O Piano escrita por Isabella Cullen


Capítulo 29
A vida e seu fluxo


Notas iniciais do capítulo

Como eu disse eu não estou preparada para o fim, mesmo depois da revisão eu dei um último retoque aqui e ali e poderia dizer que já era saudade deles. Eu tinha esse final há um tempo na cabeça, sabia quando comecei que ele seria assim e uma foto, a do final ficou perfeita com a ideia. Meninas, foi um prazer ter vocês aqui, obrigada pelas recomendações, comentários e citações que mandaram, cada uma me inspirou de alguma forma.
Eu estou com uma fiction nova para quem gosta de comédia, Diga que é Verdade é minha parceria com a Lia_ Cullen e meninas é curtinha, tem oito capítulos e super comédia! Boa pedida para o carnaval!
No demais meninas, foi bom, muito bom até aqui!



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Eu olhava minhas mãos. Estava sentada na minha cama olhando para minhas mãos como uma criança faz aos meses de idade. As rugas me mostravam quantas coisas eu tinha passado ao longo dos anos. Com essas mãos e com as mãos de Edward. Olhei para fora e o dia estava frio, mas tinha sol, inevitavelmente eu sorri pensando que Edward sempre diz que esses dias são feitos para nós dois. Eu amo o frio e ele o sol. Havia um silêncio incomum na casa e então eu me dei conta que talvez seria um pouco cedo demais para a agitação matinal. Com calma eu tomei meu banho, troquei de roupa e percebi que tudo agora era mais lento que o previsto. Eu procurava as coisas com mais lentidão, andava com mais lentidão e também aproveitava cada momento como único. Eles eram únicos. Fui colocar meus brincos e vi a imagem refletida no espelho, Edward sempre me dizia que eu era linda e que as minhas rugas não diminuíram em nada a minha beleza, eu conseguia alcançar isso porque quando o olhava eu ainda via o rapaz tocando piano que encontrei um dia em um hotel.

As fotos espalhadas pelo quarto me fizeram voltar a esse tempo em que éramos somente dois jovens apaixonados e descobrindo o mundo com nossas mãos. A turnê que nunca chegou ao fim nos rendeu mais fotos que um dia poderíamos revelar, lembranças de lugares exóticos e paisagens única. Se eu hoje olhar por um tempo para Edward eu ainda conseguia ver o aventureiro nele, de certa forma vivemos grandes aventuras. Só que dessa vez juntos.

“ – Hum... – me remexi na cama. Edward abriu os olhos imediatamente.

– O que foi? Está com dor nas costas? Quer o remédio?

– Edward acho que são contrações...”

Anthony chegou ao mundo em uma noite de lua cheia em um hospital pequeno próximo da casa de Londres. Ele era loiro de olhos castanhos, uma pequena bola branca. Gordinho e muito lindo. Quando me entregaram ele pela primeira vez eu só poderia pensar que ali estava uma mistura perfeita de mim e de Edward. Peguei a foto dele pelado na cama sorrindo. Ele foi um bebê calmo e muito amado, só era exigente com relação a mim. Não aceitou babás ou até mesmo ficar muito longe de nós por mais que algumas horas. Por isso, a ideia de desistirmos de uma carreira veio no momento certo. O máximo que Edward fez foi gravar algumas trilhas sonoras para filmes e os contratos eram longos e cheios de exigências, da parte dele.

Uma foto me chamou atenção e eu sorri quando a peguei. Nosso outro filho como Edward começou a chamar nossa primeira escola de música e arte. Art and music school foi nosso desafio desde o início, queríamos algo totalmente gratuito e voltado para crianças que não podiam gastar dinheiro com algo como aulas de músicas. Eu ainda lembro da emoção nos olhos de Edward quando eu dei a ideia e começamos a fazer nossas primeiras inscrições. Começamos com um prédio no centro de Londres e poucos professores e depois evoluímos para duas escolas na Inglaterra e uma em Paris dirigidas por Rose. Ela se tornou brilhante na administração de nossa escola e fez daquilo algo reconhecido mundialmente. Como eu, Rose criou seus filhos engatinhando por vários instrumentos e ríamos com as histórias e fotos deles quebrando ou tentando tocar alguma coisa. Rose e Emmett tiveram dois filhos e se não fosse Rose ter tido uma parada cardíaca no segundo filho eles com certeza teriam mais.

Peguei a foto de Lilian e Peter, eles eram a cópia fiel de Emmett. Rose sempre falava que só emprestou sua barriga para que eles nascessem, no entanto eu sabia como ela realizada por eles serem tão semelhantes. Eles eram as duas criaturas mais amáveis e solidárias que um dia eu conheci, Anthony e Peter são inseparáveis, sempre foram e a diferença de dois anos nunca realmente existiu.

Sorri pegando a foto que estava do lado. Uma viagem para o Brasil e voltamos com um prédio alugado para mais uma escola de música que seria aberta em alguns meses. Edward e eu tínhamos verdadeira loucura quando visitávamos a escola e víamos as crianças tocando e sorrindo. O projeto no Brasil foi o mais audacioso porque fizemos no que eles consideravam área de risco, por vezes as crianças precisavam ficar ou até dormir por conta da violência, mas daquela escola saíram os melhores violinistas de uma década e os pianistas mais requisitados de uma geração. Entre Paris e Brasil tivemos mais um filho, Clair nasceu na mesma época em que meus pais morreram. Por conta do recente parto eu não fui ao enterro, mas Rose e Emmett deixaram seus filhos com Esme e me representaram. Eu então me vi herdeira da grande fortuna Swan e mais alguns fundos que Jacob tinha deixado para papai. A surpresa veio quando descobrimos uma conta em nome de Anthony que deveria ser entregue a ele quando fizesse 25 anos. Papai morreu com a ideia de um herdeiro. Durante alguns anos eu sei que pensei nisso mais do que o necessário, sei também que fiquei triste porque a última vez que ele me viu foi quando estava me chamando maluca e descontrolada.

A outra foto me fez sorrir. Gêmeos. Quem nesse mundo achava que eu e Edward teríamos gêmeos? A surpresa foi ainda maior porque só descobrimos isso no dia em que Lauren nasceu, ela e seu irmão Patrick foram a surpresa da família Cullen por muitos anos. Nós decidimos parar quando isso aconteceu, mas eu poderia ter tido mais quatro filhos com esse homem. Porque ele como pai era ainda mais lindo do que como marido, Edward vivia cada fase como se aquilo o alimentasse em vez de desgastar, corrigia com firmeza, conversa e tinha momento de pesca, balé, futebol, caminha, corrida, aulas de música, canto e judô com cada um deles. Nós sempre teríamos que nos dividir para dar atenção a todos, era uma agitação, um entra e sai, gritaria e choro interessante. Nenhum dia era igual ao outro. Não pude deixar de sorrir quando vi a foto de nós, todos nós, sentados na grama da casa de Paris. Nosso refúgio eterno.

Não tivemos muita agitação com quatro crianças, escolas de músicas gratuitas e uma família grande poderia nos dar. A foto de Alice e Jasper em seu casamento me fez ficar um pouco triste, eles eram um casal, mas Alice não queria ser um casal realmente. Ela não aceitava que Jasper como Edward queria um pouco de sossego e ela simplesmente viveu sozinha. Depois de um divórcio doloroso para Jasper e sem filhos para o casal, Alice foi morar no Brasil e administrava pessoalmente a escola. Ela adotou as crianças da escola como suas e isso a fez feliz até o dia de sua morte. Sim, Alice morreu com seus gloriosos 40 anos de algo que os médicos chamaram de doença cardíaca. Mas Esme sempre disse que o que a matou foram as escolhas erradas que ela fez para ela mesma, Jasper fez questão de um funeral digno de uma rainha e sua esposa, o acompanhou sabendo e entendendo que aquela mulher foi alguém na vida dele.

Respirei fundo me recuperando dessa lembrança e pensando que apesar do divórcio Jasper sempre foi e sempre será um Cullen, ele e sua esposa frequentavam minha casa, a casa de Esme ou qualquer outra casa como se fossem todos uma coisa só. Ele teve duas filhas e a mais nova se chamava Mary Alice Cullen Hale, eu ainda lembro de Esme a pegando no colo pela primeira vez e de alguma forma sabendo que ali tinha um pedaço de Alice, mesmo ela tendo falecido já há algum tempo. Jasper teve Alice já com seus 41 anos. Eu tenho certeza que ela foi a sua maior felicidade, sua Alice seguiu seus passos sendo uma das melhores e maiores advogadas do centro oeste do país. Ela hoje é casa e espera seu primeiro filho, acho que Jasper nunca foi tão completo como é hoje.

A vida nos surpreende e se refaz de uma maneira inexplicável. Ela segue como um rio, sem parar ou perguntar: posso continuar? Ela simplesmente segue o fluxo e nos trás mais e mais recordações, eu só agradeço que a maioria fosse boa. Eu olhava as fotos das formatura de nossos filhos, as fotos de nós cada vez mais e mais velhos. Eu e Edward e nossas mãos mágicas como Jean costumava dizer. Jean morreu de causas naturais em uma noite de inverno em sua casa com seus filhos e amigos. Agnes nunca superou isso e depois de uma longa depressão ela também se foi.

A música começou e eu sorri, ouvi passos e uma correria e sabia que o dia na casa tinha começado. Edward estava tentando me dizer: levante! Eles chegaram! Era senpre a melhor hora do dia quando eles chegavam.

– Vovó! Vovó!

Oh sim, eles chegaram. Levantei e abri porta. Ângela estava com seu vestido azul lindo, tinha os cabelos loiros soltos e estava vindo em minha direção.

– Dueto para piano número 5. Chopin.

Eu gargalhei com isso.

– Sim, seu avô hoje está animado. Por que não toca com ele? Eu acho que ele está convidando você.

Eu pisquei para ela que abriu um lindo sorriso e fomos até um pouco mais perto da sala de música de mãos dadas. Patrick entrou tirando seu casaco, ele era muito parecido com Edward nessa idade. Sua esposa sempre se gabava de como tinha tido a sorte de um dia esbarrar nele com mais de duas caixas na mão.

– Mamãe as coisas estão cada vez mais complicadas!

– Um chá? – perguntei e ele sorriu. Ângela correu até a sala de música e eu fui com ele até a cozinha. A porta abriu novamente.

– Mamãe! Vou bater nessa menina!

Anthony. Sempre o mais escandaloso. Verdadeiras chuvas em copos de água pequenos. Patrick gritou que estávamos na cozinha e eu ouvi os passos apressados do que deveria ser Renata correndo para sala de música. Ele entrou vermelho de nervoso.

– O que aconteceu?

– Ela matou aula para ficar com um menino, a diretora fez um caso enorme disso porque a mãe do garoto encontrou com eles perto da escola. Eu não sei como lidar com isso!

Sorri servindo Patrick e depois Anthony, sentei vendo meus meninos agitados.

– O que o trouxe aqui? – Patrick gargalhou.

– Pois veja, Ângela perguntou porque ela não pode namorar.

– Ela só tem dez anos por Deus! – Anthony exclamou e eu ri daquilo.

– Mamãe ainda bem que está aqui. Tenho uma reunião e não tenho como levar os meninos.

– Bom dia Lauren! Estamos bem também! – Anthony falou e ela como fazia desde menina deu a língua, ela lembrava Alice quando fazia isso e por muito tempo depois da morte da irmã Edward ficava admirando isso acontecer com um ar distante.

– Soube que Brian volta hoje! – Anthony falou sorridente.

Ela abriu um lindo sorriso e sorri com ela sabendo que ela deveria estar eufórica com isso.

– Deixe-os essa noite aqui, que bom que Brian chega hoje querida. Espero que consigam relaxar um pouco.

– Oh mamãe a senhora é maravilhosa!

Ela me abraçou e eu senti seu perfume e não tinha como não lembrar daquele lindo bebê que ela foi. Agitada, mas linda.

– Claro querida, onde eles estão?

– Papai deve estar rodeado deles agora. – Patrick riu.

– Ele adora. – disse – Trouxeram os instrumentos?

– Bom, Ângela quebrou o violino.

– Penso que devo ter um aqui. Comprei um novo para levar para a escola, deve servir.

– Renata está com a flauta. Foi muita consideração gravarem o nome dela. Ela se sentiu especial.

– Foi um prazer querido. Seu avô que tem esse crédito, a primeira vez que ele fez isso foi quando você começou a tocar violino.

– Oh.. eu ainda lembro da festa que esse menino fez quando recebeu!

Lauren e Anthony riram. Clair entrou depois, ela sempre falava com Edward primeiro e depois vinha me cumprimentar. Ela sempre foi mais apegada a ele do que mim, quando ela começou a namorar foi para ele que contou primeiro e depois quando foi pedida em casamento mais uma vez ele foi o primeiro a ver o anel da família dele. Ela teve dois filhos que estudavam em Portugal, eu sentia falta dos meus netos, mas sabia que as férias deles seriam sempre em Londres comigo e ela e seu marido vinham sempre que podiam. Clair era a primeira pianista da Sinfônica de Portugal e ele o spalla da orquestra, foi assim que se conheceram.

Tomamos um chá e cada um foi depois de receber alguns conselhos, recomendações e muitos beijos. Éramos ainda tão apegados e carinhosos quanto cada um nasceu, todo dia a casa pela manhã parecia uma zona de guerra e depois que os pais saiam era correria, briga e gritos por conta dos netos. Eu amava ficar com eles, amava como Renata me seguia pela casa fazendo mil perguntas, de como Ângela queria sempre adivinhar as músicas e testar os conhecimentos de Edward, os meninos eram mais apegados a Edward e sempre estavam tentando chamar a atenção dele de alguma forma. Mesmo que seja rolando no chão brigando.

Me levantei e fui até a sala de música, agora ela estava rodeada de crianças sentadas ouvindo Edward tocar Chopin, algo simples e leve. Decorado pelos nossos dedos treinados. Como de costume ele bateu no banco e eu sentei do lado dele. Ele começou a sinfonia e eu concluía com outras notas, em silêncio, nós nos comunicávamos. Era como um: bom dia, dormiu bem, como vão os meninos? Ele tocava e eu sorria.

– Deixe que eu toco e vocês dançam!

Eles adoravam isso. Cedemos nosso lugar a Carlisle, o filho de Lauren mais novo um minuto que seu irmão e um prodígio. Ele começou a tocar a valsa da felicidade e Edward me estendeu sua mão, ali éramos Edward e Isabella Cullen, um casal eternamente apaixonado pelos seus filhos e netos. Ele começou a me conduzir em uma dança e eu toquei seu rosto ainda vendo ali o meu menino, o meu homem e o grande amor da minha vida.

– Rose ligou e disse que vem passar uns dias com Emmett.

– Isso é maravilhoso. Estou com saudade.

– Eu te amo. – ele sussurrou e me girou.

– Eu também te amo, cada dia mais e mais.

“Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.”

Clarice Lispector


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Notas finais do capítulo

Eu queria muito ler o que cada uma de vocês achou! Obrigada meninas!