de Rachel, movendo seus quadris freneticamente contra os da morena, enquanto sentia os lábios de sua namorada se perderem em seu pescoço. “Oh, Deus.”

Definitivamente, todo o bom senso tinha voado pela janela, porque nenhuma delas em seu juízo perfeito estaria a minutos de chegar às vias de fato, num reservado de um banheiro feminino de uma escola pública.

“U-Oh-OH-WOW!”, Santana berrou cobrindo os olhos com as mãos. “Eu não acredito nisso! Vocês querem ser presas por atentado ao pudor? Suas pervertidas!”

Num piscar de olhos, Rachel tirou sua mão de dentro do short de Quinn, enquanto escondia o rosto de sua namorada com a outra mão, no mesmo instante que dava um chute na porta do reservado, que se fechou na cara de Santana com um baque seco.

“Hija del Demônio! Quase que acerta meu nariz, anã!”

“Santana?”, Rachel perguntou ainda sem fôlego.

“Agradeça a seu anjo da guarda que sou eu, garota judia! E não me interessa se você acredita ou não que tem um! Porque apesar de seus reflexos terem me impressionado, qualquer outra pessoa já estaria tirando fotos por cima da porta. No que diabos vocês estavam pensando? Será que agora eu tenho que me preparar para um futuro escândalo sexual, envolvendo vocês duas em locais públicos?”

A porta do reservado se abriu, revelando Quinn completamente descabelada.

"O que você está fazendo aqui?", a loira perguntou deixando transparecer seu atual estado de irritação.

"Pode acalmar essa sua perseguida, Fabray. Mais tarde, na privacidade do seu quarto de hotel, vocês duas podem resolver esse problema. Eu vim para entregar isso aqui.", ela disse atirando uma muda de roupas nos braços da loira. "Achei que a miniatura da Barbie Malibú da sua namorada precisaria de roupas secas e livres de manchas de uva."

Rachel saiu do reservado, trajando somente um sutiã semi-transparente e uma calça jeans coberta de manchas de Slushie. Santana ergueu a sobrancelha. “Belas tetas, Berry. Agora cubra isso, ou eu vou vomitar.”

Quinn deu um tapa no ombro de sua amiga, mas Rachel só revirou os olhos dando uma olhada melhor nas roupas que Santana tinha trazido consigo; uma micro-saia de estampa quadriculada, meias ¾ brancas e um moletom preto horrendo com um laço amarelo gravado no meio.

“Quem no mundo seria capaz de se vestir assim?”, a pequena morena exclamou chocada, encarando as roupas que ela teria que usar.

Mas o sorriso maléfico já adornava as feições da latina. “Cala boca, Berry. Eu tive que ir no primário para achar algo que fosse do seu tamanho. Fique feliz e seja grata, Hobbit.”

Quinn deu outro bofete no ombro de Santana. “É Rachel.”

“No dia que ela crescer, Q. Eu já disse isso.”

...

O professor Schuester estava totalmente extasiado, perdido em seu momento de jubilo. Todos seus antigos alunos tinham atendido ao seu convite, e até tinham trazido convidados! Ele não podia estar mais feliz. Esse ano, a semana de comemoração à musica da WMHS seria um sucesso.

“Gente, é tão bom ver vocês mais uma vez aqui nessa sala!”, disse o professor com os olhos brilhando. “Eu queria agradecer a todos vocês por...”

Sentada na cadeira central da primeira fileira, Rachel se remexia em seu lugar, tentando puxar discretamente a saia para baixo, fazendo o possível para prestar atenção no que o professor dizia. Atrás dela, Puck sufocava uma gargalhada até Quinn virar de uma vez, o encarando com o olhar mais gélido que ele já vira na vida. Puck sentiu a cor fugir de seu rosto, ao seu lado, Sam murmurava ‘ice, ice, baby’. Na última fileira, Mercedes Jones e Tina Chang se revezavam no envio de mensagens de texto, com comentários sobre as mais novas fofocas que corriam pelos corredores da escola, com Kurt Hummel, que estava sentado ao lado de Santana.

Os olhos de lince da latina se estreitaram quando ela agarrou o celular da mão de Kurt, checando a mensagem que ele acabara de receber.

‘K, você ficou sabendo que Faberry sofreu fragrante no banheiro feminino perto do ginásio? M.’

“Santana!”, o garoto reclamou baixinho. “Me dá isso!”

Sem se deixar intimidar, Santana deletou a mensagem e entregando o aparelho de volta ao rapaz. “Uma palavra sobre isso, Lady Hummel, e você, a Wheezy e a Coreana ‘eu sempre esqueço o nome dela’ Chang, vão sentir o peso do meu diploma em Direito.”, ela sussurrou de volta.

“...Como nos velhos tempos.”, o professor concluiu seu pequeno discurso de agradecimento, completamente alheio aos primeiros conflitos que surgiam na sua frente.

“Sr. Schue, e qual será nosso tema essa semana?”, Finn perguntou dividindo o entusiasmo de seu mentor. Com o canto dos olhos, Quinn viu Michele na cadeira ao lado de Finn, perdida em pensamentos, enrolando uma mecha dos cabelos entre o indicador e o polegar. Desviando novamente sua atenção para frente, a loira flagrou o momento onde um sorriso quase que infantil agraciou as feições de seu antigo professor. O homem praticamente galopou de felicidade até o quadro, escrevendo em letras garrafais azuis.

‘Siga seu coração’

“Essa semana, nós vamos deixar nosso coração falar, gente.”, pela expressão no rosto dele, Quinn pressupôs que William Schuester realmente achava que aquele tema era o melhor tema já bolado em sua vida. Sem conseguir evitar um sorriso, ao ouvir Santana murmurar exatamente o que ela havia pensado, Quinn olhou para a morena ao seu lado, alcançando sua mão e entrelaçando seus dedos. Talvez a antiga Quinn não tivesse motivos para gostar desse tema, mas a Quinn de hoje, mal podia esperar para deixar seu coração falar.

O Sr. Schue continuava tagarelando na frente da sala, mas foram as palmas que trouxeram Quinn de volta a realidade. A loira ergueu os olhos na direção da porta, era evidente que seu professor providenciaria também alguns convidados surpresa. Mas, por mais que Quinn antecipasse, ela não poderia prever que seria ela, e quando Rachel deixou escapar um gritinho de surpresa ao seu lado, a loira realmente perdeu o chão.

“Mãe!”, Rachel gritou, correndo para abraçar a mulher que sorria para o grupo.

Quinn estava boquiaberta.

‘Mãe? Oh, Deus. Aonde ela estava que nunca soube disso? Rachel nunca mencionara a mãe! Quer dizer, ela falou algumas vezes sobre ela, mas a mulher parecia ser muito ocupada, e o relacionamento entre elas não parecia ser tão próximo.’

Shelby Corcoran não demonstrou surpresa ao abraçar sua filha, e dirigindo o olhar para a loira na primeira fileira, disse com um a expressão de quem está se divertindo como nunca.

“Olá Quinn.”

Uma gargalhada ecoou pela sala, fazendo que todos os presentes voltassem sua atenção para Santana Lopez, que chorava de rir em seu lugar, se sacudindo na cadeira apontando na direção da loira pálida e de olhos arregalados, que não conseguia pronunciar nenhuma palavra, embora sua boca estivesse se abrindo e se fechando nos últimos minutos.

Destiny is a bitch, Fabray! E você, no mais profundo sentido da expressão, queimou o filme com sua futura sogra.”

...

MINUTOS DEPOIS

“Você incendiou o escritório dela?”, Rachel perguntou horrorizada, enquanto todo o grupo caminhava até o auditório, onde Shelby e o professor Schuester dariam oficialmente início a semana da música.

“Foi um acidente...”, balbuciou a loira, totalmente sem-graça.

Santana jogou o braço por cima do ombro de Rachel, desviando a atenção para si.

“Digamos que a sua mamãe e a versão punk da Q não se davam muito bem.”

Agora Quinn realmente queria achar um buraco e se esconder nele para o resto da vida. “Foi uma fase ruim...”, ela tentou se explicar. “Nada fazia muito sentido, e ela ficava me pressionando...”

“E com isso entenda que a senhorita Corcoran achava que podia redimir Quinn de seus ditos pecados.”, disse Santana se intrometendo mais uma vez.

Quinn abaixou a cabeça. Shelby, na época professora Corcoran, por algum motivo, se juntou ao seu professor/treinador William Schuester na cruzada para resgatar a então perdida alma de Quinn Fabray. Aconteceu um ano após o acidente que desencadeou o aborto de sua filha.

Quinn havia tentado o máximo que podia, mas a culpa a corroía por dentro. Ela tinha pesadelos todas as noites, e quando abria os olhos a situação só piorava. Naquela época, Quinn não tinha uma casa fixa, seus colegas do Glee revezavam em oferecer-lhe teto e ela sempre acordava apavorada, num novo quarto, para uma nova cor na parede e um novo cheiro nos lençóis.

Até que a loira resolveu acabar com tudo.

No verão daquele ano, ela pegou o pouco que ela ainda tinha, colocou dentro da sua mochila já gasta, e saiu da casa dos Jones, sem nem ao menos dizer adeus. É lógico que seus amigos procuraram por ela, talvez temendo o pior, mas ela conseguiu se manter distante.

Foi então que a nova Quinn Fabray surgiu: A Punk Q, como Santana gostava de chamar. Cabelos cor de rosa, uma atitude rebelde, tatuagens falsas, cigarros, álcool e pequenos delitos. Quinn conseguiu invadir o porão da biblioteca pública, naquele verão, e foi lá onde ela viveu durante um tempo, até finalmente aceitar ajuda para se reerguer. Infelizmente, isso não aconteceu antes de que, num ato de pura rebeldia, ter dado início a um incêndio no escritório da professora.

Rachel se aproximou de sua namorada, segurando sua mão firmemente entre as suas.

“Então, minha mãe é aquela professora que acabou te pressionando da maneira errada?"

Não era a primeira vez que a morena tinha ouvido sobre a época conturbada da vida de sua namorada. Rachel sabia do acidente, do aborto e de como isso havia afetado Quinn... É como de certa forma ainda afetava. De fato, a loira nunca havia entrado em muitos detalhes, mas ela havia dito que naquela época, uma pessoa, uma professora, achava que podia ajudá-la, porque de alguma forma achava que possuía uma história similar a dela, mas Quinn não enxergava isso, porque para Quinn, ela havia matado a própria filha...

"Tenho certeza que ela não guarda rancor, meu amor.", Rachel disse confiante. "Afinal de contas, como você mesma disse, não foi nada grande e não causou muitos danos..."

"Eu acionei o alarme de incêndio logo em seguida...nem sei porque comecei aquilo. Eu realmente estava muito confusa na época."

Brittany se aproximou da amiga e a envolveu em um abraço apertado, fazendo com que Santana e Rachel parassem no corredor para não deixá-las para trás.

"Talvez não seja algo fácil de explicar, mas era algo que você precisava fazer naquele momento, Q. E o destino é algo realmente engraçado, porque senão fosse pela punk Quinn, você não teria arrombado aquele teatro, o professor Schue não teria conversado com o amigo dele e impedido que te levassem para um centro de recuperação juvenil. O diretor do teatro nunca teria te oferecido um emprego e você não teria encontrado o Nigel. Viu? Tudo na sua vida te trouxe a esse momento, seus erros e acertos Quinn. Não tem porque se preocupar com isso agora."

As lágrimas escorriam não somente pelo rosto de Quinn, mas também pelo de Rachel e Santana. Mas foi Rachel que deu um passo à frente, Brittany se afastou e a pequena morena tomou sua namorada em seus braços, se aconchegando junto ao seu corpo.

"Eu amo seu lado punk ainda mais agora."

Santana limpou as lágrimas do rosto com força, tentando parecer enojada.

"Tá bom. Lindo. Agora vê se não vão ficar se agarrando no banheiro, okay? Eu já tive que ameaçar os dois maiores fofoqueiros que eu conheço hoje, e não sei se estou com humor para processar ninguém."

...

Quinn entrou no auditório abraçada a Rachel, seguida por uma versão ‘meio emburrada’ de Santana e uma saltitante Brittany, que resolvera continuar vestida com seu uniforme das Cheerios e não cansava de rodopiar ao redor de sua esposa fazendo insinuações sobre como seria divertido relembrar os bons tempos na sala de audiovisual, o que fez Santana corar profundamente, enquanto Quinn repetia o discurso sobre processos e escândalos sexuais, que sua amiga tinha lhe berrado no ouvido há algumas horas.

Os antigos membros do Glee se acomodaram nas cadeiras das primeiras fileiras, no centro, de frente para o palco, ao passo que vários outros alunos que faziam parte da formação atual do clube resolveram se espalhar ao redor dos veteranos, demonstrando por seu posicionamento, sua preferência e admiração por eles.

Rachel e Quinn se sentaram na segunda fileira, ao lado de Michele e Finn, e na frente de Santana, Brittany, Puck e Mike. Sam resolveu dar atenção ao seu fã-clube, se sentando na outra ponta, ao lado de Artie, que acabou rodeado por várias Cheerios por consequência. Tina, Mercedes e Kurt se sentaram atrás, e junto deles alguns alunos com looks originais, e visivelmente antenados com a moda, tentavam estabelecer contato, enquanto deixavam seus iPhones a postos, e direcionados para onde a maioria dos membros presentes havia se posicionado, perto de Quinn.

Rachel revirou os olhos para a jovem com uma camiseta que tinha a bandeira LGBT estampada no formato de um grande Q ao lado de um grande coração roxo, que se sentara há duas cadeiras de distância de sua namorada.

“Muito bem, gente.”, professor Schuester falou de seu lugar de cima do palco, chamando a atenção de todos os presentes. “Eu estou tão feliz em dar início das performances que vão abrir a nossa Semana de Música, justamente chamando ao palco uma atriz maravilhosa e incrivelmente talentosa, de quem eu posso dizer que tenho o orgulho de dizer que sou grande fã.”

Santana bufou ‘puxa-saco’ revirando os olhos, e na fileira de atrás dela, Mercedes e Tina murmuraram ‘Lá se vai meu solo’, em uníssono. Rachel abriu um sorriso enorme e olhou para sua namorada, que se remexeu na cadeira um tanto envergonhada.

O professor continuou.

“Eu realmente me senti honrado por ela ter aceitado esse convite, e de realmente poder estar aqui conosco, mesmo tendo uma agenda extremamente ocupada...”

Quinn sentia as bochechas esquentarem. Era estranho ouvir o prof. Schue se gabar tanto assim sobre ela.

“Por favor, recebam com todo carinho, a mais doce voz que eu já ouvi...”

Rachel entrelaçou seus dedos aos de Quinn, estufando o peito com orgulho.

“A Dama Número Um dos palcos da Broadway; ELISE SCOTT!”

Rachel arregalou os olhos completamente incrédula, ao seu lado Quinn estava petrificada. A loira olhava para o palco boquiaberta, seus belos olhos avelã esverdeados pareciam querer saltar das órbitas, enquanto a veia de sua testa havia se dilatado e pulsava perigosamente.

Elise saiu da coxia vestida num belíssimo vestido branco rendado, com alças caídas sobre seus ombros alvos, os seus cabelos ruivos se estendiam em cachos pelas costas, com várias pequenas pétalas de flores feitas de pedrinhas brilhantes adornando o penteado e compondo um look que combinava perfeitamente com a melodia que já anunciava a música que ela iria cantar. As luzes do palco assumiram um aspecto azulado, e a fumaça branca que invadia o chão dava o ambiente um toque etéreo para a performance de uma das trilhas do clássico O Fantasma da Ópera.

“Think of me, think of me fondly

When we've said goodbye”

Rachel pode ouvir Quinn ranger os dentes, apertando sua mão com força. ‘Dessa vez, eu vou arrancar a cabeça dela fora.’, a loira sussurrou entredentes, fazendo a morena pensar que pelo jeito, seus dedos seriam as primeiras vítimas da ira de sua namorada.

“Remember me, once in a while

Please, promise me you'll try

And then you'll find that once again you long

To take your heart back and be free

If you ever find a moment

Spare a thought for me”

Elise olhou na direção delas, e um sorriso maroto surgiu em seus lábios por um breve momento. Ao seu lado, Rachel pode ouvir alguém engasgando, desviando o olhar para sua esquerda, ela viu Finn de cara amarrada, dando leves batidinhas nas costas de Michele, que tossia entre as mãos.

“We never said "our love was evergreen"

Or "as unchanging as the sea"

But if you can still remember,

Stop and think of me”

Agora, vários dos estudantes que compunham o atual Glee Club, estavam olhando para a estonteante ruiva no palco com sorrisos bobos no rosto. Algumas garotas suspiravam, e os rapazes babavam apoiando as cabeças nas mãos. A garota da blusa LGBT, perto de Quinn, parecia estar tendo um ataque de ansiedade na cadeira, dava para ver suas mãos tremendo ao mesmo tempo que ela segurava com força o celular, apontando o aparelho na direção do palco, com lágrimas nos olhos.

“Think of all the things

We've shared and seen

Don't think about the way

Things might have been

Think of me, think of me waking

Silent and resigned

Imagine me trying too hard

To put you from my mind

Recall all those days,

look back on all those times

Think of the things we'll never do

There will never be a day

When I won't think of you”

A melodia instrumental tomou conta do auditório obviamente suprindo a ausência da parte cantada pela personagem de Raoul. Rachel franziu o cenho, é lógico que Elise não deixaria de exibir a parte da música que deixaria evidente o quanto ela merecia o título de ‘A Dama da Broadway’.

“Flowers fade, the fruits of summer fade

They have their seasons, so do we

But, please, promise me

That sometimes You will think…

E, quando a ruiva voltou a abrir a boca, cantando as notas em escala, Quinn cruzou os braços sobre o corpo, resmungando ‘exibida’ e fechando ainda mais a cara.

...of... me.”

Depois disso, a auditório ao redor delas explodiu em aplausos.

...

MAIS TARDE NO LIMA BEANS

Já faziam quinze minutos que Quinn Fabray desejava poder se tornar invisível.

“Eu simplesmente ainda não acredito que vou passar a semana toda com as duas pessoas que são minha maior inspiração!” A garota da blusa LGBT, que recentemente Quinn descobriu se chamar Laura, olhava para a dupla na sua frente com tanta adoração e felicidade que a loira tinha certeza que se pudesse, ela estaria brilhando. “Eu sei que o movimento oficial se chama Elinn, mas aqui em Lima, nós levantamos a bandeira Fabrise na WMHS. Temos uma parede no nosso clube sobre liberdade sexual, totalmente dedicada a vocês duas!”, Laura continuou empolgada, praticamente quicando no lugar.

“Oh, sério? Eu e Quinnie iriamos adorar visitar o clube e assinar algumas dessas fotos! Não é mesmo Quinnie?”, Elise se aproximou da loira, passando o braço pela cintura dela e colando seus rostos. Mas, ao ver a expressão sonhadora no rosto de Laura, acrescentou com um sorriso. “Só não exagere em shippar por nós duas, Laurinha. Que fique bem claro que eu e Quinnie somos BFF, e que essa loira linda pertence a minha amiga de infância, Rachel Berry. Elas são o Mega Blaster Femslash OTP-ever, entendeu?”, a ruiva concluiu segurando gentilmente o queixo da adolescente entre o polegar e o indicador.

Por um instante, Quinn pensou que a garota fosse desmaiar.

“Não! Nem se preocupe... tem outra parede dedicada a Faberry no clube”, Laura se adiantou em esclarecer, ainda atordoada com a atitude de sua musa.

Sentada numa mesa, há alguns metros de distância, Rachel observava a cena com olhos atentos.

“Quer se acalmar, Berry. A ruiva não vai aprontar nenhuma gracinha, eu já passei o especial Santana Lopez nela, assim que ela desceu daquele palco.”, a advogada disse depois de tomar um gole de seu café preto.

“Eu só não entendo o que raios ela perdeu em Lima.”, a pequena morena franziu a testa. Não fazia sentido Elise estar em Lima! Sério? Lima? Só a menção de uma ideia dessas a faria ter pesadelos. Afinal, a ruiva sempre deixou bem claro que precisava estar perto, de pelos menos três grandes shoppings, duas lojas de grife e um aeroporto internacional para se sentir bem.

“Ela disse que veio fazer um favor para sua mãe.”, Brittany interviu. “Eu gosto dela. Não sei para que tanta confusão.”, e olhando para Rachel acrescentou com um tom mais sério. “E você deveria trata-la melhor, sabia? Ela é sua amiga de infância.”

Rachel fez biquinho, mas se sentiu mal porque sabia que Brittany tinha razão. Por mais que Elise tivesse aprontado das suas, Rachel era a pessoa que mais tinha motivos para pedir desculpas. No fundo, a morena achava que a magoa de ter sido abandonada por ela, era o que na verdade fazia com que Rachel tivesse uma atitude grosseira para com sua amiga.

Quinn sentou-se ao lado de Rachel, com o aspecto cansado, pegando o copo de café da mão de sua namorada e tomando um grande gole. Elise puxou a cadeira ao lado de Quinn e se serviu de um dos cookies que Brittany a ofereceu.

“Então, o que existe de interessante para se ver na infame Lima? Oh, eu aposto que tem um daqueles museus caseiros totalmente dedicado a sua mais ilustre filha, huh? Aposto que consigo encontrar um celeiro cheio de quadros cafonas e pequenos pertences, contando a vida e a trajetória da agora famosa Quinn Fabray.”

Quinn revirou os olhos.

“Não existe nenhum museu cheio de cacarecos dedicado a minha pessoa, ruiva azeda.”

“Na verdade, isso tudo está no sótão do Teatro Municipal.”, Brittany disse acenando displicentemente.

“O QUÊ?”, Quinn cuspiu o café na mesa.

“Ah, eu não posso deixar de visitar.”, Elise falou entre risos, e ela e Brittany já organizavam a excursão para assim que elas terminassem o lanche.

Rachel estendeu um guardanapo para a loira de rosto vermelho ao seu lado. Sua única esperança era que o destino tivesse tido o bom senso de fazer com que Elise não estivesse hospedada no mesmo hotel que elas.

...

“O jantar estava maravilhoso, Sra. Hudson-Hummel. Muito obrigada.”, Michele agradeceu, se despedindo da mãe de Finn.

“Querida, eu já pedi que me chame de Carole. E não precisa agradecer também. Nós estamos muito envergonhados por não poder hospedá-la aqui em casa, e ter que fazer você ir para um hotel.”, a mulher realmente tinha uma expressão de tristeza no rosto.

“Por favor, nem se preocupe com isso. Não é nenhum incômodo. Vocês não tinham como saber que teriam tantos hóspedes numa época tão atípica do ano! E ainda tem a reforma da casa e o bebê.”

Carole olhou de relance para o lindo bebê num bercinho de armar na sala. Depois de tantos anos, ela é Burt tinham resolvido adotar, e não podiam estar mais felizes. Mas uma das paredes do quarto do bebê acabou criando mofo por causa de uma infiltração, e acabou ocasionando numa verdadeira reforma em praticamente toda a casa. Ter hóspedes realmente era algo que não era esperado.

Finn apareceu na sala, carregando uma bolsa enorme, que aparentava estar bastante pesada.

“Mãe, depois que eu deixar Michele no hotel, eu vou dar uma passada na casa do Puck e ajudar com os preparativos da festa de amanhã.”

“Tudo bem filho, a chave reserva vai estar no lugar de sempre, caso você precise. Foi realmente um prazer tê-la hoje conosco, Michele.”, disse Carole abraçando a garota.

Finn jogou a sacola sobre os ombros, resmungando baixinho.

“O que tem ai dentro?”, Michele perguntou abrindo a porta da camioneta dele.

Depois de jogar a sacola na boleia, o rapaz esticou os braços estalando os ossos.

“Puck pediu que eu o ajudasse a montar um palco no quintal, ele quer inovar fazendo um mega karaokê. Quando estávamos em New York, ficamos na casa de Rachel e acabamos criando uma pequena confusão, acho que é o jeito dele de se redimir. Então, eu e Sam vamos ajudar.”

“É muito legal da sua parte, Finn.”, a morena ficou na ponta dos pés dando um selinho em seu namorado.

“Sabe...”, ele pegou a mão direita dela. “Eu ainda estou esperando por uma resposta.”

“Finn...”

“Eu sei. Eu sei. Sem pressão, okay?”, ele abraçou Michele, beijando suavemente seus lábios. “Pelo menos você conseguiu tirar o anel, nê?”

A morena revirou os olhos, dando um tapinha de leve no ombro dele. “Muito engraçado. Sabia que quase perdi meu dedo por falta de circulação?”, ela disse entrando no carro.

Finn deu um sorriso torto. “Se serve de consolo, eu já mandei ajustar. Deve estar pronta até o final dessa semana.”

A morena desviou o olhar para a paisagem borrada das casas e ruas de Lima, que se formavam através da janela da caminhoneta.

“É... é maravilhoso.”

...

COUNTRY INN & SUITES – 10:30 PM

“Eu preciso de álcool. Muito. Muito, álcool.”, Elise murmurou agarrada a recepção do hotel, fazendo que o pobre atendente da noite começasse a gaguejar desculpas, sem saber ao certo o que fazer.

Depois da excursão forçada por Brittany e Elise ao ‘Quinn Fabray Memorial’ - o que por si só já foi bizarro - Santana, Rachel e Quinn decidiram que nada seria capaz de ajuda-las a superar algo tão traumático.

A loira certamente ainda estava em estado de choque ao deixar o Teatro, tendo visto com seus próprios olhos a sua vida sendo distorcida de maneira tão trágica e heroica em meio a testemunhos em vídeos, fotos de quando ela estava nas Cheerios, áudios gravados nos ensaios do Glee, além de um quadro marcado com os acontecimentos de maior destaque em sua trajetória. Eles até tinham um cordeirinho de pelúcia, que afirmavam ser o legitimo cordeirinho que acalentava as dores de ter sido abandonada por sua família por sonhar ser uma grande estrela.

Exatamente.

Para todos aqueles que entrassem naquele museu, Quinn Fabray em sua adolescência tinha se apaixonado perdidamente por um rapaz que não merecia seu coração, e que a tragédia que ocasionou na morte da criança ainda em seu ventre, havia sido causada por seu coração partido. Eles também distorciam o que aconteceu depois dali, afirmando que a família de Quinn havia sido contra esse amor juvenil, e que ameaçou matricula-la num internato, fato que provocou a primeira noite de amor entre Quinn e seu namorado. Depois, falavam de como seus pais a abandonaram e de como ela resolveu viver da arte, numa tentativa de extravasar as emoções que se aglomeravam dentro dela.

Traumatizante. E Quinn estava pensando seriamente que talvez, aquele tivesse sido o motivo de seu tão adorado pai ter desejado publicar um livro contando seu lado da história... Ela teria que dar mais atenção ao assunto quando retorna-se à New York no final da semana.

“Quer deixar de drama, Elise? Larga logo esse balcão, você está começando a chamar atenção.”, Rachel murmurou de volta puxando a ruiva pela cintura. Um pouco mais atrás, Quinn ainda tentava acalmar os nervos, massageando as têmporas com as pontas dos dedos, contando mentalmente até dez.

Não que a recepção estivesse realmente cheia de gente. Na verdade só haviam elas e o assistente da noite, salvo por um ou outro funcionário da limpeza que passava pelo lugar ocasionalmente. O pior aconteceu quando elas já estavam no carro, saindo do Teatro, quando Brittany perguntou aonde elas estavam hospedadas e Quinn e Elise disseram o nome do mesmo hotel ao mesmo tempo. Santana havia deixado bem claro que qualquer notificação de trânsito que seus pais recebessem seriam enviadas para elas, e que todas suas consultas junto ao Otorrinolaringologista também ficariam por conta delas.

A ruiva se voltou para Rachel, agarrando a pequena morena pelos ombros.

“Sabe, eu tinha certeza que isso ia acontecer. É lógico que o destino adora conspirar contra minha tão inocente pessoa, mas será que precisava me colocar no quarto ao lado do de vocês? Eu não mereço uma folga?”, Elise choramingou se voltando para o rapaz na recepção.

“Senhorita, não há nada que eu possa fazer a respeito. Estamos lotados por causa de uma conferência, e todos os hotéis até nas cidades vizinhas estão lotados até semana que vem. O último quarto que estava disponível, foi ocupado hoje pela manhã... e mesmo assim, fica no mesmo andar que o da senhorita.”

Elise estreitou os olhos, trincando os dentes. “É melhor que as paredes sejam grossas, garoto, ou eu realmente vou estar muito irritada pela manhã.”

“Scott. Eu estou avisando. Minha paciência está por um fio.”, Quinn vociferou numa voz baixa ameaçadora, se aproximando da ruiva.

“Oh, como se isso fosse alguma novidade, Fabray. Quando é que essa sua cara não está amarrada?”, Elise revirou os olhos cutucando Rachel. “Você pode pegar a focinheira dela, Rach? Não acho que ela é vacinada.”

“Eu vou mostrar para você quem precisa ser amordaçada, sua...”

Antes que a loira desse um passo, Rachel se colocou entre elas.

“Nós estamos em público e se me lembro bem, vocês duas tem que se comportar em público.”, a morena tentou racionalizar. Mas aparentemente nenhuma das duas estava muito preocupada com isso e continuavam se encarando como se estivessem prestes a voar uma no pescoço da outra.

“Ah, não se preocupe, minha estrela, impressa e máquinas fotográficas são facilidades de lugares aonde a civilização existe!”, rosnou a ruiva.

“Se você chamar minha Rachel, de sua estrela mais uma vez, eu vou arrancar sua língua fora!”, Quinn devolveu com um grunhido.

“Quero. Ver. Você. Tentar.”, foi a resposta de Elise.

Era oficial, Rachel Berry estava no meio do fogo cruzado. Ela tinha total consciência de que seria incapaz de segurar Quinn, ao mesmo tempo que precisava proteger sua namorada da ira de Elise. Até o atendente havia desaparecido, obviamente apavorado com a ideia de ter que ajudar a separar as duas.

‘Oh, céus! Uma ajuda agora seria bem-vinda.’

“Elise Mary Scott. O que você pensa que está fazendo?”, uma voz autoritária ressoou da entrada do hotel, fazendo Elise congelar no lugar. A ruiva arregalou os olhos para a pequena figura de braços cruzados e expressão irritada, parada logo atrás dela e de repente, era como se ela tivesse se transformado num coelhinho assustado frente a morte iminente.

“Mi-chele?”

Rachel pode notar que ao ver Elise perder as forças, um sorriso maquiavélico se espalhou pelas feições de sua namorada. Uma súbita irritação fez seu sangue borbulhar e ela bateu o pé no chão.

“Quinn Fabray, é melhor você tirar esse sorrisinho pretencioso da cara, porque você também está com problemas.”

No mesmo momento, a loira fez um biquinho, abaixando a cabeça tal qual uma criança que sabe que fez algo que não devia.

“Ela que começou.”, falou num muxoxo, apontando o dedo para Elise, que demonstrando o mesmo comportamento infantil, esticou a língua para Quinn.

...

“É inacreditável o quanto vocês duas podem regredir mentalmente quando estão juntas.”, retrucou Rachel enxugando os cabelos, enrolada num roupão branco felpudo bordado com as iniciais do hotel.

“Ela me dá nos nervos!”, a loira ainda estava um tanto irritada, principalmente porque Elise parecia saber exatamente o que dizer para tira-la do sério. “Odeio quando ela começa a chamar você por ‘minha estrela’.”, disse se sentando na cama de uma vez e dando um soco no travesseiro.

Rachel revirou os olhos, atirando a toalha sobre o encosto de uma das cadeiras no canto do quarto. A morena se sentou ao lado de sua namorada, tomando as mãos alvas e suaves entre as suas.

“Não há motivos para você ficar assim. Elise só faz isso porque sabe que vai conseguir irritar você...”, mordendo levemente o lábio inferior, ela murmura baixinho. “Você duvida do meu amor, Quinn?”

A loira arregalou os olhos assustada, abraçando Rachel com força.

“Nunca.”

“Então”, a pequena morena disse se afastando um pouco, para poder olha-la nos olhos. “Lembre-se de que não existe nada que me ligue a ela, que seja capaz de obscurecer aquilo que sinto por você. Uma estrela brilha sozinha no céu, distante e sempre inalcançável. Mas, meu coração está bem aqui, e bate vivo e quente no meu peito, ele bombeia a vida por todo meu corpo, aquece minha alma, e motiva meus sonhos. Sem meu coração, eu não tenho forças para existir. Sem meu coração, eu seria apenas uma casca vazia...” Rachel segurou as mãos de Quinn firmemente junto ao peito, de maneira que a loira pode sentir os batimentos ritmados do órgão que parecia pulsar intensamente naquele instante. “E esse coração está aqui, batendo junto a sua mão, forte e quente, para você meu amor. Completamente seu, Quinn.”

Rachel mal se calara e Quinn já a beijava apaixonadamente. As duas caíram sobre o colchão, se enroscando uma na outra, amarrotando os lençóis e derrubando os travesseiros no chão.

O nó que mantinha o roupão sobre o corpo da morena, havia sido desfeito, e duas mãos pálidas se apossavam dos seios que antes se escondiam sobre o tecido felpudo. Quinn se perdiam junto ao pescoço de Rachel, enquanto a morena deixava suas mãos deslizarem pelo abdômen alvo, buscando desfazer a pele quente da camisola que ainda impedia que seus corpos se encontrassem.

Sempre impaciente, Rachel girou sobre Quinn, assumindo uma posição mais dominante. Só então, a morena foi capaz de se desvencilhar da camisola que ainda teimava em cobrir a loira, para só em seguida ter total acesso ao corpo perfeito, que agora ela beijava com fervor. Pescoço, seios, abdômen, coxas... a cada toque Quinn arquejava de desejo, chamando por seu nome, pedindo por mais, até Rachel finalmente chegar ao lugar onde ela mais precisava, provando com sua língua o quanto Quinn era capaz de arder por ela.

Ambas estavam tão perdidas uma na outra, que nem mesmo notaram que todas as luzes do quarto haviam apagado, muito menos que na ausência de qualquer barulho alguns tipos de sons podiam chamar um pouco mais a atenção, daqueles ainda acordados nos quartos mais próximos.

Elise respirou fundo enfiando a cabeça no travesseiro. Aquilo não podia estar acontecendo.

‘Oh, Rachel.’

O travesseiro voou até o outro lado do quarto, derrubando alguma coisa em algum lugar. Elise atirou as cobertas no chão, furiosa. Isso era demais. Aquelas paredes eram feitas de quê? Papelão? Sério? Por que ela realmente não precisava ouvir Quinn Fabray tendo um orgasmo.

Se enrolando em seu hobby de seda, a ruiva marchou em direção a porta pelo quarto escuro, disposta a acabar com a festa do casalzinho no quarto ao lado, e depois arrancar a cabeça daquela ameba em forma de recepcionista, caso ele não materializasse um outro quarto para ela.

“Eu vou gravar isso e enviar anonimamente para o TMZ suas depravadas!”, disse a ruiva abrindo de vez a porta de seu quarto.

Mas, aparentemente, o destino tinha outros planos, porque no momento que ela colocou o pé no corredor, bateu de frente com um outro alguém, que se agarrou a ela, como se ela fosse algum tipo de barco salva vidas.

É lógico que Elise estava prestes a berrar por socorro quando as mãos arrodearam sua cintura e o corpo estranho se grudou ao dela, mas então...ela a ouviu chorando.

“Lise, estou com medo.”, e Elise se viu abraçando imediatamente o pequeno corpo que tremia entre soluços, colado junto ao seu. “Não quero ficar no escuro. Por favor, não me deixe sozinha, Lise.”

“Tudo bem.”, os olhos verde esmeralda não enxergavam mais do que alguns poucos metros à frente, já que a única luz que malmente iluminava o corredor vinha da janela de seu quarto. Entretanto, foi o suficiente para que quando seus olhos finalmente se ajustaram a escuridão, ela pudesse ver as lágrimas no rosto da morena em seus braços. “Não chore, Michele. Aonde fica seu quarto?”

“No final do corredor. Eu não sabia o que fazer... desculpe se te acordei.”, disse ela fungando.

“Você não me acordou. Venha, se você não se importar, eu posso ficar com você até a luz voltar...”

A morena sacudiu a cabeça, apertando ainda mais seu abraço ao redor dela.

“Fique comigo esta noite, por favor.”

E assim, Elise fechou a porta de seu quarto, sem mais se importar com os murmúrios vindos do quarto ao lado, e com Michele agarrada em seu braço ela caminhou na escuridão até o último quarto do corredor.


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Notas finais do capítulo

PS- Para quem não conhece, Think Of Me, é uma das músicas que fazem parte da trilha sonora do clássico da Broadway 'The Phantom Of the Opera'. É meu musical favorito, e resolvi adota-lo como o favorito de Elise também. Para quem ficou curioso para saber qual o alcance vocal da ruiva, pode colocar no google 'Sierra Boggess Think of Me Phantom of the Opera 25th Anniversary HD', para mim ela sempre será minha eterna Christine. Juro, a melhor de todas.



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