The Passenger escrita por dagalvao


Capítulo 3
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Capítulo 2




POV Bella




“E se eu fixasse o meu olhar por muito tempo, provavelmente perderia o controle e começaria a chorar. Ele tem os olhos como os céus mais azuis, como se eles pensassem em chuva.”

Guns N’ Roses – Sweet child o’ mine




Eu estava atrasada!

De novo!

Urgh!

O quanto isso poderia ser irritante?

Dessa vez, graças ao filme meloso que fiquei assistindo até tarde ontem à noite e acabei cochilando depois do almoço. Maldita falta de vida amorosa! Fazia tanto tempo que eu não dava um beijo na boca que eu tinha certeza que estava cheia de teias de aranha. Inferno! Foi por isso que decidi ignorar o bom senso e acabei dormindo tarde sabendo que estaria acordando com as galinhas no outro dia. Mas o que eu poderia fazer? Se minha vida amorosa era inexistente, a única saída era apreciar a vida amorosa dos outros, nem que fosse a fictícia.

Pelo menos meu atraso foi apenas de dez minutos. Fazia mais ou menos uma semana desde meu último atraso, quando Sra. Carmem foi a culpada por ele, dando-me uma palestra sobre saltos. Daquela vez, a simpática senhora não era culpada.

Mais o que raios havia comigo, afinal? Qual o problema de se atrasar dez minutos de vez em quando? Nenhum. A não ser que você estivesse morando na terra da rainha, o que era totalmente o meu caso.

Dei um suspiro resignado e olhei o meu relógio de pulso. O vermelhão já estava prestes a apontar na esquina. Busquei, no bolso da minha calça jeans, meu cartão pré-pago e me preparei mentalmente para a tensão que me envolvia todos os dias. Era chegada a hora. O barulho característico dos transportes de grande porte irritou meus tímpanos, como sempre fazia, anunciando que o ônibus havia parado para eu entrar.

Assim que girei a catraca, uma grande irritação me dominou. Quem era aquela maldita mulher sentada no meu lugar? Dei três passos largos a fim de aproximar para tirar satisfações. Cheguei a abrir minha boca, mas a boa educação que recebi dos meus pais falou mais alto e fez-me recuar. Olhei para trás em busca de um outro lugar para eu me acomodar para a longa viagem. Só restava um lugar vazio próximo à janela. Quer dizer, com certeza no andar de cima haveria milhões de bancos solitários, uma vez que quase ninguém ia para lá, entretanto, se fosse para o segundo andar, perderia toda a movimentação daqui debaixo...

Sentindo-me imensamente frustrada, pedi licença à garota que estava na beirada e sentei no canto, abraçando minha maxi bolsa e encarando a paisagem de construções antigas do lado de fora. Não demorou nem dois minutos para que eu escorregasse um pouco na poltrona e apoiasse minha cabeça no encosto. Fechei os olhos e esqueci o mundo à minha volta. Naquele dia eu estava morrendo de sono, por isso acabei cochilando, o que não era muito característico da minha pessoa...

Estava imersa em um sonho interessante, onde um cara lindo me beijava vigorosamente enquanto ambos apreciávamos o bonito por do sol de uma praia paradisíaca quando o meu celular tocando alto e estridente me acordou.

Desnorteada e levemente descabelada, sentei num rompante. Era hora da guerra. Por que toda vez que buscamos algo dentro da bolsa, a dita coisa faz questão de desaparecer nas profundezas da bagunça? Se eu não estivesse caçando o meu celular, ele estaria lindo e loiro na minha frente, mas como o universo ama conspirar contra mim, o maldito aparelho sumiu, só deixando seu toque com Twist and Shout, dos Beatles, de lembrança.

Antes de iniciar a escavação, fechei meus belos olhos verdes por alguns segundos, praguejando quem quer que estivesse me ligando. As pessoas ao meu redor deviam estar me achando uma verdadeira louca. Os ingleses eram, além de educados e belos, pessoas discretas e calmas, então eu certamente estava causando um desconforto entre aqueles que me acompanhavam na viagem de ônibus.

Respirei fundo e abri os olhos. Não havia como adiar mais. Alguém teria que fazer alguma coisa para o celular se calar, e esse alguém só poderia ser eu, pois, como disse, as pessoas ao meu redor eram educadas o suficiente para não meterem a mão na minha maxi bolsa, achar o aparelho do mal e fazê-lo se calar.

Maluca como sempre fui, comecei a desenterrar tudo que estava em minha bolsa. A primeira coisa que surgiu em minhas mãos foi a bolsinha rosa de lápis. Sem saber o que fazer e, louca para encerrar o show, joguei-a para o lado, pouco me importando na onde ela fora parar... acho que era o colo de alguém. Dei de ombros. Não tinha tempo para checar aquilo naquele momento, eu era uma mulher em uma missão impossível.

Será que Tom Gatíssimo Cruise teria uma vaga no próximo filme dele? Questionei-me por um segundo. Depois sacudi a cabeça e voltei para minha tarefa.

Prendedor de cabelo. iPod. Pirulito velho enrolado no papel. Balas. Pote com biscoitos. Calculadora...

Espera!

O que aquela calculadora fazia ali? Depois eu pensaria naquilo. Continuei.

Sache de ketchup. Sache de mostarda. Um parêntese aqui: eu amava levar para casa os saches que sobravam quando eu fazia lanche em alguma lanchonete.

Caderno. Livro. Óculos de sol. Protetor solar. Creme facial. Não sei para que eu carregava creme facial, eu odiava passar...

Agenda. Pacote de absorventes...

Oh! Lá estava! Bonito e brilhante e rosa. A tela piscando freneticamente. O toque mais alto a cada segundo.

Finalmente! Quem é vivo sempre aparece...

Com uma força desnecessária, enfiei a mão na bolsa e agarrei o aparelho do mal. Antes de atender, o encarei de cara feia por uns bons dez segundos. Humpf! Como se minha expressão assassina fosse resolver alguma coisa. Revirei os olhos para a minha idiotice.

Só então vi quem me incomodava.

Ah não!

Mamãe não!

Não agora!

Pensei em ignorar a chamada e desligar o celular, mas depois não teria tempo de falar com ela, uma vez que estaria na sala de aula. A única solução foi atendê-la. Era aquilo ou ela iria simular o indício de um derrame cerebral, pois era assim que ela ficava quando eu não a atendia. Sempre exagerada a senhora Swan.

Apertei o verde e me preparei para a voz aguda e alta de Renee.

__Bella! Até que enfim! Pensei que você não atenderia nunca.

__Você não sabe como foi difícil chegar até aqui. Gastei um século para desencavar essa porra desse celular. – expliquei me sentindo exausta pela expedição.

__Isabella Marie Swan, olha a língua!

__Foi para me xingar que você ligou?

__Não. Claro que não, princesa.

Dá pra acreditar que ela ainda me chama de princesa mesmo eu sendo uma mulher adulta e dona do meu próprio nariz? Não, não dá!

Minha amada mãe continuou:

__Faz uma semana que não tenho notícias suas, filha. Estava ficando preocupada.

__Mãe, calma. Não precisa mandar uma equipe de busca para me resgatar. Estou bem, só um pouco ocupada. – olhei pela janela tentando falar o mais baixo possível.

__Princesa, mesmo estando ocupada com os estudos e o trabalho, você precisa arrumar um tempo para se comunicar conosco. Seu pai tende a ficar paranóico com a sua falta de notícias.

__Dona Renee, tenho certeza que você e sua impaciência são responsáveis por deixar o papai paranóico.

__Oh! Como se minha querida filha fosse a mãe da paciência. – ironizou. – Mas falando sério, filha. Como você está? Está se alimentando direito ou preciso ligar para a simpática senhora que trabalha com você?

__Estou me alimentando bem. Estou dormindo bem. E estou estudando bastante. É isso. E não se preocupe, notícia ruim chega rápido, logo, se algo horrível acontecer comigo, vocês serão os primeiros a serem informados, garanto.

__Isabella, não brinca com coisa séria, filha. E os namorados? Está beijando muitos ingleses por aí?

__Mãe, isso não é assunto para...

Desviei o olhar da janela. Olhei brevemente para o meu outro lado e...

Oh!

Olhos azuis como o céu em dia ensolarado me encaravam assustados.

Arregalei os meus olhos.

Azuis e verdes se encarando assustados.

Perdi o fio da meada. Perdi a voz. Perdi a sanidade.

Na minha frente, ou melhor, do meu lado, estava sentado o mais belo homem sobre a face da terra.

Além dos olhos azuis, o homem tinha um cabelo extremamente bagunçado, dando a entender que tinha acabado de desfrutar de uma boa rodada de sexo. A cor deles era algo espetacular. Era um tom estranho de cobre misturado com dourado. O seu rosto branquinho parecia ter sido esculpido cuidadosamente à mão, de tão perfeito que era. As sobrancelhas eram grossas, mas não atrapalhadas. O nariz era reto. A boca era fina e vermelha, totalmente beijável. E a sua mandíbula... Oh, céus! A sua mandíbula era a mandíbula mais bela já vista por meus olhos. Sexy ao extremo. Deu-me imensa vontade de passar minha língua por ali.

Fui descendo o olhar e...

Espera!

Olá, camisa rosa de botões. Alguém parece que gosta de repetir roupas...

Sim, você não entendeu errado. Esse cara era o mesmo que eu vira brevemente na semana passada, quando peguei este ônibus por estar atrasada.

Continuei minha segunda expedição do dia. Fui descendo os olhos e...

Espera de novo!

Não! Não! Não! Não!

Matem-me. Agora.

No colo daquele lindo estranho de penetrantes olhos azuis estavam todos os objetos que eu havia desenterrado da porra da minha maxi bolsa.

Eu estava mortificada além da crença.

Ao fundo, a voz de Renee tentava me chamar para a vida, mas eu não tinha condições de respondê-la naquele momento. Era como se tudo tivesse ficado suspenso no ar enquanto eu me questionava por que aquele tipo de coisa só acontecia comigo.

O pior não foi o estranho lindo segurar minhas coisas, quero dizer, isso foi péssimo, porém, pior do que aquilo, foi vê-lo segurando meu pacote de absorventes em uma das mãos.

Ele percebeu para onde eu olhava e seguiu meu olhar. Sua face alva ganhou um tom avermelhado fodidamente fofo. Deu-me vontade de apertá-lo, porque, vamos combinar, que homem cora hoje em dia? Nenhum. A não ser o senhor camisa cor de rosa aqui.

Encarei o maldito pacote por longos segundos tentando fuzilá-lo e fazê-lo desaparecer da cena só com o meu olhar fulminante. Por que no mundo eu não era uma super-heroína mesmo? Droga! Seu pudesse escolher um super poder, fazer desaparecer coisas seria um deles.

Alguém tinha que fazer alguma coisa, ou melhor, eu tinha que fazer alguma coisa, e a primeira delas foi informar à minha mãe que mais tarde ligaria para ela. Desliguei em sua cara sem maiores explicações. Rezei para que ela não resolvesse ligar de novo, trazendo à vida o maldito toque estridente.

Com o sorriso mais amarelo do mundo, peguei o pacotinho roxo da mão do Sr. Camisa Cor De Rosa e o joguei no lugar mais fundo da bolsa. Em seguida, fui recolhendo item por item que eu havia, sem nenhum pingo de noção, jogado em seu colo.

Depois de guardar tudo, murmurei um pedido de desculpas e voltei meu rosto, que também devia estar vermelho... veja, eu não era uma estúpida garota que corava, mas a situação pedia, então... Enfim, voltei-me para a janela e, com um suspiro de alívio, percebi que já estava na hora de descer.

Eu não saberia dizer se seria capaz de continuar naquela viagem por mais tempo. Que tipo de garota comete uma gafe daquelas na frente do cara mais lindo que já existiu no mundo? Só eu. Rose riria de mim até a morte. Antes de me aprontar para descer, decidi que ela nunca saberia daquilo. Não até que eu estivesse pronta para encarar sua zombaria.

Naquele dia, não me olhei no espelho ou me preocupei em passar gloss. Só o que eu queria era dar o fora dali e nunca mais encontrar com o Sr. Camisa Cor De Rosa novamente.

Ajeitei-me e pedi olhando uma última vez para aqueles olhos espetaculares - eu podia estar morta de vergonha, mas jamais perderia a oportunidade de apreciar uma boa carne:

__Licença. – minha voz saiu fraca e sem graça.

O rapaz não falou nada. Ainda me encarando como se eu fosse um extraterrestre, recolheu sua mochila do chão e se levantou para me dar espaço.

__Obrigada. – eu disse ao passar por ele, que nada respondeu, somente voltou a se sentar no lugar de antes.

Será que ele não era um legítimo inglês? Se ele fosse, certamente teria me respondido...

Ah, tanto faz!

Assim que desci do ônibus, andei o mais rápido que pude para me livrar da situação embaraçosa de uma vez por todas e daquele olhar assustado e perturbador.


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Notas finais do capítulo

Olá, leitores!
Não costumo me desculpar pela demora, pois acho isso muito clichê, mas dessa vez o faço, pois estava realmente atolada em trabalhos e mais trabalhos da faculdade, o que me tirou o tempo para escrever... então: me desculpem pela demora!
Só queria dizer que os capítulos, a princípio, serão pequenos mesmo, porque minha intenção é focar no que acontece dentro do ônibus, mas aos poucos outros personagens ganharão vida e vocês verão mais da Bella fora do ônibus.
Agradeço aos reviews deixados nos dois primeiros capítulos e peço que vocês me deixem saber o que acharam deste.
Se quiserem falar comigo, estou no:
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facebook.com/FicsDanielleGalvao
Até o próximo, beijos!!!!!