S.O.S Me Apaixonei Por Um Assassino Suicida escrita por Anthonieta


Capítulo 15
O que o escuro guarda




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O cheiro... A pior coisa, desde então, foi o cheiro de coisa morta, lixo podre, ou qualquer outra coisa do tipo. Meus olhos abriram-se teimosamente, era um sono sufocante, algo que nunca senti na minha vida, uma calma que logo transmutou-se em agonia, quando percebi que estava, aparentemente, muito longe de casa. Quando tentei me locomover, percebi que meus pés e mãos mantinham-se fortemente amarrados. Aos poucos fui percebendo a dor dos machucados e soltei um grunhido. Minha boca estava presa em uma mordaça sob um aperto não muito forte. Procurei segurar o pânico e fiz o máximo de esforço que pude, expulsando o retalho branco com a língua. Com a vista menos embaçada, agora, passei os olhos pela extensão do lugar – um quarto pequeno e baixo, mal iluminado e quente. Não havia janelas, apenas uma porta velha de madeira cheia de brechas, o que levava um pouco de luz para o cômodo. O fedor dava-me náuseas, tentei manter a respiração pela boca em meio aos regurgitos. Não fazia ideia de que lugar era aquele. Ousei me perguntar porque raios alguém iria querer me sequestrar, mas logo lembrei de tudo o que estava acontecendo, do bilhete acompanhado com as rosas, a mensagem em meu celular... Forcei os olhos para não chorar, e, sem pensar duas vezes, gritei por ajuda. No terceiro grito amargo de socorro, a velha porta tremeu, pude marcar os instantes em que a maçaneta girava e uma uma sombra baixa e esquelética adentrava no quarto fedido. Me recolhi para o canto da parede, sentindo minhas mãos ralarem nos tijolos crespos e úmidos. Com toda a luz que veio da porta aberta, pude perceber de onde vinha o cheiro horrível: o quarto não era tão pequeno assim, mais adiante de mim havia algumas mesas de madeira com vários animais ensanguentados por cima. Foices, facões, facas pequenas e cerras. Além de alguns ratos mortos pelo chão, cobertos de moscas. Comprimi o estômago para evitar as tentativas de vômito, fechando os olhos fortemente. Uma voz fina e áspera como lãs de aço cortou meus ouvidos.

— Então a nossa querida idiotinha acordou.

Era uma voz feminina e familiar, percebi que estava aproximando-se, mas não abri os olhos, não estava nem um pouco a fim de ver tudo aquilo novamente.

— Me deixe... ir e-embora — gaguejei — o que quer comigo?

Ela sibilou num sorriso metálico e frio. Aquele sorriso que com certeza já ouvira antes.

— Abra os olhos, Clarissa! — a mulher gritou — se não consegue deixar de ser uma vadia fraca, apenas finja. Evite meu estresse diário.

Instantaneamente tornei a vista, segurando a pequena surpresa de ter meu rosto tão próximo daquele corpo magro e franzino.

— O quê? — sussurrei — você...

Ela afastou-se, olhando em direção às mesas ensanguentadas.

— Espero que esteja simpatizando com suas companhias — ela balançou a cabeça negativamente — eles passaram tanto tempo aqui... sozinhos...

Eu a tinha visto apenas uma vez, na Volta Ao Mundo Em Oitenta Dias. A senhora entusiástica que estivera a comprar livros eróticos. A mesma pele branca e fina, o mesmo cabelo curto e ralo... O mesmo óculos e olhar moribundo. Ela parecia tão simpática, apenas querendo um livro para amenizar sua solidão. Não era possível que ela estivesse fazendo todas as ameaças, eu não conseguia ver como e onde isso encaixava-se.

— Você... — eu comecei — você comprou alguns livros... O que quer comigo? — gritei.

— Fale baixo, mocinha — ela quase sussurrou — não queremos chamar a atenção de ninguém, não é mesmo?

— Onde... Onde estamos?

— Porque eu lhe diria? — ela bufou — Não seja tão burra.

Eu estava estupefata. Lágrimas geladas escorriam pelo meu rosto, podia sentir o gosto delas, misturadas com meu suor.

— Sua maldita! — bradei — me tire daqui, velha ordinária!

— Basta! — ela gritou — eu tenho um nome, menininha imbecil. Mercênia... Eu gosto de ser chamada por meu nome, e não por esses adjetivos que lhe iludem na possibilidade de me atingir.

Ela sorriu.

— Me diga — eu comecei — diga o quer comigo... Apenas isso...

Mercênia cruzou os braçso atras das costas, batendo seu salto fino contra o piso sujo.

— Não sei se estou autorizada a lhe fornecer informações. — ela deu um muchacho — vou chamar alguém que irá explicar melhor... ou não.

Ela seguiu até a porta, pondo a cabeça para fora, balbuciando algo que não consegui ouvir. Logo um corpo alto e esbelto tomou seu lugar, batendo a porta atrás de si.

— Dando problemas, Clarissa?

Eu enrijeci. Queria gritar e sair correndo, mas o máximo que consegui fazer foi encolher-me com mais fervor contra a parede. Meus olhos não queriam acreditar no que estavam vendo.

— Dean...?

Ele sorriu graciosamente, seu cabelo louro relampejava sob a pouca luz que entrava no quarto, como o sol ardente de uma péssima tarde de verão.

— Eu não acredito — iniciei em meio aos soluços — eu acreditei que você havia mudado, Dean... eu quis acreditar...

Ele segurou meu braço com força.

— Você não acreditou, sue mentirosa. Ninguém acreditou... Nem mesmo Gabriela. Ninguém aceita alguém que teve um passado ruim.

— Mas você não teve um passado ruim — silvei — você é ruim, está tendo um presente ruim e terá um futuro pior ainda, porque você não vai mudar nunca, seu animal.

Eu o cuspi. Ele fechou os olhos calmamente, limpando minha saliva com a mão e passando em meu casaco.

— Você sempre foi nojentinha. — ele balbuciou calmamente — uma porca, então, como não podemos mudar a natureza das coisas, pouco me importarei com isso.

Ele soltou meu braço e afastou-se, ficando de pé.

— Sabe... — Dean começou — eu jamais faria nada com você, aliás, não tenho a menor intenção em machucá-la.

— Você quer dinheiro? — exigi — Acho que sabe muito bem da minha condição financeira e...

— Sim, eu sei muito bem que seus pais não passam de dois aposentados que lhe fornecem alguma migalhas às vezes. Que você é uma sem rumo e Martim... — ele pausou — aquele idiota falido que não merece nem a namorada que têm. — Dean sorriu maliciosamente.

Eu reprimi o desejo de o xingar.

— Então me diga o quer!

Ele puxou uma das cadeiras velhas que estava jogada no canto da parede, arrastou-a até mim e sentou-se.

— Hora de saber toda a verdade, minha querida.

Eu arregalei os olhos, sentindo meu coração acelerar.

— Eu lhe sequestrei... — Dean começou — É verdade. Mas não pense que quero algum tipo de recompensa financeira...

— O quê...

Ele fez um gesto de impaciência com a mão.

— Não, não é isso... Você nem ao menos faz o meu tipo. Eu jamais perderia meu tempo sequestrando garotas magricelas, e nem nenhuma outra, para fazer esse tipo de coisa — ele pausou — não sou um doente. Acontece que você é a isca perfeita, Clarissa.

Eu o olhei confusa, afastando-me da parede úmida.

— Isca? Eu...

— Vamos fazer assim — ele começou — eu falo e você escuta calada. Odeio ser interrompido... Bom, eu não queria ter que envolver você nisso, eu sei o quanto Gabriela lhe tem apreço, sei da amizade de vocês e tudo mais. — ele pausou — eu gosto muito da minha irmã e não acho que poderia vê-la sofrer, mesmo que fosse por algo tão insignificante.

Eu rolei os olhos

— Contudo, você não me deu escolhas evolvendo-se com Jason Santi.

Pânico fez meu meu coração quase saltar por minha garganta. Se Jason possuia algum tipo de ligação com Dean, isso, com certeza, não poderia ser bom.

— Você o conhece? Mas...

— Não seja teimosa! — ele quase gritou — eu mandei ficar calada.

Respirei fundo para tentar controlar o ódio que circulava pelo meu corpo. Dean cerrou o maxilar.

— Você sabe... Eu me envolvi com coisas realmente ominosas, e não me orgulho disso, a necessidade foi mais forte. Então eu o conheci... Jason, quero dizer, aquele imbecil. — ele suspirou — se você pensa que eu sou o monstro da história, saiba que está completamente engada.

Eu engoli seco.

— Você sabia, Clarissa... Sabia que dorme com um assassino? — houve um pequeno silêncio, eu encarava seus olhos de avelã, procurando qualquer rastro de mentira ou hesitação, mas infelizmente não encontrei nada. — responda!

— Eu não... — forcei a garganta para que as palavras saíssem ao menos inteiras — nós não temos nada... nunca tivemos. E você está mentindo... isso... isso não têm a menor lógica.

Ele sorriu sarcasticamente.

— Porque insiste em ser tão cega, em não enxergar o que está acontecendo ao seu redor? Desde que soube que aquele traidor estava em Crouzi, provavelmente fugindo da polícia, ou de algum ressentido querendo sua cabeça podre, pus-me a observa-lo, afinal, eu também o quero.

Eu levantei uma sobrancelha.

— Não nesse sentido, mas que estúpida, eu não tenho paciência para pessoas acéfalas, Clarissa, poupe-me disso. — Dean sorriu — Eu lhe trouxe aqui porque preciso atraí-lo... e matá-lo.

Minha boca abriu num espanto.

— Você não pode... Não acredito em você e no que diz. Além do mais, ele jamais viria — disse, sentindo-me um pouco culpada pela singela tristeza que minha voz soou — jamais...

— Ele virá... Quando notar a sua ausência. Quando perceber que sua vagabundinha está desaparecida em algum lugar. Ele é fraco... seguirá as pistas e... Se deparará comigo... Segurando uma daquelas facas — ele apontou para a mesa podre — ou apenas meu amiguinho aqui.

Dean retirou um revolver prateado da cintura, e alisou toda a extensão da arma. Meu coração quase parou.

— Ele não sabe... ou saberá que você me sequestrou?

Ele tombou a cabeça para o lado, sorrindo como uma criança.

— Ou você pensa que sou burro, ou não conhece seu namoradinho. Bem, com certeza assinaremos a segunda opção. Jason jamais viria se soubesse que eu o espero. Ele não viria nem mesmo por você, ou por qualquer outra pessoa que aquele depressivo tenha apreço. Ele nunca foi um bom parceiro, sempre sentia pena, ou pesar pelas coisas.... Um idiota.

— Por que você quer matá-lo? — ousei perguntar, tentando manter minha voz firme.

— Assunto nosso.

— Eu não acredito que Jason seja isso que você diz... Um assassino.

Dean bufou.

— Rafael Santhana e Christopher Leonidas... dois malditos que tive que matar, primeiro, porque tinham muitas dívidas pendentes comigo, e, segundo, para lhe dar algumas dicas do perigo que estava correndo. — ele pausou — mas você é tão tola... Mesmo assim continuou encontrando-se e envolvendo-se com aquele maldito.

Eu sentia meu corpo amolecer, estava quase a ponto de desmaiar, sem conseguir segurar meu choro quieto, por tudo que estava ouvindo, e por pensar em Gabriela, que acreditava no irmão, acreditava que agora ele era bom.

— Eu estava com Jason minutos antes de matar Anele, aquela vagabunda. O primeiro caso que você presenciou, porque estava passando por ali na hora errada, olha, veja só, nem para isso você serve. Estávamos tendo uma pequena discussão sobre... Sobre nossos problemas de parceria. Ele parece que não gosta de reconhecer tudo o que fez para mim... Toda a dor que me causou. Eu havia lhe avisado que daria cabo da vida dela, caso ele não... bem, isso não vem ao caso. — Dean sorriu miseravelmente — Ele achou que eu estava blefando... Então eu a matei, da forma que eu sempre gostei de matar... Ela era tão bonita, Anele, maldita irmã intrometida de Jason Santi. Contudo, você apareceu — ele bufou — de tal forma que pude perceber minha falha... ela ainda estava viva, mas por sorte não durou muito. Eu tinha o número do seu celular e rapidamente cuidei dessa sua língua maldita.

— Você... — senti o vômito subindo pela minha garganta, mas tentei segurar — você matou a... irmã de Jason... Como... Por que? Seu mostro...

Dean parecia impacientemente aborrecido, recolocando o revólver na borda da calça, o cobrindo com a parte solta de seu paletó.

— Não tenha piedade de quem não conhece. Ela era uma vadia, uma prostituta que circulava por aquelas calçadas nojentas. Só porque era irmã do otário, se sentia no direito de consumir a droga que quisesse sem pagar porcaria alguma. Eu até a deixei fazer isso algumas vezes – ela entupia-se de cocaína e ficava sangrando pelos becos. Às vezes, alguns caras que passavam pelas ruas e a avistavam em suas roupas de bagaxa, faziam sexo com ela lá mesmo — ele fez uma careta — não queriam saber se ela possuía alguma doença ou não. Eles simplesmente iam lá e faziam o que queriam, e quando nós a encontrávamos, era impossível não leva-la para casa, a fim de lhe fornecer um banho e mais drogas.

Eu o olhei horrorizada. Queria mandar ele calar a boca, não suportava mais ouvir tantas coisas ominosas, mas procurei manter a seriedade.

— Então você a matou para fazer raiva a Jason?

— Não. Eu a matei por motivos que você jamais entenderia, além de não ser um problema seu. A questão é...

— Eu já disse, Dean, não acredito em você. Não acredito que Jason seja um assassino sem escrúpulos... Não acredito que ele seja como você..

Dean soltou uma muchacho, levantando-se da cadeira e indo em direção a o que parecia uma cômoda velha. Der lá retirou alguns papeis e os jogou em mim.

— Leia. — ele silvou.

— O que é isso? — perguntei-o, segurando as páginas amareladas que exibiam fotos 3x4 de Jason, mugshots, textos esquisitos e algumas cartas.

— Fichas criminas de Jason Santi e outras coisinhas... — ele pausou — eu o salvei de tantas enrascadas... Aquele amador. Sempre acabava envolvendo-se com a polícia. E ainda hoje é assim — ele balançou a cabeça negativamente — é o que pode-se esperar de um marginalzinho de vinte anos.

Eu poderia não querer acreditar em tudo o que Dean havia contado-me, mas era impossível diante de tantas provas verídicas, admissões do próprio Jason para seus crimes e cartas de explicações e agradecimentos a, provavelmente, algum chefe maligno.

Antes que eu pudesse bradar, ou apenas cair para o lado e chorar desesperadamente, senti uma pontada fina no braço. lembrei-me apenas de poucos segundos antes de adormecer imediatamente.


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Notas finais do capítulo

E então, gente? O que estão achando disso tudo? O que acham que vai acontecer com Clarissa?



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