O quarto estava escuro, a única luminosidade vinha do pequeno abajur que se concentrava na mesinha de cabeceira. De baixo do fino lençol branco, conversavam e saboreavam guloseimas bruxas, feijõezinhos de todos os sabores estavam espalhados pela cama.

—Está brincando? —Hermione não podia deixar de esconder a surpresa quando Gina lhe contou sobre um garoto da Corvinal que lhe entregou alguns cartões.

Gina ria.

—Mas e George? Achei que vocês se resolveriam logo! —Disse colocando um sapo de chocolate na boca.

Hermione olhava para os doces e passava a mão sobre eles, espalhando-os ainda mais.

—Não sei, toda vez que conversamos nós brigamos! —Revirou os olhos.

—Talvez agora no Natal... —Deixou no ar a continuação da frase e sorriu.

—É... Quem sabe!

Gina acertou Hermione com uma almofada e riu alto.

—Na festa de natal vou fazer meu irmão se aproximar de você bem discretamente e te agarrar em um canto qualquer da Toca. —Gina ria, provavelmente imaginava a situação, mas aumentou a risada quando percebeu a vermelhidão que exalava das bochechas de Hermione.

A noite passou a base de risadas.

O despertador tocou e Hermione teve vontade de lança-lo contra a parede, mas jogou seu corpo para fora da cama, mais precisamente, em direção ao banheiro. Tomou seu banho e acordou Gina, que apenas se mexeu e cobriu o rosto com o lençol.

—Gina eu estou atrasada. Você pode levar Rose para a Toca? —A ruiva murmurou um “sim” e Hermione aparatou direto no nível seis do Ministério, precisava ligar sua lareira à rede de flu. Conversou com parte da Comissão de regulamentação do Flu e depois de assinar um pergaminho, retornou ao seu escritório.

.....

Hermione chegou na Toca com seus cabelos e roupas pingando, podia-se comparar a garota com um gato molhado.

George riu de longe, recebendo em seguida um olhar irritado da garota. Molly se levantou.

—O que houve querida? —Gina olhava para a amiga sem entender.

—Um feitiço mal executado causou uma “inundação” dentro da minha sala! —Disse enrolando-se em uma toalha que Molly conjurara.

—Quer uma roupa emprestada? —Gina levantava-se quando Hermione negou.

—Na verdade... —Suspirou. —Só quero voltar para casa e descansar. —Sorriu carinhosamente. —Obrigada por ficar com Rose!

A ruiva sorriu e se despediu da amiga que aparatou.

.....

Antes de dormir, Hermione enviou uma coruja para a Toca, avisando que já havia ligado sua lareira à rede flu, com as palavras “Austen Street, 76”.

.....

Faltavam poucos dias para o Natal, o Ministério com sua pouca decoração deixava o ambiente mais alegre, mas sempre mantendo a seriedade do local. Hermione conversava com uma bruxa idosa, uma senhora de cabelos grisalhos com as pontas vermelhas.

—Oh minha querida, obrigada por me ajudar! —Sorriu simpaticamente. —Agora posso libertar minha Elfa e mesmo assim deixa-la trabalhar comigo!

—De nada!

A senhora saiu do escritório e assim fechou seu dia, recebeu um bilhete de se chefe, dizendo que não precisava trabalhar até a troca de ano. Acrescentou que o Ministério ficava parado naquela época.

....

O tempo estava mais gélido a cada dia, a neve caía gradativamente. Hermione caminhava entre as apertadas ruelas de Hogsmeade. A neve caia em seu gorro, deixando-o molhado. Sorria, não sabia o porquê, mas aquele lugar lhe trazia boas lembranças. Sentou no café da Madame Puddifoot, observou os poucos casais a sua volta, e lembrou-se do encontro com Fred e de como eram as coisas naquela época. Deixou que uma lágrima solitária rolasse pelo seu rosto, limpou com as costas da mão e seguiu seu caminho após uma xícara de café. Decidiu que no restante daquele dia visitaria Fred.

O cemitério estava vazio, o lugar fúnebre podia deixar qualquer um arrepiado. Hermione parou no portão e com dificuldade prosseguiu até a lápide bem desenhada. Ajoelhou-se perto do local e acariciou a pedra. Conjurou algumas flores ali e ficou observando.

—É loucura não é? Digo, conversar com você agora. Conversar com uma pedra bem polida! —Riu de si enquanto dava de ombros. —Mas eu sinto que preciso, sabe? Te contar o que está acontecendo por aqui!

Respirou profundamente.

—Eu e George ficamos juntos por algum tempo, achei que o vendo todos os dias não sentiria sua falta, pois são iguais. —Revirou os olhos. —Ou quase iguais. Mas não sei o que houve, de repente brigamos e não consigo mais conversar com ele sem que no fundo eu queira voltar a discutir! Não entendo isso, preciso a companhia dele, preciso dele. Sua irmã me contou e explicou um mal entendido, acredita que chorei uma noite inteira porque achei que George estivesse com outra garota?

Riu sozinha.

—Queria que estivesse aqui agora! —Lágrimas escorriam pelo seu rosto. —Passei em Hogsmeade e foi o local que me fez vir aqui. Lembra-se do nosso passeio às escuras? —Sorriu. —Foi o encontro mais perfeito que tive em toda a minha vida, pude bagunçar seu cabelo e ficar colado ao seu peito durante todo o tempo e agora... Agora preciso me contentar em dormir sozinha!

Chorava baixinho.

—Só queria ter tido a chance de falar o quanto te amava! —Levantou-se e se despediu. Ao se virar deu de cara com George um pouco mais adiante, o ruivo estava parado com o rosto um tanto pálido. Hermione aproximou-se do ruivo e sem qualquer palavra o abraçou com força, apertou-o contra seu corpo. George aderiu ao abraço da garota e após algum tempo, limpou o rosto molhado de Hermione com as mãos, assentiu e andou em direção à lápide do falecido irmão.

Hermione ficou observando a cena, fazia perfeitamente um ano que Fred havia partido. George mais do que ninguém sofria com a perda do irmão. A garota ficou mais um pouco ali, até que George desabou de joelhos no chão, chorava. Hermione com um misto de sentimentos andou até o ruivo e o abraçou, George por sua vez agarrou-se ao ombro de Hermione que agora estava molhado pelas lágrimas.

Naquele momento nada foi dito, não era necessário, apenas o desabafo e o carinho que o abraço transpassava era o necessário.