- Emilia! Onde você está?

  Emilia havia sumido. Ninguém a viu sair de casa, ninguém a viu em lugar algum. Judith estava muito preocupada, e temia pela sua segurança e a de suas outras filhas.

  - Eu já vasculhei a casa toda!- Disse Violet, a segunda mais velha das Duck. A mãe havia mobilizado todas da casa para procurarem Emilia onde fosse, mas não obteve sucesso. Já havia até mesmo contatado à polícia, aos vizinhos e amigos, mas nada de notícias.

***

  O sol já estava se despedindo e dando espaço às estrelas quando a mãe finalmente sentou-se na mesa para o jantar. Nenhuma delas conseguiu comer direito. É compreensível: Quem poderia comer tranquilamente sabendo que alguém que você ama desapareceu e que você pode ser a próxima vítima?

  Todas beliscaram coisa ou outra nos pratos em silêncio, até que Judith pronunciou-se:

  - Eu sei que todas aqui estamos muito assustadas pelo que aconteceu, mas devemos rezar para que Emilia volte sã e salva. Tenho certeza de que não acontecerá nada a nós e que ela vai voltar e tudo ficará bem. Certo?

  Todas concordaram, ainda que hesitantes e tristes.

  - Muito bem. É hora do banho. Depois, escovem os dentes e vão todas para a cama. Teremos longos dias a partir de amanhã.

***

  Na manhã seguinte, Violet, de oito anos, esperava impaciente a irmã sair do banheiro. A menina do meio, terceira mais velha, Marceline, ajeitava pacientemente os cabelos enquanto a outra gritava do outro lado da porta.

  - Vamos, Marceline, não tenho o dia todo para esperar você!

  - Não fique irritada, estou quase terminando.

  - Pelo menos me dê meus sapatos, eles estão aí perto da banheira...

  - Toma. – A porta se abriu e a mais nova entregou a ela um par de sapatos de boneca marrons e, para o desgosto de Violet e sua mãe, encardidos de lama.

  - Essa não, terei que lavá-lo de novo!

  Violet subiu desanimadamente as escadas até o pequeno quartinho que servia de lavanderia. Pegou um banquinho para alcançar o tanque de roupas e começou a esfregar os sapatos, tentando remover a crosta de barro que se formou na sola do objeto.

  Estava quase obtendo sucesso em sua tarefa quando ouviu uma canção curiosa vinda de algum lugar próximo. Desceu do banco e foi atrás do som.

  Era uma música sobre patinhos. Sobre 4 patinhos.

  Ela viu que a música vinha de um pequeno palhaço de porcelana. ‘’Que estranho’’, ela pensou. ’’O que um brinquedo faz no meio de uma pilha de roupas sujas? Parece ser antigo, devia estar no sótão. Melhor devolvê-lo’’.

  Mas ela tropeçou, e o palhaço caiu e se partiu em dois. Dentro dele havia um cachecol vermelho como uma rosa, e bem comprido. A música continuava, e suas feições mudaram de repente. A menina parecia... Perturbada.

  Ela entrou no sótão, que novamente se encontrava aberto. Colocou o cachecol no pescoço, fechou a porta e o apertou.

  Mas apertou demais. Sua consciência desaparecia conforme a música dos patinhos chegava ao fim.