Aquela Errada Paixão. escrita por Iasmin Alves Pereira


Capítulo 7
Esmerina, o inseto.


Notas iniciais do capítulo

Eu acho que esse foi o capítulo mais estranho que eu já escrevi dessa fic. Tem novos personagens aparecendo (mas em breve irão sumir e vai voltar tudo ao normal). Espero que vocês gostem. ♥



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O sol estava quase em seu ponto máximo do céu quando começaram a fazer o almoço. Todas as crianças pareciam arriadas de cansaço. Depois de tanta correria, tanta brincadeira, eles queriam mesmo é comer e descansar um pouco até a hora de começar tudo de novo. Claro, as brincadeiras não haviam parado depois que o jogo de pique-esconde acabara. Jogaram ainda pique-pega, pique-bandeira, pique-fruta e todos os mais piques que conseguiram pensar. Ela observou que durante o resto das brincadeiras, ele não havia tentado mais nada com a garota.

Agora, ela estava sentada na beira da piscina, com os pés afundados na água. Sua mente nada tranquila viajava, citando suas frases favoritas, sejam elas de sua própria autoria ou de algum livro qualquer. Naquela hora, ela se encontrava empacada em uma que considerava um lema de vida.

"É possível encontrar a felicidade mesmo nas horas mais sombrias, se lembrar de acender a luz." - Cadê a minha luz? - Disse ela, perguntando para uma formiga que passeava ao seu lado. O bichinho moveu as anteninhas como se a aconselha-se algo.

– Eu estou bem aqui. - Ele sorria de um modo meio debochado enquanto sentava-se ao seu lado.

– Não estava falando de você. E você acabou de matar a Esmerina.

– Esmerina?

– A minha formiga. - Ela realmente estava um pouco magoada. Esmerina sabia como ouvir uma pessoa sem julgá-la.

– Hã, desculpe, eu acho. - Ele entregou o copo cheio de água que havia trazido para ela.

A menina pegou-o em silêncio, ainda lamentando a morte de seu inseto. Virou-se, olhando o reflexo que o sol fazia na água da piscina, bebendo silenciosamente. Ele a encarava.

– Dá pra parar? - Ela olhou para o primo, erguendo as sobrancelhas.

– De que? - O menino respondeu, ainda encarando o rosto da prima. Era engraçado como ele parecia estar em uma espécie de transe.

– De me encarar. - A garota respondeu, ainda com as sobrancelhas erguidas.

– Ah, ok. Desculpe. - Ele virou o rosto para os pés. Suas bochechas assumiam um tom de escarlate.

– E para com isso também.

– De que?

– De pedir desculpas por tudo que faz.

– Desculpa. - Ele parecia desanimado.

Ela sorriu. Não estava irritada, só queria ver como o menino reagiria. E, sinceramente, ela estava se segurando para não pular em cima dele gritando o quanto ele era fofo.

– Tudo bem. - Ela deu uma pequena risada. - Eu só estava brincando com você. Eu deixo você me encarar o quanto quiser e pedir desculpas. Ah, e te perdoo por matar a Esmerina. Mas nós vamos ter que enterrá-la.

– Você só pode estar zoando com a minha cara.

– Eu pareço estar zoando por acaso? - Ela olhou seriamente os olhos verdes do menino.

Ele bufou, levantando-se para achar o cadáver de inseto no chão onde estava sentado. Procurou por cerca de um minuto, até ver que a menina parecia estar encarando sua bunda. Ele sorriu, pronto para mais uma piada.

– Você está encarando a minha bunda?

– Claro que sim, a Esmerina está grudada nela. - Ela se levantou, indo para suas costas e abaixando na altura de sua bunda.

– E por que você estava olhando para ela antes de achar a Esmerina? - Seu sorriso malicioso continuava esculpindo seu rosto.

– Ah, cala a boca. - E retirou a formiga.

É obvio que ela estava encarando a bunda dele. Por favor, ela redondinha. De perto era ainda mais bonita e, pelo que conseguiu sentir, parecia ser durinha também. Teve que lutar contra a vontade de apertá-la e levantou, caminhando em direção à grama. O garoto seguiu em seu encalço. Ela sentou no chão e começou a fazer um pequeno buraco. O menino sentou na sua frente, estendendo a mão para pegar a formiga.

– Em memória de Severina, eu... - O garoto começou a falar, sendo interrompido bruscamente pela prima.

– Esmerina.

– Tanto faz.

– Deixa que eu faço o discurso, me dá essa formiga. - E tentou pegar o inseto. O menino levantou a mão em cima da cabeça, fora do alcance da garota. - Me dá isso!

– Vem pegar, anã.

A menina ficou de joelhos, alcançando a mão do garoto. Sentiu que ele passava o outro braço pela sua cintura, tentando segurá-la longe. Então começou uma pequena guerra de quem-enterra-a-formiga e, finalmente depois de alguns segundos, a garota deu o golpe fatal. Com o pé, ameaçou dar um pequeno chute na virilha do garoto. Por extinto, ele puxou a prima para cima dele. Quando se depararam, o garoto estava deitado no chão e a menina com as duas pernas ao redor de seu corpo.

– ESTÁ BEM, VOCÊ GANHOU! - Seus dois braços estavam presos acima de sua cabeça, no local onde a menina segurava. Ele conseguia sentir o aroma de seus cabelos. Claro, eles estavam em sua cara. O rosto da menina encontrava-se a centímetros do dele.

– Obrigada. - E pegou a formiga.

Saiu de cima do menino, sentando-se novamente. - Posso começar? - O garoto se levantou, respirando rapidamente.

– Pode. - Disse com uma cara emburrada. Ela sorriu.

– Ótimo. Agora, em memória de ESMERINA, eu espero que ela tenha uma boa morte e que ache um lar no céu de formigas. - A garota falava as palavras de todo coração. - Durante a vida, Esmerina foi uma amiga e uma conselheira muito especial. E, novamente, espero que reconheçam seu valor além dessa vida. - E, com um aperto no coração, colocou cuidadosamente o cadáver no buraco cavado ao chão.

– Emocionante. - Disse o menino drasticamente, colocando terra e grama em cima do corpo. - Acabou. Descanse em paz, Esmerina.

De repente, a menina levantou-se, sentando novamente em seu lugar perto da piscina. O menino deu um leve sorriso. Ela era imprevisível, e ele adorava isso. Levantou-se e foi se sentar mais uma vez ao seu lado.

– Ela era uma formiga especial.

– Sim, ela era. - A garota falava de uma maneira tão triste que até parecia ser real. - E eu estou com fome.

– Aleluia mais alguém. Pensei que era só eu que estava faminto por aqui.

Naquele momento, os primos ouviram alguém chamar. Ao olharem para trás, viram o pai da menina vindo em sua direção. Ele segurava a chave do carro.

– Filha, eu vou no mercado. Você quer ir junto?

Mercado. Internet. Conexão. Ela precisava disso.

– CLARO! - Ela disse, animada demais até para o seu próprio gosto. - Ér, quer dizer, pode ser.

– Cinco minutos no carro. - E então olhou para o menino. - Se você quiser ir junto, tudo bem.

Ela respirou aliviada. Pelo menos iria poder usar a mínima internet que o 3G ofereceria. Poderia convidar sua amiga para passar essa uma semana ali com ela. Não queria ficar sozinha esse tempo todo, só com o seu primo. Nada contra ele, mas podemos dizer que a menina não apreciava o clima que esses dias estavam e provavelmente ainda iriam seguir. Olhou para o garoto que agora retirava o celular do bolso e olhava a hora. Era meio dia e meia. Ela se perguntou se ele estaria pensando a mesma coisa que ela.

Ele estava. Bem, mais ou menos. Com certeza ele queria sair daquele lugar para conseguir usufruir um pouco de internet, mas o que estava mesmo interessado era na festa. Seu amigo iria fazer uma festa em uma chácara, que pelo que ele sabia, não era muito longe dali. Iria aproveitar essa pequena fugida do fim do mundo para se informar mais e, quem sabe, até dava pra ele ir.

– Vamos então? - Ele se levantou, sorrindo para a menina. Ela notou algo diferente em seu sorriso. Queria ficar pensando mais sobre isso, até que ele estendeu a mão para ajudá-la a levantar, e ela esqueceu de todo o resto. Segurou a mão dele e ficou de pé.

Eles andaram a metade do caminho até o carro de mãos dadas. Assim, meio que sem querer. Depois, quando a menina percebeu o calor da pele do menino na palma de sua mão, soltou-a. Ele a olhou.

– Por que seu pai vai no mercado?

– Provavelmente porque até hoje cedo não se sabia que nós iríamos ficar uma semana inteira aqui e só tinha comida para no máximo dois dias.

– Ah sim. Será que ele compraria alguma coisa pra mim se eu pedir?

– Você pode tentar. - Disse ela rindo, já sabendo que a resposta seria não.

Chegaram no carro e assumiram seus lugares. Ela na frente, ao lado do pai. Ele atrás, sozinho. E, assim, partiram.

O supermercado não era assim tão longe. Aproximadamente meia hora depois, o carro estava sendo estacionado. O local era na entrada da cidade, mas mesmo assim ambos celulares dos adolescentes estavam quase pifando de tantas mensagens. Ela desligou a internet móvel. Só queria falar com a melhor amiga mesmo, tantas mensagens daquele jeito iriam atrapalhar. Iria resolver aquilo do velho jeito: ligando. Discou o número e ficou contando quantos "tus" eram precisos para a menina atender. Abriu a porta do carro e desceu. Já tinham se passado dois.

– Alô? - Disse a amiga, cinco "tus" depois.

Enquanto isso, o menino mexia no seu whatsapp. Procurou o anfitrião da festa entre suas conversas. Foi achá-lo lá em baixo, depois de vários grupos e amigos.

"Hey, aquela festa ainda vai rolar?"

...

– Tudo bem então. - A garota pulava de felicidade. - Vou falar com meu pai. Espera ai um pouco.

– Falar comigo o que? - Perguntou o homem careca enquanto pegava um carrinho.

– Pai, eu posso convidar uma das minhas amigas pra ficar com a gente lá na chácara? Ela não vai ficar muito tempo, vai embora amanhã de tarde. Por favor, só pra eu não ficar esse tempo sozinha.

– Tudo bem. Mas ela vai embora amanhã mesmo né?

– Vai sim.

– Ótimo. - Disse o pai, olhando atrás de si para ver se encontrava algum rastro do menino. Não achou nada. - Eu estou querendo ficar menos tempo. Não vou aguentar ficar uma semana lá, e acho que nem a sua mãe. Em pelo menos dois dias nós vamos voltar.

– Jura? - Seus olhos brilharam de alegria, mas o coração da menina deu um aperto de tristeza. Ela ignorou o sentimento que tomava conta do seu peito balançando levemente a cabeça. Então, lembrou que a amiga ainda aguardava ao celular.

O menino ainda estava na frente no carro. Sabe, ele não conseguia andar e digitar ao mesmo tempo. Olhou em volta e enxergou a prima ao celular e o tio entrando dentro do prédio. Correu até alcançá-los, já lá dentro. Olhou a garota e viu que ela desligava o aparelho, passando algumas informações ao pai. Parecia que alguma amiga dela iria voltar com eles. O garoto sentiu um desapontamento instalar-se em seu estômago, mas não disse nada. Apenas observou o celular e viu a resposta do colega.

"Sim. Você vai?"

"Pretendo, mas preciso do endereço."

Sentiu alguém chegando em suas costas e virou. Sua prima estava lá, tentando pegar a conversa dele no celular. Imediatamente ele bloqueou a tela e virou para encará-la.

– Sua amiga vai voltar com a gente? - Ele perguntou com um tom meio duro.

– Sim. Eu ia te contar. Hoje ela vai dormir na cama comigo. - Respondeu, ficando meio sem graça.

– Tudo bem, eu acho que nem vou estar lá mesmo. - E deu as costas.
Ela ficou parada por um tempo. Como assim ele não vai estar lá? Tentou organizar os pensamentos e finalmente se mexeu. Quando conseguiu andar, foi em direção a ele.

– Como assim você não vai estar lá? - Ela perguntou, meio desconfiada.

– Vou em uma festa. Você vai estar com sua amiga, eu com os meus amigos. Nada mais justo, não acha?

– Festa? Em qual lugar? - Ela tentou deixar pra lá o nó que sentia crescer em sua garganta.

– Não interessa. - Ele não sabia explicar o porquê de estar agindo daquele jeito, simplesmente estava. Sentia algo estranho e se negava a admitir que era ciúmes.

Ela tinha pouca paciência, e o garoto já estava provocando. Em um súbito momento de raiva que ela não pode segurar, disse:

– Vai se foder. Ninguém foi ignorante com você pra você estar agindo que nem um idiota. Faz o que você quiser. Ah, e eu prefiro mil vezes estar com a minha amiga do que com você. Pode ir em um milhão de festas hoje que eu não vou estar nem ai. - E então foi a vez da menina de sair de lá. Seguiu em direção ao pai, com os olhos meios embaçados. Sentia que ia chorar, mas não podia. Respirou fundo e continuou andando, até enxergar algo que parecia um vento ruivo sorrindo vindo em sua direção.

O menino tinha acabado de pegar o endereço do local. A sorte era tão grande que a chácara ficava atrás de outra, vizinha das que eles estavam. Ele queria esquecer das palavras da prima, mas não conseguia. "Vai se foder." Isso foi mais ou menos um hadouken em seu peito. "Eu prefiro mil vezes estar com a minha amiga do que com você." Isso foi um fatality. Em termos de jogos, ela tinha dado o K.O nele. Sem nem segunda chance, havia sido game over direto.

Ela correu e abraçou a amiga, imediatamente começando a chorar. Não era aqueles choros escandalosos, mas sim silenciosos. Daqueles que só a saudade de um abraço verdadeiro e um coração machucado produzem.

– Ei, ei. O que aconteceu? - A garota consolava a outra, acariciando seus cabelos. - Tudo bem, eu estou aqui com você agora. - Sua amiga era com certeza alguém adorável. Ela era uma daquelas pessoas que faziam ela se sentir bem. Tinha uma personalidade tão bonita quanto seus cachos recentemente pintados de ruivo. Talvez fosse o ser humano mais animado desse planeta. Ou talvez não. Mas, de um jeito ou de outro, uma coisa era certa: a menina tinha um coração bom. Amor tão contagiante quanto sua risada, que era alta e bem ouvida por todos ao redor. Tinha uma beleza única, daquelas mais bonitas. Seja por fora ou por dentro. Era linda. Linda simplesmente ao seu modo. Ah, e também havia sua pele, tão branca que se caso nevasse, só a veríamos pelo alaranjado do cabelo. Era possível que a menina fosse mais branca até que o primo. Era assim.

– Uma dor. Está doendo muito. - A mais baixa conseguiu dizer.

– Onde, meu amor? - Perguntou a ruiva.

– Bem aqui, no coração. - E apontou para o peito, onde um pequeno coração batia dolorosamente por causa de uma errada paixão.


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Notas finais do capítulo

Fiz meio que uns trocadilhos entre esse capítulo e o outro (o título e a última frase) e eu acho que vou ficar fazendo assim até acabar a fic. Demorei pra postar? Sim, mas eu jamais vou abandonar essa história porque ela é meu amorzinho. Talvez os capítulos estejam tomando um rumo meio diferente comparado aos outros, mas eu só estou fazendo isso pra encaixar no final da história (sim, eu já pensei em tudo). Ah, e eu escrevo essa fic há mais de um ano, minha escrita mudou bastante e vocês podem perceber a cada capítulo. Agradeço aos que acompanham, muito obrigada mesmo. ♥ Enfim, comente ai em que eu posso melhorar, o que faltou ou algum elogio. E, novamente: obrigada.