Arrumava-me o mais devagar possível. Hoje era a noite do baile da escola, não estava empolgado, não tinha um par, e o pior de tudo é que era um maldito baile de máscaras.

– Harry querido – minha mãe gritou – vai logo ou vamos nos atrasar!

Sim, isso mesmo, minha mãe iria me levar para o baile, nada mais vergonhoso que isso, ah espera, tem sim, você ter catorze anos e não ter um par para o baile! Terminei de arrumar a gravata, coloquei um chapéu ridículo na cabeça ("assim você vai parecer um cavalheiro" dizia minha mãe, "assim eu pareço um babaca débil mental" eu respondia mentalmente) e peguei a máscara branca em cima da cama antes de descer.

– Está lindo filho - comentou minha mãe, quando cheguei na sala - aposto que muitas garotas vão querer dançar com você esta noite.

Dançar? Ninguém falou em dançar.

– É... espero isso também – disse antes de correr para o carro e me esconder lá.

A viagem até a escola foi rápida e silenciosa, assim que desci do carro minha mãe saiu correndo com ele.

– Legal, não se importaria se eu fosse sequestrado né?

– Falando sozinho Potter? – ouvi a voz de Ronald, meu melhor amigo, atrás de mim.

– Sim Weasley, isso ajuda na mente – respondi, rindo.

– Com certeza... Vamos? - apontou para o portão do colégio.

– Falando assim até parece que temos um par e só estamos aqui fora por graça.

– Pois é, vai que tem alguma garota lá dentro que também está sem par e espera por...

– Por mim?

– Não! Por um ruivo sedução como eu! Acha que alguém vai te querer com este chapéu ridículo?

– Não viu a capa que minha mãe queria que eu usasse, sorte que eu "perdi" –  fiz as aspas com os dedos.

– Eu "perderia" –  ele repetiu meu gesto – se minha mãe me mandasse usar uma

– Você não presta Rony!

– Eu sei cara, eu sei.

Olhei no relógio que marcava dez e meia, o baile oficial só começava às onze horas, então nós enrolamos e entramos faltando dez minutos para o horário marcado.

– Vocês estão atrasados rapazes! – Minerva, vice-diretora da escola, nos chamava.

– Desculpe professora, nós, ham...

– Nos perdemos – completou Ronald.

– Precisam de um mapa? Mas vão logo achar seus pares para a dança e...

– Não temos pares!

– Dança?

Eu e Rony a interrompemos ao mesmo tempo, o que a fez ficar vermelha de raiva.

– Não têm pares? Sem problemas, duas garotas que vão estudar aqui também não têm, podem dançar com elas, e sim, vocês vão dançar.

Soltei um muxoxo, mas andei para onde a diretora indicava, até que Rony me parou.

– Coloca isso – apontou para a máscara em minha mão.

– Por quê?

– Olha lá – uma garota estava sentada sozinha e sorrindo em uma das mesas do salão – ela é uma das garotas que a professora indicou, ela ta de máscara, a amiga dela foi ao banheiro, mas também estava, fará sentido você colocar também!

– Por que não pensei nisso antes?

– Porque você é otário, agora coloca isso Harry – Rony já tinha colocado a sua máscara, era branca como a minha, só que maior, e ficava estranha em seu rosto.

Coloquei a minha máscara rápido, mas não tão rápido, Rony já tinha indo até a garota loira e a chamou para dançar, foram até os outros alunos e eu fiquei lá, esperando a “amiga”..

– E que amiga – sussurrei quando vi que ela saiu do banheiro, ela usava um vestido azul e a máscara da mesma cor, não via quase nada de seu rosto, mas tinha certeza de que ela era linda, andava de um modo decidido e dominante, como se fosse dona de tudo. Senti uma pulsação na região do baixo ventre que tinha certeza que não tinha nada a ver com a dança – a dança! – exclamei para mim mesmo, indo em direção da garota e estendendo a mão – você, hum... gostaria de dançar comigo, senhorita?

– Você é meu príncipe encantado? – ela riu, mas segurou na minha mão e me acompanhou até o centro do salão, onde os alunos estavam reunidos para começarem a dançar.

– Se você preferir me chamar assim, mas me chamo Harry– sorri, ao virar e encará-la, já parada, ao meu lado.

– Oh, Harry, parece sim um nome de príncipe – senti minhas bochechas esquentarem – a propósito Mister Harry, sou Hermione Granger.

– Mas que belo nome essa princesa tem – entrei na brincadeira – vai estudar na nossa humilde escola ano que vem?

– Sim, sim, pretendo sim, será ótimo com a companhia desse príncipe – a música começara a tocar, e, para o meu desespero, era lenta com um ritmo de valsa. Logo segurei em sua cintura, um pouco sem jeito, para dançar.

– Posso tirar “sai dessa escola” da minha lista de coisas para fazer então.

– Mas que honra – ela riu, neste momento fiquei sem assunto, mas não queria ficar em silêncio durante a longa e torturante música.

– Então... hum... Conte-me mais sobre você, princesa.

– Não tenho muito a dizer, sou da França e meus pais são dentistas – ela riu sem graça.

– França? Hum... Je ne sais pas bien français, mais vous me comprenez bien? Je suis une belle salope.

– Você tem uma boca suja! – ela disse, fiquei sem graça, realmente não sabia o que tinha falado.

– Desculpa... eu quis dizer...

– Eu sei o que quis dizer – riu, antes de girar, quase tinha esquecido de que estávamos dançando! – mas você foi bem, para quem não sabe nada.

– Eu tenho mesmo boca suja.

– Terei um ano inteiro para descobrir não? – demorei um pouco para entender o que ela quis dizer.

– Eu posso te levar para casa? – brinquei.

– Nunca, nem nos seus sonhos mais loucos...

Sem aviso nenhum ela me beijou. Ela me beijou! Ela me b-e-i-j-o-u. Achei que fosse desmaiar ali mesmo. Não era um beijo apaixonado como aqueles de livros e filmes, era um beijo normal, um pouco quente, o que deixava mais excitante ainda para o momento.

Foi a melhor música de todas.