Anjo Esquecido escrita por Estressada Além da Conta


Capítulo 2
Camellia e porcelana




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A jovem... Ou melhor dizendo, a criança, afinal, ela deveria ter uns treze anos, talvez um pouco mais. Reformulando: A menina de cabelos brancos se remexeu. Estava em algo macio, uma cama, talvez. O que importava? Era, sem dúvidas, algo muito mais agradável que o chão gelado. Seus olhos se abriram lentamente, como se não fosse seu desejo abri-los. E não era. Mas sabia que deveria abrir os olhos e enfrentar o que fosse que a trouxera para aquele lugar. Era melhor do que antes? Depositava nessa singela esperança todo a sua força de vontade.

- Ah, a senhorita acordou. – Ela ouviu alguém dizer. Não sabia quem era, mas sabia que gostava daquela voz. Virou sua cabeça um pouco, notando então o homem alto vestido de negro. Parecia um corvo.

- Onde estou? – Perguntou, a voz rouca parecia raspar sua garganta.

- Na mansão do Lord Phamtomhive. – Ele respondeu. A garota sentou-se suavemente, surpreendendo o homem. Afinal, alguém de aparência tão frágil que desmaiara há algum tempo não deveria ter tamanha facilidade para sentar-se, ainda mais com tanta suavidade, como se nada tivesse acontecido.

- Lord Phamtomhive? – Questionou encarando-o com os olhos extremamente negros recheados de curiosidade. Tudo nela parecia levado ao extremo: A pele insanamente clara, os cabelos totalmente brancos, os olhos brilhantemente negros, moldurados por cílios que qualquer mulher mataria para ter, os lábios finos profundamente carmesins – Qual seu nome?

- Sebastian Michaelis. Sou o mordomo desta mansão.

- Você me acudiu. – Sorriu para Sebastian, agradecida – Obrigada.

- O Jovem Mestre pediu para dar-lhe algo para comer. Como não sabia seus gostos, preparei um bolo de morango simples, um pouco de chá e alguns biscoitos que acabei de tirar do forno. Se tiver algum pedido especial, não hesite em me dizer, já que, por hora, você é nossa convidada.

- Agradeço, Sebastian-san. Não quero abusar da hospitalidade do Lord, tampouco da sua. – Sua face pálida adquiriu um tom rosado e, inconscientemente, levou os dedos da mão direita até o anel do seu dedo médio esquerdo – E... Eu adoraria me apresentar formalmente, mas... Não me lembro de muita coisa... – Mordeu o lábio inferior. Um gesto de nervosismo – Apenas que meu nome é Camellia.

- A senhorita não se lembra de nada mais?

- Só que... Meu anel é importante... E... – Franziu o cenho, tentando de lembrar, mas tudo que obteve foi uma rápida dor de cabeça e leve tontura, o que a fez levar as mãos a cabeça e soltar um gemido de dor.

- Está tudo bem?

- Apenas uma pequena dor e tontura. Deve ser porque não como nada há quase três dias... – Sorriu, dessa vez o sorriso foi forçado.

- É incrível que ainda esteja falando claramente. – Alguém disse da porta. Camellia se surpreendeu ao ver um menino de doze anos, sua idade, parado na batente da porta. Ele tinha um olho azul visível, enquanto o outro estava tampado por um tapa-olho e os cabelos eram de um tom azul marinho quase negro. Parecia um inglês como outro qualquer, em primeira impressão. Em segunda, aquele olho de azul profundo guardava muito mais mistérios que alguém podia sonhar.

- Jovem Mestre? – Ela ouviu Sebastian dizer. Então aquele menino... – O que faz aqui?

- Ela é minha hóspede. Seria rude da minha parte não cumprimenta-la.

- Perdoe-me a curiosidade, mas você é o Lord Phamtomhive? – A voz serena chegou aos ouvidos do garoto como uma carícia. Era o tipo de voz que fazia você se acalmar instantaneamente.

- Sim, sou Conde Ciel Phamtomhive.

- Meu nome é Camellia.

- Sim, eu ouvi um pouco antes de entrar aqui.

- Jovem Mestre, estava ouvindo atrás da porta? Isso é rude, sabia? – Michaelis comentou com o sorriso afável de sempre, e antes que Ciel pudesse abrir a boca, a menina se pronunciou:

- Não o julgue, Sebastian-san. Nada pode provar que não faríamos o mesmo, não é? – Voltou então seus olhos negros para o Conde – Mesmo assim, isso não é algo bom de fazer, Ciel. – Parou por um momento e voltou a acariciar o rubi escarlate em seu dedo, encabulada – Perdoe-me a ousadia, Conde Phamtomhive. Não deveria tê-lo chamado pelo primeiro nome.

-... Tudo bem... Não se preocupe... – Ciel ficou um tanto constrangido. A única pessoa que conhecia que o chamava apenas de Ciel era Lizzy. Porém... O nome dele soara de uma forma tão doce por entre os lábios dela que ele nem sequer notara, e não haveria, portanto, de incomodá-lo – Pedirei a minha empregada que empreste um de seus vestidos, caso você queira se trocar.

- Não se preocupe, logo irei embora.

- E para onde vai? – Questionou erguendo uma sobrancelha. Estava preparado para usar de seu estoque de cinismo, e Camellia pareceu não notar.

- Posso dar um jeito. Passei três dias fugindo de sombra em sombra, sei o suficiente do mundo para arrumar algo.

- Fugindo do que, exatamente? – Antes que ela pudesse responder, Sebastian interrompeu:

- Jovem Mestre, receio que você tenha que deixar isso para depois. Prof.º Huges, de Roma, pode chegar a qualquer momento.

- Tem razão, Sebastian. Veja se os outros não destruíram nada e prepare tudo.

- Entendido. – Respondeu e virou-se para a menina – Não se acanhe, Camellia-san. Não há nenhum bicho de sete cabeças aqui.

- Ás vezes, é melhor enfrentar um bicho de sete cabeças do que a realidade, pois ela é um verdadeiro campo de batalha onde até mesmo algumas palavras cortam como facas.

- Belas palavras. – O mordomo elogiou, saindo do quarto. Ciel a olhou bem nos olhos. Ela fez o mesmo. Ficaram assim por alguns instantes, até ela sorrir. O sorriso era grande e mostrava os dentes claros, e as bochechas obrigavam os olhos a se fecharem um pouco. Tudo naquela menina era branco? O menino ficou atordoado.

- O que foi?

- Nada. Apenas gosto da cor de seu olho. É um azul muito bonito. – O Conde corou com o comentário e desviou o olhar. Dentre todas as pessoas do mundo, aquela menina com aspecto de bonequinha de porcelana era a punica que conseguia deixar Ciel Phamtomhive sem jeito. E ela mal sabia.

- Obrigado. Então, seja bem vinda. – Disse fazendo uma reverência, para depois dar as costas para a "convidada", não sem antes soltar um murmúrio que ela provavelmente não ouviu – E você parece feita de porcelana.


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Notas finais do capítulo

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