Pov’ Annabeth

O sonho começou em cima de um penhasco onde eu conseguia enxergar toda Idris que estava linda, parecendo àquelas maquetes mecânicas de Natal, pessoas eram pontinhos minúsculos, as Torres Demoníacas davam uma luz prateada, e as casas tinhas luzes amareladas, as estatuas de Raziel dava uma luz fantasmagórica.

“Aproveitando a vista, Annabeth Lightwood?” disse uma voz que era como um choro e um grito, como música, tudo de uma vez.

Virei-me lentamente e encarei a forma celestial mais linda que alguém possa ter visto, enquanto eu olhava, meus olhos começaram a queimas, como se eu tivesse olhando diretamente para o sol.

Seus cabelos eram como correntes de prata e ouro, seus ombros eram brancos como pedras e um tronco nu, o Anjo era cheio de Runas, como os Caçadores de Sombras, mas apesar de os símbolos do Anjo ser dourados e vivos, movendo-se pela pele branca como pequenas faíscas voando de uma fogueira. De certa forma, o Anjo era ao mesmo tempo enorme e não maior que um homem, meus olhos doeram ao tentar absorvê-lo por completo, e mesmo assim ele era tudo o que eu via.

Ao sair da escuridão das arvores, surgiram asas em suas costas e se abriram completamente sobre o penhasco, como se estivesse se espreguiçando, eram douradas, cobertas de penas, e em cada pena havia um olho dourado aberto.

Ele parecia brilhar no meio da escuridão do penhasco, da qual eu já estava familiarizada e preferia lugares assim a aqueles todos iluminados, aqui era calmo e dava para pensar.

Sou Raziel, e já tirei seu pai dos braços da morte uma vez. Raziel disse e eu me paralisei, ele emanava um poder incomparável e eu tinha vontade de me curvar ali e escutar tudo e concordar com tudo o que ele falasse, mas me contive.

Ele não perdeu seu precioso tempo no Paraíso para vim falar com uma garota revoltada e egoísta, havia muito mais no que ele queria daquela conversa, mas seus olhos eram pacíficos.

Como assim ele tirou Jonathan da morte? Ele havia feito pactos com Lilith e a considerava sua mãe, e não a mulher que o concebeu.

Não estou falando deste Jonathan, Caçadora de Sombras. Estou falando do seu verdadeiro pai, o qual teve parte da vida retirada quando você foi raptada. Já encontrei Clarissa Morgenstern, que também perdeu a vontade de viver quando você foi arrancada de seus braços. Ele ia dizendo e sua voz foi ficando mais intensa e eu me arrepiava com os fatos que ele contava. Jonathan Christopher tirou de você uma vida normal e plena. Eu observei a sua trajetória desde o dia que Clarissa te concebeu, e toda sua parte humana foi encoberta pela demoníaca que Jonathan jogou em você, a única coisa que ficou escondida dentro de seu ser foi a bondade, o resto foi apagado por aquele quem você chama de pai.

Sua voz ficou mais forte, suas asas faziam movimentos suaves e involuntários, como se ele estivesse flutuando normalmente no Paraíso.

Lagrimas desceram silenciosamente pelo meu rosto, isso só podia ser mentira, eu interajo com as pessoas, penso como uma, tenho desejos como uma pessoa, tenho sonhos como uma pessoa normal.

O Anjo que Jonathan Morgenstern prendeu no porão de primeiro plano era para confrontar o céu, mas depois ele o deixou para ter um teste com você, provavelmente não se lembra no momento e tem outra memória do ocorrido.

Ele se encostou-se na arvore, e eu fiquei estarrecida no mesmo lugar, eu tinha o controle das minhas memórias, e eu não lembro de algo que meu pai queria que eu esquecesse... Por que ele modificou a minha memória, a ficha caiu feito água e aquilo me deixou mais péssima.

As cicatrizes do meu irmão eram pequenos rasgos, mas quando você completou dez anos, Jonathan Morgenstern a levou para o porão, onde te deu duas laminas de serafim e obrigou você a cortar as costas do Anjo, o teste mais maldito que ele fez com você, que chorou e se negou a cumprir a ordem, então ele lhe deu essa cicatriz que você tem nas costas e mesmo fraca e em negação você torturou o Anjo.

Quando ele se sentiu satisfeito, ele saiu para encontrar com Lilith e você libertou Baruch, mas antes de se encontrar com Lilith, ele modificou a memória para uma tarde ensolarada e que você havia passado o dia lendo livros de enfermagem, ele sabia que você salvaria o anjo, e Baruch seria seu calcanhar de Aquiles ajudando com o que ele quer fazer com você agora. Isso foi um efeito domino.

Comecei a tremer, as imagens de eu salvando Aslan agora soavam tão falsas quanto uma nota de três dólares.

“Mas ele... Ele foi meu pai.” Foi tudo o que eu conseguir sussurrar, um bolo de emoções que eu nunca havia sentido estava em mim, me sufocando, como se eu estivesse no fundo da água e nunca conseguindo alcançar a superfície.

Ele fingiu ser seu pai, Annabeth. A cada dia que você prende Baruch no mundo humano, ele entra em sofrimento quando para de pensar, quando descansa. Você quer tirar o sofrimento dele?

Agora sua voz soava curiosa e atenciosa, enquanto eu estava chorando desesperadamente, eu não podia deixar Aslan, ele é tudo pra mim, mas eu não posso deixa-lo sofrendo! Eu prometi isso a ele e eu cumpriria minha promessa, mesmo que me matasse por dentro, eu o amava demais e quem ama cuida.

Impossibilitada de falar, assenti e coloquei minhas mãos no rosto, tentando me acalmar, não dava para descrever o que eu estava sentindo, mas era a coisa mais horrível do mundo.

Raziel sorriu, e o sonho começou a ficar turvo e sua voz musical soou vitoriosa e satisfeita.

Você salvou meu irmão, Annabeth Lightwood. Você deu a ele uma segunda chance que ninguém nunca deu, me orgulho de você, Caçadora de Sombras.

Acordei com os gritos de Aslan e com os murros que ele dava no chão, um fogo branco estava nas cicatrizes que eu havia feito nele, lagrimas desceram pelo meu rosto, então o fogo celestial rasgou suas costas, e delas saíram asas brancas flamejantes, e Aslan caiu inconsciente no chão, suas asas brancas eram enormes.

Suas asas não eram iguais as de Raziel, elas estavam com um fogo fantasmagórico, percorrendo suas penas brancas e eu senti um vazio dentro de mim, ele não era mais meu, eu nunca mais o veria.

Eu não suportaria perdê-lo, mas era preciso suportar, eu tinha agora uma família de verdade e só consegui isso agora.

Provavelmente não havia ninguém em casa, pois ninguém veio para o quarto ver o porquê da gritaria.

Tinha uma flecha dourada na mão de Aslan, e eu tive certeza que de era de Raziel, agora Aslan teria que voltar ao céu o mais rápido possível, agora ele não pertencia a este lugar.

Levantei-me e deitei ao seu lado e chorei.

Todas as emoções do sonho vieram a tona, aquela sensação horrível que você não tem como descrever, aquele vazio e medo em meu peito que se alastravam a cada soluçada.

Não havia mais volta na decisão que eu havia tomado, no fundo eu estava feliz por tirá-lo do sofrimento e devolvê-lo ao céu lugar onde deveria estar.

“Perdoe-me, mas tive que fazer isso.” Sussurrei e enlacei minhas mãos atrás do seu pescoço e chorei no seu ombro bronzeado.

Não sei se foi involuntário, mas suas asas me envolveram e o fogo fantasmagórico que estava por elas não me queimou, e tomei um susto quando ele me envolveu com seus braços também e sussurrou em meu ouvido.

“Obrigado por me deixar livre, eu amo você mais que tudo, nunca se esqueça disso.” Ele sussurrou com a voz rouca e me abraçou mais forte, e me deu um ultimo beijo.

O beijo ficou salgado com as minhas lágrimas, tinha tudo naquele beijo amor, saudade, carinho e tristeza.

Ele nos levantou e vi que seus olhos verdes estavam marejados, ele me beijou de novo, dessa vez foi rápido e me abraçou como se eu fosse a única coisa sólida no mundo.

“Eu vou voltar, eu te amo muito, Annabeth Lightwood e Morgenstern.” Ele falou e eu falei sem voz, não consegui olhar para ele, a frase me rasgou por dentro até sair.

“Eu também te amo muito e nunca vou te esquecer.” Lagrimas rolaram pelo rosto de Aslan, que me abraçou e andou até a janela e hesitou em sair.

“Eu vou voltar para te ver, eu vou estar sempre te protegendo e sempre ao seu lado, mesmo que você não me enxergue, tenha em mente que eu estou do seu lado. Eu caio de verdade se for preciso para ficar ao seu lado, minha linda.” Ele falou choroso e falou antes de pular para o dia que estava ensolarado.

“Eu nunca vou me esquecer de você, porque você foi a melhor coisa que me aconteceu, eu sempre estarei ao seu lado, e eu sempre serei seu Aslan.” Ele pulou pela janela grande e voou para cima como um raio, mas não consegui observar ele indo embora, e escorreguei pela parede e fiquei chorando baixinho até eu perder a consciência.