Um Anjo (quase) Caído escrita por Gaby Molina


Capítulo 38
Capítulo 38 - Metanoia


Notas iniciais do capítulo

Pois é, gente. É isso aí. Depois de quatro meses INCRÍVEIS... Aqui está. O último capítulo.
O que posso fazer, além de agradecer os atuais 399 comentários (reprimindo a vontade de escrever 400 ;-; Mas não posso mentir), 145 leitores, 51 favoritos e 10 recomendações que... Cara! Surreais. Cento e quarenta e cinco leitores, gente. Cento e quarenta e cinco pessoas com uma vida, com ocupações, que dedicam alguns minutos que seja do seu dia para apreciar o meu trabalho... Ainda não entrou na minha cabeça.
Eu poderia dizer que é o "fim", mas sei que não é. Em "Inferno", é dito "Enquanto teu nome for dito, tu jamais morrerás". Você pode estar lendo isto no dia que eu postei. Pode estar lendo alguns dias depois. Meses. Anos, quem sabe? Mas o sentimento é o mesmo, e é isso que nos une. A história continuará aqui, e ela continuará viva enquanto houver um ser no mundo que se lembre dela.
Então... Tudo o que eu posso esperar é que eu tenha ajudado de alguma forma. Que alguma coisa que eu escrevi te marcou. Te fez sorrir. Te fez repensar algumas coisas. Isso é tudo o que um autor pode esperar, no fim do dia.
Decidi falar sobre a continuação nas notas finais, para não perdermos esse sentimento bonito.
Bem, é isso. Obrigada por tudo. Espero que esse capítulo atinja as expectativas de vocês, porque o apoio de vocês de certo ultrapassou as minhas.
P.S.: Para quem não entendeu o nome do capítulo, "metanoia" é um termo grego. É um conceito complicado, mas gosto de pensar nele como "a jornada de transformar a mente de alguém". Ou seja. Algo ou alguém que inspira os outros, criando intensas mudanças na forma de pensar ou de agir de uma pessoa ou de um grupo.
Aaaaah, e esse capítulo vai especialmente para a AmyCruz, porque sem ela uma das minhas cenas favoritas dele não teria acontecido ;3 (ela vai entender. Sei que vai s2)



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Serena

— Sã e salva — Heath me deixou em casa. — Já estava preocupada que eu fosse sequestrar sua filha?

Patricia deu de ombros.

— Ela chutaria suas bolas — disse. — O que posso dizer? Criei minha filha direito.

Eu ri.

— Até amanhã? — fitei Heath.

Ele beijou meus lábios levemente.

— Até amanhã. Namorada.

— Até amanhã. Namorado.

Ele me lançou um último sorriso e se afastou. Observei enquanto ele pegava um táxi. Por que aquilo parecia ainda mais estranho do que se ele tivesse voado para casa?

Saí correndo até o andar de cima. Havia uma coisa que eu tinha de fazer, que eu prometera a mim mesma que seria a primeira coisa que faria se tudo desse certo.

* * *

O grito que saiu do meu celular foi tão agudo e tão animado quanto uma multidão gritando aguda e animadamente poderia ser. Apesar de ter sido proferido por apenas uma pessoa: Audrey.

EU SEMPRE SOUBE QUE VOCÊS SE PEGAVAM!

Eu ri. Ela não ia me deixar falar nada, então apenas me diverti com ela gritando do outro lado da linha.

Ele pediu mesmo, tipo, com todas as palavras? Ou só meio que constatou?

Percebi que ela queria uma resposta daquela vez. Pigarreei e fiz minha melhor imitação de Heath Seeler:

— "Serena Victoria Argent. Depois de tudo o que passamos, me concederia a honra de ser oficialmente minha namorada?"

Audrey soltou outro berro animado e, dessa vez, eu berrei junto com ela. Ouvi uma batida na porta, e Thomas entrou.

— Audrey? — chamei. — Ligo para você daqui a pouco, está bem?

Ela não pareceu muito feliz com isso, mas acabou concordando. Desliguei e fitei meu irmão, intrigada.

— Eu nunca te agradeci por ter me lembrado do caderno de músicas — notei.

— É, tudo bem. Pela gritaria, suponho que ele tenha feito o pedido.

Abri um sorriso surpreso.

— Você sabia?

— Sim, ele veio pedir minha permissão antes mesmo de pedir a da sua mãe. Sabe, já que eu sou o homem da casa e tal.

Eu não conseguia deixar de pensar que aquilo fora muito legal da parte de Heath.

— É bom vê-la feliz — Thomas abriu um leve sorriso acanhado.

— Eu sei que não digo muito isso — fitei-o. — Mas eu amo você.

Ele piscou.

— Eu também amo você, maninha — e saiu de meu quarto.

* * *

Acordei com vontade de ir ao colégio, o que foi a sensação mais estranha do universo. Tomei um banho rápido e me vesti: blusa clara e saia levemente rodada até um pouco acima do joelho, além de botas de cano baixo. Penteei meu cabelo louro e passei rímel e um pouco de lápis de olho, além de gloss.

Inspirei fundo e desci as escadas. Eu já ia para a calçada esperar por Damien e Heath, mas então me lembrei de tudo o que acontecera no dia anterior. Suspirei e Patricia brotou ao meu lado.

— Vamos, eu levo você.

Quando cheguei à escola, caminhei rapidamente pelo corredor, mas parei quando o vi. Bloqueando meu armário como fazia desde o primeiro dia de aula.

— Cai fora — falei para não perder o costume.

Mas dessa vez ele não retrucou. Heath me prensou contra o armário e me beijou nos lábios. Seus olhos dourados brilhavam.

— Bom dia, namorada.

— Bom dia, namorado.

E devo dizer, eu podia muito bem me acostumar com aqueles novos costumes.

— Dormiu bem, namorado?

— Não tão bem quanto se você estivesse lá, namorada.

Lancei-lhe um olhar censurador, mas Heath apenas riu e colocou um braço em volta de meus ombros.

Caminhamos pelo corredor, atraindo alguns olhares. Ah, sim, vadias, minha expressão dizia claramente. O delinquente americano gostosão é meu. Caiam fora.

Meu. Meu. Meu, meu, meu, meu. Nem Céu nem Inferno podia tirá-lo de mim, então certamente não seria alguma líder de torcida sem cérebro que conseguiria. Sorri sozinha.

Heath

A melhor parte de namorar Serena oficialmente? Poder lançar um olhar intimidador para qualquer cara que olhasse para ela e sentir como se tal prática fosse completamente aceitável. O que não foi muito difícil, já que a maioria deles achava que eu era algum tipo de delinquente juvenil, rebelde sem causa ou sei lá, e que tinha problemas em controlar a raiva.

Essas suspeitas se intensificaram depois que soquei a cara de Phillip Fairchild, mas no fundo eu sabia que Serena estava mais próxima daqueles termos e suspeitas do que eu.

— Namorado.

— Sim, namorada?

— Pare de intimidar os outros alunos, por favor.

— Só se você parar de lançar esse sorriso diabólico para as líderes de torcida.

Ela sorriu.

— Isso não vai acontecer.

Beijei o topo da cabeça dela.

— Então acho que estamos quites, namorada.

— Não acredito.

— No quê?

— Que você passou um ano nessa espelunca chamada colegial e já vai poder sair daqui, e eu ainda tenho mais um ano.

Soltei um palavrão baixo.

— Érrr... Sobre isso... Eu já volto, sim?

— Aonde vai?

— Conceder favores sexuais à professora de Química em troca de nota extra — falei. Ela ergueu uma sobrancelha. — Na verdade, só vou implorar mesmo. Volto em um instante.

Beijei-a nos lábios rapidamente e fui até a sala da sra. Hayes. Bati na porta.

Entre!

Fiz isso. Ela me fitou, surpresa.

— Sr. Seeler.

— Sra. Hayes. Érrr... Pergunta estranha: eu... Érr... Tem alguma... chance... de eu me formar na sua matéria?

Ela abriu um leve sorriso.

— Tenho certeza de que podemos dar um jeito.

Merda, eram ali que entravam os favores sexuais? Recuei dois passos por precaução.

—... Você está dirigindo o musical da escola, não é? Impressionante para um novato. Isso lhe concederá alguns créditos, mas, em geral, o senhor tem conseguido notas boas em minha matéria, sr. Seeler. Perdeu algumas matérias importantes com sua negligência da última semana, mas, se concordar em ficar até mais tarde para ter aulas de reforço, tenho certeza de que as provas finais não serão um desafio.

Sorri.

— É claro! Quando começo?

— Amanhã, que tal?

— Ótimo! Eu... vou indo.

Quando me virei, ouvi-la chamar:

— E Heath!

Voltei a fitar a professora.

— Sim?

Ela abriu um sorriso de canto.

— Talvez devesse passar menos tempo com a srta. Argent e mais tempo estudando.

Eu sorri.

— Está brincando? Ela é a única razão pela qual entendo alguma coisa de Química.

— Hum, sr. Seeler, fico feliz em saber sobre a faísca entre você dois, mas...

Enrubesci ao perceber o que ela estava pensando.

— Não, não esse tipo de química. Quis dizer que ela é minha tutora.

A sra. Hayes suspirou, aliviada.

— Bem, ela é mesmo uma boa aluna. Parabéns pelo namoro, falando nisso.

Arregalei os olhos.

— Como a senhora...?

— As notícias voam, Seeler.

— Logo vi — falei, e então me retirei da sala.

* * *

— Vou me formar — anunciei, sentando-me ao lado de Serena na hora do intervalo.

Ela sorriu.

— Isso é ótimo!

— É mesmo, não é? Que tal matarmos aula para comemorar?

Ela me encarou, séria.

— Não abuse da própria sorte.

— Como Vossa Majestade quiser.

Percebi que ela estava há meia hora tentando abrir uma garrafa d'água.

—... Quer ajuda?

Ela negou com a cabeça, teimosa como sempre. Tomei a garrafa de suas mãos, ignorando os protestos, e a abri.

— De nada — falei.

Ela desviou o olhar.

— Chato. —

Mas você gosta — retruquei. Antes que ela pudesse replicar, continuei: — E então, namorada, como se sente sendo um casal comum?

Ela sorriu.

— Nunca vamos ser um casal comum, namorado.

— Tem razão. Acho que uma namorada comum não ficaria emburrada se eu a ajudasse a abrir uma garrafinha d'água.

— E o que você sabe sobre namoradas comuns?

Beijei sua bochecha.

— Absolutamente nada.

Serena

— Você prometeu que me contaria no sábado! E hoje é sábado! — insisti, seguindo Heath pelos corredores do colégio.

— Argent, eu disse que você não pode ficar nos bastidores, aceite isso.

— Apenas me diga sobre o que é a peça — fiz minha melhor cara de cachorrinho pidão.

Ele suspirou.

— É sobre uma garota. Chamada Sabrina d'Or.

Meu sorriso deu a ele a certeza de que eu sabia onde aquilo ia acabar.

— É mesmo?

— Ela é uma garota muito bonita. Bonita, mesmo. Aquele tipo de beleza Hollywoodiana impossível de ignorar, mas eu acho que ela vai passar a se ver de outro modo depois disso.

— E quem você interpreta?

— Hatch Silvers.

— Silvers — repeti. — Engraçado. "D'or" é dourado em Francês, e silver é prata em Inglês.

— Tudo planejado.

Sorri.

— Sabe como se diz "prata" ou "prateado" em Francês? — fitei-o. — Argent.

Heath sorriu, satisfeito.

— Você é uma garota esperta, eu sabia que ia notar.

— E essa Sabrina... namora o Hatch?

— Claro que não! O Hatch é gay como o vento, querida. Completamente afeminado.

Eu normalmente me irritaria por ele me chamar de "querida" ou questionaria por que diabos o vento é gay, mas tinha outra prioridade:

— Você colocou um personagem homossexual na peça? — repeti. Ele assentiu. — A diretoria concordou com isso?

— Olha bem para a minha cara de quem pediu a opinião deles.

Abri o maior dos sorrisos. Não consegui me conter. Pulei em Heath, que me segurou pela cintura enquanto eu prendia minhas pernas ao seu redor e o beijava. Ele cambaleou um pouco, rodando, e tivemos que interromper o beijo porque eu não conseguia parar de sorrir.

— Já começaram? — Audrey abriu a porta dos bastidores, erguendo uma sobrancelha. Depois colocou a cabeça para dentro novamente e gritou com os atores: — Quando a peça acabar, eu não recomendo que ninguém venha procurar o diretor nos bastidores! E depois, por favor, façam uma dedetização muito bem-feita em toda e qualquer superfície plana que vocês encontrarem aí!

— Audrey! — censurei, enrubescendo.

— Só precaução, S. Seu namorado foda guardou um lugar para você na primeira fila — ela sorriu. — Na verdade, fui eu, mas estou deixando ele levar o crédito.

Eu ri e beijei Heath levemente nos lábios uma última vez antes de me dirigir ao auditório. Na cadeira ao lado da minha estava...

— Frederick! — cumprimentei-o, sentando-me ao seu lado. — Não sabia que você vinha.

— E perder a chance de ver meu filho no musical da escola? — Frederick soltou uma risada alta. — Nem a pau.

— Isso vai ser épico, não vai?

— Eu trouxe minha câmera — ele me mostrou sua câmera fotográfica.

Depois de algum tempo, as luzes diminuíram e a voz de Liam soou pelo auditório.

Algumas histórias foram feitas para serem contadas. Algumas pessoas foram feitas para serem lembradas. Alguns riscos foram feitos para serem tomados — ele fez uma pausa. — Mas nenhuma história, nenhuma pessoa e nenhum risco foi feito para ser esquecido.

As cortinas se abriram, e lá estava Audrey, diante de um espelho. Ela torcia o nariz e prendia o cabelo. E depois soltava. Repetiu o processo umas cinco vezes.

Sabrina! — disse uma voz feminina de dentro da cochia. — Hora de ir!

— Só um minuto! — Audrey respondeu.

Uma garota do segundo ano — Casey, eu acho — saiu da cochia e suspirou.

— Sabrina, você está ótima. Vamos.

— Não o suficiente — Audrey retrucou.

O que elas estavam fazendo? Eu não era assim.

—... Minhas olheiras estão enormes, meu cabelo está liso demais e eu não consigo achar o meu corretivo.

Ah, Deus. Eu me lembrava agora. Aquilo acontecera, comigo e Audrey, há um pouco mais de um ano. Aquela cena era real. Será que todas seriam?

— Seja rápida, está bem?

Quando Casey saiu do palco, o holofote focou em Audrey e ela começou a cantar.

Perfeita

Não eu

Que desfeita, pensar assim

Nunca parece suficiente para mim

Em um mundo de As, o que é um A menos?

O problema não é o mundo, e sim o jeito que o vemos

Talvez se o meu cabelo não fosse tão perfeito

Se meu rosto não fosse tão simétrico

O problema é que o problema que há dentro

Chanel e Jacobs não vão resolver...

Por que aquilo soava como uma Intervenção? Encolhi-me na cadeira.

De qualquer forma, Audrey/Sabrina foi à escola, onde conheceu Heath/Hatch. Não vou descrever todo o musical, mas preciso descrever a cena de Liam cantando sobre Hatch. Preciso.

— Você o ama — Liam riu, falando com Audrey.

— Amo nada — disse ela.

— Ama sim — disse ele mais rápido.

Amonada — ela respondeu mais rápido também.

Amasim!

Amonada!

Um tambor soou.

Ama siiiiiim! — esse "sim" foi, na verdade, uma nota bem alta e afinada. Liam era surpreendentemente um ótimo cantor.

Um ritmo meio rock anos 90 começou a tocar e Heath foi jogado no meio do palco, arrumando sua jaqueta de couro. Liam começou a cantar.

E ele anda pela detenção

Causando ataques de coração

Dando em cima de qualquer alma

Que se mova...

As garotas figurantes da cena soltaram um suspiro. No refrão, todos se juntavam e começavam a dançar em volta de Heath.

Porque ele é o Silvers, Silvers

Não tem como resistir

Silvers, Silvers

A banda parou e todos olharam para Heath, que soltou aquele sorriso eu-não-presto-mas-você-me-quer e disse:

— Quer dar o fora daqui?

Audrey tentou correr até ele, mas Liam a segurou. Foi quando Heath começou a levitar (com cordas, vale ressaltar. Já que... Enfim). Todos olharam para ele e fizeram "Aaaaah", aumentando meio tom em cada "Aaaaah". Quando Heath já estava quase no teto, Liam soltou:

— É uma pena que ele tenha um segredo!

— O quê?! — Audrey ergueu uma sobrancelha.

Heath caiu e as luzes se apagaram. Por um minuto idiota meu coração veio à boca, mas depois percebi que foi tudo combinado.

Uma de minhas cenas favoritas também era real. Heath invadiu a janela do quarto de Audrey.

— Eu estava pensando... — ele se sentou ao lado dela.

— Desde quando você pensa?

— Esse não é ponto. Eu sou novo na cidade. O que vocês fazem para se divertir por aqui?

— Sei lá. Shopping, talvez.

— Ótimo, vamos. — Não, estou bem aqui.

Heath fez sua cara de cachorrinho pidão.

— Por favor!

Audrey bufou, me imitando.

— Você quer saber como essa cidade funciona?! Está bem, Hatch Silvers, eu vou te mostrar como essa porcaria funciona!

— Você... vai sair assim? — ele apontou para o moletom grande demais que ela estava usando, além do cabelo bagunçado e do rosto sem maquiagem.

— Algum problema com isso?

— Não. Não. Nenhum.

E foi então que percebi. Merda, eles estavam certos. Eu era obecada pela minha aparência. Eu estava sempre arrumada e impecável, e não conhecia outra versão de mim mesma... Até conhecer Heath. Era isso. Eu era perfeita, até conhecê-lo. Com ele, eu me tornava a garota que ia ao shopping de moletom, que corria pela cidade de pijama, que fugia na chuva. Com ele, eu apenas não me importava.

Eu não achava que fosse possível amar Heath ainda mais, mas eu amei mais naquele momento por causa disso.

E... O vestiário! Droga, eles usariam isso contra mim. Eu tinha certeza.

Mas — mas! — minha cena preferida de todo o musical era, com certeza, quando Sabrina declarava seu amor por Hatch.

— Sabrina... Você não está entendendo...

— Eu entendo, Hatch, eu entendo! Sei que você não é do tipo que fica com uma garota só, mas nós...

— D'Or, eu sou gay.

Fez-se silêncio. Audrey inspirou fundo, parecendo prestes a ter uma crise de pânico.

— Tudo bem.

— Tudo bem?

— Mas é só isso, certo?

— Como assim?

— Você não escondeu mais nada de mim, não é?

Heath mordeu o lábio.

— Érrrr...

— SILVERS! — Audrey gritou, irritada, e a música começou a tocar.

Heath começou a despejar todas as coisas que havia escondido dela, e Audrey respondia com alguma reação que rimasse.

Eu também colei na prova de Física...

Por favor, me diz que passou em Química!

E tive uma queda pelos Backstreet Boys...

Oh, God!

Sabe aquele pudim que sumiu da geladeira?

Aquele tão lindo que só de olhar já dava cegueira?

Eu comi inteiro.

E o condicionador que sumiu do banheiro?

Tá, isso não fui eu.

Ainda bem!

... Eu só uso TRESemmé.

Era impossível descrever o quanto eu estava rindo. Aquilo continuou por mais um minuto antes de Heath dizer.

— E, na verdade, meu nome é José.

— Como é que é?

Ele riu.

— Certo, esse último foi brincadeira.

E então as cortinas se fecharam e foi o fim do Primeiro Ato.

Corri para os bastidores, mas Liam me segurou na porta.

— Srta. Argent, onde pensa que vai?

— Preciso falar com o Seeler e a Audrey.

— Você não pode entrar lá.

— Todas as mães estão lá!

Ele riu.

— Argent, eu não disse que ninguém pode entrar lá. Eu disse que você não pode.

— Calúnia! Discriminação! Bullying! Desaforo!

— O que está achando do musical, falando nisso?

Sorri.

— É incrível. Desculpe por tê-lo abandonado.

— A perda foi sua — ele abriu um meio-sorriso. — Então... Fiquei sabendo que Damien voltou. Para os Estados Unidos.

— É — concordei, sem saber muito o que dizer.

— Bem, você deveria voltar ao seu lugar, o Segundo Ato já vai começar.

Assenti.

— Diga ao Seeler e à Audrey que eu os odeio.

Ele sorriu.

— Vou dizer que você mandou um beijo — e então bateu a porta na minha cara.

* * *

Eles usaram o incidente do vestiário contra mim. Já que Hatch beijava rapazes, Sabrina começou a se interessar por um cara chamado Patrick, que no caso era interpretado por um cara do primeiro ano, Christopher Jacobs, pelo qual Audrey sempre teve uma queda obsessiva. Então acho que ela gostou muito de agarrá-lo no palco.

Só para deixar claro, foi só um beijo, porque tinha famílias na plateia. Foi bem mais decente do que o que aconteceu de verdade, e pensar desse jeito me fez enrubescer.

Depois do beijo — que não foi nem um pouco técnico (isso aí, Drey!) —, Sabrina correu para arrumar o cabelo, exatamente como eu tinha feito. Parecia bem mais idiota quando mostravam desse jeito. Me encolhi ainda mais na cadeira.

O Segundo Ato foi diferente do primeiro, porque Hatch e Amy (cosplay da Audrey, interpretada pela Casey) ajudaram Sabrina a perceber que ela tinha um problema desnecessário, porque na verdade ela era linda exatamente como era. Lágrimas escorreram de meus olhos e Frederick riu de minha cara. Ele era tão parecido com o Heath às vezes que me dava nos nervos.

A última música do musical foi a única que eles não compuseram. Todos os atores entraram no palco, vestindo um moletom verde exatamente igual ao que eu tinha usado da primeira vez que eu e Heath fomos ao shopping. Fizeram duas filas e começaram a cantar a versão unplugged de Little Me, de uma girl band britânica chamada Little Mix que Audrey amava.

Wish I knew back then, (Queria saber naquela época)

What I know now, (O que eu sei agora)

Wish I could somehow, (Queria poder de alguma forma)

Go back in time and maybe listen to my own advice (Voltar no tempo e talvez escutar meu próprio conselho)

Todos se juntaram para cantar o refrão.

I'd tell her to speak up, tell her to shout out, (Eu diria a ela para falar, diria a ela para gritar)

Talk a bit louder, be a bit prouder, (Falar um pouco mais alto, ser um pouco mais orgulhosa)

Tell her she's beautiful, wonderful, (Dizer que ela é linda, maravilhosa)

Everything she doesn't see (Tudo o que ela não vê)

You gotta speak up, you gotta shout out (Você tem que falar, tem que gritar)

And know that right here, right now, you can be (E saber que bem aqui, bem agora, você pode ser)

Beautiful, wonderful, anything you wanna be (Linda, maravilhosa, tudo o que você quiser ser)

A música diminuiu e Audrey deu um passo a frente.

— Little me... — cantarolou de uma forma tão sussurrada e tão sincera que teria sido impossível ouvir se não fosse pelo microfone.

Quando eles terminaram, as cortinas se fecharam e os aplausos começaram. Fiz questão de ficar em pé, e Frederick se juntou a mim. As cortinas se abriram novamente e eles agradeceram e deixaram o palco.

— Acha que deixariam a gente ir ao bastidores agora? — indaguei Frederick baixinho.

Ele sorriu.

— Vai lá.

Levantei-me e corri para os bastidores.

Liam atendeu.

— O Heath foi ao banheiro.

— Não estou procurando o Heath — falei e ele me deu licença.

Audrey estava contando a piada do atum para umas garotas do primeiro ano (ela amava aquela piada, apesar de ser uma piada muito muito ruim) quando eu a abracei.

— Oi, S. — disse ela, sem me soltar.

— Obrigada — sussurrei. — Pelo musical. Por tudo.

— Por que acha que eu...?

— Seeler pode me conhecer muito bem, mas tinha coisas ali que nem ele perceberia — abri um leve sorriso. — E me desculpe, está bem?

— Pelo o quê?

— Por te afastar esse ano. Tinha muita coisa acontecendo, e eu deveria ter confiado mais em você.

Audrey deu de ombros.

— Tudo bem, S. Mas vai ter que me explicar em detalhes tudo o que você escondeu de mim.

Eu ri.

— Tudo bem. E Drey...

— Sim?

— Você beijou Christopher Jacobs.

Ela deu de ombros, tentando manter a pose descontraída.

— Eu beijei Christopher Jacobs.

Nos olhamos por um minuto e percebi que estávamos pensando a mesma coisa.

— Liam — chamei.

— Sim?

— Se o Seeler aparecer, pode dizer que eu o amo e que fui ter um fangirling com a Audrey?

— Claro, Argent.

Arrastei Audrey pelo corredor, e corremos até o pátio deserto. Nos fitamos por mais um momento.

— Eu beijei Christopher Jacobs — repetiu ela.

Eu assenti. Ela gritou, e eu gritei junto. Começamos a dar pulinhos afetados e repetir aquela frase diversas vezes.

— É seguro me aproximar? — indagou Heath, do outro lado do pátio.

Sorri.

— Tente a sorte!

Como se soubesse que eu ia dizer isso, ele correu até nós e eu o beijei nos lábios.

— Você é um péssimo gay — acusei.

Ele cravou os olhos dourados em mim.

— Sou, é?

— Sim. Eu continuei com vontade de beijar você a peça inteira.

— Não posso controlar meu próprio charme, Argent.

Torci o nariz.

—... Frederick nos convidou para jantarmos na casa dele. Vai ter panquecas.

Sorri.

— Tudo bem. Mas precisamos passar na minha casa, eu preciso do meu moletom verde.

— Ah! — Audrey se pronunciou e tirou o moletom que estava vestindo. Arrumou a blusa branca que estava por baixo e me entregou o moletom. — Esse aqui é o seu. Thomas me deixou roubar.

Ergui uma sobrancelha, mas peguei o moletom e vesti.

Voltamos para o auditório. Heath começou a conversar com Frederick, e eu fiquei observando as pessoas se retirarem. Até que vi uma figura conhecida no fundo da plateia.

— Heath... — chamei baixinho, um pouco cética.

Heath seguiu meu olhar até o fundo do auditório e arregalou os olhos. Parado ali estava Damien. O louro sorriu para Heath como se estivesse orgulhoso dele.

— Você está vendo aquilo também, não está? — ele indagou, como se quisesse ter certeza de que não estava louco. Assenti.

Quando Heath olhou para Damien novamente, o louro havia desaparecido.

Heath

Estávamos jogando Mico. Frederick e Serena estavam em um páreo duro, e eu não fazia ideia de o que estava fazendo. Por fim desisti, colocando um braço em volta dos ombros dela, e fiquei assistindo. Ela colocou sua última sequência na mesa a abriu o maior dos sorrisos.

— Vem pra mamãe — ela pegou a pilha de cartas e começou a organizar. Frederick soltou uma maldição.

Minha cabeça estava longe dali. Eu não sabia se havia feito as escolhas certas, mas pareciam certas. Talvez não houvesse escolhas certas e erradas. Todo mundo seguia o que acreditava. Chad, Damien, eu... Não podia dizer que eles estavam errados, e nem que eu estava certo. A felicidade era um problema individual. Cada um carregava o próprio fardo de ir atrás do que o fazia feliz.

Serena perdoando sua mãe, Frederick me incluindo na família, Liam gostando de Damien... Cada um fazia a escolha que estava em seu coração, e eu esperava ter conseguido fazer isso também.

Acho que, no fim do dia, o importante não é pertencer ao melhor lugar do mundo, mas sim apenas pertencer. O Céu era chamado de Paraíso por um motivo, mas eu não entendia qual porque não pertencia àquele lugar. Eu pertencia à casa onde estava naquele momento, com as pessoas com quem estava naquele momento.

E, por causa disso, aquele sim era o melhor lugar do mundo.

— Garoto — Frederick chamou. — Está ficando tarde, hora de ir para casa.

Puxei Serena para mais perto de mim. Eu podia sentir seu cabelo louro roçando em meu braço. Olhei para os lados, para aquele lugar que se tornara tão familiar, e sorri.

Estou em casa.


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Notas finais do capítulo

É isso, gente ;-;
Não sei mais o que dizer, então vamos ao que importa:
"Depois da queda do Nefilim Heath Seeler, as coisas no Céu mudaram um pouco. Em meio a todas as novas palestras e regras, Celeste Dumont, outra Nefilim, não planejava deixar o Céu tão cedo. Bem, exceto por uma razão: ela finalmente conseguiu o trabalho que tanto queria como cupido.
Quando Celeste é mandada para Nottingham, Inglaterra, para fazer Christopher Jacobs e Audrey Miller terem seu felizes para sempre, as coisas parecem estar indo bem. Ela logo se aproxima de Christopher e tenta fazê-lo terminar com a atual namorada, Layla Sonencler. Ruiva, francesa, gentil, inteligente e linda como Celeste era, a Nefilim encontrou um pequeno empecilho: Quem adivinharia que Christopher a via como mais do que uma amiga?
Enquanto isso, Serena Argent e Heath Seeler veem-se na tarefa de ajudar Celeste com sua tarefa.
De um dia para outro, Serena percebe que seu irmão, Thomas, agora com quase quatorze anos, não é mais a criança que ela achava que era. Enquanto o irmão tem seu sonhado primeiro ano no colegial, Serena percebe os olhares lascivos de garotas e as retribuições de Thomas. Decidida a aproximar-se do irmão, a loura não obtém muito sucesso a princípio.
Além do mais, ela e Heath não parecem conseguir nunca um tempo sozinhos. Quando Patricia viaja para resolver um caso jurídico do outro lado do país, tudo parece finalmente disposto a dar certo.
É quando Piper Maxwell se muda para a casa ao lado. Com Thomas também vivendo sua primeira pequena paixão, Serena percebe que ele não vai deixá-la em paz tão cedo."
É isso que nos espera ;333 Acompanhem aqui: http://fanfiction.com.br/historia/468245/Um_Cupido_Quase_Flechado/
Eu gostaria de fazer um último pedido. Para terminarmos bem. Mesmo que você seja um leitor fantasma, ou mesmo que sempre comente, eu gostaria de pedir que viesse dar um oi nos reviews. Não precisa fazer um texto enorme nem usar palavras bonitas (mas fique à vontade, amo textos), eu só gostaria de saber o que vocês mais gostaram na história e o que acham que poderia melhorar. Vocês não fazem ideia do quanto isso ajuda.
Pensei muito em como ia terminar, e por fim decidi que nada mais justo do que com essa citação de Sociedade dos Poetas Mortos:
"Nós não lemos e escrevemos poesia porque é bonitinho. Nós lemos e escrevemos poesia porque somos membros da raça humana. E a raça humana é movida pela paixão. E medicina, lei, negócios, engenharia — essas são carreiras nobres e necessárias para sustentar a vida.

Mas poesia, beleza, romance, amor... É para isso que nos mantemos vivos."