Crônicas Do Olimpo - O Último Olimpiano escrita por Laís Bohrer


Capítulo 4
Notícias Tristes e a Grande Profecia!




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Assim que eu surgi do oceano, não havia ninguém para me reencontrar. O Céu estava escurecendo com o fim da tarde. Nossa praia fica no litoral norte de Long Island é encantada, então a maior parte das pessoas nem consegue vê-la. Ninguém surge na praia, exceto semideuses ou deuses – ou entregadores de pizza muito, muito perdidos. (É, já aconteceu, mas essa é outra história...)

Eu subi as dunas de areia. Pensando como era bom rever o acampamento novamente, eu olhei através do vale e tentei me lembrar como o Acampamento Meio-Sangue parecia da primeira vez que eu o vi. Isso parecia ter sido há um zilhão de anos atrás.

Do pavilhão de refeições, você podia ver praticamente tudo. Colinas circulavam o vale. Na mais alta, a Colina Meio-Sangue, o pinheiro de Thalia erguia-se com o Velocino de Ouro pendurado em seus galhos, protegendo magicamente o campo de seus inimigos. O dragão de guarda Peleu estava tão grande agora que eu podia vê-lo daqui – enrolado no tronco da árvore, mandando sinais de fumaça enquanto roncava.

A minha direita estava a floresta. A minha esquerda, o lago de canoagem brilhava, e a parede de escala brilhava por causa da lava que escorria por ela. Doze chalés – uma para cada deus do Olimpo – formavam o padrão de uma ferradura em volta da área comum. Mais ao sul estavam os campos de morango, o arsenal e a Casa Grande, uma construção de quatro andares com sua pintura azul e o cata-vento de águia.
De certa forma, o acampamento não tinha mudado. 

Mas você não pode ver uma guerra olhando para prédios ou campos. Você a vê nos rostos dos meio-sangues, sátiros e náíades que estavam subindo a colina.

Não tinham tantos no acampamento quanto a quatro verões atrás. Alguns tinham ido e nunca voltaram. Alguns tinham morrido lutando. Outros – nós tentamos não falar sobre eles – tinham se juntado ao inimigo. Os que ainda estavam aqui estavam endurecidos pela batalha e cansados.

Tinha pouco riso no campo esses dias. Mesmo o chalé de Hermes não fazia tantas travessuras. É difícil apreciar as brincadeirinhas de mau gosto quando toda sua vida parecia ser uma.

Assim que apareci no pavilhão, todos me olharam surpresos, alguns meio confusos, mas correram agitados e inquietos na minha direção, formando ao meu redor uma multidão. Muitos me faziam perguntas ao mesmo tempo, o que tornava difícil processar tudo aquilo. Eu fui abraçada, cumprimentada, e quase perdi o folego.

- Megan! - gritou a voz de um garoto de doze anos. - Você esta viva!

- Haley, bom te ver de novo. - baguncei os cabelos do pequeno indeterminado. - Treinando muito?

Ele assentiu. Então sua expressão se tornou indiferente.

- Mas... Como foi?! - perguntou ansioso.

Antes que eu pudesse responde-lo, outra voz gritou atrás da multidão.

- Saiam da frente! - não posso deixar de admitir que meu coração deu uma volta Olímpica quando eu o vi de novo.

Cabelos castanhos e escuros, olhos negros de ambição, uma jaqueta de veludo negro na cintura, e um sabre na bainha da calça. Eu fui sufocada pela figura alta e de repente o chão sumiu. 

- Jake... Estou viva agora e posso até respirar de baixo da água, mas ainda preciso de ar... - eu disse rapidamente, e ele me colocou delicadamente no chão.

Era estranho como eu ainda conseguia ficar nervosa perto dele, sendo que hoje já o chamo oficialmente de "namorado", desde que o mesmo me pedira oficialmente, mas não é do jeito que você está pensando (seja lá o que for), foi no caça-a-bandeira, estávamos lutando de lados inimigos então nós lutamos um pouco enquanto discutíamos (sem surpresa) até que ele exclamou: "Vai ser minha namorada ou não, Cabeça de Alga?". E ficou por assim.

Jake pegou meu rosto entre as mãos e questionou.

- O que aconteceu? E Cronos? E como você está?

- Bem, mamãe. - eu brinquei sem humor. - O navio... Explodiu, Cronos ainda está vivo, mas devemos tê-lo atrasado um pouco. Silena... Bem... 

- Ela está viva. - disse uma familiar voz atrás de mim, um garoto alto e magricela de cabelos cor de palha e olhos castanhos. Segurando uma adaga de bronze celestial e um coelho de pelúcia. 

- Octavian. - cumprimentei.

- Como eu previ, não teríamos dois colegas de acampamento para voltar está noite.

Eu franzi as sobrancelhas, mas antes que eu pudesse responder ou perguntar sobre o que Hades ele estava falando, uma figura loira parou diante de mim me segurando pelos ombros.

- Onde está? - perguntou Annie Summers, a filha de Apolo. Ansiosa. - Onde está Benjamin? Ele está com você, não é? - ela exigiu, olhando para os lados como se Benjamin pudesse estar se escondendo em algum lugar.

Eu a olhei com confusão.

- O que quer dizer? Claro que não. - respondi. - Eu o mandei de volta com uma carona ontem a noite, ele ainda não chegou?

Octavian furou seu coelho de pelúcia.

- Eu disse... - murmurou ele, mas ninguém lhe deu bola.

Jake se virou para mim.

- Megan, não recebemos nenhum sinal de Benjamin. - me disse.

Eu sacudi, rindo nervosa.

- Sem chance. - eu disse, tentando convence-los. - Eu juro que o mandei de volta e...

Meu olhar parou em Annie Summers que já me encarava com os olhos molhados.

- Espere, só um instante. - eu disse já nervosa, afastei a multidão com um braço, corri em direção a beira do mar. 

A brisa marinha levantava meus cabelos negros. Fechei os olhos, sentindo cada presença marinha. Peixes, tubarões, hipocampos, cavalos-marinhos, pescadores, nadadores, náufragos, turistas... Mas nenhum sinal de Benjamin, mas quando eu tentei convocar o hipocampo com quem eu havia deixado Ben, aquele hipocampo me respeitava muito sendo eu filha de Poseidon. Perdi todas as esperanças quando o mesmo não atendeu o meu chamado.

Me virei para meus amigos, Jake disse:

- Então?

Eu hesitei, sacudi a cabeça.

- Nada dele.

Annie caiu ajoelhada na areia com o rosto enterrado nas mãos. Eu me senti horrível. 

Quíron galopou para o pavilhão rapidamente, o que era fácil para ele, já que era garanhão branco da cintura para baixo. Sua barba tinha crescido desordenada durante o verão. Ele usava uma camisa verde dizendo MEU OUTRO CARRO É UM CENTAURO e um arco estava pendurado em suas costas.

- Megan! Graças aos deuses. - o centauro me cumprimentou. - Mas onde está...

Eu olhei desamparada para Quíron.

O velho centauro pigarreou.

- Annie... Querida, vamos falar sobre isso na Casa Grande...

- Não... - murmurou ela. - Não pode ser... Isso não está acontecendo! Não pode!

Ela começou a chorar e o resto de nós ficou ali, atordoados demais para falar alguma coisa. Nós já havíamos perdido tantas pessoas no verão, mas isso era pior. Com Benjamin morto, parecia que alguém tinha roubado a âncora de todo o acampamento.

Olhando para Annie ajoelhada na areia, o terrível pensamento de que Benjamin era só mais um entre milhares de amigos perdidos que virão a cair na batalha. E tudo isso por causa da maldita guerra.

Finalmente Clarisse do chalé de Ares deu um passo à frente. Ela colocou seu braço ao redor de Annie. Elas costumavam fazer o trio mais estranho de todos junto com Beatrice Rosetti, filha de Afrodite que morrera lutando na batalha do labirinto. Lider do chalé do amor antes de Drew, uma garota que me lembrava demais as garotas que me importunavam quando eu era pequena, ela insistia para mim de que Silena era uma traidora.

De qualquer jeito Annie tinha benção de Afrodite fazia pouco tempo, desde que Annie deu conselhos a Clarisse sobre seu primeiro namorado, Clarisse decidiu que era a guarda-costas pessoal de Annie desde então.

Clarisse estava vestida em sua armadura de combate cor de sangue, com seu cabelo castanho preso em uma bandana. Ela era tão grande e musculosa quanto um jogador de rúgbi, com uma carranca permanente em seu rosto, mas ela falou gentilmente com Silena.

– Vamos, garota – ela disse. – Vamos para a Casa Grande. Eu farei um chocolate quente para você.

Todos deram meia-volta e se afastaram em grupos de dois ou três, em direção aos chalés. Ninguém estava excitado para me ver agora. Ninguém queria ouvir falar sobre o navio explodido.

Apenas Jake, Quiron e Octavian ficaram para trás.

Jake me abraçou de lado.

- Estou feliz que você esteja viva, Meg. - disse ele.

Assenti

– Obrigada – eu disse. – Eu também estou.

Mas não podia evitar pensar que... Bem, aonde Hades eu estava com a cabeça quando coloquei Benjamin semi-inconsciente naquele hipocampo? Ele era um alvo fácil... Talvez se...

- A culpa é minha... - resmunguei. - Se eu tivesse vindo com ele...

- Certamente. - concordou Octavian desfiando lentamente o coelho de pelúcia. - Nossas atitudes no passado sempre são decisivas no futuro. 

- Você realmente deveria calar a droga da boca. - disse Jake irritado para Octavian, que não me parecera tão ofendido.

- Estava apenas confirmando. - disse. - Mas entendo que esteja chateado, Jake Turner. Benjamin Chase, uma grande perda. Mas não será a última...

Então ele se foi.

Octavian não parecia estar muito... Hum... Triste com a morte de Benjamin, não acreditara ainda na história de que ele não possui emoções, mas suas atitudes e seu jeito podem mudar rapidamente minha opinião sobre seu coração de pedra.

Quíron pôs uma mão em meu ombro.

– Tenho certeza que você fez tudo que pode Megan. Você irá nos contar o que aconteceu, então?

Eu não queria passar por aquilo de novo, mas eu lhes contei a história, incluindo meu sonho sobre os titãs. Deixei de fora o detalhe sobre Nico. Nico havia me feito prometer que eu não contaria a ninguém sobre seu plano até que eu tivesse me decidido, e o plano era tão assustador que eu não me importava em mantê-lo em segredo.

Quíron olhou para o vale.

– Nós devemos convocar um conselho de guerra. Imediatamente. Para discutirmos sobre esse espião, e outros problemas.

– Poseidon mencionou outra ameaça – eu disse. – Alguma coisa ainda maior do que o Princesa Andrômeda. Eu pensei que poderia ser o desafio que o Titã mencionou em meu sonho.

Quíron e Jake trocaram olhares, como se soubessem alguma coisa que eu não sabia. Eu odiava quando faziam isso...

– Nós também vamos discutir isso – Quíron prometeu.

– Mais uma coisa. – Eu respirei fundo. – Quando eu falei com meu pai, ele me pediu para dizer a você que está na hora.Eu preciso saber a profecia completa, agora.

Os ombros de Quíron se arquearam, mas ele não pareceu surpreso.

– Eu temi esse dia. Muito bem. Jake, nós vamos mostrar a Megan a verdade... toda ela. Vamos ao sótão.

Uma vez no sótão era o suficiente para eu nunca mais querer subir lá, mas não se pode evitar isso.

Uma escadinha de mão acomodada no topo de uma escadaria levava até o sótão. Eu me perguntei como Quíron iria até lá, sendo meio cavalo e tudo, mas ele não parecia ansioso para descobrir isso.

– Você sabe onde está – ele disse a Jake. – Traga para baixo, por favor.

Jake assentiu.

- Megan, vamos?

- Certo... - então eu o segui.

O sol estava se pondo do lado de fora, então o sótão estava ainda mais escuro e arrepiante do que o normal. Troféus de heróis antigos estavam empilhados em todos os lugares – escudos com marcas de dentes, cabeças decepadas de vários monstros em jarros, um par de dados felpudos em uma placa de bronze que dizia: ROUBADO DO HONDA CIVIC DE CRISAOR, POR GUS, FILHO DE HERMES, 1998.

Eu apanhei uma espada de bronze tão amassada que parecia com a letra M. Eu ainda podia ver manchas verdes no metal do veneno mágico que costumava cobri-la. A etiqueta estava datada do verão passado. Ela dizia: Cimitarra de Campe, destruída na Batalha do Labirinto.

– Ei, você se lembra de Briareu jogando aqueles pedregulhos? – eu perguntei.

Jake me lançou um sorriso maldoso.

- Como não lembrar? Lembra de Hansel causando pânico?

Eu ri.

- Claro, sempre soube que ele gritava engraçado, mas... Não estava exagerando.

Nós rimos, ele estava bem próximo agora. Lembrei-me no verão passado quando ficamos presos na ilha de Calipso, e Jake me surpreendeu com um beijo... 

Eu limpei a garganta e desviei o olhar.

- Profecia. - lembrei.

Ele corou feito um tomate.

- Hã... Sim, a profecia. Claro...

Nós andamos até a janela. Em um banquinho de três pernas estava o Oráculo – uma múmia enrugada com um vestido tingido no estilo hippies. Tufos de cabelos pretos estavam agarrados em seu crânio. Olhos vidrados encaravam o nada em sua cara semelhante a couro. Só olhar para ela fez minha pele se arrepiar.

Se você quisesse deixar o acampamento durante o verão, costumava ter de ir ali para ser designado para uma missão. Nesse verão, a regra tinha sido deixada de lado. Campistas saíam o tempo todo em missões de combate.

Nós não tínhamos escolha se quiséssemos parar Cronos.

Ainda assim eu me lembrava bem demais da névoa verde estranha – o espírito de Delfos – que vivia dentro da múmia. Ela parecia sem vida agora, mas sempre que falava uma profecia, ela se mexia. Às vezes uma névoa saía de sua boca e criava formas estranhas. Uma vez ela já tinha até deixado o sótão e dado uma voltinha como zumbi na floresta para entregar uma mensagem. Eu não tinha certeza do que ela ia fazer em relação a “Grande Profecia”. Eu meio que esperava que ela começasse a sapatear ou algo assim.

Mas ela apenas estava lá como se estivesse morta – o que ela estava.

– Eu nunca entendi isso – eu sussurrei.

- O que nunca entendeu? - perguntou ele. - Aliás, quais da lista você não entendeu?

- Lista? - repetiu.

- Admita, Megan... As vezes você é bem lentinha para entender as coisas.

Eu bati em seu ombro, mas não  deve ter surtido efeito.

- Não sou não! - neguei.

- É sim... - insistiu. - Mas, se você fosse mais rápida acho que não seria você, eu gosto de você lenta assim mesmo e... 

Eu o encarei fixamente. Ele corou mais ainda.

- Quer dizer... Ah, deixa pra lá. Voltando, o que você não entendeu?

- Hã... Isso... - apontei para a múmia. - Por que uma múmia? Podia ser um chapéu seletor, ou algo assim? Uma bola de cristal...

- Não exagere. - disse ele. - Na verdade é uma garota que foi mumificada por Apolo, para preservar o corpo em vez de virar... Hum... Restos de ossos.

Isso não ajudou muito minha situação.

- Ela é da época de Percy, quase foi namorada dele. - disse ele.

Isso era estranho, tentei pensar em uma múmia como cunhada. Não era legal...

Por centenas de anos o espírito do Oráculo viveu dentro de uma bela donzela. O espírito passava de geração em geração. A última mulher para quem foi passado o espirito de Delphos foi essa: Rachel Elizabeth Dare.

Deixei aquilo amadurecer na minha cabeça.

Vamos apenas fazer nosso trabalho e sair daqui. - disse Jake.

- Ok. - concordei, estava bem ansiosa para sair daquele lugar macabro.

Eu olhei nervosamente para a cara murcha do oráculo.

– O que vem agora?

Jake se aproximou da múmia e estendeu as palmas.

– Ó Oráculo, já é tempo. Peço que nos diga a Grande Profecia.

Eu me preparei, mas a múmia não se mexeu. Ao invés disso Jake se aproximou e abriu o fecho dos colares. Eu pensei que fossem apenas contas hippies. Mas quando Jake se voltou para mim, ele estava segurando uma bolsa de couro – como uma bolsa nativo-americana de remédios, fechada com uma corda com penas. Ele abriu a bolsa e tirou um rolo de pergaminho que não era maior do que seu dedo.

- Ah, não mesmo! Sem chance! - eu reclamei. - Você quer dizer que todos esses anos, eu estive perguntando sobre essa profecia estúpida, e estava bem aqui pendurada no pescoço dela?!

– Ainda não era tempo – disse Jake. – Acredite em mim, Megan, eu li isso quando tinha dez anos de idade, e ainda tenho pesadelos sobre isso.

- Certo, certo... - eu disse emburrada. - Mas posso ler agora?

– Lá em baixo, no conselho de guerra – disse Jake.– Não na frente da... você sabe.

Eu olhei para os olhos vidrados do oráculo, e decidi não discutir. Nós descemos as escadas para nos juntarmos aos outros. Eu não sabia disso naquela época, mas para minha sorte eu não veria aquele lugar de novo por um longo tempo. Se bem que... O que me esperava fora dele, era muito, muito pior que aquilo.

  


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