Judith estava agora no fundo do poço, literalmente. Não conseguia fazer mais nada, estava prejudicada no trabalho e profundamente deprimida. Mas tinha de se levantar todos os dias, pois ainda lhe restava uma filha, uma pequena esperança, que dependia da mãe para poder viver.

Resolveu proteger tudo o que lhe restou com unhas e dentes, até o seu último suspiro, para que ela nunca tenha que enfrentar mais uma perda. Maggie, sua pequena e última vida.

A mãe, agora com enorme força de vontade, se reerguia. Levava a menina para onde fosse, sempre a mantendo perto de si e, se não fosse possível, com a certeza de onde ela estaria e com quem. Um pouco controladora, talvez, mas era o que podia ser feito na atual situação.

***

Era de madrugada quando Maggie, que se encontrava deitada na cama ao lado da mãe, acordou. Ela olhou em volta e ouviu uma canção. Desceu da cama e, com um olhar curioso, perseguiu o som até o guarda-roupa do quarto. Ela abriu a gaveta e encontrou um brinquedo que cantava. Uma canção sobre um patinho que foi embora. Achou o brinquedinho muito fofinho e resolveu brincar, pois estava sem sono. Era agora o seu filhinho, e levou ele para passear. Caminhou com ele no colo pelos corredores escuros da casa até que chegou a um deles, aquele que dava para o sótão. Ela entrou no cômodo. Estava séria, hipnotizada pela música.

Ela abraçou o boneco e ele se abriu. De dentro dele caíram pequenas pílulas coloridas, remédios, muitos deles. A menina, encantada em sua inocência, devorou todas elas. Depois se sentiu muito mal, sua visão ficou turva e ela caiu inconsciente. E a canção chega ao fim.

***

Judith acordou e não achou a pequena. Ficou receosa e a procurou por toda a casa. Mas ela já sabia o que tinha acontecido. Seus olhos encheram-se de lágrimas e de vazio. A mãe caminhava pela casa, talvez já conformada, talvez enlouquecida. Foi quando achou um boneco que cantava uma música que há tempos ela conhecia.

Continuou percorrendo os vários corredores, cantando, e chegou ao sótão. Ainda dominada pela insanidade, seu olhar permanecia gentil e vazio. O local se encontrava destrancado, e ela entrou. Recolheu os cinco pequenos corpos e os reuniu ao redor de si. O primeiro estava com as roupas molhadas pelo veneno. O segundo tinha marcas arroxeadas em torno do pescoço, onde tinha um cachecol. O terceiro tinha diversos cortes nos pulsos e garganta. O quarto, manchas roxas no lábio inferior, sinal de asfixia. O último estava rodeado de comprimidos.

A mulher cantava, abraçando suas filhas.

Os cinco patinhos voltaram. Mamãe pata reencontrou suas patinhas.