Safe And Sound escrita por GarotaDoValdez


Capítulo 19
Capitulo 19 - Promessas.


Notas iniciais do capítulo

como eu disse anteriormente, esse capitulo será o mais eletrizante de todos.
após lerem, me perdoem mesmo por ele :v
boa leitura



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Acordo com o rosto doendo.

Provavelmente por causa das lágrimas que secaram enquanto dormia.

Abro mais forte os olhos, para se ajustarem com a luz da manhã. O ar está abafado de novo, o que me faz tirar a blusa térmica de Harry. Me assusto por ainda não ter levado nenhum choque térmico.

Olho para os lados e vejo apenas Josh acordado. Que ótimo, a pessoa que esta brava comigo é a única que pode conversar comigo agora.

– Bom dia. - tento quebrar o silêncio quando o menino olha para mim.

– Quem dera. - ele responde, frio.

– Olha, me desculpa, mas não entendo o porquê de você estar mal comigo. - exclamo, e me aproximo do garoto. Ele não recua, então me inclino mais, esperando por uma resposta, embora eu já saiba qual seja.

– Porque eu fui estúpido em pensar que ajudar você a sair daquele pandemônio resultaria em alguma coisa. - Josh desvia o olhar para o chão. O cabelo loiro dele brilha contra o sol.

– Bom, resultou. - toco os dedos da mão do menino apoiada no chão, bem de leve. - Pelo menos para mim.” ele resmunga. “Você não me deu chance de pedir desculpas, nem de agradecer. Sem falar que eu não pedi para você e Harry me tirarem de lá.

– Não precisava. - o loiro finalmente olha para mim de novo. - A gente ia lá de um jeito ou de outro. - Josh retribui o meu toque sutil, segurando minha mão. É um gesto fraternal. - Deixar alguém da sua idade morrer assim pareceu injusto. E, se você está pedindo desculpas e agradecendo agora, eu aceito o perdão e de nada.

Sorrio para o garoto, que sorri de volta. O sorriso dele me lembra do de Aiden.

Imediatamente me levanto e vou para longe. Sinto muita vontade de encontrar meu parceiro, mas ao mesmo tempo tenho medo disso.

– Fiz alguma coisa errada? - Josh fixa os olhos em mim. - O que foi?

– Não, não tem nada a ver com você. - tento acalmá-lo. - Só... Estou me sentindo um pouco enjoada. Acho que estou com fome.

– Faz sentido. - o menino diz, olhando para o próprio estômago. - As frutas acabaram ontem. Temos que buscar mais.

– Vamos esperar Harry, Amy e Piper acordarem. - digo, sorrindo novamente, tentando esconder meus sentimentos por Aiden. - Então vamos procurar as árvores que dão as frutas. Faço questão de achá-las e colhê-las.

Ficamos em silêncio, sem fazer nenhum esforço para acordar o pessoal. Acho que porque nenhum de nós dois falou a verdade sobre estar com fome.

Acabamos por esperar uma hora para que todos estejam acordados. Após concordarmos em me deixar buscar as frutas, rodamos a área procurando pelo menos uma árvore frutífera. Depois de acharmos uma, Amy vai mais a fundo na investigação, usando a desculpa de que iria verificar se eram frutas venenosas, mas sei que foi checar para ver se Fllyn estava longe, ou pelo menos bem escondido.

Ela demora cerca de uma hora. Quando volta já estou pronta para ir buscar nosso alimento para os próximos dias, provavelmente.

Isso se nenhum de nós morrer.

– Então, está combinado. - diz Harry antes de eu partir em busca das frutas. - Faith busca comida, Piper e Josh buscam mais água e eu e Amy vigiamos o lugar. Se algo acontecer, é só gritar.

Afirmo com a cabeça e saio andando em direção às árvores.

Finalmente acho as que não dão frutas venenosas, e logo tiro os potes dentro da mochila no meu ombro para começar a colocar as frutas dentro. Já peguei cinco em bom estado quando ouço:

– Fay?

Ah, minha nossa.

– Den? - respondo, me virando.

Ah, minha nossa.

Aiden está deslumbrante na roupa de arena dele. Usa uma camisa térmica mais larga, mas que ainda destaca seus músculos mal-formados. O cabelo do menino brilha forte com suor, e suas bochechas estão vermelhas. Seus olhos escuros oferecem conforto, principalmente quando estende os braços.

Retribuo o abraço com força, muita força. O garoto me tira do chão.

– Ah, que bom que você está bem! - ele diz assim que me põe de volta no musgo do solo. - Você está sozinha? Está em uma aliança? Poderia se juntar a mim e a Emma e a Marie!

– Não, obrigada. - digo, sem querer revelar que já estou em uma aliança. - Estou bem sozinha. Além disso, Diana...

– Ah, Faith, vamos! Diana não está mais no nosso caminho! Isso são os Jogos Vorazes.

Me afasto dois passos de Aiden. Como pode ser tão frio com a irmã e ainda me deixar confortada?

– Apenas se você me explicar sobre...- não posso dizer. Diana está assistindo. - Sobre aquilo.

O louro a minha frente respira fundo, caminha para frente, segura minha mão e me convida a sentar encostada na árvore em que catava as frutas. Sento-me.

– Você estava chorando. - ele segura meu queixo com uma mão. - E você fica linda quando chora.

– Não é uma explicação tão concreta. - tento me manter fria, mas sei que não posso. Não falando com Aiden.

– Você estava triste, Fay. - o garoto tira a mão do meu queixo e se levanta, frustrado. - Eu estava triste. Sua cara transparecia carência. Você acha que eu não iria atender ao pedido? - levanto-me também, fazendo o menino olhar para mim. Reviro os meus olhos, esperando uma reação. - Seus olhos estão verdes, Faith.

– E?

– Andou chorando? - ele passa o dedão na minha bochecha, chegando mais perto. - Você não sabia que seu olho muda de cor quando você chora?

Então era por isso, penso.

– Sabe por que eu fiz aquilo, Fay? - o menino entrelaça seus braços em volta da minha cintura, me puxando para bem perto. – Porque durante esses anos que passei com você e minha irmã, eu fui te conhecendo melhor, mas só recentemente eu descobri algo que me mudou... descobri que eu te amo. Eu te amo, Faith.

Aiden se inclina e sei que vai me beijar. Quero que esse momento aconteça, quero. O rosto do menino está perto do meu, bem perto...

E então há um grito, e sangue. Muito sangue.

O vermelho saindo do peito de Aiden mancha o meu maiô e meus ombros. A lança atravessa bem no local do coração do garoto.

Ele cai no chão, inerte, assim que o canhão soa.

A camisa térmica azul que Aiden usa agora é vermelha, da cor do sangue que mancha meu corpo. Ali, bem no lado esquerdo do peito, está enfiada uma lança, quase toda atravessada. Foi tamanho o estrago que acabo de perceber que a lâmina raspou rente no meu pescoço, que não sangra muito. O corpo do menino deitado me traz agonia e dor, e sinto vontade de gritar, mas sei que se fizer isso, Harry e Amy virão em meu socorro.

E agora só preciso do socorro de Aiden.

Ajoelho-me ao lado do corpo do morto, chorando forte, porém sem fazer barulho. Deito a cabeça no estômago do garoto, esperando senti-lo respirando, mas sei que não vai ser possível.

Também sei que logo vou ter de sair de perto dele, para que um aerodeslizador venha buscar o corpo. Não que eu queira sair de perto dele.

Mas tenho que ser forte. Agora, mais do que tudo.

Forço-me a puxar a cabeça e o corpo para cima. Antes de ir, beijo sutilmente a testa do menino inerte.

– Eu deveria morrer, não você. - suspiro inutilmente contra o ouvido dele. – Porque eu também te amo. Eu amava.

Queria pelo menos saber quem foi que matara meu parceiro de distrito.

***

Aiden morreu, Aiden morreu.

É como se o pensamento me perseguisse, me fazendo acreditar, mas eu não queria acreditar. Não dessa forma.

“Sabe, eu fiz o Aiden prometer que ele vai ficar o mais longe possível de você na arena, assim, se um de vocês morrerem, o outro não vai ver.”

Diana estava certa. Sempre esteve.

Corro o mais rápido que posso de volta a minha aliança. Os soluços me sufocam, me fazendo respirar com dificuldade, mas me recuso a parar de correr.

Eu preciso de alguém agora, preciso de um abraço forte, de um beijo na testa, de uma mão me fazendo carinho. Preciso de pessoas com quem eu me importo. Porque quase todos foram embora agora.

Paro para descansar numa árvore, sem me importar de algum tributo me ver agora. Porque o que eu mais quero e me juntar a Aiden.

E ao mesmo tempo, é o que eu menos quero.

Corro mais alguns metros e volto aos meus aliados. A primeira pessoa que vejo é Amy. Ela me olha e sem pensar abre os braços. Retribuo o abraço, chorando forte contra o ombro dela.

– Nós vimos. - ela diz, me consolando. Pelo menos ela sabe que não consigo abrir a boca. - Vai ficar tudo bem.

Sinto um abdômen quente por cima das minhas costas e tento me lembrar de quem mais poderia estar lá para me abraçar daquele jeito. Piper foi buscar água com Josh, Julie e Lexy não existem mais...

– Você não poderia mantê-lo vivo por muito mais tempo, Faith. - a voz de Harry invade meus ouvidos, o que me conforta, assim como a voz de Amy. Preciso dos dois aqui.

Sabia que o abraço não ia durar tanto, então me separo dos dois triste. Meu coração dói, eu sinto frio no meio de todo o ar abafado da arena.

Sento-me contra minha pedra e visto a blusa térmica de Harry, tentando lembrar do calor da de Aiden. Amy e o menino sentam um de cada lado de mim, e me permito deitar a cabeça no ombro da garota.

Então escuto o segundo canhão e fico em pé junto com meus dois companheiros.

A foto do tributo demora para aparecer, e quando aparece não sei quem se sentiu pior, eu ou Amy.

O sorriso inocente do holograma mostrado me faz sentir a pior dor do mundo. Amy escorrega pela pedra e cai deitada no musgo, seu rosto tampado, as lágrimas abafadas.

– Alguém está vindo. - diz Harry ao meu lado, indeciso ao que fazer quanto a Amy. Indeciso ao que fazer com uma menina cujo irmão de 12 anos morreu. - Vou conferir o espaço.

Porém as pessoas que chegam são Piper e Josh.

– Conseguimos várias frutas... - Piper começa, mas olha para Amy caída no chão e se espanta. - Está tudo bem?

Afirmo com a cabeça, minha voz ainda sufocada na garganta.

– Ufa. - diz Josh. - Vocês não vão acreditar. Eu disse para Harry que havia alguém nos seguindo! Sabia que eu estava certo! Então eu matei o meni...

Amy levanta a cabeça e eu caio ao lado dela. Era Fllyn que estava nos seguindo.

– VOCÊ MATOU O MEU IRMÃO? - A menina ao meu lado expressa fúria em plenos pulmões. - COMO VOCÊ OUSA...

A ruiva pega um flecha perto da pedra dela, nem se importando com o arco, e vai na direção de Josh, pronto para feri-lo, pronto para matá-lo. Ela mira no coração do garoto. Ela impulsiona o cotovelo e o ombro para trás...

E no último segundo é Piper que cai no chão inconsciente. É Piper que faz o canhão soar.

Eu e os meninos estamos muito surpresos. Não apenas pelo fato de Piper se colocar na frente de Josh e ser atingida, mas pelo fato de Amy voltar a chorar e sair correndo pela vegetação densa. Levanto-me do chão pegando a minha espada encostada na pedra de Harry e vou atrás dela.

Corremos por algum tempo, e não ouso perder de vista seu cabelo laranja destacado no meio do verde e do azul do dia. Ela para e respira, e então a alcanço.

– Por que você fez isso? - pergunto ofegante.

– Talvez porque Josh merecesse. Mas não Piper. - Amy diz entre os soluços e golfadas de ar. O som que ela faz machuca.

– Você sabia que ele faria... - começo, mas ela me interrompe.

– Não, não sabia, Faith. - a menina diz secando as lágrimas. Não era do tipo de chorar por muito tempo. - Apenas queria me vingar.

A voz fria da garota me assusta.

– Você tem certeza que Fllyn...- tento falar.

– FLLYN ESTÁ MORTO, FAITH! - a raiva invade meus ouvidos. - VOCÊ ACIMA DE TODOS DEVERIA SABER! VOCÊ SENTE A MESMA DOR QUE EU! AIDEN ESTÁ MORTO TAMBÉM!

– E POR SUA CULPA, PIPER TAMBÉM! - Grito, perdendo o controle. Estou com tanta raiva que sacudo a minha espada na direção da ruiva.

Cometi um erro.

Amy olha para baixo, tentando descobrir o porquê da lâmina ter passado pelo seu abdômen, cortando-o fundo. Sei disso porque vejo o sangue começando a jorrar. Ela se joga no chão, de lado. Me ajoelho ao lado dela.

– Amy, Amy não... - tento dizer em meio as lágrimas que voltam a se formar.

– Já é tarde, Faith Meinerz. - ouço a voz da menina baixinho, muito rouca. - Preciso ver meu irmão. - Ela passa a mão na barriga, e quando olha para ela o membro pinga pelo excesso de sangue.

– Não, você não pode! Não me deixe sozinha... - estou aos prantos, descontrolada.

– Você terá Harry e... - ela imita vômito ao falar o nome dele. - Josh.

– Mas eu preciso de você...

– Não precisa. Você precisa ganhar os Jogos.

– Amy, me desculpa por descumprir...

– Promessas não importam... - os olhos de Amy começam a pesar, como se fosse dormir por muito tempo. Tipo para sempre.

– Importam sim, importam... - não consigo terminar a frase.

– Fllyn.

E então o quarto canhão soa naquela noite.

Deito ao lado do corpo, não me importando com o aerodeslizador que logo vai chegar e buscá-lo.

Penso nas promessas que quebrei: A de Diana, por ter encontrado Aiden a de Terie, por ter matado alguém. E agora a de Amy, por tê-la matado.

“Há uma promessa que você ainda não quebrou.”

Tenho certeza que é só minha imaginação, pois é a voz de Amy na minha cabeça.

“Meu cabelo. Enquanto ainda há tempo.”

Penso em protestar, pois Fllyn já está morto, mas chego a conclusão de que não posso argumentar com alguém nesse estado, e não posso deixar de descumprir mais isso.

Pego a espada ensanguentada, viro o corpo inerte da minha antiga aliada e seguro seu cabelo com força, na altura do pescoço. Seguro a lâmina tão forte que minhas juntas ficam brancas.

Com um movimento do pulso, tenho um chumaço de cabelo ruivo nas minhas mãos. Uma parte bem grande dos cachos de Amy. Deixo o cabelo ao lado da menina.

Fico em pé, pronta para ir embora, mas algo me para. Não parece que acabou por aqui.

Ainda tenho que fazer uma coisa por Amy. Não sei como, mas preciso. Ou senão me mato aqui e agora. Escolho uma alternativa enquanto seguro minha espada mais uma vez.

Respiro fundo, e solto o ar bem na hora que vejo meus cachos dourados compridos caindo em cima dos ruivos da tributo.

Da minha... Amiga.


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Notas finais do capítulo

4 mortes num só capitulo.
Pois é, pois é.
não me matem por isso.
Como eu sempre falo: são os jogos!



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