Aquela Errada Paixão. escrita por Iasmin Alves Pereira


Capítulo 3
Do I Wanna Know?




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Ela acompanhava sua tia, claramente perdida em pensamentos de segundos atrás, quando estava prestes a beijar seu primo.

“Primo.” Ela não podia esquecer. Ele era seu primo. Se apaixonar por ele não seria correto, e além do mais ele não iria querer nada com ela. Ela podia ouvir os passos apressados dele. E também podia ouvir seus cochichos com a mãe, mesmo que o barulho das folhas secas caídas no chão fosse alto.

Ele reclamava com a mãe. Estava bastante aborrecido pois sabia se cuidar e ela não precisava sair a procura deles. Ainda mais em um momento tão crítico, em que a coisa que ele mais queria iria finalmente acontecer. Sua mãe reclamava também, alegando ter ficado preocupada e não saber onde eles estavam, e se queriam sumir assim de repente, pelo menos avisassem.

Ele desculpou-se, mas com a irritação ainda visível. Finalmente haviam saído da pequenina floresta, e a luz da lua e das estrelas, antes coberta pela copa das árvores, ficou à mostra. Desacelerou o passo, tentando ficar ao lado dela, que estava olhando firmemente para o chão.

 - Desculpe. – Começou ele.

- Hã, o que? – Ela continuava perdida. Não queria que aquele momento que nem tinha acontecido tivesse acabado. – Pelo o que?

- Sei lá, por nada eu acho. Por ter feito você ir até lá, por ter te irritado a tarde inteira.

- Ah, tudo bem. – Ela deixou uma pequena risada escapar. Era engraçado ver o jeito em que ele estava falando nada com nada, e como parecia estar mais confuso que ela.

- Será que a gente já vai embora? – Perguntou ele, tentando desesperadamente puxar um assunto para que a tensão que o momento exigia não chegasse.

- Não, a gente combinou de dormir aqui quando vocês saíram. – Disse sua mãe, intrometendo-se na conversa. – Como não tem bastante quarto para todos nós, você e sua prima irão dividir a cama de casal.

Os dois olharam para ela no mesmo instante, com o olhar um pouco eufórico e surpreso.

- Espero que tudo bem. – Disse ela, arqueando as sobrancelhas bem feitas, percebendo a agitação dos adolescentes.

Haviam chegado na casa. A churrasqueira ainda estava acesa e a carne assando. Os homens ainda continuavam bebendo, embora já tenham passado o limite, eles não precisariam dirigir mesmo. As mulheres esvaziavam os carros e vasculhavam a casa, tirando lençóis e travesseiros e procurando colchões. A música continuava rolando, mas não era mais o velho sertanejo obrigatório em todo churrasco de família.

Ela chegou na casa, aguçando mais os ouvidos para prestar atenção no ritmo familiar. Uma serie de músicas de seu pen drive tocavam, o que mostrava que sua mãe o havia roubado de novo. Ela suspirou, pelo menos agradecendo um pouco de música boa.

Sentou-se em uma cadeira ao lado da mesa, enchendo um copo de refrigerante e levando-o a boca. Pela visão periférica, viu alguém puxar uma cadeira e sentar ao seu lado, mas não olhou para quem o fizera. Apenas continuou encarando o fogo da churrasqueira, ao som de Do I Wanna Know do Artic Monkeys.

- Esse é o seu pen drive não é? – Perguntou ele, passando por cima dela e pegando um copo para enchê-lo com água.

  - Uhum. – Respondeu ela sem perceber, apenas distraída pelo fogo.

- Qual a tradução da música? – Ele realmente havia gostado do ritmo.

Ela encarou quem fazia as perguntas, e viu novamente olhos verdes. Prestou atenção em qual parte da música estava, preparando-se para responder.

- “Estava me perguntando se o seu coração ainda está aberto e se estiver eu gostaria de saber quando ele irá fechar. Sente-se e faça uma pose. Me desculpe por interromper é só que constantemente eu estou no limite de tentar não te beijar, mas eu não sei se você sente o mesmo que eu. Nós poderíamos ficar juntos, se você quisesse. Me arrastando de volta para você. Alguma vez já pensou em me ligar quando estava para baixo? Porque eu sempre penso. Talvez eu esteja muito ocupada sendo sua para me apaixonar por alguém novo, agora que eu pensei sobre.” – Droga. Por que tinha que ser essa música? Ela inteira fazia sentido, ainda mais naquele momento.

Ela corou levemente, voltando sua atenção para o fogo e amaldiçoando a música. Droga, mil vezes droga.

Ele ouviu atentamente cada palavra dita, e mesmo depois dela ter acabado de ditar a canção, ele não se movera. Olhava para o rosto dela, visivelmente rosado. Ele não sabia se era pela luz do fogo ou pelo embaraçador momento, mas realmente não queria saber. Agradeceu mentalmente por ela não estar te olhando mais, pois veria que não era a única vermelha.

Virou para frente, tomando sua água.

- Bonita letra. – Conseguiu dizer.

- Pois é, eu amo eles. – Respondeu ela, secamente demais. – Eu vou tomar banho, ok? Depois vou dormir.

- Ah sim, tudo bem então. Depois eu vou lá.

- OK. – Levantou ela, partindo em busca de sua mãe para perguntar onde estava suas coisas.

Odiava esse costume de sua mãe de sempre ser prevenida. Lembrava muito bem da manhã do mesmo dia, antes de sair de casa. Sua mãe insistira em ela levar coisas de banho e pijamas, caso resolvessem dormir lá. Ela reclamou, mas fazer isso com sua mãe é inútil. Preparou sua pequena mala e enfiou no carro, crente que não seria usada. Agora apenas agradecia.

Achou sua mala na sala e rumou para o banheiro, cansada tanto fisicamente quanto mentalmente.


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