Regina olhava incrédula para a figura de preto, a poça de sangue onde antes jazia o urso e a figura novamente. É claro que ela já praticava magia, mas criar vida era algo que ela havia considerado impossível, de certa forma. Presenciar aquilo logo à sua frente a havia deixado perplexa. Seu primeiro pensamento foi dirigido a Daniel e sua boca se abriu, pronta para bombardear dezenas de perguntas sobre aquela pessoa misteriosa. No entanto, assim que começou a dizer algo um dedo enluvado tocou seus lábios.

– Nós teremos tempo para conversar, mas primeiro vamos tratar dessa sua ferida – novamente a voz dirigida a ela fez Regina se arrepiar e assim que a rainha tentou protestar, ela continuou – E não... Não posso trazê-lo de volta.

A voz agora expressava pesar e Regina arregalou ainda mais os olhos assim que ela terminou de falar. Como sabe o que eu ia perguntar?? Quem é essa pessoa afinal?? Instintivamente ela tentou se afastar mas a figura a segurou suavemente pela mão. Regina se soltou e perguntou firmemente.

– Quem é você? Por que me salvou e como sabia o que eu ia dizer??

– Eu sei de muitas coisas, Regina...

Até o meu nome??? Regina agora sentia uma mistura de confusão até raiva. Ela começou a se afastar novamente.

– Espere.. – disse. Levando as mãos ao capuz, a figura lentamente se desfez de seu anonimato.

A visão que Regina teve a deixou ainda mais confusa e estarrecida. Então, de fato, não era um homem... – pensou. Não só não era um homem, como a mulher a sua frente era linda, no mínimo. Os cabelos negros e ondulados continuavam descendo por detrás de seus ombros e ela não pôde dimensionar muito bem seu comprimento devido à capa que ela vestia. Seus olhos trespassavam uma serenidade, para a rainha, fora do comum. Eram de tal forma claros que Regina não soube definir sua cor. No pescoço, a mulher carregava um pingente de metal. O que era aquilo? Uma espada talvez? Regina decidiu que se atentaria aos detalhes depois. A mulher notou que estava sendo “inspecionada” e sorriu amigavelmente. Pra dizer a verdade, era a pessoa mais bonita que Regina já havia conhecido. Isso fez com que a rainha enrubescesse de leve e admirasse ainda mais o acontecido. Uma mulher... Em um mundo tão machista, o poder masculino sempre era mais enaltecido. Guerreiros, nobres, e cavaleiros... As damas sempre eram apresentadas como o elo fraco, “a pessoa que precisa de resgate”, e isso não agradava Regina nem um pouco. Claro, sua mãe era uma feiticeira muito poderosa, mas sempre estivera à sombra do Senhor das trevas. Parada ali, aquele mulher fez a rainha se questionar sobre quão real seria a superioridade do Dark One.

Agora mais de perto, Regina conseguiu visualizar um pouco o interior da capa negra. Realmente, ela havia deduzido quando se encontraram que o “homem” não devia ser muito robusto. A comprovação deu-se agora: a mulher era alta e esbelta. Porte atlético, como já havia constatado antes; vestia um corpete de couro, minuciosamente trabalhado. As pedras nele incrustradas fizeram-na perceber que, quem quer que fosse, era importante.

–Auu... – Regina gemeu quando sentiu seu braço ser tocado delicadamente.

A mulher deu um sorriso fraco.

– Vamos, deixe-me cuidar disso.

De imediato, a rainha o estendeu para que a outra pudesse examina-lo. Ainda não tinha completa certeza do porque, mas confiava nela.

“Será porque ela salvou sua vida??” – ela pensou e riu por dentro.

Mas tinha algo mais. O fato de vê-la agora não a tornava menos misteriosa e Regina se pegou querendo saber mais sobre ela. O silêncio tomava conta da clareira enquanto a mulher tratava a rainha.

– Por que não usa magia, como no urso? – Regina indagou de repente, notando que ela aplicava um método um tanto usual para cura-la.

A mulher sorriu.

– A magia é forte em você, Regina. Mas ainda tem muito que aprender.

Notando que a rainha ainda a olhava pensativa, continuou.

– Não devemos interferir muito diretamente na natureza. Uma simples alteração muda todo um curso da história – ela começou a explicar.

–Mas... Você salvou o urso... Isso não é uma alteração significativa? – Regina indagou confusa.

– O urso – ela continuou – ainda estaria vivo, se eu não tivesse interferido.

Regina começou então a entender. Ela estaria morta caso a outra não tivesse aparecido. E não o urso. A mulher assentiu quando percebeu que a rainha estava pegando o espírito da coisa.

– A magia, Regina, é uma muito pura. Esta dentro de todo ser e de tudo que existe. Ela tem vários nomes em diversos e infinitos mundos, mas é uma coisa só. Alguns aprendem a manipula-la e outros não. Assim como alguns a utilizam de forma sensata, e outros não.

Neste exato momento Regina viu sua mente se voltar para Rumpelstilsken, a mãe e tudo o que vinha aprendendo. A ferida já estava praticamente limpa quando a mulher continuou.

– E infelizmente tenho notado que em seu mundo esses princípios andam muito distorcidos.

Regina franziu a testa.

– Meu mundo? Você fala com se não fosse daqui.

– E não sou – respondeu calmamente a mulher.

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Todos tinham inúmeras perguntas a fazer, mas a sensatez prevaleceu e decidiram que haveria tempo suficiente para isso depois que já estivessem na outra terra. Enquanto Gold manipulava um dos feijões para criar o portal, Emma puxou Regina de lado e sussurrou.

– Vamos ter que conversar depois...Você nunca me contou sobre isso – disse.

– Emma, nunca contei sobre isso a ninguém – Regina sussurrou de volta.

O fato de que a prefeita nunca havia mencionado a passagem a nenhuma outra pessoa não fez com que Emma se sentisse melhor. Pelo contrário, ela ficava mais intrigada a cada segundo.

– Nem à sua mãe?

– Ninguém. – Regina continuou afirmando – Ela me pediu para que não contasse.

– Ela??? A quem se refere?

O tom de voz que a loira usou deixou a prefeita um pouco assustada e por um momento ela visualizou algo diferente no olhar de Emma. Seria ciúme? Ou apenas raiva por ela nunca ter dito nada? Bom, ela teria que descobrir depois que atravessassem o portal. Agora não tinham tempo pra isso.

– Vamos – Regina puxou Emma e o filho e o portal se fechou.

A expedição estava agora oficialmente a caminho da terra encantada.

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Neste exato instante no amplo salão real, houve um leve tremor e as chamas das velas oscilaram. A mulher com o pingente de espada jazia sentada no trono e, quando a corrente de energia trespassou todo o aposento, ela sorriu.

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