Ela segurava o Excaliborg sobre a cabeça dele. Estava pronta para matá-lo. Ela já não agüentava tudo o que ele tinha feito, sempre colocando os sentimentos dele na frente dos dela. Ele não imaginava quão tamanha era a dor dela ao matá-lo todos os dias. Ele só ligava para ele mesmo... Mas não teve forças...

Seus braços despencaram ao lado de seu corpo e o Excaliborg caiu no chão. Dokuro-chan se jogou de joelhos no chão e começou a derramar lágrimas, há muito acumuladas em seus olhos.

- Dokuro-chan?

Sakura-kun estava espantado com a reação de Dokuro-chan. Quer dizer, ele nunca a tinha visto chorar, sem antes matá-lo. O que teria acontecido?

Sakura-kun se aproximou de Dokuro-chan e, sem ligar para o que ela faria depois, abraçou-a.

- Não chore... Apenas me conte o que aconteceu.

- Seu idiota! Vo... Você só liga para os seus sentimentos... Você nunca pensou em como eu me sentia ao matar você... Apesar de ser um anjo da morte, eu tenho sentimentos... Raiva, tristeza, felicidade e amor... Não é só por que você é o único humano que também é o único que tem sentimentos...

- Dokuro-chan... Eu... Eu não achei que você... – ele suspirou e separou-a um pouco de seu corpo. – Eu sabia o tempo inteiro que você tinha sentimentos, só que eu nunca pensei que você pudesse sentir nenhum deles por mim, exceto raiva. Achei que você me odiasse e por isso me matasse...

- Então, se eu te odiasse, por que eu te ressuscitaria?

- Não pensei nisso...

- Sakura-kun... Eu... Eu... – ela respirou bem fundo para engolir a vergonha e olhou nos olhos castanhos dele. – Eu te amo!

Sakura-kun ficou sem palavras por alguns momentos. Quer dizer, até soltar um sorriso e dar um beijo em Dokuro-chan.

- Eu também te amo, minha anja. Desculpe-me, pensarei mais em seus sentimentos de agora em diante...

- Eu espero que sim... Mas saiba que eu vou continuar te matando.

- O QUÊ? Por quê?

- Porque é meu trabalho. Mas não se preocupe, eu tenho o Excaliborg aqui comigo.

Ela se aproximou dele e o beijou. Sakura-kun esqueceu seu problema de morrer toda hora. Pelo menos, era morto pela garota que amava.

- Por quê? Mesmo eu sendo tão bonito, por que eu tenho que sofrer tanto? – Tamaki se perguntava.

Ele estava sentado em um dos bancos de uma praça bem longe da sorveteria. Ele havia acabado de perceber que amava Haruhi e, nesse mesmo momento, viu ela e o Hikaru se beijando. Tamaki estava com o coração aos pedaços. Não sabia o que fazer. Ele tinha perdido o amor de sua vida para uma pessoa de confiança. Absorto em seus pensamentos, nem ouviu alguém gritar atrás dele:

- Tamaki! Tamaki!

Ela correu até a frente dele.

- Tudo bem com você?

- Eu perdi o amor da minha vida... Perdi a pessoa que mais amei... Perdi tudo agora... – ele balbuciou sem nem saber quem a pessoa à sua frente. – Eu... Vi eles se beijando... Eu vi meu mundo se acabar em um instante... Mas, mesmo assim, acho que isso não importa... Eu estou feliz pelos dois...

Ele continuou com a cabeça baixa. A pessoa à sua frente se ajoelhou em frente a ele.

- Mesmo? Quem era o amor de sua vida, Tamaki?

- Era a... – ele levantou seu rosto e a viu. – HARUHI!

- Olá, Tamaki-kun – sorriu. – Mas, então, quem era o amor de sua vida?

- Anh... Etoo... Era... – começou a rir sem graça.

Haruhi se aproximou mais de Tamaki, que virou o rosto para ela não perceber o quão envergonhado ele estava.

- Tamaki, você está vermelho... Está bem? Não está com febre?

Ela aproximou bastante seu rosto do de Tamaki, checando se este estava febril. O coração de Tamaki quase parou de tão próxima que ela estava de si.

- Não... Você não está tão quente... O que aconteceu?

Respirar fundo. Era isso que ele precisava. Inspirar, expirar, inspirar, expirar, para finalmente tomar coragem.

- Haruhi... – ele começou a falar e segurou seus ombros para afastá-la um pouco. – Eu... Bem... Eu... Eto... – ele não conseguia falar. A coragem estava se afastando novamente.

- Tamaki... – ela disse e, logo, selou seus lábios.

Por um momento, ele ficou em choque, por causa do beijo repentino da garota, mas, logo, voltou a si e retribuiu o beijo.

- Acertei? – ela perguntou ao separar seus lábios.

- Anh... S-Sim – ele e abaixou a cabeça.

- Que bom. Eu... Achei que podia ser outra garota. Não acho que ia agüentar ver você apaixonado por outra... Sabe, Tamaki, eu... Eu gosto... Gosto muito de... Você... – ela disse, ficando vermelha igual a ele.

- Haruhi... Eu não agüentei ver você e Hikaru juntos... Por que vocês se beijaram?

- Bem, na verdade, ele que roubou o beijo... Era pra ser com você...

Ele ficou um pouco surpreso, mas se recuperou rápido como sempre e a abraçou.

- Eu te amo, Haruhi.

Ela sorriu.

- Eu te amo, Tamaki.

            Prédio da Oitava Série, fim do  último dia de aula, sala 81

- Finalmente chegou o dia, mamãe. Eu acabei a oitava série. Espero que esteja feliz, porque eu estou... Agora, é minha hora de dizer adeus. Saiba que eu te amo muito, mamãe, e foi por isso que eu fiquei na Terra. Devo dizer adeus também para a Tomoeda High School, para meus amigos, para os professores e para ela. Para a Chii. Desculpe-me por não ficar para sempre com você, Chii, mas saiba que eu te amo, e que queria poder ficar com você. Mas Deus disse que eu tenho que ir embora agora. Adeus, Chii – ao completar a frase, Shima começou a desaparecer. Cada parte do seu corpo começou a se transformar em um pequeno brilho.

- Chii...? – ela apareceu na sala. – Shima-kun, o que está acontecendo com você? – ela perguntou com sua doce voz ao vê-lo desaparecendo.

- Chii! Anh... Bem... Eu tenho que ir, Chii... – ele disse enquanto as lágrimas se formavam em seus olhos.

- Ir? Ir ao banheiro? Se tiver que ir ao banheiro, tem que ir logo! – ela disse com toda sua inocência.

Ele soltou um pequeno riso e se aproximou um pouco da jovem persocon.

- Chii, eu tenho que ir embora. Embora desse mundo.

- Desse mundo? Quer dizer, da Terra? Mas, então, você vai pra qual mundo? Porque a Terra é o único planeta em que os humanos vivem. A professora de ciências disse que nem Vênus, nem Mercúrio, nem Júpiter, nem nenhum outro planeta tem as condições necessárias para que humanos vivam neles – Chii era tão inocente, tão fofa. Shima não queria deixá-la de jeito nenhum.

- Chii, você sabe pra onde os espíritos das pessoas vão?

- Pro céu. O da mamãe da Chii foi pra lá, assim como o do papai da Chii.

- Chii, você perdeu sua mãe e seu pai?

- Sim. A mamãe e o papai da Chii foram embora em um acidente, quando Chii tinha 3 anos – ao terminar a frase, ela mostrou três dedos. – Então, uma moça muuuuuuito bonita ajudou a Chii. O nome dela é... Bem, ela não disse o nome dela pra Chii, mas ela levou a Chii para um lugar que chamou de orfanato. Lá, ela conversou com uma moça e disse que a Chii moraria lá a partir daquele dia. E também disse que quando Chii completasse 14 anos, era para Chii estudar numa escola chamada Tomoeda High School, aqui.

- Ah. Chii, você quer saber uma história?

- Que história, Shima-kun?

- Uma história que aconteceu há exatamente 6 anos... Ela é sobre mim.

- É sobre o Shima-kun? Chii quer ouvir – ela disse e sorriu.

Ele corou um pouco e a puxou para se sentar em uma das cadeiras.

- Então – ele começou -, era uma vez, um garoto chamado Katsuki Shima. Ela amava sua mamãe e queria sempre sair com ela. Um dia, ela decidiu levá-lo ao aquário. O garoto mal podia esperar para chegar ao local combinado e, por isso, acabou saindo correndo pela rua. A mãe disse para ele tomar cuidado, mas quem disse que ele ouviu. Foi atravessar a rua correndo e, por culpa dele próprio, acabou indo embora deste mundo. Só que, seu espírito ficou preso na Terra. Ele tinha um desejo: terminar o ginásio. Sendo assim, uma mulher muito bonita disse que ele poderia estudar aqui, só que, quando chegasse na oitava série, iria desaparecer. Então, Chii, essa é a minha história.

- A história do Shima-kun? – ela perguntou, não entendendo muito bem.

- É sim.

- Chii... Não entendeu... Shima-kun morreu?

- É... Sim, Chii.

- Mas Shima-kun ainda está aqui.

- Mas é por isso que eu disse que tenho que ir. Eu tenho que ir embora deste mundo para sempre. Meu lugar não é aqui...

            - Chii não entende – ela disse, com algumas lágrimas de formando.

Ao ver aquelas pequenas gotas em seus olhos, Shima logo entendeu.

- Chii, você não está entendendo ou não quer entender?

- Chii não quer entender. Chii não quer entender, porque
Chii não quer ficar sozinha de novo – ela começou a derramar as lágrimas que se acumulavam em seus olhos. – Chii quer ficar com Shima-kun pra sempre, por isso Chii não quer entender a história do Shima-kun, não quer!

- Chii...

Ela correu em sua direção e o abraçou.

- Shima-kun não sabe o quanto Chii sofreu quando os pais da Chii foram embora. Shima-kun não sabe o quanto Chii vai sofrer se ficar sozinha de novo. Chii não quer, Chii não quer ficar só. Chii quer Shima-kun. Shima-kun é importante pra Chii, muito importante.

Ele retribuiu o abraço.

- Eu também queria ficar com você, Chii, mas é impossível.

Os dois ficaram em silêncio por um instante, mas logo Shima continuou:

- Posso lhe dizer uma coisa, Chii?

Ela apenas balançou a cabeça, não conseguia falar de tanto que estava chorando.

- Chii, eu te amo – ele continuou.

- Ama? Como assim?

- Eu gosto muito de você.

- A ponto de ficar comigo para sempre? – as lágrimas pararam de cair por um instante.

- Se fosse possível... Chii, posso te mostrar o quanto te amo através de um gesto?

- Que gesto, Shima-kun?

- Esse.

Ele chegou bem perto da persocon e a beijou.

- Isso foi um...

- ...beijo – ele completou sua frase.

Chii ficou bastante vermelha e escondeu seu rosto no peito de Shima. Ele passou a mão pelo seu cabelo cor-de-creme e lhe deu um beijo na testa.

- Eu te amo, Chii, mas agora eu tenho que ir.

- Shima-kun... – as lágrimas recomeçaram a cair. – Chii não quer ficar sozinha, mas Chii entende que Shima-kun tem que ir, e é por isso que Chii vai deixar o Shima-kun. Porque Chii ama Shima-kun e sempre amará, não importa onde ele esteja. Shima-kun é a pessoa mais importante pra Chii.

- E Chii é a pessoa mais importante pra mim.

A persocon finalmente o soltou e ele desapareceu por completo. Então, ela caiu de joelhos no chão e começou a chorar o máximo que pôde.