Lost Heaven escrita por Luneburg


Capítulo 26
Capítulo XXVI - Sofrimento




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─ Não posso acreditar...

Rasiel não sabia se se alegrava dos pés à cabeça, ou se tinha qualquer outra reação mesclada com todos os sentimentos que lhe bombardeavam. Suas pernas paralisadas não se moviam, tão pouco conseguia dar um passo. Por um lado desejava abraçar o amigo, que acreditava ter perdido naquele dia chuvoso e por outro, receava aproximar. Seria ele mesmo Christopher? O chamaram de Abaddon, porém isso deveria ser um plano dos inimigos, havia plena certeza disso. Queriam mexer com o seu emocional, das lembranças que juntou nesses últimos anos, do qual viveu como um humano comum. Não, definitivamente esse plano não funcionaria, pensava o anjo, que abaixava e empunhava novamente sua espada, segurando-a firme, já se preparando para a batalha.
Abaddon, além das correntes que o prendiam somente no pescoço, como uma coleira, estava com os olhos vendados e por isso era guiado como um cachorro por Belial. Estava em absoluto silêncio, nem seus passos, nem sua respiração poderia ser ouvida de perto.

─ Retire a venda, Belial. ─ ordenava Raphael, que se acomodava em um dos degraus para assistir o que viria acontecer, mantendo as asas fechadas e juntas às costas.

Mephistopheles e Myrho estavam ao lado, mas permaneciam de pé, o primeiro com os braços cruzados, aguardando impacientemente, o segundo tinha ambas as mãos postas sobre a cintura. Balberith e Elizabeth estavam num tipo de sacada no topo, na lateral do salão, semelhante às que tem em igrejas antigas, onde normalmente os reis ou pessoas da nobreza assistiam as missas; ele ao contrário dos parceiros tinha a atenção voltava mais para a garota do que para Rasiel, havia de tomar conta dela, evitando qualquer problema futuro, segurando-a de uma maneira um tanto grosseira.
Belial atendeu a ordem de Raphael no mesmo momento, aproximou-se do acorrentado, retirando sua venda delicadamente, ao contrário dos outros, o demônio havia uma personalidade "bipolar", horas era gentil e cuidadoso e horas outra era perverso como os companheiros. E assim que o fez, se afastou.
Assim que Abaddon teve a venda desamarrada permaneceu um tempo com os olhos fechados, de forma indescritível, não teve uma reação. Quando levantou as pálpebras, fitou de imediato Rasiel, este sério e aparentemente apreensivo. Não disse nada, continuou a fitar o anjo, como se nunca tivesse conhecido. De repente arregalou os olhos, surpreso e boquiaberto. Movia os lábios tentando falar, todavia a voz parecia lhe faltar no momento. Finalmente depois de alguns segundos se pronunciou, com os olhos já marejados de lágrimas e uma face chorosa.

─ Rasiel... meu amigo...

O anjo que ouvia aquilo, surpreendeu-se, a voz era idêntica também, o que o deixou ainda mais confuso do que antes, contudo permaneceu afastado, não respondeu nada, encarava-o observando atentamente cada movimento que o inimigo fazia.
As lágrimas escorriam lentamente e costantemente pelo rosto de Christopher, sentia-se feliz em rever o amigo, pois tinha certeza que nunca mais o veria. Vê-lo trouxera lembranças da infância, de como se conheceram e brincaram juntos e também, memórias recentes, das quais a pouco foram interrompidas bruscamente.

─ Eu achei que nunca mais o veria, que ficaria naquele lugar vazio... Rasiel, estou tão contente em te ver...

─ Não me engana, Abaddon! ─ exclamava o anjo, com a voz firme e determinada, porém, por dentro, mal sabia o que realmente fazer, totalmente incerto do que dizer e a maneira como deveria agir.

─ ...Abaddon? ─ perguntava o outro, certamente curioso e estranhando o nome.

─ Se acha que vou cair nesse truque está errado! Não vou perder meu tempo com esse teatro mal forjado!

Assim que terminava sua fala, o anjo partia rapidamente para cima do moreno e com certa habilidade, deixava a espada ao lado do corpo, na diagonal e quando próximo, a erguia, desferindo um golpe no mesmo sentido sob o outro. Institivamente Christopher levantava os braços, dando um passo para trás e inclinando o corpo idem, na tentativa de proteger o rosto da melhor maneira possível. Sentiu a lâmina cortar profundamente sua pele e carne, fora rápido, mas naquele instante parecia que o tempo passara lentamente. O sangue que começava a escorrer por seu braço gotejava no chão, tingindo-o de vermelho e também a espada afiada. Dera um grito de dor tremendo, que fez alguns telespectadores rirem ao fundo. Caiu no chão, ajoelhado e um pouco encurvado, colocando o membro ferido perto do corpo, quase que o abraçando.
Nesse momento Rasiel percebeu que ele realmente era o seu amigo Christopher, levando um choque por ter o atacado e ferido daquele jeito. Largou a espada, jogando-a de lado, sem pensar em nada mair além de socorre-lo, correndo em sua direção, tentando acudilo, em certo desespero, principalmente por não poder ajudá-lo amenizar a dor que estaria sentindo.

─ Christopher! Christopher! Perdão! Eu... Eu sinceramente... Achei que fosse um plano para me prejudicar... Raphael sabia que eu...

Antes que o anjo pudesse terminar de se explicar, teve seu pescoço pego pela outra mão de Abaddon, que apertava-o com uma força exagerada e descomunal. As orbes do inimigo estavam vermelhas e seus lábios desenhavam um sorriso maquiavélico no rosto.

─ Perdão, perdão! ─ imitava. ─ E eu realmente deveria? Me atacou e ainda acha que sairá impune? Anjo tolo! Que morra pelos seus atos!

─ Chris... topher?

Abaddon estava a ponto de matar Rasiel, apertando-lhe o pescoço cada vez mais, quase que quebrando-o, mas antes que o fizesse, soltava-o, virando de lado e se jogando no chão, parecia lutar contra si mesmo.

─ Eu te perdoo, meu amigo! ─ dizia Christopher, quase às lágrimas, sentia uma dor insuportável e com a voz um tanto desamparada, continhava. ─ Eu te entendo! Mas se afaste! Gostaria de te abraçar, não posso! Não chegue perto! Esse... Não sou eu...

Rasiel estava confuso, não sabia o que fazer. Christopher ou Abaddon? A personalidade dele estava incompreensível. Contudo seu lado humano, no qual viveu tanto tempo, falou mais alto. Ergueu o amigo e o abraçava forte, não o havia perdido de verdade.

─ Christopher! Eu sinto muito! Não pude fazer nada para salvá-lo das mãos imundas de Mephistopheles... Mas agora está aqui. Logo vamos voltar para o tempo em que apenas estudávamos no colégio, onde essa loucura não existe. Ainda vou preparar muitos almoços para você, como tinhamos combinado...

O anjo estava quase chorando, todo aquele sentimento de culpa que havia acumulado após aquele dia terrível, parecia se esvair de uma vez ao ver o colega e conversar com ele, parecia que nada daquilo foi mais do que um terrível pesadelo que tivera numa noite de sono.
Christopher retribuia o abraço, nem mais se importando com o braço ferido. O rosto ainda úmido pelas lágrimas, que persistiam em escorrer pela face, demonstravam uma tristeza profundo. A cor de suas orbes variavam entre a original e um vermelho semelhante aos dos demônios e anjos caídos, que assistiam toda aquela cena como se fosse uma peça de teatro.

─ Rasiel... Eu... vou te matar. ─ sussurava Abaddon, que erguia a mão até o rosto do anjo e ficando bem próximo, tocava-lhe nos lábios com os próprios, ficando apenas poucos segundos assim, logo se afastando.

Rasiel caia no chão, agonizando, uma dor insuportável dominava seu corpo, penetrando no mais profundo do seu ser, mas não tinha nenhum ferimento exterior. Aquele sofrimento pior do que a morte o fazia gritar e se contorcer, mal conseguia respirar, deitado no chão, pouco se mexia.
Abaddon já estava de pé e limitava-se a observar aquele momento terrível do outro com um sorriso de canto. Fechou os olhos e deu as costas, caminhando até as escadarias, mas não chegou a subi-las. Sua corrente presa ao pescoço continuava a se arrastar por onde ia, mesclando seu ruído com os gritos do anjo, naquele salão onde todos só olhavam e nada faziam para ajudar.

─ Vou acabar com seu sofrimento. ─ pronunciava o demônio.

Assim que era dito, passos fortes e uniformes podiam ser ouvidos ao longe, estes tremiam o chão, algo grande se aproximava. Logo, um tipo de monstro surgia da mesma escuridão de onde viera Abaddon vendado. Este com aparência de gafanhoto e rabo de escorpião andava rapidamente até o outro caído no chão, parando bem ao seu lado. Erguia a cauda afiada, pronto para efetuar o golpe fatal, parecia esperar somente a ordem do mestre.
Somente o grito de Elizabeth ecoou.

─ PAREM!!

A jovem que havia conseguido se libertar por um instante das mãos de Balberith, estendeu as próprias em direção àquela aberração, um brilho rápido e extremamente grandioso atingia o ser, eliminando-o completamente, não sobrara nem sequer um resto do corpo.
Os demônios que estavam desprevinidos se assustaram com o que aconteceu, sabiam que o exorcismo da garota era extremamente poderoso. Abaddon que ignorava a presença da menina, ergueu o olhar para ela, as orbes vermelhas a fitavam profundamente, como se a lê-se por dentro.
Balberith que estava ansioso para ver a morte de Rasiel ficou extremamente irritado pela interferência. Puxou Elizabeth pelo braço e cabelo, que já estava sem forças por ter utilizado o poder divino, jogando-a com força no chão, fazendo-a até bater a cabeça. Subiu em cima dela, prendendo-a. Em suas mãos surgiam luvas semelhantes à garras afiadíssimas e longas, de uma cor negra, que tornava-se um tom de ferrugem nas pontas. O ex-Querubim passava as mãos sob o corpo da jovem, cortando-a com agressividade, vezes ou outras arracanva pedaços da carne, perfurando-a em locais não vitais, apenas na intenção de fazê-la sofrer. Ela, assim com Rasiel, gritava de dor e aos poucos, foi ficando sem voz.
Raphael que fora o mentor daquela armadilha, estava de olhos fechados, ouvindo aqueles berros de sofrimento como se fossem uma bela melodia de anjos.


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