S.O.S Me Apaixonei Por Um Assassino Suicida escrita por Anthonieta


Capítulo 13
Há coisas que às vezes valem a pena


Notas iniciais do capítulo

Queria agradecer aos comentários e tudo mais, vocês me motivam muito a escrever aqui. ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/419459/chapter/13

30 de março, things aren't looking so good, emitia meu rádio-relógio, i'm looking California, and feeling Minnesota... Era certo que eu deveria parar de colocar músicas que eu gosto como despertador, especialmente as do Soundgarden, uma de minhas bandas favoritas. Olhei para o lado esquerdo de minha cama, o relógio marcava oito horas em ponto. Com a vista embaçada, debrucei-me nos lençóis e quis chorar, mas não o fiz. Talvez eu não seja tão fraca, pensei. Uma pessoa demasiadamente fraca já teria tomado um dos remédios de Jason Santi e atirado-se de alguma ponte. Pelo menos eu ainda tinha vontade de viver, e, principalmente, um desejo incessável de descobrir quem estava fazendo todas essas coisas desumanas. Por um momento exitei. Talvez Jason não seja apenas um destruidor de corações, Kat havia dito. Tratei de despistar tais pensamentos, por Deus, até pensar causava-me pânico.

Embalada em minha habitual e gigantesca blusa branca, dirigi-me ao banheiro, tomei um banho rápido e vesti algo confortável. Um shorts verde de algodão e uma camisa cinza, com alguns buracos pelas mangas, eu não pretendia sair de casa pela manhã mesmo.

Enquanto caminhava pela sala, à procura de minha escova de cabelo, ouvi o telefone tocar. Imediatamente o retirei do gancho.

— Senhorita Leen?

Eu fiz uma careta, encolhendo os ombros.

— Na verdade é Lee. Clarissa Lee Licer, sem ene.

— Oh, bem, desculpe-me. Me chamo Miranda, do ICAI, e gostaria de saber se a senhorita poderia comparecer aqui às dez horas... Haveria essa possibilidade?

— Ah, sim, claro... Eu irei.

— Muito obrigada e tenha um bom dia.

Eu poderia ter desejado o mesmo a ela, mas com certeza soaria falso, especialmente porque eu não lembro a última vez que tive um bom dia, então não o fiz. Joguei o telefone no gancho e fui vestir algo descente, meus planos de passar a manhã escrevendo folhetins havia sucumbido por uma tal de Miranda, nome horrível.

***

Eram quase nove horas da manhã quando cruzei a recepção do Tude e avistei Frederich dormindo sobre o balcão.

— Hey, cara... — grunhi — Frederich!

Ele acordou desordenado, olhando várias vezes para os lados, procurando quem o chamava.

— Aqui, seu bêbado, sou eu.

Ele fitou-me sorrindo. O canto direito de sua boca estava com restos de saliva seca.

— Sta. Lee! — ele bradou — não lhe vi ontem, que saudades!

— É, também.

— Eu parei de beber faz dois meses, para sua informação.

Eu fiz um gesto de avidez com a mão.

— Estou de saída, se por acaso... Aparecer alguém, ahn, sei lá... Procurando-me, diga que não tenho hora para voltar.

Ele coçou a barba.

— Isso não será um problema, ninguém nunca procura a senhorita, sabe? Ninguém seria tão desinformado quanto a sua simpatia muito bem visível.

Eu o fuzilei com os olhos.

— Obrigada, querido.

Assim, direcionei-me ao estacionamento. Passei a mão na lataria verde-lodo de Juliete, puxei a porta e girei a chave: nada. Soltei um grunhido de raiva. Descendo e batendo a porta velha. Olhei para meu relógio de pulso: nove horas em ponto. — Merda! — sussurrei.

Saí apressadamente do estacionamento. Devido à distância de Crouzi para Rice, tomar um ônibus não seria suficiente. Eu precisaria ir de metrô, o que poderia me atrasar, com toda a certeza.

Passei praticamente correndo pelas avenidas movimentadas de Crouzi. Era incrível como a cidade continha tanto tumulto pela parte do dia. Eu desejei que fosse assim o tempo todo, ou que eu não tivesse que andar pela noite sozinha de vez em quando.

Cheguei na A Sua Última Viajem, a estação de metrô de Crouzi. Por sorte, não tive muitos infortúnios para conseguir subir no vagão. Sentei-me em um banco duplo ao lado de um rapaz bonito que tinha o cabelo curto e verde, com tatuagens por, aparentemente, todo o corpo.

Ele reparou que eu estava olhando demais para seu braço, que era um emaranhado de símbolos e coisas que eu não conhecia.

— Gosta do que vê? — o estranho perguntou-me

Eu tirei a vista rapidamente e fitei o teto do vagão.

— Ah... é... é bem legal.

— Obrigado.

Não pude deixar de notar que, após ele dar uma remexida no acento, retirou O Sol É Para Todos de sua mochila. Eu reprimi um sorriso, mas não consegui evitar o espasmo.

— Oh — comecei — é um bom livro.

Ele fitou-me sorrindo.

— Comecei no último fim de semana.

Eu assenti.

— Acho que Harper Lee poderia ter escrito mais romances, você entende, em termos de publicação e conhecimento, porque dizem que ela tinha algumas obras inacabadas, rabiscos, coisas que não expôs. — ele pausou — Mas, diante da grandiosidade dessa obra, acho bastante satisfatório.

Eu sorri.

— Gosto desse livro, especialmente porquê Maycomb se parece muito com o prédio onde eu moro.

Ele franziu a testa.

— Há muitos liberais lá?

— Não — sorri — não é isso, bem, apesar de, com toda certeza, não ser um condomínio pequeno, todos sabem, basicamente, da vida uns dos outros. Apenas aqueles, como eu, que não têm interesse em saber o que a vizinha ao lado vai comer no jantar, que fica por fora das fofocas. É como uma corja de populares de colegial: se você não faz parte, não saberá o que acontece em si. Mas isso não significa que eu esteja de fora dos julgamentos, pelo contrário... — eu exitei — e não sei porque estou lhe contando isso.

Ele contornou as extremidades do livro com os dedos.

— Sem problemas. Sabe... é difícil encontrar pessoas interessantes dispersas em metrôs.

— Posso tomar isso como um elogio? — perguntei.

Ele fez uma careta divertida.

— Deve.

Fazia muito tempo desde a última vez que tinha andado de metrô. Havia esquecido o quão bonita era a paisagem que passava pela janela, e aquela sensação de que o mundo todo está fugindo, enquanto você está parado. Acontecera uma vez na escola, quando eu vomitei todo o sanduíche que mamãe havia posto para mim. Eu só tinha cinco anos, mas toda a sala de aula correu para longe, enquanto eu não conseguia sentir minha garganta. E eu chorei em meio ao fedor. Ninguém gosta de mim, havida berrado. Que tola, talvez algumas desventuras de infância sejam apenas ilusões de ótica, como tudo que se passa correndo pelo lado de fora das janelas. Aquelas crianças... Todos tínhamos a mesma faixa hetaria, eu também teria corrido, caso estivesse na situação oposta. Isso é o bom de ser criança – ela não enxerga nem pratica a ilusão. Não limita sua imaginação, nem estraga a dos outros.

Meus pensamentos foram cortados pela realidade. Rice: bonita e sistemática. Olhei para o rapaz ao meu lado, que estava completamente enfiado em seu livro.

— Bem... — comecei — se me der licença... Eu ficarei por aqui.

Pus-me a levantar, afastando-me, enquanto ele tirava a atenção das páginas amareladas.

— Espere.. — ele começou, enquanto as portas abriam-se e o bolo de pessoas penduravam-se umas nas outras, como soldados de guerra tentando proteger suas vidas sem desproteger sua nação — Seu nome... Eu não sei o seu nome...

— Clarissa... — disse, atravessando rapidamente as portas, depois que a massa de seres humanos animalizados havia saído — Clarissa Lee, como Harper.

Não olhei para trás, corri apressadamente, procurando a saída da estação de Rice.

Após chegar na avenida a qual ficava a entrada e saída da estação, procurei um ponto de táxi. Não demorou muito até aparecer um dos carrinhos vermelho-sangue. Informei meu destino ao motorista e segui observando os reflexos fantasmagóricos que se formavam nos prédios luxuosos de Rice.

***

Chegando até a faxada do ICAI, avistei uma enorme porta espelhada, e agradeci por ela estra ali, assim, pude analisar minhas vestimentas, que é claro que deveriam estar de acordo: Traje social, simples, porém sofisticado. Não sei dizer se estava comportando o aspecto fino. Tentei ao máximo disfarçar as mexas roxas que se destacavam em meu cabelo castanho. Estava em um suéter branco, da mesma cor e material que a saia que caia sobre meus joelhos, Kat diz que branco cai muito bem em mim, em situações que exigem refinamento, acentuando minha pele. Havia colocado um par de saltos, o que estava incomodado-me, porque além de estar machucando meu pé, eu não sabia andar direito com aquilo. Lembro o que mamãe havia dito-me assim que passei na faculdade: Não consigo entender ao certo como você vai conseguir acoplar-se, em termos de estilo e tudo mais, a essa coisa de jornalistas. É uma profissão que, dependendo, exige muito do visual sofisticado, o que, nem de longe, combina com você, querida... tão desleixada. Ela tinha razão. Eu amava a profissão que estava pretendendo seguir, mas isso era uma coisa que me incomodava.

Assim que cheguei na recepção, vi que uma mulher magra e loura estava sentada por trás de um balcão de marfim. Posicionei-me até ela, que fitou-me, distribuindo um sorriso amigável.

— Olá — disse — Bom dia. Ahn... A senhora poderia me dizer quem é Miranda e onde eu poderia encontrá-la?

Ela levantou-se do balcão, fazendo um sinal para um homem que estava do lado de fora.

— Eu sou Miranda. — ela balbuciou num sorriso — e, pela hora, você deve ser a senhorita Lee.

Eu assenti, observando o homem que agora ocupava seu lugar no balcão.

— Por favor — Miranda continuou — me acompanhe.

Eu a segui até uma sala que ficava no segundo andar. Ampla e praticamente vazia. Toda em madeira com algumas palmeiras implantadas em jarros nos cantos da parede. Ela gesticulou para que eu sentasse em umas das quatro mesas que estavam dispostas no centro da sala, e me entregou alguns papéis.

— Desculpe a falta de boa hospitalização — ela começou — hoje eu estou com muito trabalho, você nem imagina.

— Sem problemas — resmunguei, repreendendo-me por tal ato rude.

— Preciso que preencha esses documentos. São coisas cruciais para a sua empregabilidade aqui. Todos os estagiários do ICAI passaram por esse processo um pouco chato. — ela sentou-se num sofá vermelho que ficava há poucos metros de mim — leia tudo com atenção, por favor.

Eu assenti e comecei.

***

Não sei quanto tempo havia se passado até entregar a pilha de papéis para Miranda. Ela espreguiçou-se e sorriu.

— pronto, Clarissa Lee Licer. Você começa amanhã, boa sorte.

Eu sorri falsamente para ela, saindo da sala.

— Miranda... — chamei-a. Ela olhou-me, assentindo, ainda com seu sorriso forçado — É, eu terei que, você sabe, vir vestida desta forma ou...

— Não. — ela disse rapidamente. — Eu percebo o quão desconfortável está. Não precisa se preocupar, venha como quiser, contanto que respeite as normas básicas, o bom censo. Não usar roupas curtas, ou inapropriadas demais... essas coisas.

Eu sorri aliviada.

— Certo.

***

Eu já estava na saída, pensando no quão bom seria se estivesse com Juliete agora. E poderia ter passado mais um tempo lembrando de todas as vezes que aquela lata podre me tirou de roubadas, se não fosse pelo leve toque no meu ombro, que me fez virar imediatamente.

— Dean?

— Clarissa... — ele esbanjava um sorriso largo e exagerado — quanto tempo.

Dean estava empacotado em um paletó cinza com uma gravata vinho e sapatos bem escovados. Fazia muito tempo, realmente, que eu não o via. Seu cabelo dourado, assim como o de Gabriela, estava exuberadamente curto. Barba feita e bom alinhamento exibiam seus supostos vinte e quatro anos, ou vinte e três.

— É... — resmunguei — O que faz aqui?

Ele olhou-me secamente, mas logo mudou para um sorriso fraco.

— Bem, depois que consegui me livrar de todos aqueles problemas com... — ele exitou, fitando o chão — a polícia, consegui um emprego.

— Aqui?

— Não exatamente — ele limpou a garganta — trabalho para uma empresa terceirizada que fornece mantimentos para o ICAI.

— Hum, então isso significa que nos veremos todos os dias?

Dean dobrou o sorriso.

— É o que tudo indica. — ele fitou-me — Porque está perguntando? Isso por acaso seria um problema para você?

Eu engoli seco. Dean poderia estra tentando acertar a sua vida, mas ainda assim, deixava-me intimidada.

— De forma alguma. Foi apenas uma curiosidade. Porque isso seria bom, não é mesmo? Estou começando agora e não conheço ninguém aqui.

Ele não pareceu dar importância.

— Estou indo para casa, daqui há algumas horas será o período de almoço... Você está de carro?

Eu engoli seco. Queria dizer que sim, que estava com toda a certeza de carro e tanque cheio, mas não o fiz. Eu poderia mentir, mas se Dean estava tentando melhorar, porque não dar-lhe uma chance?

— Não... Não estou de carro.

— Então venha comigo, eu lhe dou uma carona. — ele ofereceu o braço, eu não peguei — Você está indo para casa?

— Aham.

Eu o segui até o estacionamento. Seu carro era um modelo simples que não tive oportunidade de verificar. Me perguntei de quem ele havia roubado e logo expulsei tais pensamentos injustos.

Fui em direção à porta de trás, mas ele repreendeu-me.

— Ora, venha aqui na frente — ele abriu a porta direita — assim conversaremos melhor.

— Ah... — eu fiz uma careta — tudo bem.

***

Estávamos passando por Olins, uma das três cidades que separavam Rice de Crouzi, quando Dean quebrou o silêncio.

— Sabe — ele começou — eu me sinto um merda sempre que percebo o tanto de coisas horríveis que eu fiz.

— Normal.

Ele olhou-me perifericamente.

— Ninguém mais que Gabriela sofreu com minha péssima adolescência eterna. — ele suspirou, parecia realmente sincero — Eu mal vivia em casa, e, às vezes, quando estava, bebia e quebrava tudo, você se lembra, eu acho. Gabi chorando desesperadamente... Abraçando-me enquanto eu batia em seu rosto.... — ele exitou.

— Foi horrível. — bradei — Eu lembro. Mas o que importa é que você tem noção de tudo o que fez e está arrependido, não está?

Ele sorriu fraco.

— Tanto que nem imagina. E o pior é que eu sempre serei julgado pelas coisas que fiz. Eu poderia salvar o mundo hoje, mas as pessoas sempre me olhariam como o pecaminoso. A maldade têm uma enorme vantagem sobre o bem, ela não é tão facilmente esquecida.

Eu sinceramente senti pesar por Dean. À vezes as pessoas fazem coisas ruins uma, duas, três vezes e continuam fazendo. Às vezes elas param. É tudo uma questão de escolha e ele escolheu ser melhor.

***

Eram quase meio-dia quando havíamos chegado ao Tude. Perguntei se Dean iria subir, ele negou e disse que tinha algumas coisas para fazer. Eu desejei não ter aparentado tão confusa diante de sua falta de coerência.

***

Nunca pensei que pudesse gostar tanto de chegar no meu pequeno apartamento fedido. Joguei aqueles malditos sapatos para debaixo da mesa da cozinha, me despi e tomei um banho rápido. Vesti um short jeans desbotado e minha camisa dos Los Hermanos, que havia ganhado de Martim, quando completei dezesseis anos. Era a minha camisa preferida de todas as outras preferidas.

Milhões de coisas passavam pela minha cabeça, sendo noventa por cento coisas ruins. Pousei meu pensamento em Jason Santi, aquele maldito. Se você resistir, se conseguir manter-se longe de mim, considere-se uma magnífica proeminente. Ele havia dito-me. Eu perdia tanto tempo pensando no cara que conheci outro dia, que estava começando a ficar preocupada. Eu tinha o infinito e além de dúvidas sobre quem era Jason e o que ele queria de mim, se é que ele queria algo... bem... além do que ele poderia obviamente querer. Porque eu tive que admitir para mim mesma, e apenas para mim, que eu queria. Ignorando o aperto que senti quando pensei na possibilidade de Jason me fatiar em mil pedaços, corri pela casa, joguei o prendedor de cabelo que mantinha meu coque no sofá e bati a porta.

Não era possível que eu estava indo até o 305, como um vira-lata sem vergonha. Não importa, disse para mim mesma, melhor arrepender-me por isso que arrepender-me por ter ficado em casa comendo chocolate.

A porta, obviamente, era idêntica a minha. Mas ali viva o meu pesadelo, que havia chegado a tão pouco tempo e trazido tanta coisa ruim junto. Ou seriam apenas coincidências? Eu gostava de pensar que toda a merda que estava acontecendo independia da presença pálida e perturbadora do meu vizinho. Sem exitar, esmurrei a porta, não por questão de raiva, mas apenas para deparar-me com sua cara de quem não mata há muito tempo e tem isso como forma de sobrevivência.

Jason abriu a porta exatamente da forma como fez na primeira vez em que estive em seu apartamento, e exatamente da forma que eu gostava, de qualquer maneira.

— O que você quer?

Ele estava vestido com uma bermuda jeans preta que ia até os joelhos e, como de costume, para minha falta de jeito com disfarce, sem camisa. Seu cabelo estava todo para trás, preso em uma liga, com apenas alguns fiozinhos caindo sobre suas orelhas, o que deixava seu rosto completamente exposto, coisa que nunca consegui ver com nitidez. Ele era tão bonito que chegava a sufocar. Olhar demais para ele dava-me um certo medo, e, por Deus, talvez eu goste de sentir medo. Eu o fitei, sentindo minhas bochechas queimarem, encostando meu braço na parede ao lado da porta, ficando a poucos centímetros dele.

— Eu não sou uma magnífica proeminente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Próximo capítulo daqui a dois dias. Beijo pra vocês. (: