The Passenger escrita por dagalvao


Capítulo 5
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Capítulo 4


“Façamos da interrupção um caminho novo...”

Fernando Sabino


Olhei em volta e vi vários lugares vazios. Ele tinha muitas opções e, com certeza, não escolheria sentar ao lado de uma garota que tinha o hábito de jogar coisas estranhas nos colos das pessoas mais estranhas ainda.

Lançou um rápido olhar em minha direção. Meu coração deu um salto. Ok, isso está ficando ridículo. Bella, controle-se, ele é só um cara bonito que você não conhece e nem está interessada em conhecer. Ponto final.

Senhor-que-hoje-não-usava-camisa-cor-de-rosa passou reto por mim e sentou-se na cadeira que ficava exatamente atrás da minha. Recostei na minha poltrona e só então percebi que estava toda tensa inclinada para frente.

Oh, e como pude esquecer-me de citar um importante detalhe. Quando passou ao meu lado, o homem misterioso de belos olhos azuis deixou um rastro delicioso de perfume e sabonete, evidenciando que tinha acabado de sair do banho. Era um odor bem masculino e marcante. Alguma coisa sobre aquele cara eu já podia acrescentar à minha lista de coisas sobre Senhor-camisa-cor-de-rosa: ele certamente vinha de casa, do contrário, não estaria cheirando à sabonete.

Espera!

Quem nessa porra de mundo disse que há uma lista?

Não há lista!

Cruzei os braços, emputecida comigo mesma. Eu só não sou mais esquisita porque sou uma só. Bufei mentalmente. Sim, mentalmente, porque a última coisa que eu queria era parecer uma idiota que bufa do nada dentro do ônibus.

Busquei meu celular dentro da bolsa da bagunça para tentar me distrair do fato de que um cara muito gato e misterioso, que despertava as sensações mais estranhas em mim, estava sentado exatamente na minha traseira.

Oh, merda! Isso soou estranho.

Exatamente na minha traseira...

Essa frase dava margens a tantas interpretações...

Desbloqueei meu celular e comecei a fuçá-lo sem o menor objetivo. Fiquei feito uma retardada buscando o que fazer no aparelho. Tentei joguinhos que ajudam a diminuir um pouquinho dos neurônios, redes sociais, listas de músicas, álbum de fotos... Porra! Até o álbum de fotos? Sério, Bella? Pra que eu queria ficar vendo fotos dentro do ônibus estava além da minha compreensão. O problema era que eu não tinha a mínima noção do que estava fazendo.

Bufando, - mentalmente, só para deixar claro - joguei o celular dentro da bolsa fazendo uma prece silenciosa para que ninguém resolvesse me ligar naquele momento, trazendo o risco de mais situações embaraçosas na frente do Senhor-camisa-cor-de-rosa.

Cruzei os braços novamente e me forcei a admirar a paisagem bucólica do lado de fora. Londres era tão linda. Alguns diriam que preferem um lugar onde haja muito sol e calor, que o céu azul é infinitamente mais bonito e bla bla bla. Entretanto, eu amava aquele clima triste e frio. Por mim não podia aparecer sol nunca mais. Não sentia a mínima falta do céu azul. Poderia parecer estranho, mas culpe o fato de eu crescer em uma cidade que só chove e você vai entender meu ponto de vista.

Decidi ler um livro da faculdade para ver se acalmava meu nervosismo. É claro que o dito cujo estava enterrado nas profundezas da bagunça. Tive que remexer em todo o conteúdo da minha a bolsa até encontrar o que procurava. A monarquia inglesa era o título. A matéria da professora que pedira para lermos este livro, era uma das minhas favoritas. Eu não precisava de muito esforço para me concentrar na leitura, já que o assunto realmente me interessava.

Abri onde estava o recibo do meu último lanche no McDonald’s, que servia de marca-páginas, e comecei a ler de onde parei...

“O processo de consolidação da monarquia nacional inglesa...”

De repente, senti um tapinha leve no meu ombro direito. O susto foi tão grande que o meu livro voou ônibus afora. Fecheis meus olhos praguejando quem quer que tenha me causado aquele susto. Inferno, se aquele livro tivesse uma mínima orelha que fosse, eu pularia da ponte mais próxima!

Como eu não dei sinal de vida, a pessoa se achou no direito de me cutucar novamente. Ai como eu odeio ser cutucada!

Estava pronta para virar para trás e dar um sermão na pessoa irritante que ousou interromper minha leitura, quando ouvi a voz mais aveludada e sensual do mundo:

__Moça, você deixou cair isto.

Fechei os olhos de novo. Porra, como eu pude me distrair do fato de que quem estava atrás de mim era Olhos-azuis-e-camisa-cor-de-rosa?

Quatro pedidos se passaram pela minha mente naquele breve segundo que se passou antes de eu me virar para trás.

Primeiro: eu queria aquela voz sussurrando as coisas mais sujas no meu ouvido.

Segundo: eu queria aquela mão que tocou o meu ombro me acariciando em lugares onde o sol não bate.

Terceiro: se não fosse pedir muito, que eu estivesse enganada e que a pessoa me cutucando não fosse quem eu pensava que fosse.

Quarto e último e mais importante: pelo amor de tudo quanto é santo, que o que quer que seja que ele esteja tentando me entregar, não seja um absorvente!

Eu não suportaria. Seria a minha morte.

Que não seja um pacotinho roxo feminino. Que não seja um pacotinho roxo feminino... Rezei enquanto me virava lentamente, o livro totalmente esquecido sabe-se-lá-onde.

Como estava sentada no canto, consegui me virar parcialmente, com as pernas voltadas para o banco vazio ao meu lado e a parte direita do meu corpo grudada no encosto do banco. É claro que a cena não se desenrolaria de forma normal. É claro que, ao me virar, daria de cara com a virilha do Senhor-camisa-cor-de-rosa.

Puxei e prendi o ar em meus pulmões ante aquela visão interessante. Certamente ele não estava ereto, a não ser que tivéssemos um caso de polícia aqui, quer dizer, ninguém em uma situação cotidiana dentro de um ônibus ostenta uma ereção, vamos combinar... O que me levou a concluir que, além dos mais belos olhos azuis já existentes no mundo, o cara mais gato vivo sobre a face da terra era muito bem dotado, se é que você me entende.

Minha língua passou por meus lábios sem minha permissão. Eu estava literalmente salivando. Puta que pariu! Será que dá pra parar de agir feito uma maníaca sexual e procurar saber o que aquele estranho quer com você, Isabella Swan? Eu até me esqueci de continuar a prece silenciosa.

Obriguei meu cérebro a funcionar e minha cabeça a se erguer. Observar virilhas alheias era considerado crime? Porque se fosse, eu sairia daquele ônibus algemada... O que Charlie diria disso? Já podia até imaginar o maior sermão de todos os tempos, vindo do pai mais carrancudo vivo.

Quando olhei em seu rosto, suas bochechas estava rosadas... Own, aquilo era tão doce e fofo! Eu queria apertá-las...

Opa! Será que...

Lancei rapidamente meu olhar para suas mãos e soltei um suspiro aliviado. Nada de constrangedor por hoje, graças aos céus! O que ele queria me entregar era apenas o meu marca-páginas improvisado. Se bem que aquilo era um pouco estranho. Quer dizer, quanto custa a porra de um marca-páginas? Eu, como uma leitora compulsiva, não poderia ter comprado alguns? Agora o estranho devia estar pensando que, além de jogadora de absorventes em colos de pessoas desconhecidas, eu também era desleixada.

Se não tinha nada de constrangedor por hoje, por que no mundo ele estava corando? Será que ele me flagrou observando seus bens? Acho que não, pois a minha cobiça só durou muito tempo dentro da minha cabeça, mas na vida real não durou nem um segundo. Não acho que tenha dado tempo de ele me flagrar... Será?

Deixei todos os meus pensamentos de lado e forcei-me a agir como qualquer ser humano normal. Estendi minha mão e peguei delicadamente o marca-páginas impostor.

__Obrigada. – falei sorrindo docemente.

__De nada. – ele respondeu todo sério e contido. No outro dia, quando eu o agradeci por me dar licença, ele não respondeu nada, mas hoje estava começando a dar sinais de que era um legítimo inglês: lindo e educado.

Qual é, Isabella? O cara fala um simples de nada e você já o acha a pessoa mais educada sobre a face da terra?

Como estávamos dentro de um ônibus e éramos dois completos estranhos um para o outro, não havia mais nada a dizer. Virei-me para frente e abracei minha bolsa, o recibo preso em minha mão como se minha vida dependesse daquilo. Encostei minha cabeça no banco e fechei os olhos, repassando toda a cena sensual e romântica em minha mente. A quem eu quero enganar? Não houve nada de sensual e romântico na cena anterior, apenas uma pessoa sendo educada com a outra.

Senti outro cutucão, só que daquela vez no braço. Abri os olhos e encontrei um par de olhos azuis me observando.

O que será agora?

__Você se esqueceu de pegar o seu livro. – ele informou em pé no corredor, o braço estendido com o meu exemplar de A monarquia inglesa na mão.

Ai, que voz era aquela? Sentia-me derreter só de ouvi-la...

__Ah, eu estava distraída. – repassando todos os detalhes da sua virilha muito atrativa, completei em pensamento. – Obrigada de novo. – respondi pegando o livro de sua mão.

__De nada de novo. – ele falou e voltou para o seu lugar.

O restante da viagem passei refletindo e me perguntando por que ele simplesmente não se sentou do meu lado. Assim como quando ele entrou, o banco estava vazio. Será que ele estava me evitando de propósito? Por quê?

Ora, como se eu tivesse alguma importância na vida dele para ele querer me evitar ou alguma merda assim. Não seja tão pretensiosa, Bella!

Quando chegou o momento de descer, reuni minha bagagem e rumei ônibus afora sem olhar para trás. Eu não estava pronta para enfrentar todas as sensações esquisitas que aquele estranho estava me causando. Eu não estava ali para viver uma história de amor. Pelo contrário, estava ali justamente fugindo de uma fracassada história de amor, se é que eu podia chamar aquilo de história de amor. Estava mais para história de terror...

__Está tudo bem com você, Bella? - uma colega da minha turma, Bree, questionou-me ao ver-me entrar na sala de aula repleta de cadeiras negras ainda vazias.

Será que eu estava tão em evidência assim?

Balancei a cabeça afirmando em resposta, joguei minhas coisas em uma cadeira qualquer e voei para o banheiro no corredor. Apoiei minhas mãos na pia e me encarei no espelho. Eu estava com as bochechas coradas e os olhos brilhando...

Que raios?

Eu não era o tipo de garota que corava. Devia ser a corrida para chegar até ali. É, era isso. E o que na face verde da terra era todo aquele estúpido brilho nos meus olhos? Fechei-os, querendo mais do que tudo tirá-lo de lá.

Sem me importar em borrar a pouca maquiagem que usava diariamente, abri a torneira, enchi minhas mãos de água e taquei no rosto. Não sei quanto tempo fiquei ali me encharcando, mas só parei o que estava fazendo quando ouvi vozes se aproximando do banheiro. Fechei a torneira e me tranquei em uma das cabines. Eu não queria que vissem a minha derrota.

Eu amava o curso que fazia, realmente amava. Era a realização de um grande sonho e praticamente todas as aulas eram boas, mas naquela tarde, especialmente naquela tarde, eu simplesmente não estava no clima. As vozes dos professores eram meros zumbidos ao fundo dos meus pensamentos inconstantes, todos voltados para certo cara de intrigantes olhos azuis. Ele tinha que ser tão lindo e me encarar como se eu fosse a única garota sobre a face da terra?

Argh!

Pretensiosa de novo...

Inferno! De onde eu tirei que ele me encarava como se eu fosse única no mundo estava além da minha compreensão. Ele não me olhava como se eu fosse única na porra do mundo. Ele me olhava como a maioria dos homens olhava. Devia me achar bonita, só isso. Eu não sou exatamente uma pessoa convencida, mas tenho que admitir que sou bonita. Minha pele clara e cabelos cor de mogno fazem um bonito contraste com meus olhos verdes. Isso realmente chama a atenção dos homens em geral e eu já estava acostumada com olhares de admiração em minha direção.

Olhares de admiração não querem dizer nada, Bella, e você sabe muito bem disso.

Então, por que tudo aquilo me incomodava? Por que, de repente, tudo sobre aquele estranho começou a me interessar? Para onde ele ia? O que ele fazia na parte da manhã? Será que era um estudante? Quantos anos ele tinha? E mais do que tudo, qual era o seu nome?

Um sentimento sufocante de angustia dominou o meu corpo ao constatar que, a não ser por um milagre, eu jamais saberia essas respostas, salvo, é claro, que eu as fizesse pessoalmente, com a cara e com a coragem...

O fato é que eu não era conhecida por ficar por aí abordando os homens, ainda que eu estivesse muito interessada, – o que não era esse o caso, só para deixar bem claro – principalmente homens que eu não conhecia. Se ele não tomasse uma iniciativa, levando em conta que tivesse interessado, obviamente, daquele mato nunca sairia um cachorro...


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Notas finais do capítulo

Olá!
Os primeiros capítulos estão ficando pequenos, pois estou focando apenas na Bella dentro do ônibus, depois eles irão aumentar...
Obrigada por todos os reviews deixados até agora, se deixar sua opinião deste capítulo, ficarei feliz e agradecida e inspirada...
Bjs!!!



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