Samilly chegou até o escritório de Sayu carregando um envelope em mãos. Trajava uma calça jeans justa e uma blusa com um decote absurdamente ousado.

      – Pensei que não viesse mais...  Disse Sayu, ao perceber Samilly entrando em sua sala.

      – Não me apresse a nada, Sayu – Respondeu Samilly, largando um envelope sobre a mesa.

A mulher de cabelos castanhos curtos virou-se até Samilly. Olhou o envelope sobre a mesa e logo indagou – O que tem ai dentro? –

Samilly ascendeu um cigarro em sua boca. Olhou mais uma vez Sayu.

      – O que me pediu... Descobri algumas coisas sobre o passado de Kusanagi – A morena respondeu.

      – Demorou algumas semanas, mas conseguiu... Que bom! – Sayu pegou o envelope e tirara os papéis de dentro.

      – Vamos ao que interessa, Sayu... O que ganharei em troca pelo serviço? – Samilly se aproximara.

Sayu virou até Samilly. Tirara o cigarro da mão da morena e começara a fumar. A mesma usava um terno feminino, como quase sempre.

      – Três mil dólares estão bons pra você? – Indagou, despejando a fumaça do cigarro logo depois.

      – E quando vai me dá o dinheiro? –

      – Assim que eu falar com Tenshin – Sayu.

      – Assim espero... – Samilly logo em seguida saiu pela porta.

         Sayu pegara o telefone da mesa e logo chamou seu atendente.

      – A senhora me chamou? – Indagou Ryuzo.

      – Sim... Estou dispensando seus serviços – Disse ela, friamente.

      – Como assim? Está me mandando embora?  – Assustou-se o rapaz.

      – Exatamente! Sei que sabe mais do que devia, então... Acho melhor ir embora, antes que eu tenha que tomar outras providências... – Finalizou a mulher.

Ryuzo a olhou de forma enojada, mas nada respondera. Sabia que aquela mulher era poderosa demais pra ele poder retrucar. Apenas saiu da sala logo depois.

...

         Yushiro caminhava pela calçada junto de Misaki, Kaoru e Shirou. Até que o mesmo deparou-se com Dennika, sua mais nova amiga.

      – Oi, Denni chan – Sorriu Yushiro – Nós estamos indo para o fliperama, vem com a gente? – Indagou.

A garota parecia relutante em aceitar o convite, mas acabou indo junto de seus novos amigos. Chegando ao local havia um grande grupo de adolescentes divertindo-se.

Além de fliperamas, havia também boliche e um salão especialmente para dançar. Algumas luzes coloridas percorriam por todos os lados, deixando os jovens com mais vontade de dançar. Era uma noite de sexta feira, e Yushiro e os outros sempre marcavam algo do tipo para fazer.

Mas naquele dia parecia que algo estragaria a noite de Yushiro – Ah, não... Tanto lugar pra ir, e Kamui vem logo pra cá? – Falou ele, irritado.

      – Fique calmo, Yu... Ele nem te viu, então deixa assim... – Comentou Misaki, observando Kamui jogando fliperama com mais dois amigos.

Então assim as horas foram se passando. Não demorou muito até que Kamui percebesse a presença de seu inimigo ali, mas não demonstrou nenhuma reação de raiva ou algo do tipo.

Depois de algumas horas, Dennika já se sentia mais a vontade com seus novos amigos. Nunca tivera tantos amigos, e aquilo foi o tanto quanto estranho para ela. Mas Yushiro, Misaki e os outros faziam a garota se sentir bem perto deles.

– Denni chan, vou comprar sorvete, vem comigo...  Disse Yushiro, puxando Dennika, sem dar chances para a mesma negar.

      – Dois de chocolate, por favor... – Pediu, entregando a nota para o homem da lanchonete.

Logo recebeu os dois sorvetes, dando um para a menina ao seu lado.

Ambos começaram a conversar. A garota já se sentia a vontade o suficiente para rir com o menino. Misaki, Shirou e Kaoru jogavam boliche agora, um pouco atrás de Yushiro e Dennika. O garoto de olhos verdes pôde perceber um pouco de sorvete no canto dos lábios de Denni – Está sujo aqui... –

O mesmo sorriu, passando delicadamente seu dedo no rosto da menina, limpando-a. Rapidamente Dennika corou, conseqüentemente fazendo Yushiro corar da mesma maneira. Kamui, mesmo distante, pôde ver a cena. Uma mistura de ódio e tristeza o invadiu, seu coração disparou. Passou ao lado de Yushiro, esbarrando com o ombro no mesmo, e logo depois saindo pela porta principal. Yushiro não se surpreendera com a atitude de seu inimigo, e desprezou o mesmo, sem saber o que se passava realmente com Kamui. Shirou presenciou toda a cena, e, poderia estar louco, mas percebeu ciúmes da parte de Kamui. Seria possível? Talvez Shirou tivesse bebido demais e vendo coisas, afinal, Kamui odiava Yushiro!

         Shirou levou Kaoru em casa, e de lá seguiu seu caminho. Apesar de ser tarde, as noites de Tóquio eram bem movimentadas, nada que causasse perigo. O garoto chegara então a sua casa, abriu a porta e logo jogou sua jaqueta vermelha sobre o sofá. Procurou seus pais, mas os mesmos não estavam ali. Decidiu então subir para seu quarto, estava cansado e precisava descansar. Seu celular tocara no minuto que se jogou na cama de seu quarto, ao olhar no visor, viu o nome de sua amada Kaoru.

      – Oi, amor... – Disse ele sorrindo – Cheguei bem sim, tá bom... Vamos ao cinema amanhã então... Beijos! – Logo em seguida desligou.

Shirou se levantou. Decidiu tomar um banho, a noite estava quente, e havia suado bastante jogando boliche. Tirou a roupa, ficando completamente nu, e entrou no banheiro. Pensava onde seus pais poderiam estar, afinal, não falaram nada que ia sair. Terminou o banho e vestiu-se apenas com uma calça preta do conjunto de pijama que tinha. Olhou mais uma vez o relógio e já passava das onze da noite, foi até o quarto de seus pais, chegando lá, os mesmos não estavam. Antes que saísse do quarto de seus pais, algo lhe chamou a atenção, um papel dobrado caído ao chão mais algumas outras coisas, como fotografias.

      – O que é isso? – Pensou ele, pegando o papel do chão e abrindo-o.

Começara a olhar o papel em suas mãos. E não acreditara no que via. Aquilo só poderia ser uma piada. Algumas lágrimas desceram de seu rosto de forma repentina.

      – Certificado de Adoção... – Começara a ler em voz baixa, até ser interrompido por sua mãe, que entrou no quarto.

      – Shirou? O que faz aqui? – Assustou-se, a mulher de cabelos loiros cacheados.

      – O que é isso, mãe? – Perguntou o loiro, mostrando o documento para sua mãe.

A mulher pôde perceber do que se tratava, e logo demonstrou nervosismo.

      – Eu posso explicar, filho... –

      – Vocês me enganaram esse tempo todo?! E não me chame de filho, pois eu não sou o seu filho! – Gritou Shirou, largando o papel no chão e passando pela sua mãe, que nessa altura já estava aos prantos.

      – Filho, espere! – Sua mãe desceu as escadas correndo, enquanto Shirou saia e batia a porta com toda agressividade.

O pai do mesmo olhou a cena espantado – O que houve, Anna? – Indagou, ao ver sua esposa aos prantos.

      – Ele achou os documentos da adoção... – Anna respondeu, limpando as lágrimas com as costas de sua mão direita.

      – Co... Como? – Assustou-se o marido.

      – Acho que foi quando eu estava procurando aquelas nossas fotografias da viagem... Deve ter caído e ele viu! – Lembrou-se, Anna.

      – Vou atrás dele... – O homem pegou a chave do carro, e saiu em seguida.

...

         Tenshin chegara à casa de Sayu. O mesmo usava uma jaqueta de couro preta e blusa branca por dentro. Seus cabelos estavam úmidos. Era uma madrugada chuvosa e sombria, toda a rua estava deserta, e apenas o carro de Kusanagi permanecia estacionado em frente à mansão de Sayu. Por todos os lados haviam apenas edifícios escuros. Sayu logo atendeu a porta, dando passagem para Tenshin.

      – Pra que me chamar essa hora, Sayu? – Indagou Tenshin, adentrando a casa.

      – Precisava falar com você... – Ela respondeu, caminhando até a sala.

Tenshin a seguiu, ainda desconfiado da mulher.

      – Onde está seu marido? – Tenshin perguntou.

      – Viajando a negócios... – Sayu pegou uma garrafa de vinho – Aceita? –

      – Não, obrigado... – Respondeu.

Sayu vestia um lindo vestido preto super curto. Seus cabelos castanhos ficara largado aos ombros. E sua maquiagem facial a deixava mais sensual e sexy. Tenshin a olhava de cima a baixo, sabia que aquela mulher planejava algo.

Os relâmpagos clareavam a sala escura. Enquanto Sayu se aproximava de Tenshin.

      – Eu sabia, Tenshin... Sabia que tinha um passado obscuro! – Falou ela, com um sorriso brevemente malicioso.

      – Do que está falando? – Tenshin perguntou.

      – Segundo fiquei sabendo... Foi você que matou seu avô, Matsuda Kusanagi... – Sayu falou, tirando um papel de dentro do envelope.

      – Não diga idiotices, Sayu... – Irritou-se, Tenshin.

      – Segundo esses documentos antigos, você dirigia um carro onde tinha apenas você e seu avô... Acabou sofrendo um acidente, onde a única vitima fatal foi ele... Isso é mentira, Kusanagi? – Sorriu a mulher, erguendo o papel até os olhos do rapaz.

Tenshin ficara em silêncio por alguns minutos. Parecia que um passado havia voltado pra lhe atormentar. A cena do carro capotando voltou até seus olhos, podia sentir o sangue escorrendo por seus lábios.

      – Foi... Foi um acidente! – Ele falou, ainda mantendo-se firme.

      – E, segundo noticias, você estava embriagado no dia do acidente, mas... Como você tem poder, conseguiu ocultar isso! – Mais uma vez Sayu atacou.

      – Você não tem provas... – Ele respondeu.

      – Não tenho, mas imagina isso voltar à mídia... Seu avô só precisava morrer pra você ter tudo que é dele, não é mesmo, Kusanagi? – Sayu sorria satisfeita.

      – Insinua que o acidente foi propositalmente? – Tenshin sorriu, demonstrando que Sayu não o amedrontava.

      – Claro que não... Mas as outras pessoas podem pensar, não é? – Ela falou, com um ar debochado.

      – Qual é o intuito disso tudo, Sayu? – Tenshin.

      – Você sabe que desde sempre o que eu mais queria era ter você, mas, com esse seu jeito arrogante, sempre me desprezou... – Dizia ela, se aproximando de Kusanagi com um sorriso em seus lábios vermelhos.

      – Isso tudo por causa dessa idiotice?  – Tenshin observava Sayu – Você me enoja... –

Mesmo com a ofensa de Kusanagi, Sayu mantinha seu sorriso no rosto.

      – A metade do Colégio International School, onde uma parte é sua... Quero que me venda... – Proferiu.

      – Vender? O que lhe interessa aquele colégio? – Perguntou Tenshin.

      – Nada... Mas eu adoraria ter alguma coisa que já foi sua, Kusanagi... – Sayu se aproximou do mesmo, e com sua mão direita, começara a acariciar o membro do rapaz por cima da calça.

No corredor, ocultado pelas sombras, estava o marido de Sayu, observando toda a cena.

Tenshin puxou a mão de Sayu – Você me enoja cada vez mais... – Logo depois se distanciou a caminha da porta.

      – Você é bastante audacioso em me enfrentar, sabendo que tenho todo seu passado obscuro e posso jogar na mídia e destruir sua reputação... – Sayu falou, interrompendo Tenshin, que parou.

O mesmo virou-se para a mulher com um olhar um tanto quanto ameaçador – Você não sabe com quem está lidando, Sayu... Não sabe mesmo... – Terminou, virando-se e saindo logo depois.

      – Te darei três dias pra pensar no que vai fazer, Tenshin... – Gritou ela, esperando que ele ouvisse.

         Tenshin saiu com o carro no meio daquela chuva. Virou a esquina em alta velocidade e sumiu no horizonte. Quando parou em uma esquina, um homem de cabelos pretos e de pele pálida parou ao lado.

      – Quem é você? – Tenshin perguntou.

      – Sou Ryuzo... Trabalhava para Sayu, lembra-se? –

...

         Agora Tenshin e Ryuzo conversavam em um bar próximo a mansão do mesmo. Ryuzo trajava um casaco marrom de capuz e uma calça jeans.

      – Agora que não trabalho mais pra Sayu, posso lhe contar o que ela está planejando... – Disse Ryuzo.

      – Se for pra falar das chantagens, será inútil... – Tenshin ascendeu um cigarro e começara a fumar.

      – Então já sabe... –

      – Só não sei como ela descobriu tudo aquilo – Tenshin ponderou, após pedir uma bebida ao garçom que chegara até eles.

      – Samilly... – Ryuzo respondeu.

      – Samilly? Minha irmã!? – Kusanagi se surpreendeu.