Piratas Do Caribe e o Olho Da Fênix escrita por Milly G


Capítulo 3
Estranhos


Notas iniciais do capítulo

Me desculpeeeeeeeeeeeeeeem. Meu Deus, a minha demora e incapacidade de escrever estava me deixando agoniada... e acho que vocês também. Mas descobri que trabalho bem sobre pressão (e ameaças). Espero que não tenham desistido dessa escritora lerda ^^'


::ENJOY::



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Os olhos de Jack ardiam.

Talvez por estar há muito tempo sem piscar ou algo assim. Ouvia a voz abafada de Gibbs, e de repente sentiu como se alguém o puxasse de dentro d’água.

– Jack! – berrou o imediato, com os olhos quase pulando da cara. – É ela! Corra!

O pirata cambaleou em meio a multidão, meio abobado. Não conseguia acreditar nos próprios olhos, mesmo estes já tendo visto uma variedade de coisas inacreditáveis.

Suas pernas tremiam como há muito tempo não acontecia.

– Não é... – sua voz foi engolida pela música, assim como a visão da mulher ruiva, que ainda ondulava como uma chama ao virar uma esquina, levando todo aquele caos festivo com ela.

Gibbs o alcançou um momento depois, colocando a mão em seu ombro. Jack pareceu levar uma eternidade para conseguir virar os olhos para o homem. Os olhos claros do amigo o fitavam, preocupados.

– Acho – disse Jack, fazendo força para que as palavras saíssem – que bebemos demais, companheiro.

– Não Jack, aquela era...

– Calado.

– Era a B...

– Cale a boca! – rugiu o pirata.

Gibbs trincou os dentes, num raro acesso de raiva.

– Escute, seu porco teimoso, você pode negar e culpar a bebida, mas não há como estarmos igualmente bêbados. Eu a vi. Pode não acreditar nos seus olhos, mas eu acredito nos meus. Eu a vi. – ele repetiu, entre dentes.

Achou que seu capitão iria dar qualquer resposta malcriada, mas ele apenas gemeu, encostou-se numa parede e deslizou até o chão, cobrindo o rosto com as duas mãos.

– Não... – murmurou, coçando a marca em sua nuca até que a unha cravasse na carne. – Estão brincando conosco.

– O que? – perguntou Gibbs. O pirata não respondeu, apenas ergueu os olhos para ele. Estavam em chamas.

O imediato deu um passo para trás e encarou a rua vazia por onde os músicos haviam passado, só para não ter que encarar Jack. Ainda via um fantasma de cabelos ruivos dançando ali.

Disse qualquer coisa sem prestar atenção, só para receber um grunhido de Jack. Virou-se para ele. Estava lá, jogado no chão, com um olhar vazio. Era uma visão triste. “O amor é triste”, pensou.

– Vamos. – ordenou Jack subitamente, erguendo-se num pulo. – Não há nada para ver aqui. Você acredita em fantasmas. Eu acredito que estou bêbado.

Deu as costas para o homem antes que ele tivesse a chance de responder. Esperou que ele apenas dissesse que era um tolo e o seguisse, por preguiça de discutir, mas Gibbs não moveu um dedo. Virou apenas metade do corpo quando já haviam criado uma distancia incomoda entre eles, lançando-lhe um olhar estranho.

– O que é?

– Um dia vai ter que lidar com isso, Jack. – murmurou Gibbs, sério. – Já faz dois meses.

O pirata limitou-se a olhá-lo pelo que pareceu uma década. Os murmúrios, gritos, xingamentos e o tilintar de canecas batendo numa taberna próxima foi o único som entre eles. Gibbs temeu que seu capitão nunca mais o respondesse.

– Dois meses. – repetiu, por fim. Aquela sombra escura voltara a cobrir dos olhos de Jack. Até mesmo o ar a sua volta parecia diferente. - O que são dois meses para aqueles que não marcam o tempo? – ele encolheu os ombros, soltando uma risada amarga. – Não sabia nem que havia se passado algum.

– Não estamos mais naquela ilha, Jack.

– Eu sei. – disse ele, entre dentes. – Eu sei. Zeref e Cassandra estão mortos, Barbossa nos enganou de novo, Catherine e Angélica sumiram, e Brooke...

– Brooke morreu. – terminou Gibbs, com menos firmeza do que gostaria.

– Sim. – Jack respirou fundo, encarando tanto a verdade quanto o amigo pela primeira vez. – Brooke morreu.

Um arrepio subiu pela espinha do mais velho. Havia repetido aquelas palavras a si mesmo várias vezes, até que a ficha caísse, mas havia algo de errado em ouvi-las da boca de Jack.

– Talvez. – tentou complementar, mas a palavra saiu engasgada. - É. – Jack deu outro sorriso sem vida. – Talvez.

O silêncio voltou a imperar entre eles. Estava começando a ficar incômodo quando gritos e aplausos encheram as ruas, fazendo ambos os homens pularem.

– O que é dessa vez? – resmungou o capitão, seguindo de má vontade aqueles sons.

Suas palavras, mais uma vez, perderam-se na cacofonia das ruas. Podia ver, mesmo longe, um brilho laranja que refletia nas paredes, e por um momento pensou que Tortuga estivesse em chamas.

Apertou o passo até virar uma esquina, e depois dela não conseguiu dar mais nenhum.

Uma mulher dançava dentro de um círculo de chamas, rodopiando como se fosse parte delas. O cabelo vermelho cobria-lhe os olhos sempre que seu rosto na direção de Jack, mas ele quase acreditou ter visto um lampejo do azul exótico que ele conhecia tão bem.

– Está vendo? – perguntou Gibbs diante a expressão estupefata de seu capitão.

– Mas...

A música alta, que ele mal escutava com tantos pensamentos bombardeando sua mente, tomou um ritmo mais rápido, quase frenético, e a mulher o acompanhou sem apresentar dificuldade. Na mente atordoada de Sparrow, ela já havia se tornado um vulto.

Então, algo em si estalou, ao mesmo tempo em que o círculo de chamas explodia ao redor da ruiva.

Gibbs arquejou, surpreso, assim como a maioria dos ali presentes. Jack prendeu a respiração, e não conseguiu soltá-la até que as chamas abaixassem.

Ela estava ali, no meio de um círculo negro, apoiada sobre um joelho, com uma cascata de cachos ruivos caindo sobre seu rosto.

Tão perto.

Jack abriu a boca, mas nenhum som saiu. Talvez porque não soubesse o que dizer.

– Brooke. – sussurrou inconscientemente.

Seu coração bateu de forma incomodamente rápida quando a mulher ergueu os olhos para ele. Era ela. Só podia ser. Não havia no mundo qualquer outra pessoa com olhos tão azuis.

Eles, porém, não pareceram reconhecê-lo.

Ela ergueu-se num rodopio quando a música recomeçou, dando-lhe as costas e voltando àqueles movimentos que ela parecia ter treinado a vida inteira.

Ele apenas pôde assistir, boquiaberto. Como diabos ela estava viva?! E por que não o reconheceu?!

Passaram-se algumas horas até que aquele “festival” começasse a se dissipar. Músicos levavam suas coisas para as carroças e os homens voltavam para as tabernas, comentando todo tipo de elogios e obscenidades sobre a dançarina ruiva.

– Vou atrás dela. – decretou Jack à Gibbs, quando a garota começou a adentrar a multidão.

– Já não era sem tempo. – o imediato sorriu levemente, dando-lhe um empurrão.

O pirata praticamente atropelou as pessoas a sua frente, quase perdendo uma ou duas vezes aqueles cachos rubros.

Franziu a testa quando a garota entrou rapidamente por uma porta estreita, sem sequer se dar ao trabalho de fechar.

– Broo...?

Sua respiração ficou presa por tanto tempo que ele quase se engasgou com aquele nome.

Um homem a pressionava contra uma parede, com tanta força que parecia que a garota iria sumir. Tinha uma das mãos entre as pernas dela, enquanto a outra agarrava seus cabelos, e a garota gemia, mas não de prazer.

Ficou ali, parado, sentindo-se estúpido. Parecia não conseguir assimilar o que via.

Então seus olhos cruzaram com os dela de novo, e foi como se ela enxergasse sua alma. Aquele par de safiras faiscaram por um momento e ela empurrou o homem para trás, o que apenas fez com ele a atacasse com mais ferocidade, fazendo-a gritar de dor.

Aquilo foi demais para Jack. Antes que pudesse perceber, aquele homem estava no chão, e a sola de sua bota esmagava a garganta dele.

– O que acha que está fazendo, senhor? – indagou Sparrow num tom sombrio.

O homem arquejou qualquer coisa enquanto Jack espremia lentamente seu pescoço. Ele não pôde ver, mas os olhos negros do homem buscaram os de Brooke por um momento. Ele também não pôde ver que ela implorava silenciosamente pela vida dele.

James sorriu, envolvendo a canela de Jack com as duas mãos. O pirata só teve tempo de ouvir a ruiva gritar antes que a perna de sua calça entrasse em chamas, assustando-o e fazendo-o cair sentado.

A mulher só pôde observar, em completo pavor, o capitão se debater até que o fogo se extinguisse. Tal estado de paralisia a deixaria irritada dois meses atrás.

Antes de James Crow encontrá-la.

Houve um minuto de absoluto silêncio entre os três. Sparrow arfava, caído no chão, enquanto James erguia-se de forma quase elegante, colocando-se ao lado da ruiva para lançar a ele um olhar de completo desprezo.

– Acho que a pergunta, meu caro, é – ele sorriu, envolvendo a cintura de Brooke com uma mão. – o que você está fazendo?

O pirata balbuciou qualquer coisa, recuperando-se do choque, mas sentia como se estivesse sendo esmagado pelo olhar da mulher.

“Por quê...?”

– Brooke. – murmurou, recuperando a voz. – Brooke, o que está acontecendo?

Ela o encarou ainda por mais alguns segundos antes de respirar fundo e responder:

– Não me chamo Brooke. Não conheço você, e não sei do que está falando.

O queixo de Jack caiu, mas apenas por um momento. Um sorriso de escárnio espalhou-se por seu rosto, e ele cerrou os punhos com força.

– Escute. – ele deu uma risada maníaca. – Eu não... sei o que aconteceu, como estamos aqui ou como você... – sua voz sumiu, e ele não teve forças para busca-la novamente.

– James me salvou. – disse ela, repousando a mão no peito do homem de forma quase carinhosa. Quase. – Eu pertenço...

O pirata gargalhou, mal acreditando no que via. Riu até que todo o corpo sacudisse.

“Acalme-se, Sparrow.”, repreendeu a si mesmo. “Nem parece você.”

– Nem parece você... – ele sussurrou sem perceber.

As sobrancelhas da ruiva se retraíram imperceptivelmente, e ela teve que respirar fundo mais uma vez para conseguir falar.

– Está cometendo um engano. Não sou quem você pensa. É melhor que vá embora, antes que se machuque.

Os olhos de Jack cravaram-se nos dela, enviando um arrepio por seu corpo. O coração da garota batia enlouquecido contra as costelas, mas ela sabia que aquele era o único jeito.

Então um sorriso que ela não via há muito tempo surgiu nos lábios do homem. Sua marca registrada, o sorriso cafajeste que ele usava com qualquer prostituta que mostrasse os peitos o suficiente para lhe chamar a atenção.

Seu coração se partiu em mil pedaços, mas essa era a última coisa que importava.

– Você, senhorita, está absolutamente certa. – ele fez uma breve reverência, mas endireitou-se rapidamente, franzindo a testa. – Não sobre me machucar. Isso é um absurdo. Mas sobre você não ser quem eu penso que seja. A pior parte – ele inclinou-se e deu um peteleco em sua testa, fazendo uma careta. – é que você parece real demais. Que tipo de feitiço Tia Dalma fez agora? Santo Deus...

Brooke engoliu em seco, cambaleando para trás. Jack estava divagando, o que nunca era um bom sinal.

Com uma expressão indignada, o pirata se afastou sem dizer mais uma palavra. Brooke se inclinou em sua direção, mas uma mão forte agarrou seu pulso, espremendo-o até quase quebra-lo.

Ela não precisou se virar ou dizer uma palavra; já havia entendido a mensagem. “Faça apenas o que eu mandar”, ele repetira infinitas vezes desde que se conheceram.

Ele a virou com um puxão brusco, parando com o rosto há milímetros do dela.

– Onde estávamos...? – perguntou, com um sorriso malicioso.

O estômago de Brooke deu um nó, assim como sua garganta quando ela sentiu as lágrimas de acumularem em seus olhos.

– Me solta... – ela choramingou, tentando desvencilhar-se de suas mãos.

Ele a empurrou contra a parede, mas dessa vez, seus dedos foram em direção a seu pescoço, envolvendo-o com força.

– Não faça isso, Bel... – seus polegares esmagaram sua traqueia, fazendo-a arregalar os olhos. – Você anda cumprindo seu papel de maneira esplêndida... Eu odiaria vê-la cometendo um erro do qual... – ela sentiu a pele sob as mãos dele esquentar até formar bolhas –... você com certeza vai se arrepender.

Ela arquejou e se debateu, mas não havia como fugir. Estava começando a perder a consciência, sem ar e sem forças, quando ele a soltou, deixando-a deslizar até o chão.

– Você é Annabelle Hawk, minha querida. – ele disse, olhando-a de cima com desprezo. Outro de seus sorrisos maliciosos apareceu em seu rosto. – Brooke Pepper está morta. Mas, se não estiver, podemos providenciar isso.

Com isso, o homem deu um giro elegante e desapareceu entre a multidão, deixando-a ali, ferida e humilhada.

– Maldito... – ela soluçou enquanto tremia, tanto de medo quanto de raiva. Enfiou as unhas nas bolhas de seu pescoço, gemendo de dor.

Você não pode fugir.

Ela gritou, tentando calar a voz em sua cabeça. Aquele homem ainda a assombrava. Ela ainda não tinha conseguido o que queria. Ainda não estava livre.

Não podia desistir. Precisava seguir em frente, mesmo que isso significasse lutar contra seus demônios...

E também contra ele.

***

Era um dejà-vú.

Olhava para o céu, sem procurar ou ver nada especificamente. As pessoas trombavam contra ele e xingavam, mas ele ignorava qualquer som ao seu redor. “Não sou quem você pensa”, foi o que ela dissera.

Trincou os dentes e chutou a porta da primeira taberna que viu. Por uma irritante coincidência, seu Imediato estava sentado em uma mesa ao fundo, perdido em seus próprios pensamentos e parecendo irritado.

Pegou duas garrafas em cima do balcão quando passou, sem olhar para o taberneiro ou para quem havia acabado de roubar. Nunca se importou mesmo.

Sentou-se numa cadeira em frente ao velho amigo, sem dizer uma palavra. Virou metade da garrafa num gole, mas interrompeu-se quando Gibbs esticou a mão para pegar a outra garrafa.

– Não é pra você. – ele resmungou, afastando-a do pirata.

O mais velho simplesmente suspirou, olhando-o com uma expressão paciente.

– E então?

– Então o que? – Jack o olhou sobre a garrafa.

– Jack. – Gibbs franziu a testa. – Onde está Brooke?

– Eu me enganei. – ele deu de ombros. – Aquela não era a Brooke.

– Mas...

– Brooke morreu. – ele o cortou, com frieza na voz. Mas as palavras seguintes saíram num sussurro sofrido: - Ela mesmo me disse isso.

– O quê?

– Não era a mulher que conhecemos. – por um momento Jack fez a mesma expressão confusa de seu Imediato. – Alguma coisa aconteceu. Parecia ela, mas ao mesmo tempo...

Gibbs observou, com olhar de piedade, seu capitão perder-se em pensamentos, como várias vezes acontecia. Parecia preocupado e magoado, o que era muito raro, e isso o incomodava profundamente. As emoções daquele homem louco há muito tempo pareciam influenciar seu destino.

– Havia um homem com ela... James. – Jack olhou para o homem, esperando que ele reconhecesse o nome. Quando a confusão teimou em permanecer em seus olhos claros, ele descreveu com impaciência: - Alto, cabelos loiros, com cara de quem não gosta realmente de mulheres... – suspirou quando o mais velho revirou os olhos. – Tinha olhos... extremamente escuros. Eu diria que eram pretos.

Foi o que ele precisava. Os olhos azuis de seu imediato quase saltaram da cara.

– Está falando de James Crow. – ele disse, assombrado. – Santo Deus, Jack, como foi se envolver com O Corvo?

– Me pergunto como ela foi se envolver com ele... – o pirata tocou a perna distraidamente, mas então paralisou. Não havia notado, mas mesmo depois de sua perna ter pegado fogo, ele só sentiu a pele arder por alguns poucos segundos. Atrapalhou-se para erguer a perna da calça, agitado, e seu coração bateu um pouco mais forte quando viu que sua pele estava intacta.

–... ele é subordinado de Alexander. Sabe o que isso quer dizer, Jack? Se você o irritou, amanhã sua cabeça vai estar a prêmio. Temos que sair daqui...

Ele não estava prestando atenção. Esticou um braço sobre a mesa, e com a mão livre, quebrou a garrafa vazia sobre a madeira, assustando o mais velho.

– Que está...

Jack pegou um caco de vidro e fez um corte do pulso até o cotovelo. O sangre brotou e escorreu pela mesa, porém...

Desapareceu. O sangre continuava ali, mas não havia mais corte algum.

Os olhos castanhos do capitão cruzaram com o do homem a sua frente, reluzindo. Algo provavelmente perigoso acontecia em sua mente.

– Jack, o que diabos você fez?

Um sorriso trêmulo e enorme apareceu em seu rosto.

– Eu consegui.


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