Teias Do Destino escrita por San Costa, AngusMarcos, Babi Solatano


Capítulo 2
Capítulo 1 - Recrutando Parte I




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Crepúsculo ao sul da Inglaterra, 1901.

O azul do céu típico de verão é rasgado por um ponto brilhante. A estrela cadente toca o solo sem causar grandes estragos. A funda cratera abriga o mais poderoso ser existente em todo o universo. Ser que por sua vez está imerso em sua dor. A dor da perda, desorientação e desilusão.

Tudo que ele conhece e ama lhe foi tirado, por culpa de suas próprias escolhas e a consciência disso torna a pesar sobre seus ombros, suas assas dilaceradas por conta da queda ganham vida e o movimento lhe traz uma dor desconhecida até aquele momento; à dor física.

Rastejando de encontro à superfície, como uma serpente, se sentindo sujo, humilhado e só. Oliver deixa que seus olhos marejados pela raiva e frustração se ajustem ao ambiente e percebe que esta sendo observado e não por um mortal qualquer, mas por ela.

Fim de tarde em Algum lugar ao norte da Península de Kowloon, Hong Kong, China, 2010.

Não esse não é meu lugar. Mais um lugar e mais um erro, e eu realmente não sei o que procurar. Não sei de onde eu sou, mas eu sei que não sou daqui. Sei só de me olhar em um espelho que não sou oriental, não sei meu nome, nem quantos anos tenho. Alguns fatos que eu descobri sobre mim ao longo de todos esses anos:

– Não envelheço.

– Posso fazer chover. (Não descobri isso de uma boa maneira)

– Sou mais forte e mais rápido que uma pessoa normal.

– Não sou humano.

Não sou humano... Olho pra milhares de rostos iguais, famílias, casais, todas essas pessoas sabem seu lugar no mundo. Eu sou um ponto de interrogação, é uma agonia que me dava raiva até uma explosão de raios acontecer, então eu tentava me acalmar. Hoje eu meio que procuro não me estressar, pra “me adaptar” a algo que eu nem mesmo sei o que é. Um dom sobre natural que me permite controlar tempestades. E tudo o que eu me pergunto é quem mais no mundo faz essa porra, ou algo parecido, quem sabe quem eu sou?

É difícil tentar lembrar, lembro de uma voz, uma canção, parte dela pelo menos, um vulto vermelho, mas toda vez que eu tento lembrar mais é como se uma parede barra-se todas as lembranças, como se eu fosse proibido de ter acesso a elas. É frustrante, e cansativo não lembrar nem mesmo meu nome, nem a merda de um nome! Ao mesmo que isso me bloqueia uma força maior me faz seguir em frente, como se alguém estivesse me chamando precisando de mim, que ela me espera... e não sei porque mas eu sei que é ela e que ela é importante, como se fosse tudo. Eu sei que ela é tudo.

Uma pessoa esbarra em mim e percebo que estou parado no meio da multidão no centro de Hong Kong, vim atrás de uma pista. Algo me disse pra estar aqui, mas não sei mais onde ir, não me encaixo aqui. Continuo andando, parecendo um turista, vou em direção a um bar, ou algo com que eu acho que se pareça com um. As pessoas bebem pra tentar esquecer, bom, eu bebo pra tentar lembrar.

Alvorada no centro de Londres, 1921.

O caminho de pedra é sinuoso e pouco iluminado, uma mistura de pedras e barro é o tapete pelo qual, mais uma vez, Oliver rasteja. Não fisicamente, não, ele agora esta de pé em seu sobretudo imponente, mascarando o turbilhão de emoções para manter o rosto sereno. A paisagem ao seu redor é composta por lapides e mausoléus, mais uma vez perdera o que ama e conhece.

A desolação é tão intensa que o faz lembrar o dia em que chegou nesse mundo. Ela estava lá esperando por ele, com seus cachos caramelos e seus olhos Mel. Tão pequena e frágil! E naquele momento foi o seu esteio, o motivo para prosseguir.

“Quantas lagrimas derramei por você?! E você acreditando que sou incapaz de chorar, o que diria se me vise agora?... Ainda sim derramaria muito mais se fosse para tê-la aqui ao meu lado” – Pensou o Anjo enquanto acariciava a foto na lapide de sua amada.

“Quantas e Quantas vezes achei um fardo pesado demais esse amor todo que morra no meu peito?! Foi por causa dele que desisti de tudo, foi por causa dele que fui embora de Londres e de você... Incontáveis vezes olhei nos seus olhos, beijei seus lábios e mantive a esperança de ouvir sair deles três palavras simples que acabaria com anos e anos de angustia, que me libertariam!” – O Anjo respirou fundo e agora pronunciando as palavras em voz alta para que o universo fosse testemunha de seu pesar.

“O "eu te amo" que sempre esteve preso em minha garganta, permanecerá para todo o sempre. Pois você se foi... e o que resta? É o vazio! É isso o que sou; Vazio!”.

O sol finalmente alcançou o céu iluminando as estátuas dos anjos que ornam quase todo o cemitério, Oliver se permitiu olhar por um breve instante a imagem destorcida que os humanos têm do divino.

As palavras na lapíde de Rose chamaram sua atenção e sentindo-se tão perdido quando aquele dia em que a viu pela primeira vez, ainda do outro lado, Oliver levantou-se secando as lagrimas que jurou não derramar mais. Lançou o ultimo olhar a lapide onde jazia o corpo da única Alma que amou e caminhou em direção ao resto da sua existência.

Ao meio dia no templo de madurai, Índia, 2020.

Ainda não sei o meu nome mas as pessoas que fui conhecendo pelo caminho chamam-me de Otáua que deriva do grego. Seria algo parecido com parado. Achei bem apropriado. Continuo viajando de país em país buscando o lugar que sonho todas as noites. Ainda não obtive sucesso.

A primeira coisa que eu faço quando vou a algum lugar novo é procurar saber mais sobre ele, saber aonde estou pisando. É puro extinto, eu simplesmente preciso saber aonde estou pisando. Eu já estive na India antes, a cem anos atrás eu acho, nesse templo especificamente, e foi um dos poucos lugares que me trouxeram uma boa sensação, então eu procuro voltar a esses lugares. Templos em geral, me trazem paz, me levam a um sonho que eu sei que ela está. E no inferno que é a minha mente, tem horas que eu preciso me desligar, e saber por onde recomeçar outra busca perdida. A achar algo que me leve a ela.

Saio dos meus pensamentos e volto a prestar a atenção no que a guia turística esta dizendo, sei que ela quer que eu me encontre com ela depois, é por isso que ela não tira os olhos de mim. Eu não vim pra cá exatamente por isso, e talvez eu até a ignorasse se ela fosse loira ou morena, mas Deus.. ela é ruiva! Não seria difícil levar ela aonde eu quero, e ter ela exatamente como eu quero.

Assim que acabou a excursão dentro do templo, foram só meias palavras, e meios sorrisos e eu já tinha conseguido fazer com que ela me levasse ao seu escritório. Para as mulheres eu sou do tipo que todas querem, não que eu tenha algo contra isso, mas eu sei só de olhar qual vai ser o final, por que por mais que eu queira, não é ela.

Nossos lábios se encontraram e o perfume dela estava errado, as mãos dela subiam por cima da minha blusa quando comecei a aperta-la contra meu corpo. Aquelas mãos eram tão existentes quanto as minhas, e ela parecia está procurando algo. Meu corpo estava cada vez mais quente e isso pareceu uma maneira estranha de preliminar, mas estava funcionando.

De repente ela parou e perguntou. — Onde está?

— O que? A camisinha? No bolso de trás. — respondi.

— Não o preservativo. — ela me lançou um sorriso que pareceu forçado e continuou. — A tatuagem.

Não me lembrei de ter citado a tatuagem em minha conversa. Alias as vezes até me esquecia que tinha uma, não sei o porque mas isso me alertou, algo estava errado, essa tatuagem veio junto com toda bagagem que é a minha memória, eu não sei sobre ela, por que ela iria querer saber? Talvez eu esteja paranoico, mas se tem uma coisa que eu percebi sobre mim é que eu sou desconfiado por natureza.

— Como você sabe?! — Perguntei um pouco mais grosso e a apertando com mais força.

— Você aparenta ser do tipo que gosta de tatuagens e elas me excitam! – Ela lambeu os lábios e todos os meus pelos ficaram em pé, algo estava errado. De repente eu já não estava mais animado, eu estava alerta. Nos virei de forma que eu a encurralei contra a parede, meu ante braço apertando seu pescoço. Essa mulher esta atrás de mim por algum motivo, e ela vai me falar por bem ou por mal.

— Quem é você? — Minha voz estava séria e tensa, dane-se que ela estava assustada ou se fingindo.

Foi quando seu rosto mudou, e vi a sua pele rachar e explodir em mil pedaços. A voz mais estrangulada que já ouvi, saiu da boca da criatura sobrenatural que estava na minha frente. Os dentes afiados como presas a amostra e a baba escorrendo em seu rosto esquelético enquanto sibilava.

— Preparasse para morrer Perceu!

Perceu? Quem?

Inglaterra, Glasgow, 15 de junho de 1940.

A noite já estava alta do lado de fora do pequeno prédio do qual Oliver alugou um quarto. Parecia insanidade o que estava preste a fazer. Mas precisava da verdade. Tinha que ter certeza.

Seguiu sua busca por eles, em meio a locais destruídos das cidades por onde os aviões Alemães passavam deixando o rastro da morte. Até que em mais uma das mentes que manipulou conseguiu esse endereço.

“E se ela não mais viver?” "Perguntava-se a todo o momento.” Afinal estamos em plena segunda guerra mundial e quem se importa com mais uma adolescente comum.” Bom, ele se importava, a linhagem dela tinha que continuar.

Era importante saber que daqui a algumas gerações poderia voltar a vê-la. Movido por esses pensamentos ele seguiu pelas ruas sem se importar com o que acontecia ao seu redor. Admitiu que Olívia soubesse se esconder, estava tão longe quanto possível de sua casa em Londres. A questão é de quem se escondia? Da guerra ou dele?

Antes de cruzar os portões que o levaria a uma espécie de escotilha, sentiu a mente dela se aproximar. Permanecia exatamente como se lembrava, com suas feições finas e os ondulados cabelos negros que agora continham mechas brancas, marca da passagem do tempo que não o afetava, chegando à cintura, contudo Olívia, apesar de irmã, não tinha nada da doce Rose.

Os olhares se cruzaram e assim ficou claro que ela o culpava pela morte da irmã. Palavras nesse momento foram desnecessárias, pois ele sabia o quão responsável era. Ele desviou o olhar.

— O que quer aqui demônio? — Cuspiu Olívia.

— Como soube que eu estava a caminho? — Oliver sentiu em naquela fabulosa mente que sua presença não era novidade e que estava justamente onde ela o queria. Exposto na rua de um país em Guerra.

— Você não é o único que evoluiu nesses anos, eu vi. — Respondeu fingindo uma cordialidade quase convincente. Quase.

— Então sabe por que vim. Preciso vê-la.

— Quem você busca não existe!

— Não tente me enganar Olívia, você pode ter evoluído, mas posso cheirar a mentira a quilômetros de distância.

— O que o faz acreditar que Rose foi mãe? Ela mal teve tempo de viver! E sempre amou o mais perigoso dos venenos, você! – ela cuspiu toda sua repulsa e caminhou para a luz deixando seus olhos castanhos a encara-lo vigorosamente, olhos que lembravam tanto sua amada.

— Quem sabe a frase: “aqui descansa uma mãe maravilhosa” que esta em sua lapide em Londres?!

— Como Rose seria mãe, se você não se casou com ela?! — disse com os dentes trincados resgatando todo o resentimento de mais de vinte anos preso em seu peito. —Você arruinou tudo, destruiu a única pessoa que me restou no mundo! — mas as acusações não o detiveram, essa era, talvez a única chance de liberta-lo.

— Boa pergunta essa a sua — ele retribuiu o olhar rigoroso.

Com todo o poder que foi concedido a essa mulher, ela viu o vazio da alma que a encarava.

— Talvez por ter se casado com o jovem Riordan Bianucci! — Oliver viu a cor sumir do rosto familiar.

Depois do momento de pura surpresa, Olívia se recuperou e viu que não se pode mentir para um anjo caído, lição que já deveria a muito ter aprendido.

— Ela não deixou uma filha. — silenciou o protesto que surgia nos lábios de Oliver com as mãos e prosseguiu. — Deixou um menino, que jurei educar e proteger, o amo como se fosse meu apesar de carregar o sobrenome do já falecido Riordan, satisfeito?! Agora se mantenha longe da nossa família!

“Um menino?!” era tudo o que ele conseguia pensar, via a chance de quebrar a maldição escorrendo por suas mãos ele acreditou tão fielmente que seria uma menina e que daria continuidade a uma linhagem somente de mulheres.

As palavras sinceras de Olívia tiveram um impacto inesperado em Oliver. Ela percebeu, viu toda a coragem que o motivou até essa cidadezinha do outro lado do país esvaísse de seu corpo, parecia doente mesmo isso não sendo possível para ele.

— Quero apenas o nome e vou embora, deixarei sua família em paz! — percebeu tardiamente a ironia de suas palavras, pois se houvesse uma coisa extinta no mundo naquele momento era a Paz! Respirou fundo e olhou para a alma dele novamente procurando, antes de dizer. — Leon.


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