Hana Kotoba escrita por Stefany01


Capítulo 3
Segundo Quadro – Lonely Rabbit


Notas iniciais do capítulo

Chaos! ^^
Então, no prazo, o segundo capítulo. Faltam, agora, o terceiro e o epílogo - que virão na mesma semana (um no domingo e outro na segunda que vem).
Esse começa na narrativa da Mary, mas termina na narrativa da Ib. Se passa praticamente todo dentro do mundo de Guertena, e é voltado mais ao enredo que criei do que qualquer coisa. O próximo, por outro lado, será só romance.
Espero que gostem.



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Segundo Quadro – Lonely Rabbit

(Mary’s POV)

Não. Não. Não. Não e não. Por quê?! Por que eu estava ali novamente? Não! Eu deveria ter saído de lá. Para nunca mais voltar. A porta deveria ter se fechado...

“Se realmente era isso... Então por que voltou àquele lugar?” – sussurros malditos ressoaram em minha mente. De todas as coisas que suportei aqui, essa era uma das que eu menos gostava – “Por que, então, apesar de ter esquecido tudo sobre seu lar, você ainda era tão fixada por seu pai?”.

Levei as mãos às orelhas, tentando infantilmente abafar aquele som. Inútil, claro. As palavras continuavam em minha mente. Continuavam me dizendo cruelmente o quanto eu busquei aquilo. Que era tudo culpa minha.

E, nesse meio tempo, Garry se ergueu. A expressão assustada, de olhos bem arregalados. Encarei-lhe aparentando mais calma do que realmente sentia – seria bom não assustá-lo agora.

Mas acho que isso foi desnecessário, pois ele observava a sala ao nosso redor. Aproveitei para dar uma olhada rápida, notando pela primeira vez quão diferente aquele espaço era.

Não era como quando eu vivia aqui. As paredes eram vermelhas, com rosas espalhadas entre as pinturas que não se mexiam e esculturas que dormiam. Essa devia ser uma das salas seguras do novo Labirinto. Era até bem bonita – se formos ignorar a falta de janelas e o ambiente meio mórbido – e era melhor do que as que eu planejava.

Deve ser coisa dela.

- Mary... – Garry chamou hesitante – P-Por que... V-Você tá pequena?

Ah?

Olhei para baixo, notando que meu cabelo voltou a cair em cachos até a cintura, e que eu estava baixinha, no vestido verde e sapatilhas. Eu havia voltado a ser a Mary de Guertena. A Mary criada. Uma simples obra de um homem morto. Mesmo após cinco anos, eu não sou humana.

- Não sei... – respondi simplesmente, observando-lhe com olhos marejados – Estou com medo, Garry... Q-Quero sair daqui...

Ele acenou e se aproximou. Alto, bonito e incrível. Garry havia envelhecido pouco nesse tempo, e as únicas grandes diferenças estavam em seu cabelo e roupas. Os fios roxos caíam até abaixo dos ombros (comumente presos em um rabinho), e as roupas eram mais justas. Mas, apesar disso, sua personalidade ainda era a mesma.

- Venha. – ele esticou uma mão, que eu agarrei rapidamente – Vamos sair daqui. – um sorriso caloroso surgiu em seus lábios.

Acenei enquanto piscava para limpar as lágrimas. Ele ainda era tão fácil de enganar quanto sempre.

- I-Isso não acaba nunca?! – ele exclamou assustado após já ter corrido por salas e mais salas.

Apesar de não ter muitas Salas Seguras, rosas vermelhas estavam espalhadas por todo o lugar. Crescendo nas molduras de quadros parados, enrolados nos braços dos manequins que nos perseguiam, ou preso no cabelo das mulheres dos quadros que se arrastavam. Mas, mesmo depois disso tudo, nenhuma boneca havia nos perseguido.

Franzi o cenho. Onde elas estavam então? Porque elas ainda existiam – os gritos constantes em minha cabeça eram indicativos o suficiente – só não... Vinham.

Vimos uma porta, vermelha viva, com uma rosa enrolada na maçaneta. Abri a porta com tudo e corri para dentro, ouvindo Garry batê-la após passar.

Ahá. Achei-as.

Diversas bonecas estavam espalhadas pela sala, criando rosas vermelhas, azuis e amarelas. Algumas costuravam roupas, outras despedaçavam as rosas criadas. No fundo da sala havia um grande quadro. Não O Mundo Fabricado, mas a Sorrowful Rose (Rosa Triste). Sem a jovem. Só algumas rosas enroladas na moldura, e o fundo negro com pétalas esvoaçando.

Porque a jovem estava sentada na beirada da moldura, os pés a alguns centímetros do chão e as mãos apoiadas no metal dourado. Assim que a porta foi fechada, ela ergueu a cabeça.

Olhos vermelhos profundos encontraram os meus, os fios escuros que caíam lisos até a cintura como uma cortina. O rosto era delicado, a pele era clara, e o vestido que usava era branco, em contraste com as rosas penduradas nos espinhos ao redor de sua cintura e braços.

Só ao olhar em seus olhos que finalmente me lembrei de tudo. Garry e Ib entraram ali – há cinco anos – e eu os conheci. Foi por culpa daquela garota que eu ainda existia, pois Garry queria queimar meu quadro, e ela o parou. Ela que decidiu que isso não era necessário.

E ela que ficou presa ali. Porque eu saí antes dos dois, e logo que o Garry pulou para fora, ela ficou presa naquele mundo.

Mas, quando a deixamos ali, ela possuía somente nove anos... E agora... Bem...

- Olá Mary. Garry. – ela sorriu, a voz muito menos infantil que antes. Correspondendo perfeitamente à sua aparência de adulta – É um prazer revê-los após tantos anos.

Ela sorriu gentilmente e se levantou, com os pés descalços fazendo pouco barulho ao tocar as pedras escuras. Ouvi Garry ofegar atrás de mim, e soltou um gritinho feminino quando ela se aproximou em passos lentos.

- Q-Quem é você? – gaguejou Garry avançando um passo para minha frente. Acho que ele ainda não se lembrou de nada sobre mim – N-Não se aproxime!

- Garry... – ela franziu o cenho e parou no lugar – Você não lembra? Mesmo? Eu... Nunca achei que pudesse me esquecer... Sou eu, Ib!

- Eu não lhe conheço! – ele exclamou raivoso.

Com um choque, notei lágrimas surgindo no rosto belo de Ib.

- Sinto muito. – ela sussurrou – Desculpe-me.

E se virou, desaparecendo atrás de uma porta a alguns metros dali.

(Ib’s POV)

O que mais machucou no reencontro foi ter de ouvir Garry exclamando que não me conhece. Ele, que sempre esteve ao meu lado... O único que me protegeu, mesmo tão assustado...

Deixei-me cair contra a porta – mal notando o quarto pequeno e bagunçado que me pertencia – e tentei controlar as lágrimas. Eu não queria chorar, nem queria correr de lá. Mas foi uma reação espontânea, não pude me controlar.

Respirei fundo, ignorando as vozes que tentavam alcançar minha mente – desnecessariamente, pois eu podia bloqueá-las facilmente (porque não nasci aqui) – e sequei o rosto com as costas das mãos.

Ergui-me, sacudi a cabeça e caminhei até a cama, pegando a bala que eu guardava com tanto esmero sobre o travesseiro. Sorri e a apertei contra o peito antes de sair da sala, fechando a porta delicadamente atrás de mim.

Dei poucos passos em direção aos dois que estavam parados no centro da sala – Garry (ainda mais bonito após todo esse tempo) evitando olhar para as bonecas ao redor; e Mary, que havia se ajoelhado ao lado de um grupo, ignorando os chamados do outro.

- Aqui. – chamei, a voz já firme novamente.

Garry me olhou – mal notei a reação de Mary, não me importava realmente – e isso foi o suficiente. Sorri e arremessei a bala. Sabor limão. Uma que dificilmente eu comeria normalmente, mas que eu aceitei com prazer.

Ele a pegou com certa dificuldade, e a analisou por muito tempo antes de erguer os olhos assustados em minha direção.

- C-Como? E-Essa bala já não existe mais... – ele murmurou surpreso – A última que eu comprei foi... Há... C-Cinco anos... – sua expressão foi ficando vazia, e sua voz foi ficando cada vez mais baixa – Quando fui para uma exposição... E conheci... Uma garotinha...

Mary ergueu a cabeça – agora eu prestei atenção nela – e me encarou irritada. Acho que, após o tempo que passou lá fora, ela já não me via mais como sua amiga...

- Eu! – exclamou Mary irritada – Você me conheceu! Houve um apagão e nós nos esbarramos, lembra?!

- Não... – Garry franziu o cenho – Não foi isso... Eu... Aquele apagão...

Ele abriu a boca, mas era incapaz de dizer mais alguma coisa, aparentemente assustado de mais com as lembranças para terminar sua sentença. Piscou os olhos e voltou a me encarar.

- Ib. Uma garotinha de nove anos chamada Ib. – ele sussurrou.

- Sim. – concordei, aproximando-me lentamente – Nós ficamos presos na exposição, lembra? Ambos nos vimos sozinhos na galeria... E acabamos presos em outro mundo. Esse mundo. O Mundo de Guertena...

- Mas você era uma criança! – ele sacudia a cabeça – Como pode ter... Virado uma... Adulta?

- O tempo... Passa diferente aqui. – apertei os lábios – Quando a Rainha era a Mary, o tempo aqui não passava, pois ela nasceu aqui. Mas eu... Sou de fora. Agora, o tempo aqui passa em dobro. Um ano são dois anos aqui. Se para vocês se passaram cinco anos...

- Para você se passaram dez. – completou surpreso.

- Isso. Agora eu tenho 19. – sorri e dei de ombros – Enquanto que você só envelheceu cinco anos. E a Mary não envelheceu nada, porque não pode.

- Mas eu envelheci! – ela gritou, interrompendo nossa conversa – Eu fiz 16 anos. Teve festa. O Garry dançou comigo no meu aniversário de 15 anos. – ela estava a ponto de chorar – Eu envelheci...

- Mas não de verdade. – suspirei – Você teve sua aparência mudada lá fora, mas aqui você continua sendo a Mary. Criada por Guertena.

- E-Espera... V-Você... – Garry se virou para ela – Você tentou nos matar!

- Eu só queria sair... – ela choramingou baixinho – Aqui é solitário. Eu não queria ficar aqui...

- É, mas para que você saísse, alguém teria de ficar. – eu revirei os olhos. Ainda amava a Mary, ela era minha primeira amiga afinal, mas eu não podia perdoá-la por tentar deixar o Garry preso ali para sempre. Não depois de ter vivido aqui sozinha – E você estava disposta a sacrificar o Garry.

Ela ficou quieta, incapaz de negar a afirmação. Suspirou e tentou se redimir:

- Mas eu nunca quis deixá-la aqui, Ib. Você é minha amiga. Eu te amo. – ela sussurrou – Você foi a primeira a conversar comigo sendo de fora.

Finalmente parei em frente aos dois – pois em algum momento a Mary se juntou ao Garry – e me ajoelhei para ficar na altura da loira. Ergui a mão, vendo-a se encolher, e acariciei sua bochecha.

- Eu sei. Eu também te amo. Você foi minha primeira amiga, Mary. – sorri – Mas eu não posso esquecer que você tentou matar o Garry. Aqui não é um lugar bom... Eu não gostaria de vê-lo preso aqui. Só tivemos sorte de ter sido eu a ficar presa.

- N-Não... – ela sussurrou, lágrimas escorrendo pelo rosto – Eu não queria que você ficasse aqui. Eu queria viver lá fora com você...

- Isso não vai acontecer. – neguei séria – Seu lugar não é lá... Para que você vivesse lá, muitas pessoas sofreram. Você teve um impacto muito grande no mundo. Uma vez que tenha voltado aqui, nunca mais poderá sair. Esse foi o acordo com elas. – acenei para as bonecas – E com ele.

- Mas eu não quero ficar sozinha! – ela exclamou chorando – Não quero!

- E-Eu... F-Fico com você. – se ofereceu Garry. Encarei-lhe surpresa e magoada.

- Não. – neguei – Ninguém ficará, mas você não estará sozinha. O portal dessa vez só irá sumir após nós dois sairmos, caso contrário, esse mundo inteiro irá queimar. Mas nós podemos lhe visitar. Em sonhos, ao irmos à galeria, e mesmo em nossos aniversários.

Ela piscou tentando clarear a vista, e de repente parecia incrivelmente esperançosa.

- Verdade? Promete? – ela agarrou meus ombros enquanto me encarava nos olhos.

- Prometo. – sorri – Nós sempre iremos nos ver, até que nosso tempo passe. Mas aí, acredito, outras pessoas surgirão. Você não precisa ficar só, Mary. Não precisa.

Ela acenou levemente.

- Obrigada. – murmurou feliz.

Sorri e me ergui.

- Bem, agora... Temos que ir. – suspirei – Sinto muito.

Ela sacudiu a cabeça.

- Aqui. – chamou e nos entregou o lenço de seu vestido – Por favor, levem isso com você. Para... Lembrarem-se de mim.

Peguei aquilo com um sorriso ainda maior e me inclinei para lhe beijar a testa.

- Nunca irei esquecê-la. – prometi – E logo voltarei a visitá-la. Espere-me.

Com uma última despedida, recuei até “meu quadro”. Fechei os olhos, preferindo não ver o que Garry faria com ela, mas ouvi quando seus joelhos se chocaram no chão. Ouvi também quando ele chorou, e quando ela gritou um “até logo” desesperado.

Depois, Garry estava ao meu lado, segurando minha mão. Com força. E, dessa vez, eu não iria deixá-lo partir.

Com um calor no peito, abri os olhos e sorri para ele. Então, finalmente passamos pela moldura, caindo de costas na galeria, alguns instantes depois.

E, acima de nós, estava um quadro de uma garota loira de olhos azuis, metida num vestido verde e segurando três rosas. Vermelha, amarela e azul. Um belo sorriso no rosto e lágrimas brilhando nos cantos dos olhos.

O título dizia, preso abaixo da moldura, em letras delicadas: Lonely Rabbit.

Mas, apesar disso, eu não acho que ela seja um Coelho Solitário. Não mais.


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Notas finais do capítulo

Reviews, por favor?
Caso tenham encontrado algum erro, por favor, me avisem >.>
"Lonely Rabbit" significa "Coelho Solitário". Eu não sei porque, mas eu costumo pensar que esse é um ótimo nome pro quadro da Mary...
Bem, espero que tenham gostado *-*
Ciao, ciao! o/
Bacio! ;*



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