Um Anjo (quase) Caído escrita por Gaby Molina


Capítulo 23
Capítulo 23 - A Aposta


Notas iniciais do capítulo

Queria agradecer em nome da Radioactive a todos que leram a fic que eu indiquei no último cap :3
http://fanfiction.com.br/historia/434534/As_Fitas_da_Retaliacao/
Se você não leu
GO GO GO, LEIA ♥ sério, a fic é muito legal e a autora também, falem com ela.
Já clicou?
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Como assim, não clicou?



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Heath

Paixão. Anjos não se apaixonam, então paixão é um sentimento humano. Os demônios, ao contrário dos anjos, glorificam os sentimentos humanos ao invés de comprimi-los.

Amor. Esse, sim, é do Céu.

Acho que o primeiro termo é o que destrói, mas acho que não se pode fugir dele. Anjos foram criados para seguir as regras do Céu. É como os humanos seguindo as regras mundanas.

Mas Nefilins... Estamos presos no meio de dois extremos, por isso nos é dada uma escolha. Só não tenho mais certeza de que estabelecemos um objetivo que é possível cumprir.

Não estou considerando liderar um exército no Inferno nem nada, mas... Só não tenho mais certeza da quantidade de coisas boas que eu não conhecia.

Serena

Eu estava sentada na cama de Heath, esperando ele voltar.

Meu Deus. Quão pervertido isso soa?

Comecei a mexer nas coisas dele. Errado? Sim. Eu ligava? Não.

Foi quando uma foto caiu da gaveta. Peguei-a do chão e coloquei uma mecha de meu cabelo atrás da orelha.

Um menininho, com não mais de quatro anos, rindo nos braços de um homem alto e moreno.

Eles tinham o mesmo cabelo bagunçado, o mesmo queixo, o mesmo formato de nariz... Não sei exatamente como me lembrava de detalhes de Heath tão facilmente, mas...

Bem, sabia sim, mas não vem ao caso.

O mais curioso era o manuscrito atrás da foto:

Aniversário de 4 anos de Heath

12/07/2000

Sandsville, Inglaterra

O pai de Heath era inglês.

Heath

Quando cheguei em casa, fui direto para meu quarto. Eu estava esperando apenas relaxar um pouco e pensar em minha existência miserável, mas, aparentemente, isso não estava nos planos de Serena.

Ela fitava uma foto que eu conhecia muito bem.

— Mexeu nas minhas coisas?! — tentei soar irritado, mas acho que não consegui. Estava com muita coisa na cabeça, e não conseguia mais ficar bravo com Serena, mesmo que quisesse muito.

Ela me ignorou.

— Sandsville! Isso é aqui do lado. Tipo, a meia hora daqui! Pegue as chaves! — ela levantou-se, animada.

Segurei-a na porta.

— Está louca?

Os olhos azuis se estreitaram.

— Por que nunca me disse que seu pai era inglês?

— Você nunca perguntou.

Ela levantou um pouco meu queixo, fazendo-me olhar para ela.

— Mas eu perguntei onde ele morava.

— Talvez eu não quisesse contar a você.

— E por que não?

— Porque você ia fazer exatamente o que está fazendo agora.

— E o que estou fazendo?

— Forçando.

— Seeler, qual é! Quantas chances dessa você vai ter quando voltar ao Céu? Que mal tem levar uma memória de seu pai com você?

— Argent. Eu nem sei se ele ainda mora lá. Ou se está vivo. Ou se quer me ver.

— É claro que ele quer te ver! Você é o filho dele!

— Certo, sente-se.

Surpreendi-me quando ela o fez. E não desviou os olhos.

— Vamos ser sinceros por um minuto — fitei-a, sentando-me ao lado dela. — Isso é sobre os seus pais?

— Não estamos falando sobre mim.

— Argent. Sinceridade, lembra-se? — o tom gentil de minha própria voz me surpreendeu.

Ela suspirou.

— Tudo bem. Existe um sentimento, e eu sei que você sente, quando você não tem seus pais com você. Um vazio. E eu sei como é, porque eu o sinto. E vou sentir minha vida toda, apenas pensando e se. E se meus pais estivessem vivos? Nós nos daríamos bem? Eu seria a mesma pessoa que sou hoje? — ela fez uma pausa. — Eu não quero que você sinta isso, Heath. Você tem uma escolha. Pode mudar o rumo das coisas. Eu não escolhi nada. Só aceitei as coisas como elas são. E acredite em mim, conformismo é uma merda. Entende aonde quero chegar?

Abri um leve sorriso.

— Na parte onde você admite que se importa comigo?

— Seeler, se cérebros fossem dinheiro, o seu seria uma criança na África.

Meu sorriso não desapareceu.

— Você se importa comigo.

— Não querer que você sofra de um vazio terrível a sua vida toda, sempre olhando para trás e desejando ter feito diferente não é a mesma coisa que se importar.

— É, sim. E você fica aí sendo durona e fingindo não ter sentimentos — eu me aproximei. — Mas sei que é caidinha por mim, Argent. Apenas admita para que possamos seguir em frente.

— Talvez eu não queira seg... — a voz dela falhou e ela se levantou. — Merda, Seeler, vamos logo.

Eu estava me divertindo.

— Por que a pressa? — puxei-a de volta.

Ela mordeu o lábio e pareceu usar toda a sua força de vontade para dizer:

— Proponho uma aposta.

— Sou todo ouvidos.

— Você acha que eu sou caidinha por você — ela me encarou. — E eu acho que você é caidinho por mim. Então... Vamos ver só. Eis a aposta: o primeiro que ceder terá que fazer tudo o que o outro quiser durante uma semana.

— Está brincando.

— Eu não brinco, Seeler.

— E como seria o sinal de rendição?

Ela se aproximou muito de mim, encostando o nariz no meu.

— Um beijo. Nos lábios. Já sente vontade de desistir?

Inclinei-me e beijei-a.

Na bochecha.

— Você não é tão irresistível quanto pensa que é, Argent.

— Eu poderia dizer o mesmo sobre você, Seeler. Veremos — ela sorriu uma última vez e levantou-se, saindo de meu quarto.

Serena

A desculpa para me distanciar de Heath funcionara. Talvez, nesse meio-tempo, ele percebesse que eu não sou ninguém especial e voltasse para o Céu.

E talvez eu pudesse me trancar no quarto por vinte anos comendo sorvete e ouvindo Taylor Swift — a parte Sad Beautiful Tragic dos álbuns, que fique claro — quando isso acontecesse.

Ele não é um cara qualquer do colegial que gosta de você, Serena, minha consciência me disse. Ele foi criado para servir aos Céus. Não a você. Quem você pensa que é para se meter no meio?!

Não era ninguém especial. Só mais uma garota egocêntrica que estava... que estava...

Eu não conseguia dizer em voz alta.

Então apenas deitei-me em minha cama e fiquei pensando em como diabos faria Heath me beijar.

Eu precisava ganhar aquela aposta. Sabia o que pediria. Surpreenderia até a mim mesma.

Mas era para o próprio bem dele.

Ao mesmo tempo, eu não queria que ele me beijasse. Era como uma droga. Eu queria tanto que sabia que não deveria querer. Cada vez que eu sentia os lábios dele era apenas mais uma lembrança do momento — próximo — onde eu não sentiria mais os lábios dele.

Onde eu sequer o veria.

Sentiria falta dos arrepios. Não achava que algum dia sentiria algo parecido.

Sentiria falta da risada debochada. Das respostas surpreendentes. Dos olhares furtivos. Das erguidas de sobrancelha. Do sotaque ridículo. Do cheiro reconfortante. Do sorriso malicioso. Do tom de voz paciente. Dos berros na chuva.

Meu Deus, no que eu fora me meter?

* * *

— Esse acorde está errado — opinou Chad no intervalo do dia seguinte, tocando diversas vezes no violão para enfatizar. — Eu abaixaria meio tom.

— Então... Lá?

Ele tocou Ré e depois Lá, como a música dizia. Muito melhor.

— Sempre fui melhor com as letras — comentei.

— Não posso discordar. Seu ouvido é muito ruim — ele sorriu.

Empurrei-o de leve.

— Cale a boca — resmunguei, fingindo estar ofendida.

Ele me fitou por um minuto.

— Tem algo diferente em você.

— Passei rímel demais, eu acho.

Ele riu.

— Não, o rímel está normal. Quero dizer, tipo, no seu olhar. No seu jeito de falar. Sei lá. Não é ruim. Só... diferente.

Desviei o olhar.

— Um monte de coisa tem acontecido.

Talvez o abismo nos engula / Talvez cheguemos a Atlântida / Talvez não tenhamos mais a força / De mover montanhas...

Mas somos o que somos. — completei. — Adoro o fato de você sempre ter um poema para me fazer refletir sobre a minha situação quando, na verdade, apenas não sabe o que dizer.

Ele deu de ombros.

— Adoro o fato de você nunca me deixar dizer o último verso do poema.

Soltei um sorriso involuntário.

—... Também adoro quando faço você sorrir.

Desviei o olhar, mas ele segurou minha mão. Quando me virei, ele me beijou nos lábios.

Eu poderia mentir, mas não vou. Passaram-se alguns segundos onde eu apenas não queria afastá-lo.

Mas percebi que não estava reagindo. E também não estava pensando em Chad.

Mesmo que quisesse muito, não conseguia.

Então o afastei.

— Não consigo — sussurrei, mordendo o lábio. — Chad, eu realmente gosto de você.

— Eu também gosto de você — ele me fitou com seus olhos verdes. — Isso é sobre o Seeler, não é?

Desviei o olhar.

— Talvez. Como eu disse, gosto mesmo de você.

— Mas não como gosta dele.

Não era uma pergunta.

— Não. Não como gosto dele.

Chad assentiu, passando a língua entre os dentes, mas seus olhos pareciam um pouco mais apagados.

O sinal tocou, sinalizando o fim do intervalo.

— Não quero perder você — soltei, sincera.

Chad sorriu.

— Argent, você não me perderia nem se implorasse — ele beijou minha testa. — Mas, sabe... Quando cansar de tentar descobrir se é a garoa ou o furacão — ele passou a língua entre os dentes. — Sabe onde me encontrar.

Assenti e ele se afastou.

* * *

— Não fui eu — foi a primeira coisa que disse quando entrei na sala da coordenadora depois da última aula de sexta-feira. O fato de Rick não estar lá queria dizer que eu provavelmente estava ferrada.

— O que não foi você?

— Hmmm... Nada. O que foi? Eu preciso ir logo para o ensaio do musical.

— É exatamente sobre isso que eu gostaria de conversar com a senhorita — ela baixou os óculos, me encarando. — Ouvi relatos de que a senhorita planeja colocar um personagem homossexual como protagonista da história.

— Eu... considerei a possibilidade. Por quê?

— Eu falei com alguns pais. Alguns deles consideram... inadequado.

Bati as costas na cadeira, soltando um riso debochado.

— Está brincando comigo, certo?

— Eu jamais brincaria com algo tão sério!

Bufei.

— Metade do povo do teatro é homossexual. Eles vão amar a notícia.

Abri um sorriso amarelo e saí da sala.

Heath

Serena é um gênio quando se trata de começar revoluções. Tenho de dar esse ponto a ela.

— Vamos aceitar isso tão facilmente?! — ela gritou no centro do palco, sem microfone, mas mesmo assim sua voz preenchia todo o auditório. — É o nosso direito de expressão! Eles são os inadequados! Eles! Cada um tem o direito de viver do modo como bem entender, e não é do interesse deles criticar ou não! Não precisamos de sua permissão!

Cara, ela ficava tão sexy começando uma revolução.

— Não vamos desistir! Não vamos recuar! Cada cidadão tem o direito de ser tratado como igual, independente de sua cor, orientação sexual, ou o que for! Vamos lutar por esse direito, meus colegas! E vamos vencer!

Ela pareceu bem satisfeita com os berros estusiasmados que recebeu de volta.

— Ela vai em frente com isso, mesmo? — perguntei a um garoto ao meu lado.

— A Argent? Com certeza. Da última vez, ela subiu numa árvore e ficou lá por cinco dias para impedir que retirassem a planta, porque era uma espécie em extinção ou sei lá.

— E retiraram a árvore?

O garoto riu.

— A mãe da Argent é advogada, então isso ajudou. A árvore continua lá.

* * *

— Discurso legal — comentei com Serena quando o ensaio acabou.

— Valeu.

— Sempre luta pelas coisas que quer?

Ela fez que sim com a cabeça.

—... Vai lutar por mim?

Aquilo a atingiu, deu para ver. Ela desviou o olhar. Sua mente parecia estar bem longe dali.

E então apenas saiu andando.

O que não adiantou muito, porque acabamos no mesmo carro.

Serena

— Sereeeena! — ouvi a voz de Audrey atrás de mim quando eu estava entrando no carro.

— Drey? O que ainda está fazendo aqui? — ergui uma sobrancelha.

— Treino extra da torcida — ela deu de ombros. — Vai amanhã?

— Vou... Aonde?

— Deus, Argent. Festa à Fantasia? Tracy James?

— Ah! Ah, sim. Lembrei — menti. — Que horas é a festa, mesmo?

— Às nove, Argent. Às nove.

— Ah... E o endereço?

— Eu passo para buscar você. E o Heath.

Eu estava prestes a reclamar quando percebi que aquela era, na verdade, uma excelente ideia.

— Tudo bem — sorri e entrei no carro. — Oi, Damien.

— Oi, Argent — Damien falou, não muito animado.

Bem, aquilo já era um progresso.

— Seeeeler, eu e você vamos a uma festa amanhã, tudo bem?

— Está perguntando minha opinião? — ele franziu o cenho. — E está me convidando para alguma coisa?

— Exatamente. A Audrey passa lá em casa às nove.

— Tudo bem, então.

Saímos do carro. Quando ele estava subindo as escadas para o andar de cima da casa, segurei sua mão.

— Esqueci de dizer. É uma festa à fantasia.

Ele me fitou, prevendo algum plano oculto.

— E já pensou na sua fantasia?

Abri um sorriso misterioso.

— Não se preocupe, você vai gostar.

— Da festa ou da sua fantasia?

— Oras, é meio impossível que você não goste de algum dos dois, na verdade. Eu vou estar na festa. E eu vou estar vestindo a fantasia... E você é caidinho por mim. Então acho que vai ficar animado de qualquer jeito.

Ele ergueu uma sobrancelha.

— Depois não reclame quando eu não conseguir me segurar e agarrar você depois de uma provocação dessa.

— Faça isso — sorri, dançando com meus dedos por seus ombros. — Pode sempre perder a aposta.

— E virar seu escravo por uma semana? Certo — ele soltou um riso debochado. — E que tal você ceder, Gato Preto?

— Ah, certo. Já até imagino: uma semana sem usar shorts cujo comprimento seja maior do que um palmo. Contando a partir do umbigo.

— Como o que você está usando neste exato momento?

Dei um tapa no ombro dele.

— Meu shorts não é curto, idiota.

— Eu sei — ele soou decepcionado numa tentativa de me irritar.

Não posso dizer que não funcionou.

— Vai subir ou não? — ele ergueu uma sobrancelha.

— Você primeiro.

— Damas primeiro.

— Para você ficar olhando para a minha bunda? Não, obrigada. Vamos, Seeler — e então o empurrei escada acima.


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Notas finais do capítulo

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Obrigada :3