Um Anjo (quase) Caído escrita por Gaby Molina


Capítulo 19
Capítulo 19 - O Inferno do Anjinho


Notas iniciais do capítulo

Quanto ódio pra cima do Chad, gente HAUSHAUSH

Aah, e me perguntaram se a utilidade dele na história vai ser só um interesse romântico para a Serena, e a resposta é NÃO. MUA HA HA
Digamos que ele vai animar bastante as coisas u.u



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/421161/chapter/19

Serena

— Você viu a mais nova aquisição no mural de delinquentes da Nottingham? — Audrey pulou em mim no dia seguinte, apontando discretamente (ao menos, acho que era para ser discretamente) para Chad. — Sério, será que garotos de reformatório são assim?! Partiu ser presa!

— Audrey. Você não duraria dez minutos em um reformatório. Sairia correndo e gritando sobre germes.

— Certo, e você levaria cinco minutos para ser expulsa por desacato à autoridade ou apenas por ser uma enorme estraga-prazeres. Humpf. Onde esse cara esteve nos últimos dezesseis anos da minha vida?!

Espera. Audrey não se lembrava de Chad?!

—... Você sabe o nome dele?

Audrey não se lembrava de Chad!

— Chad — falei rapidamente.

— Falou com ele?

— Eu... Hum...

— Bom dia, Argent — ouvi aquela voz grave e rouca atrás de mim.

Suspirei.

— Oi, Chad. Ah, essa aqui é a Audrey — apontei para Audrey.

Chad hesitou, o que me deu a certeza de que ele a reconhecera, mas depois sorriu e apresentou-se.

O sinal tocou.

— Tenho que ir. Foi um prazer vê-las, moças — ele acenou com a cabeça e foi para a aula.

* * *

Mudei de esconderijo nos três dias seguintes, mas Chad me encontrou mesmo assim. Então apenas desisti e sentei-me no campo, aproveitando que estava de jeans.

Eu estava com meu caderno quando ele chegou. Tinha terminado Drizzle And Hurricane no dia anterior.

Chad pensou por um momento.

— Já volto.

Eu poderia ter saído dali. Poderia mesmo. Provavelmente deveria ter saído. Mas não o fiz. Quando finalmente decidi dar o fora, ele apareceu.

Com um violão.

— Sou melhor na guitarra — confessou ele. — Mas deve dar para o gasto.

Ele pegou caderno e começou a ler a cifra.

Heading through space... — cantarolou com sua voz suave. — É assim?

— Mais lento — falei. — Heading through spaace... Didn't get what I wanteed... Pausa. Tired of navigating... Agora mais rápido. And having no idea of what I need...

Ele enfatizou o fim da estrofe tocando Cima Baixo Cima Baixo. Eu não tinha pensado naquilo, mas secretamente gostei e decidi que tentaria algo parecido no teclado.

Chad me acompanhou no refrão, o que foi a coisa mais esquisita do mundo, dadas as palavras que estávamos cantando:

Cause today I'm drizzle and you are the hurricane

And I actually like a lot those days

But tomorrow it will change all over again

And it will be my turn to screw up,

By leaving when I want to stay

But you'll fly back to Heaven and I'll be tied

With just a memory of your smile when I close my eyes.*

Chad parou de tocar quando o refrão terminou.

— Eu sabia que você ia acabar escrevendo sobre aquilo — afastou os cabelos pretos do rosto pálido, mordendo o lábio rosado. Ele costumava ser mais bronzeado, mas fiquei mais fascinada com o quanto a pele estava alva. O contraste com os olhos e os lábios era impressionante.

Coloquei uma mecha do cabelo atrás da orelha, evitando olhar para Chad ao sentir que ele, na verdade, tinha esperança de que eu não escrevesse sobre garoas e furacões, e sobre eu e Heath.

Eu também tinha, Chad. Eu também tinha.

Heath

Fazia muito tempo que eu não desenhava. Meses? Anos? Provavelmente. Mas foi só pegar o lápis e o caderno que minha mão pareceu lembrar-se do caminho, e logo um esboço estava feito.

Mas devo admitir que era muito mais difícil me concentrar com Serena e Chad cantando. Eu não conseguia entender a letra, mas reconhecia a voz dela.

A ideia de que ela se sentisse confortável o suficiente perto dele para cantar revirou uma emoção que eu não gostava dentro de mim.

CHAD CAMPBELL

O lápis escreveu aquela palavra quase sem meu consentimento. Chad Campbell. C.C.

— C.C.R — falei comigo mesmo, me odiando por ser tão burro.

— A Argent me disse que você acha que me conhece. Sabe, de antes da Macy's — dissera Chad para mim na aula de Química duas horas antes, onde eu estava, pela primeira vez, tentando prestar atenção.

— Claro que disse... — bufei.

— Alguma ideia de como?

— Nenhuma. E você?

Eu podia jurar que ouvira um suspiro aliviado.

É claro que ouvira. Demônios não gostam de ser reconhecidos.

* * *

— Aonde está indo? — segurei o pulso de Serena quando a aula acabou.

— Para casa — disse ela como se eu fosse idiota. Certo, fora uma pergunta idiota.

— Mas Audrey faltou.

— Não se preocupe, eu arrumei outra carona.

— Quem?

A resposta apareceu ao lado dela um segundo depois. A resposta possuía olhos verdes, jeans rasgado e uma voz bem grave e rouca.

— Pronta? — Chad sorriu.

— Argent, tem um minuto? — fitei-a, mordendo o lábio.

— Na verdade, eu... — ela começou.

— Ótimo! — sorri e peguei o pulso dela. Encarei Chad. — Já volto, cara.

Arrastei-a até a primeira porta que encontrei e a abri, nos enfiando lá dentro.

— Onde estamos? — olhei em volta.

Serena acendeu a luz.

— No armário de limpeza. De novo. Gênio — debochou, revirando os olhos.

— Hã... Certo. Descobri de onde conheço Chad.

Ela me fitou com certa expectativa.

— É?

— Lembra de quando você disse que ele poderia ser um anjo?

— Na verdade, eu disse que ele era gato o bastante para ser um anjo.

Revirei os olhos.

— Certo, que seja. Ele era um anjo. C.C.R.

— Hum?

— Chad Campbell Reynolds. Era como... uma lenda lá em cima, sabe? Entre os Nefilim. Era um dos mais prestigiados, alguns diziam que até lhe seria concedida alguma posição que só anjos completos costumavam ocupar. Até que... — minha voz falhou.

— O que aconteceu?

— Foi um dia bem traumatizante. Eu tinha quatorze anos, ele era alguns meses mais velho. Chad era bem revoltado, sabe? Odiava regras.

— Você também odeia.

— Não, eu odeio ter de segui-las. A existência delas me é conveniente. Mas enfim. Ele queria mais do que burlar as regras. Queria mudá-las. Controlá-las. Achava que a hierarquia do Céu era extremamente deficiente, e tinha suas próprias ideias. Que foram recusadas, claro. Então ele... armou sua própria queda, propositalmente. Foi terrível assistir. Chamaram todos nós enquanto dois anjos fortões levavam Chad até a nuvem de onde geralmente chutam anjos para fora do Céu. Ele tinha um sorriso presunçoso nos lábios, como se soubesse de algo que não soubéssemos — suspirei. — E, bem, foi isso. Eu não o reconheci de imediato porque ele usava o nome do pai no Céu. Reynolds.

— E você me disse tudo isso por que...?

— Demônios lhe parecem criaturas legais, Argent? Gentis? Bacanas? Bondosas?

— Demônios foram feitos para espalhar o caos, não é? Mas Chad...

— Chad é um demônio, Argent. Cem por cento energia do Inferno.

— E daí?

A reação dela me surpreendeu. Muito.

— E daí que ele é coisa do capiroto, Argent!

Ela bufou.

— É? Tem certeza disso? Porque você também não é nenhum santo, Seeler. E Chad não tem sido nada além de... Não acredito que vou dizer isso, mas, um cavalheiro. Ele não encostou um dedo em mim, nem sequer no meu pulso ou sei lá, e não tentou me converter para nenhum candomblé, pode ficar tranquilo. Você mesmo disse que as coisas não eram tão preto e brancas assim, quando falou sobre o Céu e o Inferno.

Certo. A história de Chad é mau não estava dando certo.

— Por favor, não vá com ele — pedi, engolindo o orgulho.

Ela se aproximou de mim.

— Por que apenas não admite?

— Admitir o quê?

— A verdade. Que está com ciúme.

— Não estou com ciúme. E esse nem é o caso. O caso é que é o meu serviço como anjo da guarda proteger você, e deixar você andar por aí com um demônio não é exatamente a minha ideia de serviço bem-feito.

— O sr. Demônio me levou para casa quando você estava ocupado demais dando em cima daquela ruiva maldita.

— Não acredito que vai trazer Jill à conversa de novo.

— Não vou. Cansei dessa conversa, na verdade.

Serena

— Serena — sussurrou Heath, sério.

O arrepio de sempre percorreu minha espinha. Maldição.

—... Se você voltar para casa com ele, eu vou realmente começar a jogar direito — disse ele.

— Vou repetir o que disse sexta: Traga-me seu inferno, Anjinho.

— Ah, eu vou trazer — ele abriu um sorriso presunçoso que faria uma calota polar derreter. — E sabe qual é a pior parte? — ele se aproximou tanto de mim que pude sentir sua respiração em minha orelha. — Você vai gostar.

Heath era a única pessoa no mundo que tinha o poder de me deixar sem palavras.

Eu não estava com medo do que ele poderia fazer. Estava com medo de mim mesma. Do efeito que ele provocava em mim.

Com medo de gostar, assim como meio que gostava de tê-lo tão perto.

Aproveitando a proximidade, ele beijou minha bochecha e abriu a porta do armário, fazendo um sinal para que eu saísse primeiro.

Foi a primeira vez que ver Chad não provocou nenhum desconforto. Ele não era o problema.

Heath também não era o problema. Eu era o problema. E agora sofreria de meu próprio remédio.

Mas, depois da previsão de Heath e do quanto meu subconsciente sabia que ele tinha razão, Chad me pareceu um Ken versão reformatório.

E isso não me arrepiou nem de perto o quanto o simples fato de saber que Heath estava alguns metros atrás de mim me arrepiou.

— Está pronta? — Chad sorriu.

Assenti.

Fiquei em silêncio o caminho todo do colégio até em casa. Chad pareceu perceber que tinha alguma coisa errada, mas não fez perguntas, o que apreciei. Apenas colocou Red Hot Chilli Peppers no último volume e cantou comigo.

Quando chegamos à minha casa, ele sorriu. E que sorriso.

— Chad. Pergunta aleatória: seu último nome é Reynolds? — perguntei antes que pudesse me conter.

Ele hesitou, mas assentiu.

— Não gosto dele. É o nome de meu pai, e não nos falamos muito. Ele reprova algumas escolhas minhas.

Assenti também.

— Bem... Tchau. Valeu pela carona.

— Tchau, Argent. Sempre que precisar.

Observei o carro distanciar-se e bati na porta de casa. Havia esquecido minha chave.

Thomas atendeu e fez uma cara preocupada.

— Que foi? — perguntei.

— Eu não iria à cozinha se fosse você — alertou ele. Empurrei-o e rumei direto para a cozinha. — Bem, eu avisei.

Heath, minha mãe e uma mulher loura de meia-idade que eu não conhecia estavam sentados à mesa. Eles estavam rindo, animados.

— Ah, ela chegou! — Heath abriu um sorriso cheio de segundas intenções.

— Sente-se, querida! — Patricia também sorriu e eu me sentei. — Ah, esta aqui é Wilma Stewart.

A mulher loura acenou com a cabeça.

— É um prazer.

— Então, lembra-se que eu estava preocupada que você ficasse sozinha aqui por dois meses enquanto eu viajava? — Patricia me fitou.

— Não.

— Certo, você nunca presta atenção em nada do que eu digo. Thomas vai ficar na casa do Dean — o melhor amigo dele —, e Wilma tem experiência em receber adolescentes em sua casa. Na verdade, atualmente ela está hospedando Heath e um outro garoto, e ainda tem um quarto sobrando.

— E você quer que eu fique lá? — ergui uma sobrancelha.

— Eu não quero nada. Você vai ficar lá.

— Não posso ficar na Audrey?

— Não, eu não confio naquela mãe dela.

— Mas confia nessa mulher aleatória? — apontei para Wilma. — Sem ofensas.

Patricia pareceu confusa por um momento, mas logo disse:

— Sim. Você vai se mudar amanhã à tarde. Heath e Daniel...

— Damien — Heath corrigiu.

— Heath e Damien vão ajudá-la com suas coisas.

O mundo girava. Mais do que devia.

Então apenas corri para meu quarto, sabendo o que viria depois.

Eu avisei — disse aquela voz irritante na janela. — Falei que ia morar com você se não me ajudasse.

Abri a janela.

— Como convenceu minha mãe?

— Argent, eu sou metade anjo. Isso quer dizer que tenho 50% mais ajuda divina.

— Filho da mãe.

— A vida não é justa.

— É, mas as piores coisas vêm de graça. Agora dê o fora daqui. Já terei que ver a sua cara o suficiente pelos próximos dois meses.

Ele assentiu e saiu quando quase cortei o pescoço dele com a janela.

Certo, a vida era injusta, mas aquilo era completamente ridículo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

* Porque hoje eu sou a garoa e você é o furacão
E eu realmente gosto muito desses dias
Mas amanhã tudo vai mudar de novo
E vai ser minha vez de estragar as coisas,
Indo embora quando quero ficar
Mas você vai voar de volta ao Paraíso e eu estarei amarrada
Com apenas uma memória de seu sorriso quando fecho os olhos.


Lalalá, já preveem as tretas? HAUSHAUSH